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<p><em>A publicação conta com recursos de realidade aumentada, cases de sucesso, artigos de especialistas e dicionário com principais conceitos que envolvem o tema</em></p>

Inovação no cooperativismo é tema de livro lançado pelo Sistema OCB

A publicação conta com recursos de realidade aumentada, cases de sucesso, artigos de especialistas e dicionário com principais conceitos que envolvem o tema


Motivado pelo crescimento expressivo da colaboração das cooperativas na economia do país, o Sistema OCB lançou, na última quinta-feira (24), o livro Inovação no Cooperativismo: Um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop. A obra tem por objetivo promover a cultura da inovação nas cooperativas e dar visibilidade às boas práticas já desenvolvidas ou em andamento no universo coop. A publicação impressa será distribuída gratuitamente para as Unidades Estaduais, cooperativas regulares no Sistema e parceiros institucionais.

"Nossa história mostra que o cooperativismo sempre foi inovador. Afinal, a atual demanda da sociedade pela economia de propósito, com a geração de emprego e renda e a promoção do bem-estar socioambiental, sempre fez parte do DNA do nosso modelo de negócio. Tenho absoluta certeza de que esta publicação vai inspirar todos aqueles que desejam se aprofundar no que diz respeito à inovação", destaca o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.

A inovação faz parte dos objetivos estratégicos do Sistema e o livro busca apresentar as principais tendências da atualidade. São seis capítulos que vão da introdução ao tema, passando por metodologias e estratégias até cases de sucesso e a palavra de especialistas renomados no tema e que dão dicas do que o futuro ainda reserva no curto, médio e longo prazo.

De acordo com dados da publicação, oito em cada dez cooperativas brasileiras (84%) consideram a inovação fundamental e já incluíram o tema no planejamento estratégico de suas organizações. Outro ponto relevante é que quase metade das cooperativas (47%) já executavam projetos de inovação antes da pandemia da Covid-19. Estes e outros apontamentos reforçam o compromisso do Sistema OCB em auxiliar e estimular as ações dos mais de 17 milhões de associados e das mais de 4,8 mil cooperativas no país.


Realidade aumentada

A publicação ainda oferece ao leitor uma experiência única: a personagem Eliza, em homenagem à única mulher entre o grupo de fundadores do cooperativismo, Eliza Brierley. Por meio de QR Code, ela guia o leitor e conecta o texto impresso com a realidade aumentada. Na abertura de cada capítulo, a Eliza se projeta nas telas dos smartphones e fala com o leitor. Para a superintendente do Sistema OCB, Tânia Zanella, “a realidade aumentada proposta no livro também é uma inovação assim como o cooperativismo sempre se mostrou ser”.

Os artigos presentes na obra são assinados por especialistas referência no ecossistema de inovação brasileiro. Martha Gabriel, por exemplo, escreve sobre inovação como combustível da era digital; Arthur Igreja explica a importância da inovação para o planejamento estratégico; e Jacson Fressato trata da inovação na prática. Já Samyra Ribeiro fala das pesquisas e investigações por trás da inovação; enquanto Eduardo Damião traz as configurações facilitadoras para a inovação dentro das coops; e Mário De Conto explana sobre o cooperativismo de plataforma.

E, para complementar, a publicação conta ainda com um dicionário completo, com os principais verbetes e conceitos relacionados ao universo da inovação no cooperativismo.


Você também pode ter um exemplar do livro para chamar de seu participando do nosso Concurso Cultural! Acesse o link e participe para concorrer! 

<p>Evento apresenta visões antagônicas sobre o metaverso e discute o futuro de várias áreas, como saúde, agronegócio, tecnologia e muito mais. Confira! </p>

Tendências e inovações: 7 temas que foram destaque no festival SXSW

Evento apresenta visões antagônicas sobre o metaverso e discute o futuro de várias áreas, como saúde, agronegócio, tecnologia e muito mais. Confira! 


O festival South by Southwest, conhecido como SXSW, aconteceu entre os dias 11 e 20 de março em Austin, no Texas. Com centenas de painéis, palestras e debates, o SXSW é considerado o maior festival de inovação e tecnologia do mundo, servindo de palco para as mais diversas visões de mundo. E em 2022 não foi diferente.

O ponto alto da edição foram as reflexões sobre as tendências para o futuro da internet, desde a febre dos NFTs até pontos de vista opostos sobre o metaverso. Mas não ficou por aí: também teve espaço para inovação em gestão e marketing, sustentabilidade, saúde e muito mais.

Após a edição de 2020 ter sido cancelada e a de 2021 ter sido realizada virtualmente, o SXSW 2022 voltou às salas de conferência, adotando um formato híbrido. A volta do público coincidiu com um festival cheio de ideias e previsões quanto ao impacto da transformação digital e as relações entre pessoas e tecnologias.

Reunimos, então, 7 tendências destacadas no South By Southwest. Confira a seguir!

1. A internet do futuro: Web3 e Metaverso

A palestra da futuróloga Amy Webb já é tradicional no SXSW, onde ela apresenta as previsões elaboradas pelo Future Today Institute, o qual lidera. Na apresentação, Amy discorreu sobre a Web3, que tem como base a descentralização das redes e o foco nas interações entre os próprios usuários.

A expressão mais evidente da Web3 é o Metaverso, um mundo digital de convivência, onde pessoas interagem entre si e com outros objetos por meio de avatares. Segundo Amy, a convivência em espaços virtuais vai fazer com que as pessoas criem versões adaptadas de si mesmas.

Em um cenário otimista, esse contexto vai empoderar os usuários no controle de seus dados pessoais. Mas no pessimista, que ele acredita ser o mais provável, "isso levará à fragmentação e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e quem ela projeta ser em várias plataformas online”, analisa.

Pontos de vista

Não foi só Amy que falou do metaverso: o assunto foi alvo de visões diversas - e até opostas - dos palestrantes. Na visão do professor Scott Galloway, em seu painel de “previsões provocativas”, o metaverso não será uma experiência visual.

