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Design Circular: evitando desperdícios e construindo um futuro sustentável

Você já deve ter ouvido falar em economia circular. Mas e o design circular? Você sabe o que é?


O lixo é um erro de design. Essa é a premissa básica por trás do design circular, uma ideia que pretende enfrentar a grande taxa de desperdício e produção de lixo.

O design circular faz parte de um movimento de mudança de rumos, em busca de uma economia mais sustentável e responsável. Você já ouviu falar dela: é a agenda ESG, que está dando protagonismo à sustentabilidade na nova economia.

Com a ascensão da preocupação com os impactos ambientais e sociais da produção industrial, a busca por métodos que levam em conta o que fazer com os resíduos ganhou importância - inclusive para os consumidores. O que fazer com um celular que quebrou, com as roupas que não servem mais ou com a enormidade de plásticos que descartamos todos os dias?

Essas são preocupações que deram origem à economia circular e, consequentemente, ao design circular. Neste artigo, iremos conhecer o design circular, aprender seus benefícios, conhecer exemplos e entender qual é a sua ligação com o cooperativismo. Aproveite a leitura!

O que é design circular

Em uma era em que o consumo cresce e a inovação tecnológica faz com que as trocas e descartes sejam frequentes, a economia circular busca reduzir os impactos. Quantas vezes você trocou de celular nos últimos dez anos? Quantos deles ainda funcionavam perfeitamente, mas tinham ficado para trás em recursos tecnológicos?

Em meio a um modelo tradicional de produção que gera muitos detritos, a economia circular repensa a indústria produtiva, o uso e a manufatura em relação ao desperdício de insumos naturais e descarte de produtos deteriorados ou obsoletos. Então a reciclagem e o reaproveitamento de materiais usados são exemplos da economia circular? Sim, são!

Ou seja: não basta só pensar na forma mais eficiente de produzir. É necessário, também, levar em conta o que acontece depois de um produto deixar de ser utilizado por qualquer que seja o motivo. A partir dessa busca, surgiu o conceito de design circular, uma resposta em prol de um planejamento sustentável desde a concepção dos produtos.

Design é projeto

Talvez a origem estrangeira faça com que a palavra ‘design’ não seja compreendida corretamente. Para a designer e pesquisadora Mônica Moura, “Design significa ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”. Mais sucintamente, nas palavras do pioneiro Alexandre Wollner: “design é projeto”.

O design circular, portanto, é uma forma de projetar e desenvolver produtos pensando, no decorrer de todo o processo, nos impactos ambientais causados pelos materiais utilizados durante a fabricação. Isso passa pela escolha dos insumos, os métodos de produção e o reuso ou a reciclagem do material que será descartado após o uso do produto.

Dessa forma, podemos entender que o design circular trabalha em cadeia, tendo como princípio o uso de produtos levando em conta tanto o uso de matéria-prima reciclada quanto o destino dos objetos quando ele não puder mais ser mais usado. A meta, com isso, é não só reduzir a quantidade de lixo, mas também diminuir os impactos no meio ambiente por meio da inovação de design.

Os princípios do design circular

O livro Cradle to Cradle – Criar e Reciclar Ilimitadamente (em inglês Cradle to Cradle – remaking the way we make things), de William McDonough e Michael Braungart propõe três princípios que funcionam como base do design circular. Conheça-os abaixo:

  1. Resíduos são nutrientes: na hora de desenhar um produto, os designers devem verificar as propriedades de cada material com os fornecedores. Aqueles que causam impactos negativos devem ser substituídos gradativamente. Além disso, é importante buscar materiais com um ciclo biológico seguro e que sejam nutritivos quando retornam para a natureza. 
  2. Usar a fonte solar ilimitada: a energia solar é constante e renovável. Por isso, seu potencial deve ser aproveitado ao máximo. Para o design de produtos industriais, então, os fabricantes devem ir além da eficiência energética e buscar, também, energias renováveis. O ideal é que a indústria se torne auto-suficiente em energias renováveis.
  3. Celebrar a diversidade: a diversidade fortalece sistemas biológicos e industriais, valorizando materiais, processos e soluções. Com isso, os ambientes de produção e distribuição podem acolher e estimular a biodiversidade, proporcionando áreas verdes e espaço para a natureza.

Características do design circular

A partir disso, o design circular carrega algumas características importantes para que possa cumprir o seu objetivo:

  • Produtos verdes: os produtos devem ser ambientalmente corretos no decorrer de todo o ciclo de produção e uso.
  • Uso de insumos reciclados: sempre que possível, o design circular deve priorizar a utilização de materiais reciclados durante o desenvolvimento dos produtos.
  • Reciclagem ou reuso após descarte: é muito importante que o produto possa ser reciclado ou reutilizado depois de ser usado, de forma a reduzir o descarte de materiais.
  • Aumento da vida útil: muito se fala de obsolescência programada, que é quando um produto é fabricado com uma vida útil encurtada de propósito. O design circular, por outro lado, visa o oposto - isto é, que os produtos durem o máximo possível.

