“Inovar não significa criar sistemas totalmente novos, mas descobrir um jeito diferente de fazer as coisas” - Márcio Lopes de Freitas, Presidente do Sistema OCB.
A inovação está no DNA do cooperativismo e também faz parte dos objetivos estratégicos do Sistema OCB. Conforme demonstrado em nossa pesquisa, o maior desafio das cooperativas é colocar a inovação em prática, de forma planejada e sistematizada. E, para disseminar ainda mais esse tema entre as coops e torná-las cada vez mais competitivas o Sistema OCB disponibilizou, agora também em formato digital, o livro Inovação no Cooperativismo: Um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.
O arquivo tem a mesma estrutura do livro físico e mantem o objetivo de promover a cultura da inovação nas cooperativas e dar visibilidade às boas práticas já desenvolvidas ou em andamento no universo coop!
O livro digital apresenta as principais tendências da atualidade, mantendo seu formato em seis capítulos que vão da introdução ao tema, passando por metodologias e estratégias, cases de sucesso do universo coop e artigos de especialistas renomados no tema, trazendo dicas do que o futuro ainda reserva no curto, médio e longo prazo.
A novidade dessa versão é a realidade aumentada, que agora dá espaço à vídeos curtos e rápidos da Eliza, que segue nos acompanhando no decorrer de todo o conteúdo.
Vamos inovar juntos? Acesse o link e baixe o livro na versão digital.
Além de contribuir com a preservação ambiental, o desenvolvimento social e a ética corporativa, o ESG nos negócios também impulsiona a competitividade
O ESG se tornou um elemento indispensável para o planejamento estratégico e ganhou ainda mais força no decorrer da pandemia. Por isso, a agenda ESG ganha cada vez mais espaço e atenção em meio à crescente preocupação com a responsabilidade dos atores econômicos.
As práticas ESG, dessa forma, representam um momento de demanda por uma economia consciente e com impactos ambientais e sociais. Mas não é só isso. Além de ajudar a construir um mundo mais sustentável, a agenda ESG nos negócios também contribui para a competitividade
O cooperativismo e o ESG possuem uma relação estreita. Como dissemos neste artigo, o modelo cooperativista é ESG antes mesmo de o conceito de ESG ser formulado.
As cooperativas, portanto, partem de um lugar privilegiado na hora de transformar o ESG em bons negócios.
O que é ESG
O termo ESG foi criado em 2004, na publicação Who Cares Wins, uma iniciativa conjunta entre o Banco Mundial e a organização Pacto Global. Assim, seu conceito é sustentado por três pilares, que são:
- Environmental (ambiental): são as práticas corporativas tangentes à conservação do meio ambiente. Por isso, elas englobam temas como poluição da água e do ar, eficiência na produção e consumo de energia, mudanças climáticas, emissão de carbono na atmosfera e desmatamento.
- Social (social): diz respeito ao tratamento da instituição no relacionamento com as pessoas e a comunidade ao seu redor. Dessa maneira, estão inclusos assuntos como proteção de dados, privacidade, promoção de diversidade na equipe, programas de desenvolvimento socioeconômicos e respeito à legislação trabalhista.
- Governance (governança): princípios aplicados na administração da organização. Envolve o relacionamento com governos, políticos e poder público, efetividade de ouvidoria, disponibilização de um canal de denúncias, composição do conselho, estruturação do organograma e transparência, por exemplo.
Neste artigo, iremos conhecer sete razões pelas quais a agenda ESG é boa para o meio ambiente, a sociedade, a governança e, também, para os negócios. Aproveite a leitura!
1. A agenda ESG agrega valor a produtos e serviços
Executivos e profissionais de investimentos consultados para uma pesquisa da consultoria McKinsey concordam que a agenda ESG cria valor tanto a curto quanto a longo prazo. A tendência, conforme a visão dos líderes consultados, é de que o ESG siga aumentando seu impacto no valor das corporações durante, ao menos, os próximos cinco anos.
Essa percepção é refletida pela valorização das instituições que têm programas ambientais, sociais e de governança. Os participantes dizem que estariam dispostos a pagar, em média, 10% a mais para adquirir uma empresa com registro positivo em questões de ESG.
Boa parte desse valor acrescido é consequência da pressão de diversos públicos de interesse. Por exemplo: 58% dos entrevistados enxergam um crescimento da importância do ESG a fim de atender expectativas e exigência dos stakeholders.
A Grant Thornton descobriu, no levantamento “ESG e as empresas de capital aberto”, que 86% das lideranças concordam com a hipótese de que podem sofrer impactos negativos no futuro caso não adotem o ESG na gestão. Esses dados, entretanto, dizem respeito às empresas mercantis abertas a investimentos externos. Mas e no cooperativismo, há pressão para a adoção da agenda ESG?
Cooperados puxam ESG para os negócios cooperativistas
Segundo uma pesquisa da consultoria PwC com cooperativas de crédito, a resposta é positiva. Elisa Simão, especialista no segmento de cooperativas de crédito da PwC, diz que a conscientização acerca dos riscos climáticos aumentou durante a pandemia:
“As cooperativas de crédito têm sido cada vez mais demandadas pelos seus cooperados e demais partes interessadas a se posicionar de forma concreta, rápida e transparente quanto a sua atuação em relação aos pilares ESG”, explica.
Receitas sobem; custos em queda
A McKinsey buscou saber, ainda, quais são os principais elos na geração de valor com o ESG nos negócios. Segundo a consultoria, a sustentabilidade gera resultados positivos dos dois lados do balanço: a receita cresce ao mesmo tempo em que há redução de custos.
Por meio de acesso a novas oportunidades e conquista das preferências dos clientes, como veremos mais a fundo na sequência, o ESG amplia a obtenção de receitas.
