Em entrevista ao InovaCoop, Leandro Macioski, um dos autores do livro, discorre sobre o desenvolvimento da obra e comenta as tendências de inovação para o cooperativismo. Confira!
Em um mundo no qual as mudanças ocorrem de forma quase incessante, a inovação é fundamental para que as cooperativas se mantenham competitivas. O desafio está em colocá-la em prática, de forma planejada e sistematizada, a fim de enfrentar uma economia complexa e um futuro incerto.
É diante desse cenário que o Sistema Ocepar e o ISAE Escola de Negócios publicaram o livro "Gestão da inovação em cooperativas: um caminho para inovar”. O e-book pode ser lido na íntegra por meio deste link.
Estrutura
O livro é composto por 12 capítulos, cada um deles escrito por diferentes professores e acadêmicos, apresentando e explicando diversos conceitos, técnicas e ferramentas para obter sucesso na gestão da inovação.
Os capítulos são dedicados a temas essenciais para executar um planejamento de inovação, como: inovação e competitividade, inovação aberta, sustentabilidade e projeção de futuros, dentre outros. Tudo isso levando em conta as peculiaridades do modelo cooperativista.
Um histórico de apoio à inovação
A ideia de que a inovação é fundamental para o futuro das cooperativas não é novidade no cooperativismo paranaense. Em 2015, o tema foi inserido como um dos temas prioritários do Plano Paraná Cooperativo 100 e expandido no Plano Paraná Cooperativo 200, de 2021.
O programa de formação de agentes da inovação para o cooperativismo paranaense, lançado em 2018, é outro fruto dos esforços em prol da inovação no setor. Ministrado pelo ISAE, a iniciativa apresenta metodologias técnicas e ferramentas voltadas para a idealização, execução e gestão da inovação.
Com essa jornada, o Sistema Ocepar almeja auxiliar na implementação de práticas inovadoras no cooperativismo, respeitando as características e contextos de cada instituição. “O propósito maior é contribuir para o desenvolvimento das cooperativas. Ajudá-las a inserir a inovação em suas práticas”, escreve José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, no prefácio da obra.
Segundo ele, esse processo passa por:
- Preparar o ambiente para promover uma cultura de inovação;
- Identificar desafios, cenários e tendências que impactam o desenvolvimento das coops;
- Sistematizar ações realizadas e implementar novas iniciativas com ferramentas e metodologias adequadas;
- Formar multiplicadores da inovação;
- E, por meio da inovação, garantir a obtenção de resultados consistentes.
Entrevista com Leandro Macioski
Para saber mais sobre o projeto, o InovaCoop conversou com Leandro Macioski, um dos autores da obra. Coordenador técnico do SESCOOP/PR, Macioski é graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Governança e Sustentabilidade pelo ISAE/FGV e especialista em Gestão Empresarial e Projetos pela FGV.
Na entrevista, Macioski falou sobre o desenvolvimento do livro, o trabalho do Sistema Ocepar em prol do incentivo à inovação e os desafios para colocar a gestão da inovação em prática. Além disso, ele também discorreu sobre práticas e tendências que as cooperativas devem ficar de olho para inovar. Confira!
InovaCoop - Para quem ainda não teve a oportunidade de acessá-lo, como você resume o objetivo e a importância do livro para o cooperativismo brasileiro?
Leandro Macioski - Primeiramente, faço um convite para que todos acessem o livro. O livro é um resultado de um trabalho de diversos autores qualificados e temas relevantes para a inovação nas cooperativas.
Ele é uma obra que traz as experiências vivenciadas no Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense para o centro das discussões. O livro tem como objetivo apoiar os profissionais e interessados pelo tema nos seus esforços em busca da inovação em suas cooperativas.
O livro é fruto da parceria entre Ocepar e Isae, que se iniciou em 2018 com o Programa de Formação de Agentes de Inovação para o Cooperativismo Paranaense. Qual a relação do livro com esse programa?
Com o objetivo de fomentar a cultura da inovação nas cooperativas paranaenses, o Sistema Ocepar idealizou o Programa de Inovação para o Cooperativismo Paranaense, um programa de capacitação, sólido e escalável para atender cooperativas de diferentes segmentos e fomentar a inovação de forma bastante prática e adequada à realidade, independentemente do seu ramo de atuação.
O programa tem a intenção de alavancar resultados de forma eficiente, sustentável e exponencial, expandindo a visão de um setor que já é inovador em sua essência. Cada capítulo do livro está associado a cada uma das disciplinas desenvolvidas no Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense, que tem 192 horas/aula.
O livro faz parte do que chamamos de #hora193, porque a inovação começa agora. Nós aprendemos a inovar; agora temos que inovar para aprender.
De fato, o Sistema Ocepar tem dado bastante atenção ao tema Inovação, que, inclusive, faz parte do Plano Paraná Cooperativo 200, certo? O quão importante a inovação é para a saúde dos negócios das cooperativas?
Na sua história de mais de 50 anos, a Ocepar realizou diversos programas de desenvolvimento das pessoas, parcerias nacionais e internacionais, com entidades públicas e privadas e, por fim, até a criação do SESCOOP, que desde 2000 mudou o cenário de profissionalização das cooperativas paranaenses, com a missão de desenvolver o cooperativismo.
Um dos diferenciais do cooperativismo do Paraná é o fato de que aqui sempre houve planejamento. Se não houvesse planejamento, não seríamos o que somos hoje. E essa cultura do planejamento é fruto de uma visão de futuro, um olhar inovador, que busca se adaptar às mudanças e buscar alternativas de desenvolvimento.
Dentre os 20 projetos estruturantes do PRC200, temos um que trata da temática da inovação, que tem como objetivo replicar conhecimentos que possibilitarão o uso de ferramentas estruturadas e a realização de trabalhos em sinergia, criando um ambiente propício para equipes interdisciplinares produzirem soluções inovadoras para as nossas cooperativas.
Na sua visão, quais são os principais desafios para implementar com sucesso a gestão de inovação no cooperativismo - e como o livro ajuda a superá-los?
Lidar com as constantes mudanças no contexto, a atualização dos conhecimentos é fundamental. A inovação pode acontecer em qualquer lugar e as pessoas são agentes que geram oportunidades que não podem ser perdidas.
Nosso objetivo com o programa de inovação é ter diversidade de pensamento e entendemos que disseminar a cultura da inovação é um processo de melhoria contínua e não um destino. O livro pretende contribuir para que as cooperativas sejam cada vez mais inovadoras e cada capítulo serve de referência para a sistematização e consolidação da gestão da inovação nas nossas cooperativas.
Parcerias por meio da intercooperação e da inovação aberta representam boas oportunidades para a gestão de inovação das cooperativas?
O desenvolvimento da inovação não segue padrões lineares de construção e interage com fontes de conhecimento que estão pulverizadas nas mais diversas organizações. Nosso papel como sistema é aproximar as nossas cooperativas com potenciais parceiros entre elas instituições do Sistema S, universidades, incubadoras, aceleradoras e consultorias especializadas, entre outros.
