Startups interessadas em desenvolver soluções podem se inscrever até 23 de janeiro
O Sistema OCB divulgou na sexta-feira (10/12) a lista dos cinco desafios que participam da segunda edição do programa InovaCoop Conexão com Startups. Com foco no Agro, as soluções procuradas envolvem sistemas de logística, de estimativa de produção, de precificação, de controle da demanda/oferta e de fracionamento de produtos. Os desafios selecionados são das cooperativas Cemil (MG), Coopama (MG), Coplana (SP), Santa Clara (RS) e Uneagro (SC).
Com a divulgação dos desafios, a próxima etapa prevê as inscrições das startups que tenham interesse em, junto com as cooperativas, iniciarem o desenvolvimento das soluções. O prazo vai até 23 de janeiro de 2022. Em seguida, as três startups com as propostas mais promissoras para cada um dos desafios participam de um período de imersão para refinamento das soluções. A melhor solução será escolhida para realizar a prova de conceito (POC), ferramenta utilizada para testar uma funcionalidade e viabilidade de uma ideia ou conceito em baixa escala.
O programa utiliza a inovação aberta a partir de parcerias ou intercooperação para, junto com startups, buscar a melhor solução para os desafios apresentados. O objetivo é aumentar a eficiência dos projetos, reduzir custos e riscos, melhorar o retorno sobre os investimentos e ampliar as oportunidade e fontes de receita. Outro ponto importante é que as soluções propostas precisam ter potencial para serem escalados para outras cooperativas, contribuindo para o desenvolvimento da cultura de inovação e consolidando as iniciativas de sucesso.
Desafios selecionados
Integração e logística (Coopama/MG): O volume de produtos entregues para uma grande quantidade de cooperados em um curto espaço de tempo dificulta a programação. Há necessidade de maior eficiência na organização das rotas de entrega para reduzir custos e aumentar a qualidade do serviço prestado. Além disso, há necessidade de melhorar a comunicação entre os produtores e os setores internos envolvidos. Atualmente, sem um sistema de roteirização informatizado, a Coopama depende unicamente da intervenção humana, o que aumenta as chances de erro.
Precificação (Cemil/MG): O leite UHT, responsável por aproximadamente 50% do faturamento da cooperativa, sofre constante oscilação de preço e, com isso, é dificultada a previsibilidade mínima para a definição do preço de venda. A previsão, contudo, é fundamental para negociar com o varejo. Hoje, a cooperativa não possui um modelo matemático para desenhar o cenário das variações do preço do leite no mercado. A cooperativa procura, assim, uma solução que garanta maior assertividade nessa previsão.
Fracionamento de produto (Santa Clara/RS): A cooperativa enfrenta o desafio de conseguir fazer o fracionamento de produtos, como o queijo, em pesos específicos. O corte em cunhas é dificultado pela variação nas formas dos queijos, já que o processo não é 100% automatizado. Como consequência, a atual variação de pesos não está dentro da tolerância aceitável e existe muita perda no corte quando feito por lâminas, o que também não deixar o produto visualmente aceitável para o consumidor. O objetivo é realizar o corte dos produtos com o mínimo de variação possível, atendendo a normas legais do Inmetro, além de minimizar descartes a nível industrial.
Estimativa de produção (Coplana/SP): O desafio enfrentado pela cooperativa é a previsão e a estimativa de produção do amendoim, devido a particularidades da sua cultura, pois, como as vagens são formadas no interior do solo, a percepção visual da produtividade da lavoura é dificultada. Atualmente, o corpo técnico da cooperativa faz a estimativa de produtividade das lavouras através de uma interpretação visual, o que acarreta uma margem de erro considerável. Ao ter uma estimativa mais assertiva, a cooperativa pode se planejar melhor para o recebimento, beneficiamento e comercialização da produção, tornando o negócio mais eficiente e rentável.