Por outro lado, a agenda ESG também mostra capacidade de reduzir custos. A execução eficaz de políticas sustentáveis pode ajudar, por exemplo, no combate a gastos operacionais. O uso racional de recursos como água e energia, além de ser benéfico para o planeta, diminui os gastos financeiros.
2. O ESG ajuda a encontrar oportunidades de negócios e inovações
A solidez de uma agenda ESG ajuda a cooperativa em sua jornada de expansão, tanto em relação a aumentar a participação em mercados onde já atua, quanto no ingresso a novos mercados.
A adoção de iniciativas sustentáveis já atua como um diferencial competitivo no mundo dos negócios. Uma pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) aponta que, em SP, 60% das empresas avaliam critérios ESG para contratar fornecedores.
Se a cooperativa almeja exportar, também precisa ficar de olho em suas práticas de ESG. Quando a competição é global, esses fatores são ainda mais relevantes para que a cooperativa se sobressaia. Diversos países e blocos econômicos mantêm exigências e exigem certificações relacionadas ao tema.
O ESG nos negócios é prioridade na União Europeia, por exemplo. Diversas commodities não podem ser vendidas para países do bloco caso estejam vinculadas ao desmatamento e à degradação florestal. A Marcação CE, certificação obrigatória para negociar um produto na Europa, também leva em conta fatores de proteção ambiental.
Inovando com sustentabilidade
Em relatório, a Ace Cortex argumenta que instituições inovadoras possuem um ambiente diverso e objetivos focados no desenvolvimento a longo prazo. Com isso, tais características fazem com que organizações que inovam tenham, também, altos padrões de ESG.
Além disso, o ESG traz consigo uma cadeia de valores que caminham lado a lado com a inovação. Em um webinar, Christina Carvalho Pinto, sócia-estrategista da Hollun, afirmou que:
“O mundo está pedindo inovação. E o mundo está clamando por cuidados com o meio ambiente, com a sociedade por meio de uma governança consciente, capaz de se comprometer nesses mega temas tão emergenciais. E a inovação é a ponte para todos esses conhecimentos”.
Assim, a otimização das práticas sustentáveis, sociais e éticas demanda o desenvolvimento de novos projetos, práticas de gestão, metodologias de produção e formas de reduzir impactos ambientais. As cooperativas que inovam, portanto, largam na frente na busca por essas soluções.
3. Adaptação às novas tendências de consumo
Como explicamos em nosso artigo sobre o consumidor do amanhã, os hábitos de consumo estão mudando rapidamente e uma das tendências mais evidentes é a preocupação com a sustentabilidade.
Cada vez mais pessoas estão levando em consideração a pegada de carbono da vida cotidiana, o que passa diretamente pelo consumo. Consequentemente, a consciência ambiental está galgando posições na lista de prioridades na hora de fechar negócios.
Ou seja: o ESG atende aos anseios dos consumidores e aumenta a competitividade, funcionando como um diferencial perante a concorrência. Diante dessas demandas, o ESG é um bom negócio para conquistar clientes e aumentar a atratividade dos produtos e serviços.
Essa tendência é ainda mais forte para os millennials e a Geração Z, principais responsáveis pelos esforços em prol da redução dos impactos ambientais. O que passa, evidentemente, por suas decisões de consumo.
Produtos ESG são mais rentáveis
Um outro fenômeno da relação entre ESG e consumo é que boa parte dos consumidores aceita até mesmo pagar mais caro por produtos com produção ética e sustentável. A descoberta da PwC parte do princípio de que o propósito dos produtos não mais se restringe ao atendimento de necessidades imediatas. Agora, o impacto no longo prazo também conta.
“Os consumidores tinham o costume de exigir qualidade – o que continua sendo importante. Mas agora também estão procurando por fatores como consciência ambiental, diversidade e inclusão”, argumentou Samrat Sharma, CMO da PwC dos Estados Unidos.
4. O ESG melhora a reputação da marca
Uma outra forma que as iniciativas ESG podem contribuir para os negócios das cooperativas é por meio do fortalecimento e construção de marca - o branding.
O levantamento da Grant Thornton sublinha o poder que as ações relacionadas ao ESG podem ter na imagem das organizações. Segundo as lideranças que participaram da pesquisa, os dois maiores beneficiados alcançados graças às práticas de ESG foram:
- Valorização de marca: 17%
- Melhora da reputação: 15%
Carlos Alexandre de Oliveira, sócio de Transações/Valuation da Grant Thornton Brasil, explica que a reputação causa impactos diretos no fluxo de caixa. “O ESG influencia tanto a marca quanto a reputação e, dessa forma, fomenta negócios, aumentando o interesse dos consumidores e impactando positivamente a receita, a geração de fluxo de caixa e a valorização”.
Com isso, as ações relacionadas ao ESG impulsionam a criação de uma imagem positiva. Dentro do cooperativismo, há o exemplo da Rede Cooper. A partir de ações sociais e investimentos na comunidade, a cooperativa se consagrou como a marca mais lembrada em Santa Catarina na categoria cooperativa de alimentos.
Reduzindo riscos de imagem
Somando as novas demandas por consumo sustentável e as estratégias de branding, iniciativas ESG ajudam na prevenção de manchas e estigmas na imagem das cooperativas.
Os números da Grant Thornton mostram que esse motivo representa um fator preponderante na prática da sustentabilidade ambiental e da responsabilidade social.
Por exemplo, quando questionados quais eram as principais motivações para incorporar o ESG na abordagem de investimentos, 24% dos entrevistados responderam: “evitar riscos reputacionais”. Essa foi a maior preocupação mencionada, à frente da exigência de conselhos de administração e demandas da clientela.