Posso citar um projeto que estamos desenvolvendo em parceria com o Sistema FIEP/Senai Paraná: o HUB de Inovação para a Agroindústria. O objetivo dessa iniciativa é apresentar um ambiente colaborativo projetado para conectar as agroindústrias ao cenário da inovação e oferecer suporte para o desenvolvimento de soluções técnicas e estratégicas, além de novas oportunidades de negócio.
Big Data, cooperativismo de plataforma, onda ESG… Quais são as tendências mais importantes que as cooperativas devem manter no radar para inovar?
As coisas mudam muito rápido. O que está em alta hoje, amanhã pode estar obsoleto. E novas coisas vão surgindo. Novas tecnologias, novas tendências, novos hábitos. Isso impacta processos, rotinas, enfim, a vida como um todo. Temos que acompanhar tudo isso.
Nosso Programa de Inovação tem como objetivo incentivar a cooperativa à modernização em todos os aspectos. Nosso foco é corrigir o que precisa ser corrigido e melhorado de forma prática.
A cooperativa dentro do programa de inovação indica os agentes que vão trabalhar internamente e nós os treinamos. O que a faz Ocepar é dar condições para que essas pessoas fiquem antenadas com a realidade do mercado e com os movimentos de inovação.
Apesar de exigir mudança de mentalidade por parte da cooperativa, o relacionamento pode ser revolucionário
Quando Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley, criou o termo open innovation (inovação aberta, em português), em 2003, ele visava quebrar um paradigma. Ao perceber que o ambiente acadêmico não estava atualizado sobre o mundo dos negócios, ele propôs uma abordagem de inovação melhor distribuída, mais participativa e descentralizada.
A inovação aberta surge para ser um contraponto ao conceito tradicional de inovação fechada, no qual as iniciativas são desenvolvidas internamente, sem apoio externo. O problema da inovação fechada é que, por mais incrível que a cooperativa seja, ela poderá ter dificuldades para inovar sozinha.
Como Henry Chesbrough define, “a inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”. Ou seja, é uma via de mão dupla.
A cooperativa tira proveito do conhecimento externo para realizar as suas inovações, enquanto o mercado ganha o conhecimento agregado, formando um círculo virtuoso. Então, na inovação aberta, a inovação surge a partir da interação não só de funcionários, mas também de clientes, cooperados, fornecedores, startups, universidades e até mesmo de concorrentes.
Apesar das cooperativas firmarem parcerias com diversos tipos de organizações, são as startups que fazem mais sucesso nos programas de inovação aberta. Isso acontece porque elas são construídas com foco na inovação e buscam soluções modernas para resolverem problemas e adversidades.
Ao se conectar a um ecossistema de inovação, as cooperativas têm a chance de acessar conhecimentos e tecnologias que não estão "dentro de casa". Então, entenda mais sobre a relação da inovação aberta com as startups, e alavanque o desenvolvimento da sua cooperativa!
Inovação aberta e startups: relação ganha-ganha
A primeira questão que surge é como adotar a inovação aberta na prática. Atualmente, um dos principais caminhos escolhidos por organizações de diferentes portes e ramos é a conexão com startups por meio de programa próprio ou de parceiros.
Quando a cooperativa se conecta com startups, principal pilar da inovação aberta, ela pode obter vários benefícios. Por exemplo: reduzir o tempo entre o desenvolvimento e a comercialização de um novo produto ou serviço; expandir para novos mercados; diminuir o custo em algumas etapas; e gerar ideias e conhecimentos sem pressionar a equipe interna.
Em síntese, trata-se, de fato, de uma relação ganha-ganha. A cooperativa se beneficia ao trazer para si atributos que estão no DNA das startups, como:
Prova dessa relação de sucesso são os inúmeros exemplos de iniciativas e projetos que apresentam uma conexão entre cooperativas e startups:
- Coprel: Programa de Conexão com Startups
- Sicredi: Inovar Juntos
- Unimed VTRP: Vibee
- Cocamar: Cocamar Labs
Saiba mais sobre este e outros cases de relacionamento com startups no aqui no InovaCoop.
Formas de conectar com startups
Segundo informações de empresas de inovação, como ACE, Innoscience, Silo e StartSe, há pelo menos quatro principais formas de conexão com startups. Elas podem ser classificadas como simples ou complexas, sendo indicadas para necessidades específicas de cada organização.
- Startup como fornecedora de solução: após identificar um problema específico, a cooperativa vai ao mercado para contratar a solução de uma startup. Dessa forma, a cooperativa encontra soluções inovadoras para gerar melhorias operacionais de forma imediata, sem, necessariamente, desenvolver uma prova de conceito. Esse modelo pode ser indicado para cooperativas que ainda não têm afinidade com o ecossistema de inovação ou têm urgência para resolver um problema.
- Prova de conceito ou projeto-piloto: nesta modalidade, a conexão parte de uma prova de conceito (também chamada pela sigla PoC, do inglês Proof of Concept) com metas específicas atreladas a sucesso no curto prazo. Neste caso, pode envolver uma ou mais startups concorrendo, ou cooperando para gerar o projeto-piloto. Se a meta for cumprida dentro do prazo, a startup pode ser contratada ou o serviço pode ser oferecido aos clientes e/ou cooperados. Ou seja, a parceria só ocorre após o resultado da PoC.
- Laboratório para aceleração: esta conexão já demanda mais recursos, pois a organização disponibiliza às startups atributos como capital, espaço físico, networking, ferramentas profissionais, recursos humanos e mentorias. Para a cooperativa que traz a startup para “dentro de casa” é uma forma de adquirir a cultura de inovação e liderar a possível criação de soluções inovadoras que, no futuro, possam ser incorporadas. No entanto, requer mais tempo que as opções anteriores.
- Corporate Venture: é a forma mais complexa de conexão com startups. É neste modelo que a organização pode realizar investimentos no empreendedor, adquirindo participação minoritária, controle parcial ou até total. Ao investir ou adquirir uma startup, a organização precisa avaliar o mercado, colocar os riscos na balança e ter uma boa relação com os empreendedores para o negócio poder crescer de maneira saudável.
Nutrindo relações
Segundo a Innoscience, empresa de consultoria de inovação corporativa, independentemente do formato de conexão escolhido, o relacionamento ocorre em três modelos: batch, contínuo ou on demand.
- Modelo de batch: as inscrições ficam abertas por um período determinado de tempo, as startups são avaliadas pela corporação de forma conjunta e os projetos, concomitantemente testados.
- Modelo contínuo: as inscrições ficam abertas de forma contínua e as startups são avaliadas separadamente ou a conexão ocorre sem inscrições, nem coordenação geral, fazendo cada área à sua maneira.
- Modelo on demand: há uma busca ativa por startups para solucionar um determinado desafio, sem necessidade de chamada pública. Ideal para lidar com problemas pontuais.
É possível começar da maneira mais simples, batch, e depois, após um determinado período, avançar com mais segurança para o modelo contínuo. Além disso, o nível dos desafios a serem solucionados pode evoluir com o tempo.