Gestão de demanda/oferta (Uneagro/SC): Nos últimos tempos, percebeu-se uma progressiva baixa da participação dos cooperados na vida da cooperativa. Atualmente, dos mais de 600 cooperados, menos de 30 passam seus trabalhos pela Uneagro. Com isso, os cooperados perdem a oportunidade de se beneficiar com a gestão contábil e fiscal que a cooperativa oferece. O desafio proposto é promover a convergência entre a oferta dos serviços dos profissionais cooperados e a respectiva demanda pelo serviço, por pessoas físicas e/ou jurídicas, públicas e/ou privadas e outras cooperativas.
Para saber mais sobre os desafios, veja aqui.
Ao longo de 2021 o InovaCoop contribuiu para essas transformações, então vamos relembrar um pouquinho do que tivemos por aqui?
2021: que ano, hein?! Aconteceu tanta coisa que a gente nem sabe dizer o que foi mais marcante e transformador, mas sem dúvidas teve aprendizado para todos os gostos!
Logo de cara, a gente iniciou esse ano tentando entender melhor como as nossas cooperativas estavam lidando com a inovação, o quanto estavam inovando e quais são os seus desafios. E os resultados da pesquisa sobre inovação no cooperativismo foram impressionantes! Que tal relembrar?
- FIQUE POR DENTRO: Como está a inovação no cooperativismo?
Ver tantas iniciativas inovadoras no cooperativismo e diversas outras surgindo de forma tão genuína, nos trouxe também uma reflexão: o quanto o coop, em sua essência, sempre teve o gene da inovação. Talvez seja por isso que esse modelo de negócio conta com tamanha capacidade de transformação, ficando cada vez mais em evidência. Aí é claro que aproveitamos todas as oportunidades para mostrar o quanto cooperativismo e inovação têm tudo a ver!
- FIQUE POR DENTRO: Cooperativismo: um modelo de negócio cada vez mais atual e inovador
- PODCAST: The Shift: Cooperação e Inovação
E por falar em capacidade de ser reinventar, se tem uma coisa que as cooperativas fizeram em 2021, foi isso! Agora explorando diferentes nichos, por meio das plataformas, os negócios cooperativistas estão alçando novos voos e gerando oportunidades. E é claro que o InovaCoop está presente, impulsionando essa empreitada do cooperativismo de plataforma! Tem até curso gratuito que mostra os caminhos das pedras!
- FIQUE POR DENTRO: Plataforma de negócios: oportunidades para as cooperativas
- FIQUE POR DENTRO: Como funcionam as plataformas de negócios no cooperativismo
- CURSO: Cooperativismo de Plataforma
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Esse ano a gente também avançou muitos passos rumo à consolidação de uma cultura de inovação nas cooperativas. E com uma série de materiais, ficou bem mais fácil direcionar as estratégias e concentrar energia e recursos nas coisas certas!
- GUIA PRÁTICO: Inovação com DNA cooperativista
- E-BOOK: Inovação no planejamento estratégico da cooperativa
- E-BOOK: Gestão da inovação no cooperativismo
Além disso, durante a Semana InovaCoop tivemos a oportunidade de fazer uma imersão em assuntos como competitividade e inovação, tendências e a construção de futuros, com grandes nomes como Maurício Benvenutti e Tiago Mattos. Vale a pena rever:
- VÍDEO: Competitividade e Inovação - Maurício Benvenutti
- VÍDEO: Construir futuros - Tiago Mattos
E mais: também convidamos a Martha Gabriel, que sabe tudo e mais um pouco sobre inovação, transformação digital e tendências, para trazer dicas e indicações de livros que não podem faltar aí na biblioteca da sua coop!
Em 2021 a gente fortaleceu ainda mais as relações dentro do ecossistema de inovação. Impulsionamos as parcerias entre cooperativas e startups, e com isso todo mundo sai ganhando. Conheça mais sobre este programa, que está na 2ª edição:
- PROGRAMA: INOVACOOP CONEXÃO COM STARTUPS
Ufa! Que ano intenso, minha gente! Aqui temos apenas uma amostrinha do que aconteceu este ano, navegando no site você encontra vários conteúdos que podem impulsionar a inovação na sua coop.