5. Melhores relações com reguladores e poder público
Em meio às pressões de diversos públicos de interesse, como investidores, cooperados e clientes, o poder público também está dando atenção ao ESG nos negócios.
A McKinsey argumenta que a solidez das propostas ESG alivia as pressões regulatórias, o que ainda aumenta a liberdade estratégica. A consultoria observa que em diferentes setores e regiões, o ESG ajuda a “reduzir o risco de que haja alguma ação adversa por parte do governo”. Mais do que isso, iniciativas sustentáveis geram suporte governamental.
Em uma pesquisa que visa entender melhor o aspecto tributário do ESG, a PwC enxerga uma oportunidade de reformular os relatórios tributários como uma comunicação positiva para os negócios. Os tributos, argumenta a consultoria, são elementos fundamentais para os três pilares do ESG.
Mais de 80% dos respondentes avaliam que incentivos fiscais são relevantes ou muito relevantes para a implementação do ESG em seu segmento. Esses incentivos, portanto, podem contribuir para a preservação do meio ambiente e favorecer o acesso a direitos, bens e serviços pelas diversas parcelas da sociedade.
6. ESG amplia acesso a crédito e capital
As instituições financeiras são as maiores impulsionadoras da agenda ESG nos negócios. Os dados da Grant Thornton apuraram que 100% das organizações do setor de finanças consultadas consideram os aspectos ESG dentre os temas prioritários.
Diante desse cenário, o ESG se tornou um fator relevante para a avaliação e a oferta de crédito. Assim, métricas envolvendo os resultados das políticas ambientais, sociais e de governança são utilizadas como critérios para a liberação de recursos.
Dados da consultoria Bain & Company indicam que o financiamento de projetos vinculados a ESG cresce rapidamente e oferece menor risco, quando comparados aos que não são sustentáveis.
Empréstimos vinculados à agenda ESG são os que mais ganham espaço no mercado de crédito corporativo. Para se ter uma ideia, dos 102 bilhões de euros emitidos na Europa em 2019, 35 bilhões consistiram em empréstimos verdes. Além disso, outros 67 bilhões de euros foram destinados para outras operações de crédito vinculadas à sustentabilidade.
Fomento ao desenvolvimento sustentável no Brasil
No Brasil, também há um movimento de priorização e incentivo à agenda ESG nos negócios por meio da disponibilização de crédito, sobretudo nos bancos de desenvolvimento.
Esse é o caso do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais). Mais de 60% dos financiamentos proporcionados pela instituição foram vinculados a pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Por exemplo, os recursos destinados a projetos de energias renováveis quase chegaram a R$ 170 milhões.
Nas cooperativas de crédito, o ESG também é um critério avaliado. Quase todas as coops do ramo avaliadas pela PwC (98%) levam os riscos socioambientais em conta em seus processos de análise de crédito.
Nesta seara, contamos, no Radar da Inovação, a história da intercooperação sustentável entre a cooperativa de crédito Sicredi e a Certel, coop que produz energia elétrica. A parceria possibilitou o financiamento da nova hidrelétrica Vale do Leite, ampliando a oferta de energia limpa.
7. Produtividade, atração e retenção de talentos
Em meio a uma crescente busca por propósitos e valores no mundo profissional, o ESG também pode ajudar a atrair e reter profissionais talentosos e qualificados. Isso acontece porque colaboradores com senso de pertencimento e conexão produzem melhores resultados.
Quanto mais sólida é a percepção de que o trabalho tem um impacto positivo na sociedade, maior é a motivação de boa parte das equipes, argumenta a McKinsey. Dessa forma, o senso de propósito inspira, e o ESG ajuda a construir essa sensação.
A consultoria de recursos humanos Robert Half descobriu, ainda, que 83% dos profissionais levam as práticas ESG em consideração na hora de aceitar ou recusar uma oferta de emprego. Ou seja, a cooperativa que quiser contar com profissionais capacitados e engajados precisa levar em conta a agenda ESG nos negócios.
Conclusão
Cooperativismo tem tudo a ver com a agenda ESG nos negócios: sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança estão no DNA cooperativista.
Mesmo assim, é importante estruturar e implementar o ESG de forma planejada e coordenada. Diante das evidências de que o ESG é positivo para os negócios, o InovaCoop produziu o guia prático ESG: O que é e como começar. Nele, você vai conhecer o ESGCoop, programa de apoio para a implementação do ESG nas cooperativas com foco na sustentabilidade e competitividade do modelo de negócios, confira!
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Evento acontece entre os dias 4 e 6 de novembro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro
A próxima edição da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma irá trazer, pela primeira vez, o evento ao Brasil. O congresso vai acontecer entre os dias 4 e 6 de novembro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e conta com o apoio do Sistema OCB Nacional.
Nesta edição, o evento terá o tema “Owning the Future: Sustainably Scaling Platform Cooperatives With the Global South” (Possuindo o Futuro: Escalando Sustentavelmente as Cooperativas de Plataforma com o Sul Global, em português).
Assim, o evento busca respostas para a seguinte questão: como as cooperativas digitais conseguem escalar seus negócios em meio às transformações tecnológicas e sociais? Afinal, o cooperativismo segue ajudando a tornar a economia moderna mais sustentável e colaborativa por meio de sua tradição e seus princípios.
A conferência está sendo organizada pelo Platform Cooperativism Consortium em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio).
Assuntos e debates
A edição brasileira da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma irá proporcionar três dias de apresentações e debates com nomes importantes de dentro e fora do cooperativismo.