Boas práticas na inovação aberta
Agora que você já sabe como se conectar com startups, vamos conhecer algumas boas práticas essenciais para a experiência ser bem-sucedida. Isso porque, se não houver preparação, em especial do ponto de vista cultural, este tipo de iniciativa pode enfrentar alguns problemas.
Em seu livro “A Estratégia da Inovação Radical”, Pedro Waengertner afirma que o estabelecimento de um bom design organizacional é prioridade para ter sucesso na conexão com startups. Além disso, é importante saber que trabalhar com essas organizações precisa ser uma consequência da estratégia da cooperativa e um objetivo claro do plano de inovação.
Por isso, antes de iniciar ou participar de qualquer programa de relacionamento com startups, é fundamental saber o que se espera da conexão e estar atento a uma série de aspectos.
Agilidade
Imagine que, para ser contratada, uma startup precise passar por diferentes departamentos da cooperativa e enfrentar idas e vindas com contratos, reuniões e burocracias. Isso pode atrasar e até fazer com que o timing da inovação seja perdido.
Portanto, organizações muito burocratizadas precisam, antes de tudo, trabalhar com agilidade e rapidez nos processos internos.
Mesmo que não seja possível mudar toda a cultura da cooperativa, é recomendável que a equipe ou pessoa à frente do projeto de inovação aberta esteja em contato com a startup e com a liderança, e seja ágil nas decisões. Reuniões curtas e frequentes são essenciais para o projeto fluir bem.
Customização e soluções
A cooperativa precisa entender que, normalmente, a startup soluciona uma única coisa muito bem, com grande foco no problema que se dispôs a enfrentar. Portanto, não adianta firmar uma parceria com a startup e esperar que ela resolva todos os problemas de sua organização.
Essa premissa também serve para cooperativas que buscam o que há de mais moderno em tecnologia nas startups. Ao fazer isso, a organização deixa de focar na solução do seu problema e a conexão com a startup pode perder o sentido. Portanto, lembre-se de focar na solução, e não na tecnologia.
Autonomia
A essa altura você já deve ter reparado que pode acontecer um choque de cultura entre as organizações. A cooperativa que decide apostar na inovação aberta e trabalhar com startups precisa ter em mente que não será possível controlar todo o processo, pois a organização precisa de autonomia.
Não se pode esperar que as startups se adequem a processos rígidos de controle, pois, no final das contas, isso poderá ser prejudicial à natureza inovadora. O ideal, portanto, é que a cooperativa tente se adequar à forma de trabalho das startups, que normalmente utilizam metodologias ágeis de gestão.
Aprendizado
É inegável que, com o passar do tempo, o relacionamento vai gerando aprendizados e conhecimentos diversos. Por isso, é importante aproveitar esse relacionamento para estimular ainda mais a cultura de inovação na organização e implementar novas ferramentas e métodos ágeis.
Afinal, numa conexão com startup, não se trata apenas de contratar uma solução, mas de aprender e inovar.
Visão a longo prazo
Aqui no InovaCoop, sempre ressaltamos que inovação é um processo, com começo, meio e fim, e também um ato contínuo que precisa ser executado com uma visão a longo prazo. Dessa forma, não podemos esperar resultados do dia para a noite.
Assim como todo processo de inovação, um programa de conexão através da inovação aberta também demanda tempo, estudo e tentativas para encontrar o melhor modelo de relacionamento com startups.
Além disso, é essencial realizar uma avaliação ao final da experiência para mostrar os resultados para as lideranças e manter a inovação em ciclos contínuos.
Comece pequeno
Caso a sua cooperativa esteja em dúvida sobre qual modelo de conexão deve aderir, saiba que cada um tem suas vantagens e desvantagens. Por isso, a decisão precisa sempre considerar o estágio de maturidade da cooperativa em relação à inovação e o quão preparada a organização está para receber as startups.
A dica, portanto, é começar pequeno e entender que o erro, caso aconteça, faz parte do processo. O importante é errar rápido para ajustar a rota e aprender com isso.
Inovar é plural
Uma forma de reduzir riscos em relacionamentos com startups na iniciativa de inovação aberta é começar, o quanto antes, a envolver toda a estrutura no projeto, começando pela liderança. Quando esse envolvimento ocorre, a chance de sucesso e o potencial da parceria são enormes.
Por isso, pensando em ajudar as cooperativas com esse desafio, o Sistema OCB realiza o programa Conexão com Startups! A primeira edição teve como tema a intercooperação e se encerrou no começo de 2022. Já a segunda edição, com foco no agro, se encerrou no segundo semestre do mesmo ano.
Resultados da 2ª edição
O programa já conseguiu concretizar parcerias entre cooperativas e startups. Os projetos-pilotos que resultaram da iniciativa foram os seguintes:
- CEMIL: em parceria com a UpTech, a cooperativa desenvolveu um sistema integrado que contém métodos de Inteligência Artificial para precificação.
- Coplana: recebeu ajuda da Daedalus, que criou um aplicativo capaz de calcular a estimativa por meio do processamento de imagens registrado pelos agrônomos diretamente na plataforma.
- Santa Clara: com o auxílio da Eixo Consultoria, a cooperativa desenvolveu uma máquina cortadora de queijo com lâmina ultrassônica e inteligência artificial para fracionar os produtos.
Conclusão: inovação aberta com startups é o caminho para o sucesso
O ecossistema brasileiro de inovação aberta está ficando cada vez mais forte. Dados da 100 Open Startups indicam que a prática cresceu quase 20 vezes nos últimos cinco anos. Ou seja, os polos de inovação estão se difundindo e ganhando escala - e o cooperativismo não pode ficar de fora desse movimento cheio de oportunidades.
A conexão com startups representa um caminho para integrar ao cooperativismo uma lógica diferente de inovação: mais ousada, ágil e, consequentemente, arriscada. Apesar do risco, as cooperativas têm muito a ganhar com atributos que estão no DNA dessas organizações.
Se você não quer perder tempo e deseja inovar o mais breve possível, podemos te ajudar. Com o e-book Inovação no Cooperativismo do InovaCoop, você adentra no mundo da inovação cooperativa e pode colocar a inovação aberta em prática!
Acelerada pela pandemia, a transformação digital alterou padrões de consumo e as cooperativas devem ficar de olho para se adaptar aos novos comportamentos
Vive-se uma era de mudanças constantes, e não é diferente quando o assunto é a lógica de consumo. Os hábitos dos consumidores, que já se alteravam a um bom ritmo devido à transformação digital e acesso às novas tecnologias, foram fortemente afetados pela pandemia.
Com a necessidade de as pessoas se adaptarem aos comportamentos dos tempos pandêmicos, muitas tendências que já estavam em curso foram impulsionadas e consolidadas. O e-commerce, por exemplo, já era uma realidade, mas o isolamento social tornou-o cada vez mais amplo e prevalente. E a queda das restrições não interrompeu esse movimento.