Pode ir se acostumando porque a inovação não para e já tem muito conteúdo no forno! Quem avisa amigo é: em 2022 tem muito, muito mais!
Ecossistema brasileiro tem se empenhado em pesquisar e fomentar o cooperativismo de plataforma no país
A Conferência Anual do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma, liderado por Trebor Scholz, aconteceu entre 12 e 18 de novembro de 2021 e foi dividida entre evento presencial, realizado na Universidade Humboldt de Berlim (12 e 13 de novembro), e vários eventos virtuais (de 15 a 18 de novembro) pelo mundo todo. No total, o evento reuniu cerca de 90 palestrantes de mais de 20 países.
A novidade da edição ficou por conta de um painel formado exclusivamente por especialistas brasileiros. Com o tema “Cooperativismo de Plataforma no Brasil”, o painel contou com as presenças de:
- Rafael A. F. Zanatta, diretor da Data Privacy Brasil
- Camila Luconi, professora de cooperativismo da Escoop
- Georgia Nicolau, diretora do Instituto Procomum
- Mário De Conto, diretor da Escoop
- Rafael Grohmann, fundador do Observatório de Cooperativismo de Plataforma
- Samara Araujo, coordenadora de inovação do Sistema OCB
Com visões complementares, os painelistas puderam apresentar o ecossistema brasileiro de cooperativismo de plataforma, o qual, segundo eles, nunca esteve tão aquecido como agora. E isso se deve em boa parte à pandemia de Covid-19, que evidenciou a necessidade dos empreendedores em utilizar plataformas digitais para manter seus negócios, além do uso em larga escala de aplicativos de entregas.
Ecossistema e visibilidade do cooperativismo de plataforma
Foi interessante notar como o painel conseguiu reunir diferentes players de um ecossistema pujante e que se mostra cada vez mais necessário para fomentar cooperativas de plataforma no Brasil. Afinal, entender uma inovação em sua totalidade exige uma análise sistêmica - e já explicamos isso neste outro post.
Do ponto de vista jurídico, por exemplo, o evento contou com a presença do diretor da Escoop, Mário De Conto, que conduz um projeto de pesquisa aprovado na chamada pública do CNPQ-SESCOOP. Nesta pesquisa, ele analisa os fatores impulsionadores e restritivos ao desenvolvimento do cooperativismo de plataforma no ordenamento jurídico brasileiro, propondo medidas para seu desenvolvimento.
“O que percebemos é que não se faz necessária a criação de uma lei específica para cooperativas de plataforma, mas sim atenção a alguns pontos da Lei Geral de Cooperativas a ponto de afastar fatores restritivos”, afirma o diretor da Escoop - que deu mais detalhes sobre o assunto nesta entrevista ao InovaCoop.
Um exemplo de mudança na legislação - que contou com a contribuição do Sistema OCB - foi a autorização, em 2020, para realização de assembleias digitais, o que representa um considerável avanço no que tange à cultura digital para cooperativas.
“Discutia-se muito no cooperativismo a adoção de instrumentos digitais para a realização das assembleias e o seu impacto na participação dos associados e na governança. Com a pandemia, esse processo foi acelerado e naturalizado”, explica Mário De Conto.
Além das questões jurídicas e de governança digital, a visibilidade ao tema também é de suma importância. Por isso, além do InovaCoop, que desde o seu início publica conteúdos sobre o tema, o evento também destacou a atuação do DigiLabour e do Observatório do Cooperativismo de Plataforma (OCP), ambos liderados por Rafael Grohmann, que é crítico da precariedade do trabalho em plataformas e defende a dignidade do cooperativismo.
“Tenho pesquisado o cooperativismo de plataforma mais a fundo desde 2018. E vejo o Brasil como um dos países com a comunidade online mais vibrante em torno do cooperativismo de plataforma. Agora nós precisamos transformar isso em políticas públicas, legislação”, afirma Grohmann.
Samara Araújo, coordenadora de inovação do Sistema OCB, confirma o maior interesse em torno do tema e conta que, atualmente, o cooperativismo de plataforma é um dos temas trabalhados pelo InovaCoop por meio de educação e informação. “Há uma demanda cada vez maior pelo tema, não só pelas cooperativas já estabelecidas, mas também por pessoas que ainda não estão no setor”, explica.