Ele acredita que um aparelho auditivo é capaz de criar muito mais engajamento do que o multiverso habitado por avatares, pois o contato pela voz é mais íntimo. Outro ponto é que os fones já são parte do cotidiano das pessoas.

Diante desse prisma, Galloway aposta no fracasso do Oculus, dispositivo criado pela Meta - nova alcunha do Facebook - para a interação no universo virtual. Pesquisas recentes apontam que 40% dos usuários sentem náuseas ao usar o aparelho.

Em defesa do metaverso

Mark Zuckerberg, por outro lado, é o grande responsável por colocar o metaverso em evidência, tendo até mudado o nome do Facebook para Meta. Ele defende que o metaverso será “a próxima evolução da forma que consumimos mídia e momentos on-line".

A Meta tomou a dianteira nas discussões sobre o metaverso, atraindo investimento de diversas outras instituições ao conceito. Zuckerberg justifica a empolgação com o metaverso alegando que ele será o próximo passo das experiências sociais na internet:

“Uma das tendências que tenho visto desde que comecei, em 2004, foi que as pessoas sempre estão basicamente procurando compartilhar suas experiências e vivenciar as experiências de outros da maneira mais rica possível”, afirma.

2. Descentralização da economia digital: NFTs e DAOs

A popularização dos NFTs é outra tendência que esteve presente na fala de Zuckerberg e foi bastante popular no evento. Os tokens não-fungíveis são uma espécie de certificado de bens digitais registrados em blockchain.

O plano de Zuckerberg é levar os NFTs para seu metaverso. A ideia é que as roupas e pertences dos avatares no mundo virtual sejam registrados no formato de NFT. No curto prazo, porém, os planos são mais modestos: integrar os NFTs à outra rede social de seu grupo, o Instagram.

O evento também serviu de palco para a apresentação de aplicações do NFT no mundo das artes. Na SXSW NFT Gallery, por exemplo, 64 artistas exibiram suas obras de arte digitais.

Organizações autônomas

Os debates sobre economia descentralizada também abordaram as DAOs, que são organizações autônomas descentralizadas. Elas são instituições que operam sem intervenção humana, com as tarefas descritas em código de programação.

No painel que tratou do assunto, a estrutura hierárquica das DAOs foi destacada. Cooper Turley, estrategista especializado em projetos descentralizados, descreveu-as como “uma grande sala de chat com uma conta bancária conjunta”.

As DAOs emergem como uma nova forma de financiar projetos e comunidades - e, inclusive, possuem uma relação direta com o cooperativismo.

3. Negócios com foco em pessoas

Em sua palestra, o consultor de tendências Rohit Bhargava expôs uma série de lições não-óbvias envolvendo gestão e disrupção. A linha mestra das ideias de Bhargava é que o foco da inovação deve estar nas pessoas, e não na tecnologia.

Algumas das 10 lições de Bhargava são:

  • Modo humano: as pessoas querem vivenciar experiências humanas e empáticas através do contato pessoal. Na jornada de consumo, esse processo passa pela percepção que as pessoas têm das marcas. Elas precisam ser mais inclusivas com seus produtos e serviços.
  • Desgenerização: a tendência é remover classificações desnecessárias de gênero em produtos, como roupas ou brinquedos infantis. "Cada vez mais licenças e passaportes estão permitindo um X no campo de identificação de gênero", Bhargava exemplifica.
  • Riqueza de atenção: a atenção das pessoas é um recurso escasso, precioso e acirradamente disputado pelas marcas, que devem oferecer experiências que valham a atenção do público.
  • Lucro com propósito: marcas devem encampar causas, se posicionando conforme seus valores e sua cultura.  

4. Marcas descentralizadas

O conceito de headless brands - marcas sem cabeça - se coloca como contraponto às técnicas tradicionais de branding, em que a identidade das marcas é construída de forma planejada. Derivadas das dinâmicas das redes sociais, as marcas sem cabeça são desenvolvidas a partir de uma comunidade a seu redor.

No painel em que o tema foi discutido, Francesco D’Orazio, CEO da Pulsar, afirmou que “ao contrário da audiência, numa comunidade há interação entre as pessoas. Também há paixão”.

Para Nathali Brähler, chefe de marketing da Cartesi, essa é uma realidade inescapável do marketing digital. “Muitos executivos de marketing não se sentem confortáveis com esse controle compartilhado, é compreensível. Mas, gostem ou não, isso já está acontecendo, todos os dias”, argumentou.

O Bitcoin é considerado a primeira marca sem cabeça. Principal criptomoeda do mercado, o Bitcoin não teve sua identidade intencionalmente construída por uma equipe de marketing. Fora o nome e logotipo, toda a identidade do Bitcoin foi construída por sua comunidade de entusiastas, representando ideias e valores coletivos e descentralizados. 

5. O futuro da comida

O agronegócio também é uma força poderosa para empurrar o avanço da tecnologia. Jahmy Hindman, diretor de tecnologia na John Deere, apontou a importância da inovação para aumentar a produtividade no campo, a fim de alimentar as 9,7 bilhões de pessoas estimadas no mundo em 2050.

Segundo ele, ferramentas como inteligência artificial e robótica podem gerar ganhos de eficiência para os produtores rurais. A tendência é que as fazendas tenham uma operação cada vez mais autônoma.

Substitutivos

As dificuldades econômicas impostas pela pandemia também trouxeram uma nova ótica para tendências que já existiam, como substitutos alimentares. É o que acredita Robert Nathan Allen, diretor-executivo da Little Herds, organização que promove os benefícios, tanto nutricionais quanto ambientais, do consumo de insetos.

“A pandemia mudou o foco de ‘alimentar pessoas com insetos’ para ‘alimentar pessoas e ponto final’”, declarou Allen. O grande desafio para os próximos anos se apresenta na inclusão de novas fontes de proteína na dieta das pessoas, além de carne e leite.

6. Sustentabilidade ainda mais em foco

O escritor de ficção científica Neal Stephenson é o responsável pela criação do termo “metaverso”. Com um foco tão grande do SXSW sobre o assunto, esperava-se que ele abordasse o tema. Contudo, subvertendo as expectativas, Stephenson dedicou sua apresentação ao futuro da sustentabilidade.