Novos contextos sociais, comportamentais e tecnológicos são fatores que convergem para impulsionar a mudança no perfil do consumidor do amanhã. Diante desse cenário, as cooperativas devem ficar de olho para compreender as tendências do mercado e as demandas do público. Dessa forma, conseguem evoluir mais rapidamente em resposta a essas mudanças.
Consumidor do amanhã cada vez mais tecnológico
A agência The Keenfolks, especializada em acelerar o desempenho comercial por meio da transformação digital, argumenta que as novas tecnologias empoderam os consumidores. Com o crescimento da conectividade à internet, o público tem a disponibilidade de acessar um volume muito grande de informações e comparar concorrentes.
Outra consequência é que, usando as redes sociais, os consumidores ganharam voz e novos canais de comunicação com as marcas. Assim, avaliações e opiniões reverberam com maior facilidade - e impacto.
A partir dessa lógica, a agência identificou 3 efeitos da tecnologia nos hábitos de consumo - e como os negócios podem lidar com isso. Confira:
1. Os consumidores estão mais conectados
Com seus smartphones, os consumidores podem fazer pesquisas sobre os produtos, perguntar detalhes aos vendedores e realizar compras sem sair de onde estão. Dados do Centre for Economics and Business Research indicam que, no Reino Unido, as pessoas gastam quase 23 bilhões de euros por ano em compras que fazem enquanto estão no transporte público.
Os pesquisadores descobriram que 43% das pessoas que participaram do estudo fizeram ao menos quatro compras por mês enquanto se locomoviam pelo transporte público.
Outro resultado dessa hiperconexão é que as pessoas estão usando as mídias sociais para pesquisar sobre os produtos antes de concluir uma aquisição. Mais da metade dos consumidores têm esse hábito.
- Como adaptar os negócios: para aproveitar essa mudança no comportamento dos consumidores, é vital que as marcas utilizem dados com inteligência e efetividade. As companhias precisam entender as demandas e desejos dos consumidores. Assim, conseguem se comunicar melhor, exercendo uma presença digital forte.
2. Os consumidores usam múltiplos aparelhos
Celulares, computadores, tablets, relógios inteligentes, smart TVs… A variedade de produtos conectados não para de crescer. Estima-se que mais de 90% dos internautas usem mais de um aparelho para completar alguma tarefa online.
A pessoa pode conhecer um produto na televisão, pesquisar sobre ele pelo celular e efetuar a compra acessando o computador, por exemplo. Por isso, é necessário apresentar a mensagem adequada a cada situação, segmentando não só o perfil da audiência, mas a plataforma que ela está utilizando naquele momento.
- Como adaptar os negócios: a omnicanalidade - ou seja, presença em diversas plataformas, físicas e virtuais - é um fator importantíssimo para entregar uma jornada de compra positiva, com os estímulos adequados a cada dispositivo de acesso. Compradores que se relacionam com um produto em múltiplas plataformas são mais propensos a efetuar a aquisição.
3. Os consumidores têm expectativas mais altas
Com o aumento na concorrência e, consequentemente, competitividade, os consumidores esperam maior qualidade dos produtos e serviços. Ficou mais fácil comparar o atendimento oferecido dentre marcas concorrentes.
Além disso, agora o público espera ser atendido de maneira mais personalizada, respeitando seus horários e hábitos. Os efeitos de uma experiência ruim podem ser graves: 74% das pessoas já trocaram de marca porque o processo de compra estava sendo muito complicado.
- Como adaptar os negócios: a solução para encarar essa situação pode estar justamente na adoção de ferramentas tecnológicas. Chatbots, por exemplo, ficam disponíveis 24 horas por dia e são capazes de solucionar problemas mais simples sem necessidade de intervenção humana.
As principais tendência sobre o consumidor do futuro
O futuro dos negócios é uma preocupação que chama a atenção dos principais nomes da economia mundial. Não é por acaso que diversas consultorias realizam estudos buscando antecipar as tendências sobre o comportamento dos consumidores do futuro.
Empresas como PwC, Euromonitor International, Ilegra e EY realizaram estudos que trazem tendências de inovação, consumo, design e também softwares. Para facilitar, compilamos algumas das tendências para te ajudar a entender o que podemos esperar nos próximos anos (ou menos). Confira:
Demanda pela sustentabilidade
Cada vez mais pessoas estão mantendo um estilo de vida que visa a reduzir a pegada de carbono. A consciência ambiental está se tornando uma parte mais e mais importante na lista de prioridades dos consumidores. E eles esperam que as marcas também estejam preocupadas com o meio ambiente.
Com o crescimento da prevalência dessa mentalidade, as pessoas estão demandando produtos com neutralidade de carbono e processos de produção limpos e transparentes. A “ansiedade ecológica” em relação às mudanças climáticas está fazendo com que fatores ambientais sejam levados em conta para as decisões de consumo.
As gerações mais jovens, em especial, sentem que suas escolhas fazem a diferença para o futuro do planeta. E as marcas que atendem essas aflições obtêm vantagem competitiva, uma vez que a pressão desses consumidores se reflete nos investidores e reguladores.
Idosos digitais
O consumidor do amanhã não fica restrito apenas aos mais jovens. Pelo contrário, na verdade. A população com mais de 60 anos está crescendo e ficando cada vez mais conectada. Familiarizados com soluções tecnológicas, esse público está aderindo a serviços online que os ajudam na vida diária. Além de fazer compras, essas pessoas usam a internet para socializar, consultar exames de saúde e gerir as finanças.
Com o aumento da expectativa de vida, esse público está crescendo. Até 2040, o mundo deve ter mais de 2 bilhões de pessoas na terceira idade. Esse grupo é maioria entre as pessoas de alta renda, e otimizar os negócios para atender aos hábitos desse público é fundamental para capturar o poder de compra deles.
Busca por paixões
As pessoas estão priorizando mais o tempo que têm para si. O balanço saudável entre trabalho e vida pessoal é um objetivo que guia as decisões. O tempo dedicado ao lazer e às conquistas pessoais está aumentando. Os limites entre vida pessoal e profissional estão sendo fortalecidos.
Com isso, o volume de consumidores que prefere gastar seu dinheiro com experiências em vez de objetos segue numa curva crescente. Eles estão dando preferência para marcas que corroborem esses princípios e apresentam propósitos.
Mais receptividade e menos lealdade
Desde o início da pandemia, os consumidores começaram a dar mais chances para novas marcas, escolhendo-as com base em conveniência e confiança. Assim, a capacidade de atender pedidos online de forma eficiente se apresentou como um diferencial para a decisão desse comprador.
Outro fator que afeta a lealdade às marcas está na percepção de que elas buscam mais do que apenas o resultado financeiro, mas também possuem propósitos - o que as cooperativas têm de sobra, não é mesmo?
Foco no amor próprio
Autoaceitação e autocuidado estão se tornando fatores protagonistas nos hábitos de consumo. Esses consumidores dão prioridade à felicidade e conforto, consumindo produtos e serviços que elevam o bem-estar.