O fio condutor será a discussão de alternativas para que as cooperativas digitais possam competir contra grandes empresas de tecnologia que comandam a gig economy. Dessa forma, o evento irá colocar holofotes em temas como:
- Como é possível construir um ecossistema digital de cooperativas no Sul Global, levando em conta os efeitos do colonialismo de dados e trabalho por parte do Norte Global?
- Qual é a importância de escalar o escopo dos negócios ao mesmo tempo em que aderem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, impulsionando a agenda ESG?
- De que forma as tecnologias descentralizadas ligadas à Web 3.0, como DAOs e blockchain, podem ajudar nas aspirações de crescimento e consolidação das cooperativas de plataforma?
Palestrantes e painelistas
Ao todo, a edição brasileira da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma irá contar com mais de 30 palestrantes. Trebor Scholz, criador do conceito de cooperativismo de plataforma e líder do Platform Cooperativism Consortium, participará de painéis nos três dias de evento.
O Sistema OCB será representado nos debates por Clara Pedroso Maffia, gerente de Relações Institucionais, reforçando o papel da instituição no apoio ao desenvolvimento do cooperativismo de plataforma no Brasil.
Veja, também, outros destaques da programação:
- Ariel Guarco, presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), irá discursar acerca do poder transformativo das cooperativas de plataforma no Sul Global.
- Rafael Grohmann, professor-assistente de Estudos de Mídia na Universidade de Toronto Scarbourough, no Canadá, e líder do Observatório do Cooperativismo de Plataforma, vai falar sobre aprendizados, teoria e políticas públicas em prol das plataformas sob posse dos trabalhadores na América Latina.
- Rafael Zanatta, diretor da Associação Data Privacy Brasil, apresentará um panorama sobre a história e a situação do cooperativismo de plataforma no Brasil.
- Anita Gurumurthy, pesquisadora e fundadora da IT For Change, levará uma perspectiva externa à conferência em sua palestra sobre digitalização e governança de dados nas cooperativas indianas.
Além disso, há mais um amplo leque de apresentações e painéis que passarão por tópicos como novas estratégias para as plataformas de trabalho, a relação entre as DAOs e o modelo cooperativista e como políticas públicas podem incentivar o cooperativismo de plataforma, por exemplo. A programação completa está disponível neste link.
Participantes da conferência
Diante da riqueza proporcionada pela programação, a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma proporciona conteúdo de interesse para uma variedade de perfis:
- Cooperados: pessoas que fazem parte de cooperativas tradicionais verão os benefícios da transformação digital na busca por escalar os negócios na economia digital.
- Formuladores de políticas públicas: advogados, pesquisadores do direito, legisladores e membros de organizações não-governamentais que atuam em prol de relações de trabalho mais justas conhecerão as restrições e barreiras legais que desaceleram a escalabilidade das cooperativas na economia digital.
- Entusiastas de tecnologia: empreendedores, desenvolvedores, designer e participantes de hubs de inovação que se preocupam com o impacto social da tecnologia verão como os princípios do cooperativismo servem como norte para o desenvolvimento ético.
- Pesquisadores: professores universitários, estudantes e pessoas intelectualmente interessadas nos efeitos do capitalismo de plataforma terão oportunidade de aprender, contribuir e ingressar na comunidade global de estudos sobre o cooperativismo de plataforma.
Sistema OCB apoia a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma
O Sistema OCB é um dos patrocinadores da edição brasileira da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma.
Por meio desse apoio, o Sistema OCB segue em sua jornada em prol de impulsionar o cooperativismo rumo ao protagonismo na nova economia digital. Para isso, o cooperativismo de plataforma se apresenta como uma opção sustentável para as novas tendências dos negócios de forma ética, participativa e colaborativa.
Em suas Propostas para um Brasil mais cooperativo 2023-2026, a OCB defende que o futuro do setor passa pelo apoio e estímulo ao cooperativismo de plataforma. O modelo está ganhando destaque no Brasil e iniciativas como a realização da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma ajudam no amadurecimento desse movimento.
O InovaCoop enxerga o cooperativismo de plataforma como ferramenta importante para o futuro da inovação nas cooperativas. Confira, portanto, o e-book que produzimos sobre o tema!
Sobre a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma
Originalmente realizada em Nova York, a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma ainda passou por Berlim e Hong Kong antes de chegar ao Brasil. Dessa forma, essa é a primeira vez que o evento é realizado na América Latina.
A edição brasileira da conferência tem parceiros como a Coonecta, o Observatório do Cooperativismo de Plataforma (OCP), o Laboratório de Pesquisa DigiLabour e o MundoCoop.
Vale lembrar, o evento acontece presencialmente nos dias 4, 5 e 6 de novembro de 2022, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. A entrada é gratuita, porém limitada. A inscrição deve ser realizada pelo site do ITS Rio. Participe!
Mesmo com redução de recursos, o ecossistema de inovação brasileiro demonstra força e resiliência
Em 2022, o Brasil avançou três posições no Índice Global de Inovação, em comparação ao ano anterior. Com isso, o país saltou para a 54ª posição no ranking mundial. O levantamento é produzido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês) e conta com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Brasil.
O recorte da América Latina e Caribe também apresenta evolução brasileira. Se em 2021 o país estava fora do pódio, em quarto lugar, agora aparece na segunda posição, ultrapassando México e Costa Rica. O Chile, contudo, segue sendo o país mais inovador da região.
Todavia, o relatório não traz somente boas notícias. Segundo os dados apontados pela CNI, os investimentos em inovação estão em baixa no país. Diante desses números, é possível concluir que os agentes do ecossistema brasileiro de inovação estão obtendo melhores resultados a despeito da redução de recursos. Ou seja, estão fazendo mais com menos.