Stephenson faz reflexões sobre o futuro através de seus livros. A ficção pode ser uma ferramenta poderosa para antecipar tendências. Seu mais novo romance, Termination Shock, aborda o impacto das mudanças climáticas. “O livro fala sobre fazer algo em um curto prazo, como colocar um band aid como forma de solução temporária, que é a engenharia geosolar”, revela.

Para o ficcionista, o problema do aquecimento global só poderá ser resolvido por meio da extração de grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera. O enfrentamento contra as mudanças no clima é extremamente complexo e pode representar o maior desafio de engenharia na história da humanidade, argumenta.

Incentivos econômicos

Atitudes em prol de um mundo mais sustentável devem ser impulsionadas por razões econômicas.

“Há muitos bilionários dos quais nunca ouvimos falar e muitos deles estão em partes do mundo que sofrerão os efeitos das mudanças climáticas muito mais severamente do que os Estados Unidos, em lugares onde o aumento do nível do mar vai ser devastador”, justifica.

A consequência será a destinação de grandes talentos humanos para a tarefa. Stephenson enxerga um movimento incipiente de investidores de tecnologia apoiando iniciativas para a neutralização de carbono.

7. Inovações na saúde

O mercado de serviços de saúde passa por um processo de inovação acelerado pela pandemia. A telemedicina, com atendimentos feitos de forma remota, ganhou força com as políticas de isolamento. Essa dinâmica incentivou a idealização de novas formas de atendimento, diagnóstico e tratamentos.

O SXSW foi palco para o debate sobre algumas delas:

  • Medicina holográfica: a startup Proto apresentou uma plataforma de interação remota entre paciente e médico chamada Epic, através da criação de um holograma. No momento, a tecnologia só está sendo usada para fins educacionais. No entanto, escolas médicas enxergam potencial na tecnologia para o diagnóstico do Mal de Parkinson.
  • Cura pelo som: pesquisadores estão explorando o uso de espaços de imersão auditiva para aliviar o cansaço e o estresse de trabalhadores da saúde. As evidências apontam que o som é uma ferramenta eficaz, embora ainda muito pouco utilizada no campo da medicina terapêutica, com potencial para crescer nos próximos anos.
  • Diagnóstico com dados comportamentais: especialistas prevêem que, no futuro, aparelhos como celulares e carros serão capazes de notar sintomas iniciais de doenças a partir de mudanças sutis no comportamento. Já existem ferramentas em desenvolvimento que denunciam sinais de Alzheimer através da fala.
  • Tratamentos psicodélicos: embora ainda enfrentem resistência, substâncias psicodélicas se mostram úteis em tratamentos psiquiátricos. Promissor, o mercado dessas substâncias para fins medicinais começou a atrair investimentos pesados.

Saúde em casa

A população idosa está crescendo e, cada vez mais, as pessoas preferem passar a velhice em casa. Isso abre uma oportunidade para que a tecnologia cumpra o papel de monitorar indicadores de saúde. “A tecnologia está migrando para a saúde, e a saúde está indo para as casas”, refletiu Débora Di Sanzio, presidente do braço de saúde da rede varejista Best Buy.

A Samsung é mais uma gigante que vê potencial nesse mercado, através de seus produtos vestíveis, como relógios inteligentes. “Com eles, podemos coletar dados sobre composição corporal, detectar arritmias cardíacas e problemas no sono”, declarou Hon Park, executivo da empresa coreana.

Na mesma seara, Scott Galloway prevê que, no futuro, a Amazon será o grande nome dos cuidados com a saúde, graças à integração de suas tecnologias inteligentes. Ele crê que a Amazon vai se tornar a maior companhia de healthcare do mundo. 

Conclusão

Em meio a um leque tão amplo de ideias, áreas e tecnologias exploradas no South by Southwest, algumas tendências e conceitos se mostram poderosas e dominantes. Se o destaque da edição de 2022 foram as diferentes visões de metaverso, assuntos como a importância dos dados e da inteligência artificial seguem vitais.

Rodrigo Carvalho, diretor da agência de inteligência em dados iD\TBWA, avalia que o SXSW 2022 “trouxe à mesa reflexões propositivas sobre o papel da inovação na luta pelos direitos básicos e justiça social, ao mesmo tempo em que projetou os avanços tecnológicos que farão a diferença no desenvolvimento sustentável”.

A transformação digital afeta a integração com pessoas e tecnologias, fazendo com que a inovação constante seja mais importante do que nunca. E o evento trouxe reflexões importantes para as cooperativas, desde ideias mais generalistas de tecnologia e gestão, quanto tendências setoriais para coops agro ou de saúde ficarem de olho.

A pluralidade de ideias presentes no SXSW deixa em evidência que tem muita gente pensando sobre os desafios do futuro e os rumos da tecnologia. A inovação passa pela construção coletiva de ideias, e o SXSW segue sendo um importante palco para que essas ideias sejam expostas e discutidas.

Nesse sentido, aprenda agora a mapear tendências para planejar o futuro da sua cooperativa!

<p>Atraindo volumosos investimentos, o metaverso desponta como o futuro das relações no meio digital. Veja como suas possibilidades estão sendo exploradas e o que esperar dele no futuro </p>

Metaverso: o que é, quais suas aplicações e perspectivas para o futuro da economia digital

Atraindo volumosos investimentos, o metaverso desponta como o futuro das relações no meio digital. Veja como suas possibilidades estão sendo exploradas e o que esperar dele no futuro 


“Metaverso” é uma palavra nova no vocabulário das pessoas. Dados do Google Trends apontam que, no Brasil, pesquisas sobre o termo só foram ganhar tração a partir de outubro de 2021. Contudo, ele já emerge como uma das principais tendências de tecnologia para o futuro.

O ganho de notoriedade e explosão de procura sobre o conceito aconteceu após o Facebook anunciar que mudaria seu nome para Meta e apostaria na construção de seu próprio metaverso. Desde então, diversas outras companhias passaram a apostar no futuro desta ideia que, por enquanto, ainda está engatinhando.