Ela lembra, porém, que ainda temos poucas startups cooperativas criadas totalmente de forma digital no Brasil. Por outro lado, afirma Samara, “há várias cooperativas tradicionais tirando proveito do modelo de plataforma de negócios”.
Dúvidas sobre o conceito
O painel também discutiu a definição do conceito de cooperativa de plataforma, que pode ter entendimentos diferentes conforme a legislação de cada país. Por isso, Mário De Conto, da Escoop, lembra que, segundo a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), “uma cooperativa de plataforma é uma cooperativa criada conforme os princípios cooperativos e que opera por meio de uma plataforma digital”.
O mediador do painel e diretor da Data Privacy Brasil, Rafael Zanatta, reforça que, de fato, existe uma certa complexidade entre os diferentes modelos, especialmente do ponto de vista legal. “E isso representa, para todo o ecossistema, uma oportunidade para revermos nossa legislação, que é muito rígida”, opina.
Vale ressaltar que o cooperativismo - não só o de plataforma - é um modelo de negócio cada vez mais atual e inovador. Camila Luconi, professora de cooperativismo da Escoop, lembra que as cooperativas representam cerca de 12% da população mundial. “Ao mesmo tempo que é um nicho, também é um setor muito grande”, afirma.
Camila também exalta uma característica relevante das coops nos dias atuais: a distribuição do poder. “Se você é cooperado, você possui uma parte da propriedade, e não apenas por conta do capital. E isso segue sendo muito inovador mesmo nos dias atuais”, explica. Tal característica reforça o potencial de crescimento do cooperativismo de plataforma, ainda mais num cenário de crise como o atual.
Confira como foi o painel brasileiro (em inglês) na conferência internacional do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma:
Mais sobre o evento
Segundo os organizadores da conferência, a atual pandemia deixou o planeta em desordem e escancarou a importância da internet. Por outro lado, também evidenciou a necessidade de termos mais cooperativas de plataforma.
“Quando confrontados com uma desigualdade econômica avassaladora, mudanças antes impensáveis ??podem se tornar senso comum. Agora é hora de criar uma economia digital que responda a essas questões urgentes, para tornar a democracia um lugar comum, no local de trabalho e fora dela; para escalar a igualdade; para contribuir com os bens comuns, não com a destruição de nosso meio ambiente. É hora de pensar sobre como as plataformas digitais podem ser guiadas por princípios cooperativos”, afirma o consórcio responsável pela conferência.
Pensando nisso, a edição deste ano levou a hashtag #TheNewCommonSense (o novo senso comum) e reuniu cooperados, colaboradores, formuladores de políticas, pesquisadores, designers e ativistas de mais de 20 países.
O grande objetivo era avaliar como as cooperativas de plataforma responderam à pandemia, analisar políticas de inibição e apoio e discutir experimentos atuais com cooperativas de dados, sistemas de token e redes criptográficas. Algumas questões discutidas no evento foram:
- Em uma sociedade de plataforma, como os trabalhadores geograficamente dispersos podem autogovernar as plataformas digitais?
- Quais setores e comunidades se beneficiarão mais com as cooperativas de plataforma?
- Que papel os sindicatos podem desempenhar no apoio a este movimento?
- E como as cooperativas de plataforma podem contribuir para a criação de infraestruturas de tecnologia verde?
“A democracia participativa é uma aspiração que se estendeu a quase todas as nações deste planeta. Agora é hora de direcionar a economia digital nesta direção, para tornar as cooperativas de plataforma um bom senso - na Europa e além”, finaliza os organizadores.
Quer saber mais e conhecer o programa completo do evento? Acesse: https://platform.coop/events/conference2021/
Para se aprofundar no tema, recomendamos a leitura do e-book: Cooperativismo de plataforma: desafios e oportunidades, produzido pelo InovaCoop.