Neste artigo, iremos analisar os resultados do Índice Global de Inovação, entenderemos o que os dados dizem sobre o ambiente de inovação brasileiro e vamos discutir o papel do cooperativismo nesse ecossistema. Aproveite a leitura!
Resultados gerais do Índice Global de Inovação
O Índice Global de Inovação mensura o desempenho dos ecossistemas de inovação de 132 países e suas economias, a fim de identificar tendências globais. O conceito de ecossistema de inovação diz respeito a um conjunto de atores e conexões que estimulam e apoiam o surgimento de novas ideias.
Segundo os dados, esses são os sistemas de inovação mais pujantes analisados pelo levantamento:
- Suíça
- Estados Unidos
- Suécia
- Reino Unido
- Holanda
- Coreia do Sul
- Singapura
- Alemanha
- Finlândia
- Dinamarca
Como é possível notar, as primeiras colocações são dominadas por países com economias desenvolvidas, capazes de direcionar seus investimentos para pesquisa e inovação.
Há, ainda, uma correlação entre o Índice Global de Inovação e o ranking de liberdade econômica produzido pela Heritage Foundation: cinco países aparecem no top 10 dos dois levantamentos. Além disso, os 10 melhores colocados do IGI são considerados, no mínimo, majoritariamente livres pela Heritage.
Brasil nos subíndices
O Índice Global de Inovação é calculado a partir de dois subíndices. O primeiro deles é o que se refere a “insumos de inovação”. Esse fator avalia elementos que facilitam e viabilizam o desenvolvimento de iniciativas inovadoras. Assim, seus cinco pilares são:
- Instituições
- Capital humano e pesquisa
- Infraestrutura
- Sofisticação do mercado
- Sofisticação empresarial
O segundo diz respeito aos “produtos de inovação” e visa captar e medir os resultados efetivos da atividade inovadora dentro do ecossistema. Seus dois pilares são:
- Produtos de conhecimento e tecnologia
- Produtos criativos
Dentro desses dois índices, o Brasil apresentou resultados inconstantes. Isso porque o país caiu na classificação de insumos de inovação - de 56º, em 2021, para 58º, em 2022 - mas, por outro lado, melhorou nos resultados de inovação (saiu de 59º para 53º). Além disso, na América Latina, o Brasil é líder no quesito sofisticação empresarial.
Potencial de inovação
Os dados do Índice Global de Inovação evidenciam, também, que o Brasil tem potencial para a inovação. Como dissemos, mesmo com a queda nos investimentos, o ecossistema de inovação brasileiro evoluiu. Ou seja: há talento e vontade de inovar.
Outra informação que reforça essa conclusão é que o Brasil está no grupo de países que apresentaram um desempenho acima do esperado, em relação ao nível de desenvolvimento. Com isso, 2022 é o segundo ano consecutivo em que a inovação brasileira supera as expectativas.
Superando expectativas, faltando investimentos
O levantamento também indica que o país passou por melhorias significativas em uma série de quesitos, principalmente em relação aos produtos criativos.
O ecossistema brasileiro evoluiu, por exemplo, nos subpilares de Ativos intangíveis e Criatividade on-line, bem como nos indicadores Marcas (19ª) e Criação de aplicativos móveis (34ª).
No mais, um dos poucos clusters de ciência e tecnologia nos países de renda média fora da China está no Brasil, em São Paulo.
Gianna Sagazzio, diretora de inovação da CNI, enxerga que a capacidade de inovação no Brasil seria melhor explorada caso melhores condições fossem proporcionadas. “Se houvesse investimentos perenes em inovação, o que não acontece, o Brasil poderia ser uma potência em inovação", argumentou.
Serviços financeiros lideram na América Latina
Os bancos digitais se destacaram no ambiente de investimentos em startups da América Latina. O banco digital com maior número de clientes no mundo é brasileiro, por exemplo.
Esse movimento indica um caminho importante de inclusão digital financeira que pode apresentar oportunidades para as cooperativas de crédito.
Já tem cooperativa explorando o mercado das fintechs. Um exemplo é Woop, uma plataforma bancária desenvolvida pela Sicredi. Eduardo Corso, head de digital banking da coop, indicou que com o Woop, a Sicredi conseguiu alcançar um novo público. Os dados da OCB apontam, inclusive, que o cooperativismo de crédito é o ramo que mais inova.
O futuro do crescimento impulsionado pela inovação
O IGI 2022 visualiza, ainda, duas possíveis novas ondas de inovação. Elas são:
- Onda de inovação da era digital: potencializada por meio da supercomputação, inteligência artificial e automação, que está prestes a gerar impactos relevantes na produtividade e em pesquisas científicas.
- Onda de inovação da ciência profunda: impulsionada por progressos nas biotecnologias, nanotecnologias, novos materiais e demais ciências que produzem inovações revolucionárias. Afeta quatro áreas primordiais para a sociedade - saúde, alimentação, meio ambiente e mobilidade.
O efeito dessas ondas, contudo, vai levar algum tempo para se materializar. Isso porque, primeiramente, é necessário superar uma gama de obstáculos. O maior deles é a adoção e a difusão das tecnologias.
O papel do cooperativismo na inovação
O cooperativismo, com seu DNA inovador, ajuda a impulsionar o ecossistema de inovação brasileiro. Uma pesquisa feita pelo Sistema OCB com quase 500 cooperativas de todos os ramos e regiões desenhou o panorama da inovação no setor.
Os dados indicam que as cooperativas brasileiras já entenderam que inovar é fundamental: 84% dos participantes acreditam que a inovação é importante para o setor.
Contudo, as coops também estão cientes de que podem fazer mais. Por meio de uma autoavaliação, as cooperativas deram uma nota média de 6,1 para seu grau de inovação.