O potencial, entretanto, pode ser enorme. Relatório da consultoria Gartner prevê que 2 bilhões de pessoas vão estar no metaverso até 2026. Nesse prazo, 25% das pessoas vão ficar ao menos uma hora diária no mundo virtual. Este é o fator que deve colocar o metaverso no radar das cooperativas - afinal, é necessário estar onde as pessoas estão.

Neste texto, vamos entender o que é o metaverso, quais são suas origens, oportunidades e desafios. Também iremos explorar as aplicações do metaverso e indicar como as cooperativas poderão se aproveitar desse conceito. Boa leitura!

Afinal, o que é metaverso?

A definição do conceito de metaverso ainda está em construção, e fontes distintas divergem sobre quais circunstâncias justificam a aplicação do termo. A compreensão mais comum é a de um universo digital onde pessoas, por meio de seus avatares, interagem entre si e com outros objetos.

Segundo a Meta, o metaverso pode ser descrito como “um conjunto de espaços virtuais que é possível criar e explorar junto de outras pessoas que não estão no mesmo espaço físico”.

Scott Galloway, professor da New York University afirmou, em sua participação no SXSW 2022, que “o metaverso é muito mais sobre ouvir e menos sobre ver. Neste sentido, a Apple está muito avançada, com seus devices funcionais de áudio, do que o Meta que vem surfando no conceito”.

A evolução dos ambientes virtuais

O designer de jogos e teórico Raph Koster vai mais a fundo na definição, apontando quais são as diferenças entre mundos on-line, multiversos e metaverso:

  • Mundos on-line: ambientes digitais de socialização focados em um determinado tema. Eles podem ir de fóruns baseados unicamente em texto a ambientes tridimensionais detalhados.
  • Multiverso: interconexão entre diversos mundos on-line, que não precisam necessariamente compartilhar a mesma temática ou aplicar as mesmas regras de convivência, em uma rede.
  • Metaverso: evolução do multiverso, possuindo maior integração com o mundo real. É acessado através de ferramentas de realidade aumentada ou virtual. Nele, se torna possível comprar produtos em lojas virtuais que serão entregues na vida real, por exemplo.
  • Os três conceitos estão conectados, explicada Koster. Cada um representa o amadurecimento do estágio anterior, incrementando funcionalidades e demandando avanços tecnológicos. A partir dessas definições, compreende-se que nem todos os ambientes virtuais de convivência entre pessoas se enquadram como metaverso.

Uma rede interconectada

A lógica de Koster aposta que o metaverso não será uma plataforma única, mas sim uma rede interligada. Embora o serviço Horizon, da Meta, seja a iteração mais proeminente do metaverso no momento, seu amadurecimento passa pela conexão de distintos serviços.

Mark Zuckerberg, fundador e presidente da Meta, corrobora o ponto de vista. Segundo ele, o metaverso não vai ser construído por “uma única empresa”. Outras companhias estão tomando a dianteira junto com a Meta no desenvolvimento do ecossistema:

  • Microsoft: a gigante da tecnologia anunciou a plataforma Mesh, que integra elementos de realidade virtual e aumentada a serviços de comunicação. Sua primeira aplicação se dará pela integração ao Teams, solução da companhia para a realização de reuniões remotas.
  • Roblox: jogo on-line para computadores muito popular entre as crianças, o Roblox funciona como uma plataforma em que seus usuários podem criar e disponibilizar seus próprios games. Aproveitando-se da interatividade dos jogadores, o Roblox anunciou sua entrada na disputa pelo metaverso. A Nike já aderiu ao serviço e lançou seu território, o Nikeland.
  • NVIDIA: a empresa de desenvolvimento tecnológico criou a ferramenta Omniverse, que promete a criação de um mundo virtual povoado por lojas, casas, fábricas e museus, por exemplo. O objetivo do Omniverse é a interligação de diversos mundos em um só lugar.

A segunda vida

O jogo Second Life, de grande sucesso na primeira década deste século, despontou como a primeira grande experiência de um metaverso. Nele, pessoas representadas por avatares interagiam entre si e com os ambientes de seu mundo virtual.

Marcas importantes, como o Itaú, ingressaram no jogo. Eventualmente, a popularidade do Second Life foi minada por barreiras tecnológicas e queda de interesse do público. A trajetória do jogo pode apresentar alguns dos desafios para a implementação do metaverso.

Um conceito originado na ficção

O termo metaverso resulta da conjunção entre o prefixo grego “meta”, que significa “além” com o substantivo “universo”. A palavra foi inaugurada pelo escritor de ficção científica Neal Stephenson em seu livro Snow Crash, publicado em 1992.

Na obra, que se passa em um cenário futurista e distópico, o protagonista é um motorista e entregador de pizza no mundo físico que se torna poderoso dentro do universo virtual. No livro, o metaverso é uma espécie de evolução da internet, em que as pessoas interagem como se estivessem em um ambiente real.

Enquanto ainda dá seus primeiros passos na prática, o metaverso já foi representado por outras obras de ficção, como:

  • Matrix: o clássico filme de 1999 encena um mundo dominado por máquinas que mantêm os humanos presos a um universo digital utópico enquanto o mundo real definha. No decorrer da película, um programador descobre a situação e se rebela. Matrix antecipa a discussão ética entre viver uma realidade imperfeita ou em um mundo ideal simulado.
  • Jogador N° 1: representação mais contemporânea e especulativa do metaverso, o livro de 2011 que virou filme representa o metaverso como uma forma de escapismo de uma realidade difícil. Lá, o metaverso é acessado por óculos de realidade virtual.
  • Black Mirror: o episódio “San Junipero” da terceira temporada da série da Netflix conta uma história que se passa em uma cidade de realidade virtual. O lugar é habitado por idosos que estão em seus últimos dias e que podem escolher se ficam por lá após a morte.
  • Além do metaverso, a ficção é uma ferramenta poderosa para antecipar tendências sociais e tecnológicas. Para entender como essa face da ficção pode ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços, veja aqui o post que fizemos sobre o assunto.