Essas pessoas investem em cuidados com a mente e o corpo. Também estão aceitando gastar mais em produtos de maior qualidade que lhes dê satisfação pessoal e sejam consonantes com suas identidades.
No longo prazo
Pensando de forma ainda mais distante no tempo, a Euromonitor elaborou um relatório apresentando insights sobre o futuro do comércio em 2040. Confira algumas das reflexões:
- Consumidores do futuro anseiam por mais experiências únicas
- Casas automatizadas têm apelo aos consumidores que desejam simplificar a vida
- Clientes ainda consomem em lojas físicas, quando querer ver ou experimentar os produtos
Antecipar tendências
A busca por tentar entender os cenários futuros a fim de antecipar os desafios passa pela tarefa de encontrar, interpretar e decifrar tendências. No InovaCoop, estamos sempre atentos a às movimentações e mudanças que afetam os negócios do cooperativismo. Tanto que já produzimos este texto explorando as tendências de consumo que impactam diretamente as cooperativas.
Como a tecnologia é um fator central nas mudanças de comportamento dos consumidores, você também pode conferir nosso e-book Transformação Digital: as principais tendências tecnológicas que prometem afetar os negócios. Comunicação e marketing são partes importantes no processo, e também tratamos delas.
A importância dessa tarefa é tanta que há profissionais que estudam e se dedicam a entender melhor esses fenômenos. Por isso, ainda desenvolvemos o curso online de pesquisador de tendências.
Conclusão
A atualização constante dos negócios se tornou mandatória em tempos de mudanças frequentes. Esse é um desafio complexo, mas inevitável.
As novas gerações estão ingressando no mercado consumidor com sua cultura, seus padrões de comportamento e hábitos de consumo. Ao mesmo tempo, a transformação digital e a pandemia impactaram a forma com que as pessoas realizam suas compras. Muita gente precisou aprender e se acostumar ao comércio digital.
Para que consigam se manter competitivas, as cooperativas precisam ficar atentas às tendências de mercado. A inovação é fundamental para esse processo. Quem não se atualizar vai correr o risco de que seus modelos de negócios fiquem obsoletos.
Conforme o mundo muda, o consumo se transforma. A inovação é a principal forma de entender e atender as demandas do consumidor do futuro.
Em tempos de Big Data, os dados são abundantes. Eles podem ser grandes aliados na hora de tomar decisões - mas, para isso, é importante saber como utilizá-los
A transformação digital traz consigo o aumento exponencial da geração de dados. As informações são cada vez mais abundantes e complexas. Na economia moderna, dados não faltam. A questão é: como tirar o melhor proveito deles? E a resposta está na construção de uma cultura de dados.
O levantamento Data Never Sleeps, realizado pela Domo, deixa bem evidente o quão massiva é a quantidade de informações geradas ou trocadas. Por exemplo, a cada minuto o Twitter recebe 575 mil novas postagens e mais de 65 mil fotos são postadas no Instagram. Nesse mesmo período, mais de 6 milhões de pessoas compram algo pela internet. Ou seja, toda interação digital cria dados.
Tamanha profusão de informações geradas a todo instante pode ser utilizada para otimizar a tomada de decisão dentro das cooperativas. É desse princípio que consiste a gestão data driven - ou gestão baseada em dados.
Benefícios de uma gestão orientada por dados
Tomar decisões com base na análise de dados é o “novo normal”, descreve a consultoria Deloitte. E os benefícios são vários, por exemplo:
- Assertividade na tomada de decisões: dados são capazes de estabelecer bases para a melhor tomada de decisões em situações sensíveis. Companhias que fazem escolhas municiadas por informações de qualidade têm uma probabilidade 19 vezes maior de serem lucrativas do que aquelas que são administradas somente por experiência e instinto.
- Sinergia entre os setores da cooperativa: a utilização de dados tem o potencial de deixar a cooperativa mais integrada, conectando os diferentes setores internos. O compartilhamento de informações entre diversas áreas é benéfico para a organização como um todo.
- Visão clara de desempenho e resultados: o levantamento de dados refinados e complexos melhora a avaliação de desempenho e a análise dos resultados da cooperativa. Assim, é possível obter diagnósticos precisos dos problemas na operação e, por outro lado, visualizar mais oportunidades de crescimento.
- Otimização de custos: quando a cooperativa tem um diagnóstico preciso de suas forças e fraquezas, o direcionamento de recursos é mais efetivo. Processos custosos de tentativa e erro perdem espaço.
- Prevenção de falhas: analisando os dados, a cooperativa consegue enxergar falhas antecipadamente, antes que elas resultem em danos e prejuízos. Dessa forma, as medidas de correção e prevenção são mais rápidas.
De fato, os dados são grandes aliados na hora de fazer escolhas estratégicas na gestão das cooperativas. Para executar uma gestão data driven, contudo, se faz necessário criar uma cultura organizacional que privilegie as decisões subsidiadas por informações de qualidade, e não por mero instinto.
Por isso, listamos 5 etapas importantes para você iniciar uma cultura de dados na sua cooperativa. Boa jornada!
1. Conheça ferramentas
Para conseguir tratar e extrair o melhor proveito desses dados, a solução é desenvolver e aprimorar as técnicas de análise. O International Data Corporation (IDC) revela que os gastos mundiais em soluções de Big Data e Analytics fecharam em 2021 com mais de 215 milhões de dólares.
Isso representa um aumento de 10,1% em relação ao ano anterior - e o crescimento não vai parar. A entidade prevê que, até 2025, o investimento aumentará 12,8% ao ano. A gestão das cooperativas tem muito a ganhar com tantas informações disponíveis.
Mas quais as ferramentas e soluções disponíveis?
Em nosso guia prático sobre como tomar decisões baseadas em dados, explicamos que há um arsenal de recursos tecnológicos usados para transformar os dados brutos em informação relevante. Tais quais:
- Big Data e Analytics: processamento e análise de grandes volumes de dados para usá-los durante a tomada de decisão em processos estratégicos.
- Internet of Things: a internet das coisas se refere a uma rede que conecta itens diversos, como carros e eletrodomésticos, por exemplo.
- Data Mining: a mineração de dados aborda as formas de encontrar padrões a partir de quantidades massivas de informações.
- Machine Learning: as máquinas conseguem evoluir e aprender sozinhas para oferecer resultados melhores para as instituições.
Todo esse campo é chamado data science - ou ciência de dados. É ele que permite, por exemplo, entender tendências de comportamento. Com isso, é possível desenvolver produtos adequados a seu público. Saiba mais sobre data science neste post, aqui no InovaCoop.
2. Construa uma mentalidade de dados
A maior barreira para aplicar os dados na gestão de uma organização não está na tecnologia, mas sim na cultura organizacional. Não basta criar uma boa estrutura informatizada. As ferramentas que apresentamos apenas descobrem padrões e evidenciam informações. No fim, as decisões ainda são tomadas por seres humanos.
Por isso, a cooperativa que quer praticar uma gestão baseada em dados precisa trabalhar seus líderes, cooperados e colaboradores dentro dessa mentalidade. É fundamental que todos entendam a importância dos dados e sejam treinados para interpretá-los e empregá-los com eficácia.