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Segunda edição do programa busca soluções inovadoras com foco nas cooperativas do Ramo Agro
O Sistema OCB divulgou, nesta quinta-feira (25), as cinco cooperativas que participarão da segunda edição do programa InovaCoop Conexão com Startups, com foco no ramo Agro. Os cinco desafios selecionados são das cooperativas: Cemil (MG), Coopama (MG), Coplana (SP), Santa Clara (RS) e Uneagro (SC). Neste mesmo dia aconteceu o primeiro encontro com as cooperativas selecionadas.
A ideia do programa é utilizar a inovação aberta, que ocorre com parcerias ou intercooperação para, junto com startups, encontrar a melhor e mais criativa solução para os desafios apresentados pelas cooperativas selecionadas. “Ao conectar as duas pontas em uma rede, o objetivo é aumentar a eficiência dos projetos, reduzir custos e riscos, melhorar o retorno sobre os investimentos e ampliar as oportunidades e fontes de receita”, afirma Samara Araujo, coordenadora de Inovação do Sistema OCB.
Ainda segundo ela, é importante ressaltar que as soluções para os desafios selecionados precisam ter potencial para serem escalados para outras cooperativas. “Pretendemos contribuir com o desenvolvimento da cultura da inovação no cooperativismo, consolidando as iniciativas de sucesso e disseminando novas oportunidades”.
Durante o evento de kick-off, realizado de forma virtual, o Silo Hub (parceria entre a Embrapa e Neoventures) apresentou as etapas do processo de busca das soluções para os desafios e as equipes envolvidas. No próximo dia 1º, as cooperativas participam de um workshop para refinamento dos desafios e no dia 10/12, eles serão divulgados para que as startups possam se inscrever no programa e, junto com as cooperativas, iniciar o desenvolvimento das soluções.
Os critérios de seleção utilizados para a escolha das cinco cooperativas selecionadas levaram em consideração, entre outros pontos, a relevância da solução do desafio para o ramo Agro; a possibilidade de aplicação da solução em outras cooperativas (escalabilidade); a disponibilidade de pessoal para desenvolver o piloto junto à startup; e o potencial de soluções que apontem melhorias em práticas de sustentabilidade ambiental.
Para a supervisora de relacionamento com o cooperado da Coopama, Lorena Miranda estar entre os cinco selecionados para o programa é uma oportunidade única e um reconhecimento importante do trabalho que vem sendo desenvolvido pela cooperativa. “Esperamos com esse desafio dar mais agilidade aos nossos processos, fortalecendo nossa cadeia com os produtores”, afirmou.
Já a vice-presidente da Uneagro, Lúcia Helena acredita que a segunda edição do programa veio ao encontro das demandas da cooperativa que já estava em busca de inovações para otimizar o trabalho desenvolvido e se aproximar ainda mais dos produtores rurais associados. “É um momento muito especial”, declarou.
Conheças as habilidades necessárias para manter sua cooperativa competitiva e inovadora em meio a um cenário cada vez mais complexo
A pandemia de Covid-19 agravou a crise econômica em diversos países, incluindo o Brasil, e criou grande incerteza para as organizações e os governos. Para os profissionais, o cenário tornou-se ainda mais desafiador, já que as mudanças que vinham se avolumando nos últimos anos, relacionadas à transição tecnológica atualmente em curso, parecem ter-se intensificado em 2021. Novas habilidades e competências têm se tornado obrigatórias para quem deseja inovar.
Um relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho (The Future of Jobs Report 2020), lançado no fim de 2020, analisou a dinâmica ativada pela pandemia e pela recessão e traçou os novos panoramas relacionados a empregos, transição tecnológica e competências para os próximos cinco anos.
O estudo se baseou nas visões de líderes de negócios e diretores globais de recursos humanos e em informações geradas por fontes especializadas.
A primeira constatação do relatório é que o ritmo de adoção de novas tecnologias continuou forte ou até mesmo se acelerou durante a crise do Covid-19.
E líderes corporativos ao redor do mundo têm agora como prioridade a assimilação de soluções como cloud computing, big data e e-commerce, ao lado de tecnologias como criptografia, robôs não-humanoides e inteligência artificial.