Benefícios do design circular

O design circular não é somente uma proposta idealista. Ele apresenta, sim, vantagens tanto para a sociedade como para os negócios - e sua cooperativa pode aproveitar alguns desses benefícios:

  • Custos reduzidos: o uso de insumos reciclados ou o reaproveitamento de materiais que seriam descartados ajuda a diminuir os custos de aquisição da matéria-prima.
  • Aderente às tendências de consumo: os compradores estão preocupados com a procedência dos produtos que consomem e aceitam até pagar mais caro quando a produção é sustentável.
  • Minimiza impactos ambientais: com menos descarte de material e produção de lixo, o design circular reduz os danos ao meio ambiente e torna o negócio mais sustentável e aderente à pauta ESG.
  • Fomenta a inovação: uma vez que subverte muitas lógicas da produção tradicional, o design circular está sempre em busca de novas ideias e, com isso, se alia à mentalidade inovadora.

Design thinking circular

O design thinking é uma abordagem que tem o objetivo de resolver problemas complexos com o foco nas pessoas, buscando entender a fundo as necessidades e demandas dos clientes. Com isso, o design thinking é construído a partir de três pilares:

  • Empatia
  •  Colaboração
  • Experimentação

Unindo essa maneira de pensar o desenvolvimento de produtos com a economia circular, surge o design thinking circular, viabilizando a redução de impactos ambientais e econômicos com uma perspectiva que mantém as pessoas no centro.

O ciclo do design thinking circular

  1. Análise de cenário: projeção da cadeia de valor no momento, apontando riscos e oportunidades.
  2. Ideação: elaboração de ideias perante as oportunidades encontradas.
  3. Adequação da ideia: contextualizar a ajustar as ideias ao contexto da cooperativa.
  4. Reorganização da cadeia de valor: a busca por soluções dentro do design circular.
  5. Plano de ação: implementação prática da solução a partir dos princípios do design circular.

Exemplos de design circular

O design circular já está ganhando espaço no mercado e diversas soluções. Assim, desde grandes companhias multinacionais até negócios locais apresentam produtos que fortalecem a economia circular por meio da inovação. Conheça algumas dessas iniciativas inspiradoras!

Cooperárvore: resíduos da indústria automotiva viram artigos de exportação

Fundada em 2006 na cidade de Betim, em Minas Gerais, a Cooperárvore é a cooperativa social do programa Árvore da Vida, uma iniciativa social que virou referência na economia circular. O objetivo da cooperativa é gerar renda a partir de produtos criados com resíduos provenientes da indústria automotiva.

Com isso, o design circular está no coração da Cooperárvore, que reaproveita o material que seria descartado para confeccionar bolsas, mochilas, necessaires, artigos de casa e brindes personalizados. Dessa forma, a cooperativa impede que esses insumos se tornem lixo e os transforma em produtos que já até foram exportados.

Quando completou 15 anos, em 2021, a Cooperárvore anunciou que já havia reaproveitado mais de 39 toneladas de materiais que seriam descartados. Dessa forma, até então, a cooperativa tinha vendido mais de 250 mil produtos, mostrando que o cooperativismo ocupa um papel de protagonismo no design circular.

A produção circular na coop Dedo de Gente

A Dedo de Gente é mais uma cooperativa mineira que mostra o papel do cooperativismo no design circular. Criada em 1996, a coop produz e vende produtos de artesanato que carregam consigo a riqueza do sertão de Minas Gerais, além de realizar oficinas e exposições.

Em suas criações, a Dedo de Gente reaproveita materiais que seriam descartados para a produção de produtos artesanais e peças de arte. É o caso, por exemplo, dessa fruteira criada a partir de um disco de arado.

Adidas lança tênis com plástico retirado do oceano

A marca alemã de moda esportiva se uniu a uma campanha ambiental e produziu um modelo de tênis de corrida que usa plástico tirado do oceano e reciclado em sua composição. O produto foi lançado junto com uma campanha de conscientização contra objetos de plástico de uso único, que têm grande contribuição para a poluição do meio ambiente.

Nesse produto, o design circular usou o plástico reciclado no lugar de fibras sintéticas. O designer Alexander Taylor, que assina o modelo, argumenta que “os designers podem ser agentes da mudança” na busca por métodos alternativos e sustentáveis.

Celular modular da FairPhone evita lixo eletrônico

Como discutimos acima, a troca de celulares é uma das grandes causas do acúmulo de lixo eletrônico. Muitas vezes, os aparelhos ainda funcionam bem, mas são trocados porque já estão defasados tecnologicamente. E se fosse possível, então, ir melhorando o dispositivo aos poucos, sem precisar jogar tudo fora?

Essa é a proposta do FairPhone, um smartphone modular desenvolvido por uma companhia holandesa. Os aparelhos são projetados para durar muito tempo, porém com um diferencial: eles não ficam obsoletos.

Para isso, os celulares da FairPhone são desmonta´veis, repara´veis e atualiza´veis, a fim de acompanhar os avanços tecnolo´gicos e desejos do usuário. Assim, se você quer uma câmera melhor, não precisa comprar um novo aparelho, basta trocar o componente da câmera.