Contudo, é válido salientar: as decisões não podem ser tomadas com base exclusiva nos dados. Por melhor que sejam os algoritmos, nem tudo pode ser parametrizado - emoções, por exemplo.
A transformação cultural
A construção de uma cultura de gestão baseada em dados deve ter o foco no desenvolvimento de uma mentalidade analítica. No Harvard Business Review, o gestor de análise de dados David Waller explicou que a iniciativa deve vir de cima para baixo, começando pelas lideranças da organização. O incentivo é feito por meio do exemplo.
Waller reforça a importância do fator humano para essa tarefa. Ao apontar o papel dos cientistas de dados, ele recomenda que esses profissionais precisam estar integrados a todas as áreas da instituição. Dessa forma, une-se o conhecimento técnico sobre o tratamento de dados e o conhecimento especializado dos gestores dos diferentes setores da cooperativa.
Outro passo desse processo é fornecer treinamento especializado aos colaboradores - mas na hora certa. Especializar os trabalhadores cedo demais pode ser um problema - afinal, o que não é praticado acaba sendo esquecido.
Por fim, o especialista também aconselha a criação do hábito de explicar as escolhas tomadas após a análise de informações. Os dados podem ser interpretados de diferentes maneiras; não vai haver sempre uma “resposta correta” universal. Raciocinar quais são os motivos de uma decisão ajuda a dar consistência a ela.
3. Use dados de forma integrada por toda a cooperativa
A tarefa de analisar, interpretar e utilizar os dados deve fazer parte de todas as áreas da cooperativa, e não somente dos profissionais envolvidos com tecnologia. Gestores e colaboradores de todos os setores tomam decisões melhores quando estão aptos a empregar dados em suas tarefas.
Para que isso seja possível, os dados devem estar disponíveis a todas as áreas da cooperativa. Informações coletadas por um setor podem contribuir para outros setores. Quando não há integração na disponibilização de dados, muitos gestores podem deixar de ter acesso a informações importantes, que ajudariam em suas decisões.
Matemarketing
Um exemplo de área que tem muito a ganhar ao utilizar os dados é o marketing. Informações coletadas por diversas áreas da cooperativa podem municiar as iniciativas desse setor. E há até um campo específico que usa técnicas de análise científica, como a estatística, em prol da atração e conversão de clientes: o matemarketing.
A pandemia tornou essa área ainda mais importante, com as mudanças que o período provocou nos hábitos dos consumidores. Segundo a Mckinsey, de março a agosto de 2020, um em cada cinco clientes trocou de marca e sete em cada dez testou novos canais de compras.
Produzimos, aqui no InovaCoop um conteúdo focado nas técnicas de matemarketing. Nele, explicamos, por exemplo, quais são os cinco passos para começar a aplicar a técnica na sua cooperativa. Veja:
- Conhecer o arsenal da análise de dados
- Investigar padrões de comportamento nos dados
- Definir um projeto a longo prazo
- Começar pequeno
- Designar uma equipe para implementar o projeto
O matemarketing pode ser muito valioso para atrair novos clientes, entender melhor o seu público alvo, acompanhar o desempenho das estratégias de comunicação e aumentar o engajamento de cooperados e colaboradores.
Para entender a fundo como colocar o matemarketing em prática, leia o post clicando aqui!
4. Conheça a LGPD e respeite a privacidade
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor em setembro de 2020, buscando dar mais segurança no uso de informações pessoais por parte das empresas. Na era digital, os dados são fundamentais para a geração de valor, mas o público passou a demandar que eles fossem colhidos e utilizados com transparência e ética.
Com o advento da LGPD, o consentimento do cidadão é a base para que dados pessoais possam ser tratados. A legislação empodera os usuários em relação a suas informações. É possível solicitar que dados sejam deletados, revogar um consentimento e transferir dados para outro fornecedor de serviços.
Neste texto, nos aprofundamos na discussão sobre a LGPD e trouxemos alguns impactos que a regulamentação pode ter nas cooperativas.
Adaptando a cooperativa à LGPD
As mudanças impostas pela LGPD requerem que uma série de práticas sejam readequadas em conformidade com as obrigações previstas na legislação. Para facilitar esse processo, produzimos o e-book LGPD no cooperativismo: como se adaptar.
Para atualizar o tratamento de dados em conformidade à LGPD, a cooperativa deve analisar seus processos operacionais, organizacionais e contratuais sob a ótica jurídica. Assim, poderá identificar pontos no processo que não seguem as demandas da legislação e ajustá-los.
Deve-se também inserir uma rotina de treinamentos para conscientização da equipe quanto à importância da adoção das boas práticas recomendadas e das medidas delineadas no programa de governança.
Uma nova função
Outra consequência da LGPD foi a criação de uma nova função: o Data Protection Officer (DPO), encarregado pela proteção de dados pessoais dentro da instituição.
Sua missão é garantir a segurança das informações tanto de clientes e cooperados quanto da própria cooperativa, conforme as determinações da legislação. Veja nosso texto explicando os atributos, atribuições e funções do DPO.
Midata: cooperativa gerencia dados de saúde
Poucos tipos de dados são tão sensíveis quanto dados médicos. Ainda assim, plataformas e tecnologias dedicadas à medicina em geral se apropriam dos dados inseridos e gerados pelos usuários, com pouca transparência sobre qual será o uso dessas informações. O resultado é a exploração comercial desses dados sem conhecimento dos usuários.
Desse contexto, surgiu a Midata Cooperative, na Suíça, em 2015. O objetivo da coop é atuar como uma fiduciária para a coleta de dados e garantir a soberania dos cidadãos sobre como suas informações pessoais são usadas.
Saiba mais sobre a história e a operação da Midata no Radar da Inovação!
Conclusão
Os dados são aliados poderosos para a gestão da inovação. A partir deles, sua cooperativa poderá antecipar tendências, identificar oportunidades de negócios e aprimorar os produtos e serviços.
A cultura de dados impulsiona, normatiza e difunde o uso de informações concretas e assertivas durante todos os processos de operação da cooperativa. Com isso, ela terá maior capacidade de se tornar protagonista no ecossistema de inovação.
Durante a Semana da Competitividade, organizada pelo Sistema OCB, a palestrante Mary Balestra, diretora global de negócios do Grupo Stefanini, explicou que os dados são essenciais para a proposição de práticas inovadoras.
Tais informações, contudo, precisam ser coletadas e analisadas de forma cuidadosa e qualificada. A legislação e o público estão exigindo que os dados sejam obtidos e utilizados de forma ética e transparente. “A inovação não é poder. O poder é o compartilhamento responsável”, argumentou Balestra.
Modelo ainda está amadurecendo no país, mas iniciativas atuam para fomentá-lo em meio à transformação digital em busca pela inovação
O cooperativismo de plataforma surgiu como uma resposta aos efeitos da ascensão de serviços ligados à economia do compartilhamento. Diversos atores desse modelo, como Uber, Airbnb e iFood, colocaram as plataformas como protagonistas da economia global. E embora tenham sido disruptivas, elas também originaram uma série de questionamentos éticos.