Assim, o cooperativismo brasileiro, nesse retrato, corrobora os indícios apresentados pelo Índice Global de Inovação. Isso quer dizer que o setor sabe do valor de inovar e apresenta um potencial grande para seguir desenvolvendo novas ideias, produtos, serviços e métodos.
Inovação durante a pandemia
Os investimentos globais em inovação registraram aumento marcante no auge da pandemia de Covid-19, registra o Índice Global de Inovação. Em 2021, os valores destinados à inovação dispararam ainda mais.
Uma explicação para esse fenômeno é que a pandemia alterou diversas dinâmicas sociais e comportamentais, exigindo adaptações. O consumo, por exemplo, foi diretamente atingido pelas consequências da pandemia. Por isso, muitos negócios precisaram adaptar seus modelos.
No cooperativismo, isso também aconteceu. O levantamento da OCB informa que 47% das cooperativas aceleraram seus projetos de inovação durante a pandemia. Além disso, mais 22% das coops iniciaram projetos de inovação no período. O impacto desse cenário também fica evidente quando vemos em quais setores as cooperativas inovaram:
- Atendimento aos clientes: 64%
- Marketing e comunicação externa: 60%
- Tecnologia: 53%
- Comercial (vendas e exportação): 45%
- Portfólio de produtos/serviços: 40%
Ou seja: as cooperativas precisaram buscar novas formas para interagir com clientes e cooperados. Para isso, tiveram que acelerar suas inovações no atendimento digital e no e-cmmerce, o que demanda investimentos em comunicação, atendimento e tecnologias.
InovaCoop: impulsionando a inovação no cooperativismo
Por meio de artigos, guias práticos, cursos e e-books, o InovaCoop atua para impulsionar o cooperativismo cada vez mais inovador.
Nosso Radar da Inovação, ainda por cima, comprova, por meio de histórias de sucesso, a força do cooperativismo brasileiro nesse ambiente. A iniciativa serve, também, como oportunidade de benchmarking para outras coops.
Já o programa Conexão com Startups promoveu a inovação aberta, viabilizando soluções inovadoras para várias cooperativas e para a própria Unidade Nacional do Sistema OCB.
A plataforma, inclusive, foi incluída como um dos atores do ecossistema de inovação cooperativista produzido pela Coonecta.
Conclusão
O Índice Global de Inovação aponta tendências, caminhos e evidencia a força da inovação brasileira.
Superando expectativas e melhorando os resultados mesmo com escassez de investimentos, o Brasil demonstra que tem um ambiente povoado por atores resilientes em proporcionar ideias inovadoras.
O cooperativismo vem cumprindo seu papel de ajudar a dar solidez ao ecossistema de inovação, deixando-o mais participativo, solidário e social.
No mais, a inovação tem um grande papel no atingimento da meta do BRC1Tri - Brasil Mais Cooperativo 1 trilhão de prosperidade. Vamos juntos?
Uma das resposta para superar barreiras à inovação pode já estar no 6º princípio do cooperativismo. Veja como a intercooperação impulsiona projetos inovadores e cria um ambiente propício ao surgimento de novas ideias
O cooperativismo traz a união em sua essência. E não só entre os membros de uma mesma cooperativa, mas também do setor como um todo, atuando de forma conjunta. Tanto que esse trabalho colaborativo está presente nos princípios do cooperativismo - é a intercooperação. Além de fortalecer o modelo de negócio cooperativista, a intercooperação ainda pode impulsionar a inovação.
O 6° princípio define que o cooperativismo deve trabalhar junto. As cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma mais eficaz aos seus cooperados. Independentemente do escopo da iniciativa de intercooperação, o objetivo é sempre o mesmo: a colaboração em torno de um bem comum.
Apesar de tradicional, o princípio de intercooperação segue mais forte do que nunca e não deixa de ser uma tendência de inovação.
Neste artigo, vamos ver como a intercooperação ajuda a criar um ambiente de inovação cooperativista, apresentaremos a intercooperação digital, analisaremos como a união das coops otimiza a gestão de recursos para a inovação e iremos conhecer exemplos de inovação fomentados pela intercooperação. Boa leitura!
Intercooperação: criando um ambiente de inovação cooperativista
A inovação não pode se contentar com iniciativas isoladas. Para que a inovação seja constante, coerente e contínua no cooperativismo, é necessário que exista um ambiente propício e receptivo às ideias inovadoras.
A intercooperação ajuda a proporcionar esse ambiente. Em meio a um mundo cada vez mais volátil e cheio de transformações - sejam elas digitais, culturais ou sociais -, a inovação é imprescindível para a perenização das cooperativas e a competitividade dos negócios.
Possibilitando a inovação sistêmica
Thiago Martins Diogo, coordenador do Programa de Inovação para o Cooperativismo do Isae Escolas de Negócios, avalia que a intercooperação favorece os negócios e a inovação:
“Em função dos seus princípios, as cooperativas possuem uma certa vantagem frente a outros ambientes empresariais, potencializando as ações que já existem com base na colaboração”, declarou ao Blog do Isae.
Ele acrescenta que “quando pessoas engajadas em pensar e agir diferente se unem, isso facilita a condução de processos de inovação e de criatividade coletiva, permitindo a testagem de ideias e a ampliação de possibilidades com base em oportunidade de inovação”.
Contudo, ainda assim há desafios que precisam ser superados para a promoção desse sistema intercooperativo. Segundo Thiago, muitas instituições confundem tecnologia com inovação. “Muitas vezes, é preciso resgatar o conceito de inovação e desmistificá-la antes de passar para a prática”, explica.