Coleção reciclável de roupas da C&A conquista certificados

Em 2018, a varejista de moda C&A lançou a coleção Ciclos, composta por peças de vestuário jeans fabricadas de materiais seguros e totalmente recicla´veis. A matéria-prima é certificada e a fabricação usa produtos químicos seguros e livres de metais pesados ou outras substâncias tóxicas.

Além disso, a fabricação é 100% neutra em relação às emissões de carbono e utiliza 50% de energia renovável no decorrer do processo de confecção das peças. O design circular das roupas, que não levam materiais sintéticos ou químicos to´xicos, permite que, após o uso, elas possam ser recicladas. Mesmo quando descartadas, as peças da linha não causam danos no ambiente.

Com essa iniciativa, a C&A se tornou a primeira marca varejista de moda a conquistar a certificação Cradle to Cradle nível Gold, que reconhece produtos relevantes para o avanço da economia circular, para peças produzidas no Brasil.

Remaster: sistema de piso elevado com apoio cooperativo

A construtech paulista Remaster Tecnologia desenvolveu um sistema integrado de piso elevado que abriga componentes da rede elétrica feito com placas de pla´stico reciclado. Além disso, todo o material pode ser reutilizado em próximos ciclos. Dessa maneira, a Remaster recolhe toneladas de plástico das ruas e ajuda a reduzir a demanda da matéria-prima virgem. A construtech conta, ainda, com apoio de cooperativas que trituram e colorem o plástico, dando origem a pellets (pequenas bolinhas de resina) de polipropileno que são reutilizados na produção dos pisos.

Cooperativas de reciclagem e a logística reversa

O cooperativismo é um grande aliado da economia e do design circular. Além dos exemplos que vimos acima de coops que estão ativamente propondo novas ideias e produtos conectados à economia circular, as cooperativas de catadores cumprem um papel central na logística reversa.

Um estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), aponta que os catadores são responsáveis por quase metade da coleta seletiva no Brasil. Em São Paulo, 100% do material reciclável coletado são manejados por catadores - mesmo os que são coletados por empresas concessionárias acabam nas mãos de cooperativas de reciclagem que cuidam da triagem, armazenamento e venda do material. 

A intercooperação também tem espaço nessa jornada. O ConexãoCoop contou a história da Centcoop, uma cooperativa de segundo grau que reúne diversas instituições no Distrito Federal, atuando na comercialização conjunta dos materiais recuperados e coletados, via coleta seletiva, por cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

Com isso, as cooperativas de reciclagem são essenciais para o avanço do design circular, uma vez que faz a coleta e o tratamento dos materiais que são reutilizados e voltam à economia, reduzindo o desperdício de recursos naturais e a produção de lixo.

Cooperativismo no mercado de resíduos eletrônicos

O lixo eletrônico é uma das piores consequências do rápido avanço tecnológico que vivenciamos. Segundo a pesquisa “The Global E-waste Monitor 2020”, o Brasil é o quinto maior produtor de lixo eletrônico no mundo. Se por um lado o desperdício é grande, por outro lidar com o descarte ainda é um grande problema.

Com diversos impactos ao meio ambiente e à saúde, o descarte irregular de resíduos eletrônicos é muito danoso para a sociedade. Um dos grandes desafios do design circular é que seus princípios sejam adotados com mais força no universo do desenvolvimento tecnológico.

Neste artigo, o InovaCoop mostrou como o cooperativismo é protagonista dessa batalha. A Coopermiti, que se dedica à produção, recuperação, reutilização, reciclagem e comercialização de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos já opera há 13 anos em São Paulo. Só em 2022, a Coopermiti reciclou 5,5 mil toneladas de lixo eletrônico.

Um dos serviços da Coopermiti é a recuperação, reutilização e reciclagem dos resíduos eletrônicos, devolvendo esses materiais ao ciclo produtivo. Além disso, a cooperativa abriga um museu com acervo de materiais eletrônicos antigos e uma oficina de arte de obras construídas com resíduos eletrônicos.

Conclusão: design circular para um futuro sustentável

O design circular é uma inovação indispensável para a criação de um futuro sustentável, com menos lixo e sem desperdício de recursos naturais. A transição rumo a uma economia circular impõe desafios complexos, mas a inovação e o cooperativismo são aliados nessa jornada.

Para alcançar melhores resultados, as iniciativas de combate ao desperdício precisam reorientar a lógica da produção industrial. A adesão ao design circular é parte fundamental dessa tarefa. Afinal, esse processo é mais eficaz quando a reciclagem e reutilização dos materiais são priorizados desde os primeiros passos no desenvolvimento de um projeto.

Se o lixo é um erro de design, o design circular é um elemento crucial para criarmos um mundo sem resíduo. Além do benefício óbvio de contribuir com a sustentabilidade e a causa ambiental, o design circular pode ser um grande diferencial da sua coop.

O cooperativismo está atento e segue sendo um aliado importante para a construção de um mundo melhor e um futuro promissor. As boas práticas ESG fazem parte dos princípios e valores do cooperativismo. Para potencializar esse dom do cooperativismo, o Sistema OCB está desenvolvendo o ESGCoop. Saiba mais sobre essa tendência neste guia prático!

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