O quesito mais evidente está no crescimento da gig economy e os seus impactos nas relações de trabalho. Em teoria, as plataformas concedem um ambiente mais flexível aos trabalhadores, já que não há vínculo empregatício. Na prática, contudo, elas contribuíram para o crescimento dos empregos informais.
Foi nesse contexto que o professor Trebor Scholz, da universidade The New School, de Nova York, cunhou o conceito de cooperativismo de plataforma. A proposta é de um modelo de mudança estrutural na economia do compartilhamento, colocando os trabalhadores em posse das plataformas. O acadêmico publicou um livro-referência e lidera um consórcio sobre o tema.
Cooperativismo de plataforma no Brasil
No Brasil, o InovaCoop já publicou posts, cases e e-book para disseminar o cooperativismo de plataforma (confira ao final deste texto). Além disso, já surgiram iniciativas de incentivo, conteúdo e pesquisa sobre o modelo, como:
Em 2019, quando veio ao Brasil para palestrar no 14° Congresso Brasileiro de Cooperativismo (CBC), organizado pelo Sistema OCB, Scholz falou sobre o potencial do modelo no país:
“O Brasil é um dos países mais propícios para as cooperativas de plataforma. O Consórcio para o Cooperativismo de Plataforma adoraria apoiar o desenvolvimento das cooperativas brasileiras ajudando a coordenar seu crescimento por meio da cooperação internacional”, declarou à época.
O avanço por dois caminhos
Rafael Zanatta, mestre pela Faculdade de Direito da USP e diretor da Associação Data Privacy de Pesquisa, é um dos principais estudiosos sobre o cooperativismo de plataforma no Brasil. No artigo acadêmico “Platform Cooperativism in Brazil: dualities, dialogues and opportunities”, Zanatta analisou o desenvolvimento do modelo no país.
O estudo argumenta que o cooperativismo de plataforma no Brasil avança em duas frentes: uma institucionalizada e outra não-institucional. A primeira delas se dá no setor cooperativista institucionalizado, que opera de forma estruturada. Zanatta menciona, inclusive, o InovaCoop como exemplo deste ambiente.
Dentro desse contexto, o cooperativismo de plataforma é percebido como um impulsionador da inovação e uma oportunidade de gerar novos negócios para as cooperativas. Dando sequência a essa visão, as coops estão desenvolvendo soluções para atuar em setores em que o cooperativismo já é presente.
Assim, as plataformas se apresentam como um meio de reinvenção do cooperativismo em mercados importantes para o setor, como os ramos de crédito, agricultura, transporte e saúde.
Proposta com foco na modernização
No documento Propostas para um Brasil mais cooperativo 2023-2026, a OCB defende que o futuro do setor passa pelo apoio e estímulo ao cooperativismo de plataforma. O modelo se mostra uma opção sustentável para as novas tendências de se trabalhar em rede, conectando pessoas e as colocando no centro dos negócios.
Com isso, o cooperativismo de plataforma apresenta como vantagens a autogestão e a valorização dos trabalhadores. Assim, eles se tornam “donos dos seus próprios negócios, seja nas plataformas de compras coletivas ou na oferta de serviços por aplicativos”, argumenta o texto.
Para que o modelo possa ser potencializado, contudo, é preciso criar a possibilidade de admitir investidores-anjo em startups cooperativistas, propõe a OCB. A participação de cooperativas em sociedades não-cooperativas também é uma possibilidade a ser estudada para promover o cooperativismo de plataforma.
Outros caminhos
Como consequência dessas restrições legais ao investimento externo, Zanatta também relata o surgimento da segunda frente do cooperativismo de plataforma no Brasil, sem ligações institucionais oficiais.
A rede de apoio a essas instituições é liderada por coletivos e apoiado por organizações filantrópicas. Essas instituições ganharam força com a luta contra a gig economy, ou “uberização do trabalho”.
Os impulsos ao modelo
Em entrevista ao InovaCoop, Zanata argumenta que, no contexto de 2022, o cooperativismo de plataforma encontra três fatores impulsionadores no Brasil:
- Exaustão moral com os modelos de negócios de gigantes como Rappi, Amazon, Uber e iFood: “Há uma crítica persistente da sociedade e episódios como o monitoramento de lideranças, como o feito pela iFood, desperta ainda mais interesse por plataformas que possuem conexão com valores do cooperativismo, como dignidade do trabalhador, participação e democracia econômica”.
- Surgimento de políticas públicas locais de fomento ao cooperativismo: “Nós estamos vendo isso em São Paulo, em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em muitas outras cidades. Há um crescente incentivo local ao cooperativismo de plataforma e isso tende a se intensificar com políticas públicas mais estruturadas, inclusive as de facilitação ao crédito”.
- Processo de maturação de alguns projetos e experimentos iniciados entre 2019 e 2020: “Especialmente após os incentivos dados pelas Escolas de Cooperativismo, pela OCB e por projetos como InovaCoop. Agora vamos começar a ver algumas conexões entre novos empreendimentos e mercados preexistentes, como no caso de coops que oferecem serviços de software as a service em setores como transporte, logística e saúde”.
Os principais desafios atuais
Em seu artigo, Zanatta também discorreu sobre as maiores barreiras enfrentadas para o crescimento do cooperativismo de plataforma. Novamente, ele destaca as restrições regulatórias enfrentadas pelo setor em relação às possibilidades de investimento. Isso gera grandes dificuldades operacionais para financiar novas iniciativas de plataforma.
Outro argumento é que as cooperativas podem ter dificuldades para praticar atividades intermediárias digitais complexas, como gestão de dados, programação e marketing. Para o sucesso de uma plataforma, elas são tão necessárias quanto a atividade-fim da coop.
Devido às restrições de financiamento, o desenvolvimento das plataformas acaba restrito às cooperativas de grande porte, sobretudo as que atuam nos ramos de crédito, saúde e agronegócio. Coops de menor escopo, contudo, não conseguem acompanhar o ritmo, dificultando o amadurecimento do modelo de negócio.
Ainda assim, nota o pesquisador, as cooperativas preferem manter o modelo de negócios dentro do cooperativismo, em termos legais e regulatórios.
Iniciativas
Mesmo com as dificuldades, surgem iniciativas que buscam dar vida ao cooperativismo de plataforma:
Ciclos (Sicoob ES)
No Radar da Inovação, contamos a história da Ciclos, uma cooperativa de plataforma gestada pela Sicoob Central do Espírito Santo em seu hub de inovação. A Ciclos atua nos setores de infraestrutura, consumo e serviços.
O desenvolvimento da plataforma contou com a participação da empresa de tecnologia MindTec, que já prestava serviços à cooperativa, e da startup CleanClic, também oriunda do hub. A OCB estadual também deu apoio para a criação da Ciclos.