Marcas apostam no metaverso

Mesmo que o metaverso ainda esteja dando seus passos iniciais, gigantes de diversos setores já estão investindo alto para se antecipar ao metaverso. O Facebook se jogou de cabeça e muita gente foi atrás. A Bloomberg Intelligence Unit estima que o metaverso deve movimentar 88 milhões de dólares até 2024.

A guinada da empresa se dá em um contexto em que seu carro chefe, o Facebook, apresentou a primeira redução no número de usuários ativos desde 2004. Assim, o metaverso surge como uma forma de pavimentar novos caminhos e tomar a dianteira de uma nova tendência social.

A Meta, inclusive, é protagonista no mercado de desenvolvimento de óculos de realidade virtual, tecnologia fundamental para o ingresso no metaverso. O dispositivo, chamado de Oculus, passará por uma reforma de marca e passará a ser denominado Meta Quest.

Marketplace 4.0

Em seu estágio incipiente, o uso mais dominante do metaverso por parte das companhias se dá na área de marketing e vendas. A rede de fast food McDonald’s, por exemplo, pediu o registro de patente descrevendo um mecanismo de venda virtual de alimentos e bebidas para entrega a domicílio.

No ramo da moda, provadores de realidade aumentada foram testados pela Gucci. A ideia é que usuários possam experimentar peças de roupa e acessórios digitalmente, conferindo o resultado para decidir fazer a compra online. A Dolce & Gabbana foi além e promoveu um desfile de moda imersivo na plataforma Decentraland.

No Brasil, a operadora de telefonia TIM inaugurou sua loja no metaverso. O empreendimento toma como base uma das lojas reais da TIM e visa reforçar sua estratégia de omnicanalidade, integrando real e virtual na estratégia de vendas.

Nos céus digitais

A Boeing, histórica fabricante de aviões, anunciou que pretende construir seu próximo modelo utilizando o metaverso. A finalidade é implementar projetos de engenharia tridimensionais que serão trabalhados remotamente por engenheiros através de óculos de realidade virtual.

A medida faz parte de uma estratégia de unificar operações em um único ecossistema, integrando design, produção e serviços aéreos. A fabricante vive uma crise de desconfiança após erros de projeto que culminaram na queda de dois aviões 737 MAX.

O metaverso surge como alicerce para que a companhia possa desenvolver réplicas virtuais de seus aviões em 3D - chamados de gêmeos digitais. No mundo virtual, o funcionamento dos aviões será analisado virtualmente, antecipando problemas reais.

Arquibancadas poligonais

Eventos também podem se beneficiar do metaverso. A japonesa Sony e o clube de futebol inglês Manchester City firmaram uma parceria para levar o estádio da equipe ao universo digital. Assim, torcedores do mundo todo podem vivenciar a experiência de ver uma partida in loco.

A desenvolvedora de jogos Epic Games está explorando as possibilidades do metaverso no mundo da música por meio de seu produto mais famoso, o jogo on-line Fortnite. O game já foi palco para shows de artistas populares entre os jovens, seu público-alvo. A apresentação do rapper Travis Scott amealhou 12 milhões de jogadores.

Como cooperativas podem aproveitar o futuro do metaverso

Inovações, como o metaverso, trazem consigo um leque de oportunidades e outro de desafios. Mesmo ainda incipiente, antecipar as suas possibilidades permite um melhor planejamento para a presença na plataforma quando ela estiver amadurecendo. Essas são algumas das atividades que podem ser executadas dentro do metaverso:

Marketing e vendas

Até aqui, como já explicamos, as áreas de marketing e vendas são as que mais se beneficiaram das atuais tecnologias que prometem universos virtuais. Dentre as maneiras em que elas podem ser praticadas pelas cooperativas, estão:

  • Showroom: criar um espaço de exibição virtual de seus produtos reduz custos com a estrutura física de uma instalação demonstrativa e aumenta o número de potenciais visitantes. Sem fatores impeditivos à visita de um estande, como distância, trânsito, tempo de deslocamento e capacidade de lotação, os showrooms ficam mais eficientes e atrativos. A Roca Brasil, que atua no ramo de cerâmica, já adotou o metaverso para apresentar seus lançamentos.
  • Marketing de experiência: imagine poder fazer um test drive sem sair de casa, em um carro virtual idêntico ao real. Para quem vende, isso significa menos custos com a depreciação dos veículos e possíveis acidentes, além de aumentar o universo de consumidores potenciais que podem ter a experiência. Essa lógica pode ser aplicada para diversos produtos.

Trabalho e reuniões

A instauração de ambientes virtuais também cria uma gama de possibilidades sobre a execução dos trabalhos pelos colaboradores. Cooperativas, com sua natureza participativa dos associados, podem se beneficiar dessa faceta do metaverso.

  • Reuniões: a integração que a Microsoft está fazendo entre o Mesh e o Teams, como vimos acima, representa um novo grau de interatividade nas reuniões remotas. Bill Gates, fundador da companhia, diz que até 2024 todas as reuniões serão no metaverso.
  • Assembleias: mais especificamente em relação às cooperativas, o metaverso surge como uma sede para os encontros de cooperados que definem os rumos da instituição. A participação remota pode culminar em assembleias mais acessíveis e menos custosas, sem prejuízos para a possibilidade de participação dos cooperados.
  • Desenvolvimento de projetos: como vimos no caso da Boeing, alguns projetos demandam a atuação de diversas áreas e equipes de uma companhia, e não é diferente nas cooperativas. Com os gêmeos digitais, times com expertise distintas e alocados em locais esparsos podem atuar de forma sincronizada.
  • Recrutamento: a Companhia de Estágios já investiu R$ 500 mil reais na primeira fase de seu projeto para realizar entrevistas de emprego no Horizon, plataforma da Meta. Processos de seleção já estão sendo feitos no metaverso.
  • Enquanto a previsão de Bill Gates não se realiza, veja como realizar reuniões mais ágeis e práticas nesse material que desenvolvemos como foco em cooperativismo.

Novas profissões no metaverso

Um estudo da empresa de tecnologia Lenovo aponta que 44% dos funcionários adotariam o metaverso caso enxerguem que ele possa oferecer benefícios e produtividade ao ambiente profissional.