Habilidades de fomento à inovação sistêmica
Rodrigo de Barros, professor de Criatividade e Inovação do Isae, acrescenta que o ecossistema de inovação deriva de uma cultura de experimentação.
Thiago argumenta, ainda, que há cinco habilidades que diferenciam profissionais inovadores dos profissionais comuns - e que elas podem ser desenvolvidas dentro das cooperativas. São elas:
- Experimentar: ideias não nascem prontas. Para aprimorá-las, é necessário testar hipóteses em busca de encontrar soluções.
- Observar: é fundamental olhar o mundo ao redor e como ele funciona. Isso inclui clientes, produtos, tecnologias, serviços e concorrentes, dentre outros. Assim, torna-se possível identificar oportunidades e elaborar novas ideias.
- Associar: conectar informações potencializa a capacidade de inovar. Dessa maneira, fica mais fácil descobrir novos caminhos por meio de ligações entre problemas, ideias e questões sem relação aparente entre si.
- Questionar: quem inova, faz perguntas. Questionamentos desafiam o pensamento padrão, especulam novas possibilidades e ajudam a desenvolver ideias.
- Ampliar a rede de contatos: o networking permite o contato com pessoas das mais diversas culturas, experiências, opiniões e pontos de vista. Isso ajuda a ampliar os horizontes - algo fundamental para inovar.
Cooperativismo: um modelo com DNA inovador
Como mostramos neste artigo, o cooperativismo é um modelo de negócios cada vez mais atual e inovador. E um dos motivos para isso é, justamente, a intercooperação.
O efeito de rede - ou seja, a disseminação de uma inovação para que ela se torne viável e agregue valor - é intrínseco ao cooperativismo. Apesar de ser visto como um conceito preponderante na nova economia, o efeito de rede é, na verdade, a base da operação das cooperativas.
A ideia do efeito de rede é que, quanto maior for o acesso a algum produto ou serviço, maior vai ser, também, a demanda. No caso das coops, os próprios cooperados constroem a comunidade, de forma a dar escalabilidade aos projetos de inovação.
A intercooperação potencializa ainda mais esse fenômeno de disseminação de iniciativas inovadoras. Unindo forças, recursos tecnológicos e base de cooperados e clientes, as cooperativas aumentam a rede de impacto e a viabilidade dos novos projetos.
Intercooperação digital: a inovação na era da transformação tecnológica
As cooperativas estão envolvidas no processo de transformação digital e modernização da economia. Esses processos foram ainda mais acelerados pela pandemia, proporcionando oportunidades de inovação perante os novos hábitos de consumo.
A intercooperação também está envolvida nesse processo de aceleração. Novas tecnologias e plataformas possibilitaram o desenvolvimento da intercooperação digital, como forma de buscar soluções inovadoras e coletivas nos ambientes virtuais.
A intercooperação digital proporciona o desenvolvimento de um ecossistema cooperativista, que fortalece o setor como um todo e possibilita a existência de um ambiente inovador.
Benefícios da intercooperação digital
Diante dos desafios impostos pelas mudanças nas lógicas econômicas catalisadas pela tecnologia, a intercooperação digital emerge como uma alternativa benéfica às cooperativas. Dessa forma, elas conseguem ampliar sua área de atuação e podem, ainda, aprimorar o relacionamento com os cooperados.
Além disso, a intercooperação digital apresenta uma série de fatores positivos para as cooperativas. Alguns deles são:
- Possibilidade de ganhos de escala;
- Uma nova forma de se relacionar e realizar negócios com os cooperados;
- Ampliação na divulgação de produtos e serviços;
- Por se tratar de um sistema colaborativo, há uma redução na concorrência e competitividade entre as cooperativas;
- Os cooperados são beneficiados pela variedade de produtos e/ou serviços.
Intercooperação digital na prática: NegóciosCoop
O Sistema OCB avaliou que a intercooperação digital seria uma ótima aliada para enfrentar as dificuldades impostas pela pandemia. Dessa forma, seria possível integrar a tecnologia para inovar e driblar as barreiras do isolamento social e os impactos econômicos negativos.
Essa é a origem da plataforma NegóciosCoop, que opera como um comércio eletrônico cooperativo. Na prática, o NegóciosCoop atua como uma vitrine em que as coops podem se conhecer e comprar produtos e serviços umas das outras. Márcio Lopes Freitas, presidente do Sistema OCB, enalteceu a iniciativa:
“Estamos criando mecanismos para que a cooperativa não precise buscar o que necessita fora do NegóciosCoop. Uma das novidades, por exemplo, e que pretendemos lançar em breve, é uma forma de pagamento feita de uma coop para outra, diretamente. Assim a coop ganha tempo e a plataforma segue cumprindo seu papel de facilitar e fomentar a intercooperação”, diz.
Intercooperação e os recursos para inovação
Um dos grandes gargalos para a inovação é a escassez de recursos disponíveis para investimento em novas ideias e iniciativas. Muitas cooperativas podem não ter a capacidade financeira adequada para empregar em iniciativas sem um retorno garantido. A inovação, afinal, presume algum risco.
Além dos recursos de capital, a inovação ainda emprega recursos de conhecimento e recursos organizacionais. Desse modo, a busca pela inovação incentiva a diversificação das interações com outras organizações de desafios semelhantes. A saída para essa situação pode estar, justamente, na intercooperação.
Em um estudo produzido para o 6º Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC), pesquisadores ligados à Universidade de Brasília (UnB) apontam que organizações que se conectam com outras geram conhecimento coletivo. Como consequência, esse conhecimento aumenta a capacidade de inovar.