A cooperativa disponibiliza o acesso a três diferentes serviços:
- Planos de saúde
- Planos de telefonia e dados
- Energia limpa
Diante do sucesso, a coop almeja inaugurar um marketplace para conectar seus cooperados e expandir a atuação para outros estados.
PODD (Coopertran)
O aplicativo PODD (Pay On Demand) é uma iniciativa da cooperativa de transportes mineira Coopertran, surgida a partir da insatisfação dos motoristas com os modelos praticados pelas grandes plataformas de transporte individual.
“Hoje, os motoristas trabalham para o aplicativo. O PODD fará o aplicativo trabalhar para os motoristas”, argumentou José Aparecido Ferreira, então diretor-presidente da Coopertran, em 2020.
O PODD começou a operar em 2020, na região de Grande Vitória, no estado do Espírito Santo. Contudo, devido aos impactos da pandemia, precisou interromper as atividades no ano seguinte.
Futuro do Ramo
Fernando Lucindo, advogado especialista em direito cooperativo e digital, acredita que o amadurecimento das cooperativas de transporte passa pelo cooperativismo de plataforma.
“Veja o quanto do mercado em geral têm sido absorvido pelos negócios baseados em plataformas. Temos um caminho a percorrer, principalmente as cooperativas tradicionais. Reverbero: a transformação digital deve estar no plano estratégico das cooperativas, que devem investir na educação, inovação e cultura digital. Devem estar abertas para as rupturas de modelos que se apresentam”, reflete.
Eventos
O Brasil também será protagonista de eventos que buscam divulgar, discutir e apresentar propostas para a disseminação do cooperativismo de plataforma no país. Essa é mais uma amostra de que o modelo está passando por um processo de amadurecimento. Veja eventos sobre o tema para colocar na agenda:
- Cooptech: organizado pela Coonecta, o Cooptech 2022 será realizado dentro do WCM Expo, entre os dias 17 e 18 de outubro, no Minascentro, em Belo Horizonte. Com foco em inovação, o cooperativismo de plataforma e a transformação digital estão entre os destaques das apresentações.
- Owning the Future: fruto de uma parceria entre o Platform Cooperativism Consortium e o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), irá discutir como escalar sustentavelmente as cooperativas de plataforma do sul global. A conferência ocorrerá entre os dias 4 e 6 de novembro, no Museu do Amanhã, na capital fluminense.
Momento-chave
Para Victor Barcellos, pesquisador do Departamento de Mídias do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, “o ano de 2022 é um momento-chave para o cooperativismo brasileiro, especialmente porque as cooperativas de plataforma estão mostrando seu potencial de escalabilidade e inovação”.
“Trazer a Conferência Anual do Cooperativismo de Plataforma pela primeira vez para o Sul Global é um marco histórico capaz de aumentar a consciência sobre o cooperativismo de plataforma no país, além de conectar atores estratégicos - cooperativas, gestores públicos, empreendedores e acadêmicos - para a criação de uma economia digital solidária. O ITS está acompanhando esse movimento e empenhado em fomentar esse debate com os diversos setores da sociedade”, declarou ao InovaCoop.
Em foco
Além disso, Rafael Grohmann, coordenador do DigiLabour, participou do Global Perspectives on Platforms and Cultural Production, no dia 1° de junho. Na conferência híbrida organizada pela Universidade de Amsterdam, Grohmann apresentou seu trabalho Click Farm Platforms and Instagram Content Creators in Brazil: Infrastructures and Work Practices.
Ao redor do mundo
Se no Brasil o modelo ainda está em estágio de amadurecimento, há iniciativas que colocam o cooperativismo de plataforma em prática, em diferentes lugares do planeta. Veja essas histórias que contamos no Radar da Inovação:
- Na Driver’s Seat Cooperative, os motoristas são remunerados pelos dados gerados a partir das corridas realizadas
- A cooperativa Suíça Midata Cooperative atua desde 2015 compartilhando dados de tratamentos com o controle dos pacientes.
- A francesa CoopCycle foi criada para apoiar entregadores de aplicativos que usam a bicicleta como veículo para fornecer infraestrutura tecnológica e originar novas cooperativas.
- Na Grã-Bretanha, a Eccoo foi idealizada para colocar em contato profissionais e pessoas que precisam de cuidados especiais em seu dia a dia.
- A Smart Coopérative, plataforma Belga de cooperativas para autônomos, reúne 35 mil associados de 40 cidades, em nove países europeus.
Conclusão
Segundo Gustavo Mendes, fundador da Coonecta, o cooperativismo de plataforma está, gradativamente, ganhando espaço no Brasil. Ele acredita que o modelo precisa ser analisado como um ecossistema, e não apenas por meio de iniciativas singulares.
Mendes argumenta que o cooperativismo de plataforma precisa de um ambiente favorável ao seu crescimento. A criação desse ambiente passa por iniciativas de entidades setoriais - como o InovaCoop, da OCB -, realização de eventos, interesse das universidades e impulso de empresas mercantis, como a Coonecta.
O atual cenário é positivo, mas ainda há onde evoluir. “As grandes cooperativas poderiam olhar esse assunto com um pouco mais de atenção. Elas têm olhado muito para conexão com startups mercantis, o que é importante, mas poderiam também olhar para a conexão com startups cooperativas que têm modelos inovadores”, reflete.
Gustavo Mendes conclui: “a partir do momento em que todo o ecossistema apoiar esse surgimento de cooperativas de plataforma, vai ser natural que elas surjam”.
Mais cooperativismo de plataforma no InovaCoop
Como vimos, o cooperativismo de plataforma se apresenta como uma das principais faces da inovação dentro do ambiente cooperativista. Com esse modelo, as cooperativas se adaptam às demandas de uma nova economia, levando a cultura cooperativa ao mercado moderno, tornando-o mais ético e participativo.
No Brasil, o cooperativismo de plataforma ainda é incipiente, mas está crescendo. O estudo sobre o modelo cresce, assim como as iniciativas para seu fomento. Enxergando essa tendência, o InovaCoop já produziu diversos conteúdos com foco no tema. Confira e fique por dentro do futuro do cooperativismo!
- O que é cooperativismo de plataforma
- Desafios e oportunidades do cooperativismo de plataforma, segundo Trebor Scholz
- Cooperativas de plataforma: desafios e cases de sucesso
- O que são as cooptechs
- Plataforma de negócios: oportunidade para as cooperativas
- Cooperativismo de plataforma tem destaque no Hacking Rio 2020
- Cooperativismo de plataforma: um mundo de oportunidades
- 9 tendências de inovação para o cooperativismo em 2021
- Fairbnb: uma coop de plataforma que sonha alto e realiza muito
- Economia digital e as oportunidades para o Ramo Trabalho
- Curso sobre cooperativismo de plataforma
- Como funcionam as plataformas de negócios no cooperativismo
- Brasil é destaque em conferência internacional do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma
- Cooperativismo de plataforma: desafios e oportunidades (e-book)
- Trabalho em plataformas digitais
- Mensakas: plataforma com foco em remuneração justa para entregadores