Concomitante a isso, o metaverso também aponta para novas tendências para o mercado de trabalho. O portal da revista Época Negócios enumerou uma lista de nove profissões que serão incentivadas pelo metaverso que as cooperativas já podem ficar de olho:

  1. Cientista de pesquisa do metaverso
  2. Estrategista de metaverso
  3. Desenvolvedor de ecossistemas
  4. Gerente de segurança do metaverso
  5. Construtor de hardware do metaverso
  6. Storyteller do metaverso
  7. Construtor de mundos
  8. Especialista em bloqueio de anúncios
  9. Especialista em segurança cibernética do metaverso

Os gargalos do metaverso

Nem tudo é bom presságio para o avanço do metaverso. Sua massificação ainda está contida em uma série de amarras, que freiam sua praticabilidade em grande escala.

Fabricante de chips e semicondutores, a Intel alerta que a visão de metaverso propagada pela Meta depende de um poder de processamento e armazenamento ainda inexistente. Um metaverso acessível em tempo real para bilhões de humanos demandaria um aumento de mil vezes a eficiência computacional atual.

A velocidade da conexão à internet é outra barreira para a construção do metaverso. Um mundo digital complexo requer uma latência quase instantânea de forma coordenada entre os usuários, sob o risco de desconexões e instabilidades. A popularização da internet de quinta geração, o 5G promete revigorar este ponto, mas ainda é uma incógnita se ela será suficiente.

Unindo tecnologia a fatores sociais, há ainda escassez e alto custo dos materiais necessários para a integração ao metaverso, como óculos de realidade virtual e computadores de alto poder de processamento. Sem barateamento dos aparelhos, o metaverso pode se tornar um espaço de exclusão social.

Ceticismo

Ainda que muitas instituições tenham mostrado empolgação e acenado com grandes investimentos, nem todo mundo compartilha da mesma fé sobre o futuro do metaverso.

Apesar de a indústria de videogames se projetar como a protagonista neste estágio inicial de adoção do metaverso, seu sucesso não é unanimidade. A gigante japonesa Nintendo, conhecida por ser tradicionalista e conservadora nos negócios, não demonstrou muito interesse em adotar a tendência, ao menos por enquanto.

Ainda no ramo dos jogos, a Take Two, dona de diversas franquias populares como GTA e NBA 2K, também expressa ceticismo. O CEO da companhia, Strauss Zelnick, acredita que a visão da Meta não corresponde aos desejos dos consumidores.

ConclusãoDe fato, em seu atual estado, o metaverso levanta mais questões do que apresenta soluções. Enquanto a transformação digital se apresenta como inevitável, o metaverso ainda precisa convencer que é capaz de atingir o potencial enxergado por muita gente.

O estudo Into the Metaverse, elaborado pela Wunderman Thompson, já indica que, para 76% das pessoas, as tarefas diárias dependem da tecnologia. O metaverso germina desse contexto conectado que coloca a tecnologia no centro de nossas vidas. Contudo, ele tem limites tecnológicos e sociais. E nem toda tendência vem pra ficar.

Sendo apoiado por gigantes de diversos segmentos importantes da economia, o metaverso sinaliza como uma fatia importante para guiar os próximos anos do desenvolvimento tecnológico.

De qualquer forma, inovar e agregar novas tecnologias é vital. Pensando nisso, o InovaCoop elaborou um curso on-line gratuito para que as cooperativas entendam como enxergar a hora de mudar e implementar novas soluções tecnológicas.

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<p>Conheça as startups que irão participar da prova de conceito para solucionar os desafios selecionados no programa. </p>

Divulgadas as Startups para os desafios do programa Conexão com Startups 2ª edição

Conheça as startups que irão participar da prova de conceito para solucionar os desafios selecionados no programa.


No final de fevereiro foi encerrada a fase de bootcamp, período em que as startups puderam realizar o refinamento e receber orientação para o desenvolvimento das soluções de cada desafio. Agora, as cooperativas selecionam a solução que melhor propõe a resolução do desafio. As startups selecionadas participam da POC (Prova de Conceito) no dia 14 de março, com previsão de duração de 3 meses. A Prova de Conceito é uma forma de testar a solução e aprovar a ideia do projeto em baixa escala.

 

O Conexão com Startup utiliza a inovação aberta a partir de parcerias ou intercooperação para, junto com startups, buscar a melhor solução para os desafios apresentados pelas coops. O objetivo é aumentar a eficiência dos projetos, reduzir custos e riscos, melhorar o retorno sobre os investimentos e ampliar as oportunidade e fontes de receita. Outro ponto importante é que as soluções propostas precisam ter potencial para serem escalados para outras cooperativas, contribuindo para o desenvolvimento da cultura de inovação e consolidando as iniciativas de sucesso. Para saber mais sobre o programa e suas etapas, clique aqui.

<p>Grandes corporações já estão contratando ficcionistas para imaginar as demandas do futuro e desenvolver produtos e serviços.</p>

A ficção como meio de construir narrativas e antecipar tendências

Grandes corporações já estão contratando ficcionistas para imaginar as demandas do futuro e desenvolver produtos e serviços.


As narrativas de ficção são ferramentas poderosas que remetem às primeira civilizações que desenvolveram a escrita. A arte de inventar e contar histórias faz parte da natureza humana. A ficção pode ser usada tanto para retratar uma determinada realidade quanto para especular o futuro - características que podem ajudar a antecipar tendências para inovar.

A ficção é um meio de compreensão do mundo. O autor americano Mark Twain escreveu: “a verdade é mais estranha do que a ficção, mas é porque a ficção é obrigada a se ater às possibilidades; a verdade não”. Entender o mundo - e antecipar o futuro - é justamente um dos maiores desafios que corporações e cooperativas enfrentam na gestão da inovação.

Algumas instituições já contam até com profissionais especializados em prever tendências - os coolhunters - tamanha é a relevância de estar na proa. E muitos ficcionistas, em diversas mídias, se arriscam justamente a especular como o mundo e a sociedade estarão no futuro. E muitas previsões oriundas da ficção já são realidade.