“Assim, essas relações podem oportunizar a transferências de recursos entre organizações, ou mesmo a execução de ações conjuntas”, escrevem os autores. Dessa forma, argumentam, a intercooperação consegue “possibilitar o acesso a recursos críticos que a estrutura interna hierárquica não poderia obter individualmente”.
Transferência de recursos para inovação
Com foco no ramo agropecuário, o estudo aponta que a realização de parcerias possibilita a transferência de inovações de tecnologia e processos entre as cooperativas. Portanto, diante da necessidade de acesso aos diferentes recursos que promovem a inovação, existe o incentivo para acordos de intercooperação.
Dessa maneira, a intercooperação “possibilita a otimização do cooperativismo por meio do desenvolvimento de redes”. Essas conexões estabelecem vínculos para a união de forças e o compartilhamento de recursos em prol da inovação.
As inovações proporcionadas pela intercooperação são distribuídas pelo ecossistema cooperativo. Consequentemente, todo o setor fica mais moderno e eficiente. O efeito disso é que a produção ganha em valor agregado.
Os autores argumentam, portanto, que a intercooperação por meio da transferência e do compartilhamento de recursos difunde o acesso ao conhecimento necessário para inovar. Isso gera valor para os produtos das coops e fortalece todo o ambiente de inovação em que elas estão inseridas.
Casos de inovação impulsionada pela intercooperação
A relação entre intercooperação e inovação pode ser visualizada na prática. Uma série de iniciativas nascidas da colaboração entre cooperativas já apresenta resultados inspiradores. Veja alguns casos:
CoopMode: união de forças para superar desafios
Um dos exemplos é o CoopMode, projeto que envolve cooperativas agropecuárias que atuam no estado do Paraná.
Criado em 2021, o CoopMode foi fundado pelas cooperativas agroindustriais Frísia, Castrolanda e Capal. Depois, a Agrária também foi convidada a fazer parte da iniciativa. O projeto tem como base um conjunto de três pilares:
- Cultura da inovação: visa sensibilizar - por meio de palestras e capaciptações, dentre outros - colaboradores, cooperados e gestores sobre a importância de inovar.
- Realização de projetos conjuntos: o mais notável busca soluções para otimizar a conectividade nas propriedades produtivas do grupo.
- Conexão com ecossistema de inovação: realizado através de editais de pesquisa, encontros e iniciativas de inovação aberta.
Alessandra Heuer, responsável pela Comunicação e Marketing da Capal, explica que a intercooperação já tem apresentado resultados positivos. Segundo ela:
“Já vemos a cultura da inovação presente no dia a dia da Capal. Estamos pensando de forma mais inovadora, buscando parcerias e ferramentas que vão nos ajudar nos resultados”.
Unium: intercooperação como modelo de negócios
Antes mesmo da criação do CoopMode, Frísia, Capal e Castrolanda já inovaram juntas utilizando a intercooperação.
Criada em 2017, a Unium surgiu como uma forma de as cooperativas atuarem conjuntamente em mercados que antes tinham que disputar entre si. Como atuavam de forma isolada, os recursos disponíveis para investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias era limitado. A intercooperação foi a alternativa para solucionar esse problema.
Ao unir as operações, as cooperativas puderam deixar de ter gastos redundantes. Isso fez com que a disponibilidade de recursos para inovação aumentasse. A iniciativa também resultou em uma significativa redução de custos administrativos.
A criação da Unium representa uma importante inovação em relação ao modelo de negócios, gerando uma marca que nasce com força e competitividade. Contamos a história da Unium no Radar da Inovação, confira.
Outros exemplos de intercooperação no Radar da Inovação
A intercooperação marca presença no nosso Radar da Inovação. Há exemplos de dentro e fora do Brasil, mostrando a força dessa conexão. Veja, então, outras histórias inovadoras envolvendo a intercooperação que contamos no InovaCoop:
- CCGL: fundada em 2018, a Rede Técnica Cooperativa reúne mais de 30 cooperativas e 800 técnicos de especialidades diversas. O objetivo é desenvolver soluções inovadoras que atendam os problemas que as coops têm em comum. Dessa forma a iniciativa otimiza investimentos, agrega recursos e amplifica o impacto das novas soluções.
- Fundação ABC: é um instituto de pesquisa agropecuário privado mantido por mais de 5 mil cooperados de Frísia, Castrolanda e Capal - as mesmas que criaram o CoopMode e a Unium. Ela visa desenvolver e adaptar tecnologias para o agronegócio, apresentando alternativas inovadoras e instruindo os produtores rurais sobre como empregá-las.
- Cooperacción Verde: criada em 2009, é resultado da parceria de 52 cooperativas colombianas de ramos variados. Sua missão é executar projetos de reflorestamento, compensação de pegada de carbono e recuperação de solo. Assim, o projeto combate as mudanças climáticas ao mesmo tempo em que gera receita pela comercialização de créditos de carbono.
Conclusão
Intercooperação e inovação andam lado a lado. Quando unem forças - e recursos - em prol de colocar novas ideias em práticas, as cooperativas solidificam o ecossistema de inovação e fortalecem o modelo de negócios do cooperativismo.
Em meio a mudanças tão velozes proporcionadas pela transformação digital, a intercooperação promove uma rede de apoio aos projetos inovadores.
A inovação não é um processo linear e depende do compartilhamento de experiências, conhecimentos e recursos. Por isso, ela pode ser potencializada pela colaboração entre as cooperativas prevista no princípio da intercooperação.
Já que falamos sobre as constantes mudanças e inovações que permeiam a sociedade e os negócios, confira o nosso curso de transformação digital, desenvolvido em parceria com a Descola. Nele, você vai aprender como ler os cenários para não perder o timing das mudanças e inovações e como implementar a transformação digital na sua coop.