Transição tecnológica
Tais transformações, obviamente, trazem impactos significativos para profissionais de todas as áreas. A expansão do trabalho remoto, por exemplo, foi uma das mudanças mais visíveis desde o começo da pandemia. Mas as transformações são mais profundas e marcantes do que a mera ampliação do home office.
De acordo com o relatório, 43% das organizações consultadas disseram que pretendem reduzir seu quadro de funcionários devido à assimilação de tecnologia.
Até 2025, espera-se que humanos e máquinas dividam igualmente o tempo gasto nas atuais tarefas de trabalho. Essa transição deverá resultar em 85 milhões de postos de trabalho fechados nos próximos quatro anos, conforme estimam os autores do estudo.
A transição tecnológica deve gerar 97 milhões de empregos, todos eles mais organicamente ajustados às novas relações entre máquinas, pessoas e algoritmos. Mas os novos postos exigirão habilidades e competências diferenciadas, tanto para quem precisa ingressar ou reingressar no mercado de trabalho como para os profissionais já empregados.
As companhias estimam que 40% dos trabalhadores precisarão se requalificar dentro de seis meses ou menos, e 94% dos líderes corporativos esperam que os profissionais adquiram novas competências no trabalho. Em 2018, a taxa era de 65%.
Dentro de quatro anos, 50% de todos os empregados das companhias consultadas terão que passar por requalificação. As habilidades centrais dos profissionais devem mudar significativamente nesse período: até 40% das competências centrais serão transformadas.
Quais são as novas competências exigidas?
O relatório do Fórum Econômico Mundial inclui um debate sobre as competências que devem se consolidar como centrais para diversas carreiras até 2025.
Entre os principais grupos de competências que têm se tornado relevantes, destacam-se pensamento e análise crítica, solução de problemas, autogestão, trabalho em equipe e uso e desenvolvimento de tecnologia.
As 15 competências principais para o ano de 2025, de acordo com o estudo, são:
- Pensamento analítico e inovação
- Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem
- Solução de problemas complexos
- Pensamento e análise crítica
- Criatividade, originalidade e iniciativa
- Liderança e influência social
- Uso, monitoramento e controle de tecnologia
- Projeto e programação de tecnologia
- Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade
- Raciocínio, solução de problemas e ideação
- Inteligência emocional
- Solução de problemas e experiência do usuário
- Orientação de serviço
- Análise e avaliação de sistemas
- Persuasão e negociação
Além delas, há um grupo de competências especializadas e transversais que têm tido alta demanda em diferentes profissões que estão emergindo no atual momento. Tais competências são aplicáveis e facilmente transferíveis entre diferentes ocupações e papéis profissionais.
São 19 ao todo:
- Marketing de produto. Em demanda nas funções relacionadas a Dados e Inteligência Artificial, Pessoas e Cultura, Marketing, Desenvolvimento de Produto e Vendas.
- Marketing digital. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Dados e Inteligência Artificial, Marketing, Desenvolvimento de Produto e Vendas.
- Ciclo de Vida do Desenvolvimento de Software (SDLC). Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Dados e Inteligência Artificial, Engenharia, Marketing e Desenvolvimento de Produto.
- Gerenciamento de negócios. Em demanda nas funções relacionadas a Pessoas e Cultura, Marketing, Desenvolvimento de Produto e Vendas.
- Publicidade. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Dados e Inteligência Artificial, Marketing e Vendas.
- Interação humano-computador. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Engenharia, Marketing e Desenvolvimento de Produto.
- Ferramentas de desenvolvimento. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Dados e Inteligência Artificial, Engenharia e Desenvolvimento de Produto.
- Tecnologias de armazenamento de dados. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Dados e Inteligência Artificial, Engenharia e Desenvolvimento de Produto.
- Redes de computadores. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Dados e Inteligência Artificial, Engenharia e Vendas.
- Desenvolvimento Web. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Conteúdo, Engenharia e Marketing.
- Consultoria de gestão. Em demanda nas funções relacionadas a Dados e Inteligência Artificial, Pessoas e Cultura, e Desenvolvimento de Produto.