Neste post, iremos explorar como a ficção é capaz de antever tecnologias e dinâmicas sociais e como as organizações estão se baseando nessas predições para desenhar suas estratégias de inovação. Boa leitura!

Ficção especulativa

A premiada escritora canadense Margaret Atwood, reconhecida pelo livro O Conto de Aia, que inspirou uma série de sucesso com o mesmo nome, faz uma distinção entre ficção especulativa e ficção científica. Enquanto a ficção científica é focada em aparatos tecnológicos ou cenários inverossímeis, a ficção especulativa trata de futuros plausíveis, que podem acontecer.

Margaret Atwood entende que a ficção especulativa existe como um reflexo do mundo real. Trata-se da construção ficcional de um futuro palpável de acordo com as tendências tecnológicas, culturais e sociais correntes. 

Dentre os subgêneros da ficção especulativa que buscam explorar mecanismos sociais e tecnológicos estão:

  • Utopias e distopias: obras que imaginam o futuro através da construção de cenários idealistas (utópicos) ou catastróficos (distópicos). O clássico romance distópico Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury e adaptado às telonas por Truffaut, previu a identificação biométrica e o atendimento bancário de 24h ainda em 1953.
  • História alternativa: consiste de cenários compostos a partir de uma realidade alternativa. O Homem do Castelo Alto, clássico da ficção científica que virou série de sucesso, imagina como seria o mundo caso a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

O futuro do mercado

Uma coisa é fato: a tecnologia se desenvolve em uma velocidade que pode ser muito difícil de acompanhar. Somente ficar a par dos noticiários e das soluções tecnológicas disponíveis no mercado pode não ser suficiente - é preciso olhar para frente.

O planejamento para um novo produto tem que levar em conta suas aplicações no futuro, interpretando as pistas do presente. É preciso estar atento às tecnologias atuais, mas sempre de olho nos próximos passos de seu desenvolvimento.

E quem está continuamente buscando interpretar o futuro a partir das pistas do presente? Os ficcionistas. Não é à toa que grandes instituições já ligaram os pontos e estão construindo cenários visionários para planejar os rumos de suas políticas de inovação.

Usando a ficção para explorar inovação nos negócios

Em um relatório sobre a exploração da ficção para a inovação nos negócios, a consultoria PwC determina que as ideias de futuro devem colocar a experiência humana em primeiro plano. O exemplo dado é a predição do telefone celular na série Star Trek: o foco não foi na tecnologia de funcionamento do aparelho, mas na necessidade humana de comunicação instantânea.

O emprego da ficção para a compreensão de tendências futuras a fim de nortear a inovação ganhou a alcunha de design fiction e está ganhando espaço no orçamento das big-techs. O relatório da PwC, contudo, explica que grandes e pequenos negócios podem tirar proveito do design fiction - e as cooperativas não são exceção.

O argumento é de que, ao antecipar às demandas futuras de mercado, ganha-se uma vantagem competitiva na elaboração de novos produtos ou serviços. A compreensão de “como” e “por quê” novas tecnologias serão adotadas pelas pessoas aumenta a tangibilidade e chance de sucesso em novos projetos.

Guia para lideranças

Em artigo publicado pela Harvard Business Review, o romancista Eliot Peper defende que os gestores devem ler mais ficção científica. Não por ela ser capaz de fazer previsões, mas por repensar premissas do comportamento humano e entregar novas perspectivas sobre a interação entre as pessoas e o mundo.

O consultor de marketing Igor Beuker, que já trabalhou em projetos com marcas globais como Nike e Amazon, é mais um defensor do consumo de ficção científica por executivos e gestores. “O futuro se trata de ser imaginativo, não de estar certo”, escreveu. Para ele, imaginar o futuro ajuda a quebrar tradições que retardam a implementação da inovação.

Ficção especulativa corporativa

A movimentação em prol do uso de ficção para antecipar tendências do ambiente de negócios amadureceu a tal ponto que existem consultorias especializadas atuando nesse setor. Seus serviços, contratados por gigantes da economia mundial e até mesmo pelo exército dos Estados Unidos, são concorridos - e custosos.

A Experimental.Design é liderada por Alex McDowell, um designer de narrativas com farta experiência em Hollywood. A companhia é especializada em world building, ou construção de mundo, por meio da ficção especulativa.

Contratada pela montadora Ford, a Experimental.Design construiu o protótipo de uma cidade do futuro, em que os espaços são mais ocupados por pessoas, em detrimento dos carros. Definitivamente, um desafio para uma das líderes da indústria automotiva - ao qual a Ford pode, agora, se antecipar e inovar.

Quando De Volta Para o Futuro 2 prevê um videogame controlado por movimentos, que se materializou com o sucesso do Nintendo Wii, ele antecipou o comportamento humano, além da tecnologia. Imaginar o futuro a partir das necessidades e vontades das pessoas é o gatilho da inovação.

Cenários do futuro

Uma outra abordagem do uso corporativo da ficção para o desenvolvimento de cenários especulativos destinados a instituições é a da SciFutures. A companhia desenvolve protótipos de produtos e serviços com base no futuro imaginado por escritores de ficção científica e especulativa.

Com a ajuda de seu time de escritores, a SciFuture ajudou a varejista do ramo de casa e construção Lowes no desenvolvimento da Holoroom. A tecnologia permite a visualização de mudanças na estrutura e decoração de uma casa com ajuda da realidade aumentada quando essa ainda não era uma tecnologia disponível aos consumidores finais.

Quando o produto sai das páginas

Os leitores digitais inovaram e revolucionaram o mercado editorial e, com a pandemia, ficaram cada vez mais populares. No Brasil, a venda de e-books aumentou 83% só em 2020. E o grande responsável pelo desenvolvimento desse setor é o Kindle, da Amazon, que tem uma dominância de 72% no mercado americano.

Leitores digitais já tinham sido feitos antes, mas sempre com execução pouco exitosa. Inspirado no livro The Diamond Age, do escritor de ficção científica Neal Stephenson, em que um engenheiro rouba um livro interativo para sua filha, Jeff Bezos, fundador da Amazon, idealizou o Kindle. O aparelho por pouco não se chamou Fiona, em homenagem à personagem do romance.

As habilidades analíticas de Stephenson eram tão apreciadas por Bezos que ele foi contratado para atuar na Blue Origin, empresa de desenvolvimento de foguetes do dono da Amazon. Atualmente, o escritor ostenta o cargo de “futurista chefe”, na Magic Leap, explorando o uso da realidade virtual com foco no metaverso - termo que ele inventou em seu livro Snow Crash.

O metaverso representado na ficção

O metaverso ganhou as manchetes do mundo todo quando o Facebook anunciou que mudaria de nome para Meta e investiria pesado na criação de seu universo virtual.

Desde então, diversas organizações anunciaram investimentos para o metaverso. Por enquanto, o metaverso é mais promessa do que realidade. Mas a ficção já apontou direções do que se pode esperar.

Na obra de Stephenson, o protagonista vive duas vidas: na real, ele é um entregador de pizzas; na virtual, é um príncipe guerreiro. Contudo, a obra que deu popularidade à ideia de um universo digital independente veio da sétima arte: a Matrix.

Dentro da Matrix

No clássico da ficção científica de 1999, o mundo é dominado por máquinas que mantêm os humanos em um universo artificial utópico enquanto seus corpos reais vivem em condições precárias. No decorrer da película, um programador descobre que vive em um mundo artificial projetado por uma inteligência artificial e se rebela.

Matrix antecipa a discussão ética entre a escolha de viver entre uma realidade imperfeita ou em um mundo ideal simulado que os projetos para a construção do metaverso instigam. As reflexões feitas pelo filme servem de alerta para os riscos e perigos de quem planeja inovar de olho no metaverso. E essa não foi a única tendência que Matrix previu.

Jogador N° 1

Outra representação - mais contemporânea e especulativa - do metaverso está no filme Jogador N° 1, derivado de um livro homônimo publicado em 2011. O filme se passa em um futuro acossado por crises energéticas e aquecimento global, dois riscos tangíveis, em que as pessoas escapam das agruras integrando um jogo social no metaverso.

Assim como o metaverso da Meta, o de Jogador N° 1 é acessado por equipamentos de realidade virtual. Em consonância, a Meta investe no desenvolvimento de sua própria tecnologia de óculos de imersão.

As previsões do cinema

Alex McDowell, da Experimental.Design, é a mente por trás de diversos conceitos do filme Minority Report, de 2002, dirigido por Steven Spielberg. A película narra um futuro distópico em que é possível antecipar a ocorrência de crimes. Pouco mais de uma década depois do lançamento do filme, tecnologias forenses preditivas com base em dados já estavam sendo aplicadas.

Essa não foi a única antecipação de tendências da obra, que muniu McDowell de credenciais para seus empreendimentos futuristas. Eis outros de seus acertos na película:

  • Carros autônomos: montadoras ao redor do mundo estão concorrendo para atender a um mercado que já é realidade Minority Report. Sistemas de direção sem a necessidade de um motorista ainda não são comercial e tecnologicamente viáveis, mas é uma direção que parece sem volta no setor automotivo.
  • Anúncios personalizados: no filme, o protagonista é perseguido por propagandas que conversam diretamente com ele. Na internet, os anúncios com base nos interesses dos usuários fazem parte do dia a dia. Big Techs, como o Google, rastreiam o consumo de conteúdo dos internautas e exibem publicidade com base nas preferências de cada indivíduo.
  • Reconhecimento óptico e facial: o protagonista da obra de Spielberg tenta escapar dos sistemas de monitoramento da cidade com um transplante de retina. No mundo real, algoritmos de reconhecimento facial e biometria já estão sendo usados em sistemas de segurança e redes sociais conseguem identificar pessoas através de fotos - sob críticas.

Das telas para a vida

Outros filmes também acertaram tecnologias que só seriam desenvolvidas tempos depois. Eis alguns outros exemplos da realidade inspirada pela arte:

  • Tablets: o clássico de Stanley Kubrick 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) apresenta uma cena em que astronautas estão conferindo informações em um aparelho fino de tela plana. O design apresentado pelo filme é muito semelhante aos tablets modernos.
  • Casa inteligente: o filme A Casa Inteligente, da Disney, acertou até mesmo o nome do conceito. Nele, o dia a dia da residência é administrada por um robô, que atende a comandos de voz e executa tarefas. Dispositivos de casa inteligente foram popularizados pelo Amazon Echo e sua assistente virtual, a Alexa.
  • Videoconferência: a comunicação remota por vídeo é uma das tecnologias mais frequentemente retratadas pelas ficções futuristas. Star Trek apresentou o conceito em um episódio de 1966 e a ideia foi replicada em outras obras, como Aliens e Blade Runner.
  • Robô aspirador: embora mais fantasioso e lúdico do que as outras obras aqui citadas, o desenho Os Jetstons introduziu um aparelho que limpava a casa automaticamente. Hoje, os robôs-aspiradores já causam até batalhas comerciais.

Conclusão

Ari Popper, CEO da SciFutures, argumenta que é importante antecipar o futuro porque é lá que está o consumidor dos produtos que uma organização está planejando. Ele exemplifica: a Intel leva dez anos para desenvolver e produzir um novo chip, portanto, ela precisa saber para que e como os computadores serão usados com uma década de antecedência.

Obras de ficção canalizam a criatividade, construindo cenários que agem como motores para a criação de novas ideias - onde se inicia o processo de inovação. O exercício de especular o futuro para antecipar tendências ajuda na compreensão das dinâmicas sociais e direções da tecnologia.

O processo de inovação passa pela antecipação das tendências - e o InovaCoop tem um curso online de pesquisador de tendências voltado ao cooperativismo. Desenvolvido em parceria com a Descola, o curso ensina a olhar para cenários e contextos de uma forma estratégica, para te ajudar a mapear tendências a partir de mudanças sociais, de produtos ou de comportamentos.

Pistas que ajudem na interpretação das tendências para o futuro podem estar em diversos lugares. Essa é uma tarefa complexa, contínua e multidisciplinar. E prestar atenção na ficção pode dar bons insights do que está por vir. 

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