- Empreendedorismo. Em demanda nas funções relacionadas a Pessoas e Cultura, Marketing e Vendas.
- Inteligência Artificial. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud Computing, Dados e Inteligência Artificial e Engenharia.
- Ciência de dados. Em demanda nas funções relacionadas a Dados e Inteligência Artificial, Marketing e Desenvolvimento de Produto.
- Vendas no varejo. Em demanda nas funções relacionadas a Pessoas e Cultura, Marketing e Vendas.
- Suporte técnico. Em demanda nas funções relacionadas a Cloud computing, Desenvolvimento de Produto e Vendas.
- Redes sociais. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Marketing e Vendas
- Design Gráfico. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Engenharia e Marketing.
- Gestão da informação. Em demanda nas funções relacionadas a Conteúdo, Dados e Inteligência Artificial e Marketing.
Caminhos e gargalos
Segundo o levantamento, a maior parte dos empregadores consultados compreende o valor de investir em capital humano, apesar do atual cenário econômico desafiador. Cerca de 66% deles acredita que seus gastos com requalificação e aprimoramento acabam dando retorno dentro de um ano.
Em média, tais companhias esperam oferecer requalificação e aprimoramento para mais de 70% de sua força de trabalho até 2025. A participação dos profissionais nesses programas, entretanto, tem estado aquém do esperado. Apenas 42% dos funcionários das organizações consultadas estão se engajando nos programas de treinamento oferecidos.
Um dos caminhos reconhecidos por muitos líderes do mundo dos negócios é o oferecimento de oportunidades de requalificação e aprimoramento por meio de associações empresariais e colaborações público-privadas. Tais alternativas têm se provado eficazes do ponto de vista financeiro, além de trazerem benefícios para a sociedade como um todo.
Nessa nova fase, a maior parte das companhias têm preferido apostar em modelos de aprendizagem informal. Em anos anteriores, os levantamentos mostravam que, ao contrário, as empresas buscavam oferecer programas de requalificação e aprimoramento formais.
O estudo apontou que a imensa maioria dos gestores consultados espera que seus empregados adquiram novas competências no próprio trabalho, e não em algum espaço formal ou informal de treinamento fora dele. Talvez por isso, os programas atuais tendem a combinar diferentes abordagens, aproveitando a expertise interna e externa, usando novas ferramentas tecnológicas de ensino e lançando mão tanto de métodos formais como informais de aquisição de competências. Ou seja, é preciso inovar também na forma de qualificar os colaboradores da sua cooperativa.
Requalificação
A aprendizagem on-line tem sido uma das alternativas de qualificação profissional mais procuradas desde o início da pandemia, tanto por profissionais já inseridos no mercado de trabalho quanto por desempregados.
O estudo do Fórum Econômico Mundial indica que o número de pessoas que buscam oportunidades de aprendizado on-line por iniciativa própria quadruplicou. Da mesma maneira, quintuplicaram as oportunidades de requalificação on-line oferecidas pelos empregadores. O número de pessoas participando de programas de aprendizagem profissional on-line oferecidos pelo setor público cresceu 9 vezes.
A situação de emprego e renda de cada indivíduo tem impactado a escolha pelo tipo de programa de requalificação, de acordo com o estudo.
Enquanto profissionais já empregados têm procurado cursos de desenvolvimento pessoal, os desempregados têm buscado adquirir competências como análise de dados, ciência da computação e tecnologia da informação.
Da mesma maneira, embora as novas tecnologias digitais tenham facilitado o acesso ao aprendizado de novas competências profissionais, a consolidação dos conhecimentos depende de tempo e dinheiro para que o indivíduo possa dar os passos iniciais na nova carreira.
Dados levantados pelos autores do relatório junto ao LinkedIn demonstram que muitos trabalhadores conseguem ocupar novos papéis profissionais com competências baixas ou medianas, mas eles continuarão precisando passar por programas de requalificação e aprimoramento no futuro para atingir uma produtividade elevada no longo prazo.