Topbar OCB
Indica
Avanços na inteligência artificial e novidades nos pagamentos digitais se destacaram em 2023
Não tem como negar: 2023 foi um ano de consolidação e desenvolvimento da inteligência artificial generativa. Ainda em 2022, Dall-E e ChatGPT, duas ferramentas OpenAI, chegaram com tudo mostrando que uma revolução estava a caminho. E o InovaCoop acompanhou o progresso da IA como uma das tecnologias mais influentes de 2023.
Além disso, também estivemos de olho em novas tecnologias que estão mudando o mundo dos pagamentos, o surgimento de uma indústria 5.0 e ainda contamos diversas histórias de cooperativas que estão colocando a inovação tecnológica em prática. Confira, então, os maiores destaques de 2023 em avanço tecnológico e inovação. Boa leitura!
O ano da inteligência artificial
Os chatbots, ou seja, robôs capazes de conversar, não são exatamente novidade. Mas o ChatGPT mudou toda a percepção e mostrou um novo potencial por ferramentas do tipo usando a inteligência artificial generativa.
Na prática, o ChatGPT é um robô que utiliza inteligência artificial generativa para criar textos. Isto é, os usuários dão um comando para a ferramenta, ela interpreta o pedido e gera um texto com as especificações. Essas interações podem ser por meio de perguntas, como em uma conversa, mesmo, ou instruções sobre conteúdo, tema, tamanho e até estilo do texto. Aqui explicamos melhor sobre o funcionamento dele!
O ChatGPT, o Dall-E e outras alternativas que foram surgindo com o tempo tornaram a IA muito mais intuitiva para quem não é expert em tecnologia. Agora, qualquer pessoa pode aproveitar o que a inteligência artificial pode oferecer de forma bem mais simples. Neste guia prático, ensinamos como usar as novidades do mundo da IA.
Com o tempo, o ChatGPT e outras ferramentas de IA foram ganhando espaço nos negócios. Elas podem ser extremamente úteis para uma série de tarefas. Diante disso, saber pilotá-las é uma habilidade que vai ter cada vez mais valor no mercado. Confira, então, como extrair o máximo potencial da inteligência artificial.
As possibilidades da IA
Mas afinal, para que serve essa tal de IA? Na verdade, para muitas coisas - e uma delas é multiplicar a eficiência dos negócios. Essa é a visão de Daniel Guths, gerente de Cognição e IA, e Alceu Ruppenthall Meinen, Superintendente de Relacionamento e IA, ambos do Sicredi Nacional. Eles palestraram na trilha de inovação da Semana da Competitividade.
Daniel Guths também participou da nova seção InovaCoop Responde, dando sua visão para perguntas sobre como a IA pode mudar a maneira de fazer negócios no cooperativismo. Ele falou sobre a IA no atendimento ao clientes e explorou os desafios e oportunidades proporcionados pela tecnologia mais influente do ano.
Tudo isso só é possível porque a nova onda de inteligência artificial generativa não se resume a ChatGPT, Dall-E e Bard, para mencionar os mais famosos. A tecnologia abriu um amplo leque de possibilidades que exploramos nesse guia prático sobre a IA além do ChatGPT. Tem IA pra escrever, melhorar imagens, fazer arte, produzir música, editar áudio, gerenciar tarefas e escrever códigos, por exemplo.
Cooperativas e a inteligência artificial
Os chatbots movidos por inteligência artificial já chegaram no cooperativismo e, também, em nossos cases de inovação. Na Unimed Natal, os robôs inteligentes ampliaram a capacidade de atendimento, eliminaram as filas e geraram uma expectativa de economia que supera R$ 500 mil reais.
Já na cooperativa agropecuária Integrada, a assistente virtual inteligente IRIS-Integrada atua no atendimento ao cliente e na pré-venda de produtos da cooperativa. Por meio de uma foto de um pet, por exemplo, a IA consegue descobrir o alimento mais adequado e encontrar distribuidores próximos. Apesar de recente, o projeto já venceu o Prêmio de Inovação da Oracle Cloud para a América Latina.
Novas tecnologias chegam ao mundo dos pagamentos
A transformação digital chegou com tudo no universo dos serviços financeiros. Hoje, é difícil imaginar o cotidiano sem as praticidades do internet banking e das transações realizadas por meios digitais. Dados indicam que os pagamentos digitais já dominam os hábitos dos brasileiros.
O Pix, o pagamento por WhatsApp, as criptomoedas, a difusão das carteiras digitais, pagamentos por aproximação. Tudo isso torna possível até mesmo sair de casa sem carteira - um celular ou um smartwatch já são suficientes para pagar. Conheça mais sobre esse mercado tecnológico cheio de oportunidades e desafios clicando aqui.
E já que falamos no Pix, não dá pra negar que ele caiu no gosto dos brasileiros. Diante disso, surgem novas tecnologias e inovações para pagamento usando o Pix. Uma delas está sendo desenvolvida pela Central Ailos em parceria com o Banco Central.
É o Pix Crédito, que propõe a criação de uma nova modalidade de pagamento parcelado que aproveita a alta adesão do Pix. O projeto integra o LIFT Lab, uma iniciativa da FENASBAC e do BC para instituições ou pessoas que trazem novas ideias para o setor financeiro e segue em desenvolvimento, mirando a elaboração de um MVP.
Os desafios do Open Finance
O ecossistema financeiro digital brasileiro vem passando por um processo de modernização tecnológica. O Open Finance, um sistema financeiro aberto e digital, é um dos principais elementos dessa jornada. Por meio do compartilhamento de dados, ele permite a troca de informações entre as instituições participantes, criando um ambiente de negócios mais inclusivo, seguro e inovador.
A integração de dados proporcionada pelo Open Finance abre um leque de novas possibilidades para os serviços financeiros e, principalmente, para os clientes e cooperados. Saiba mais sobre as oportunidades, desafios e a implementação do Open Finance aqui!
Indústria 5.0: uma tecnologia mais humana
O futuro do trabalho e da economia oferece diferentes perspectivas. Todas elas levam em conta o papel da Indústria, um setor econômico importante e responsável pela transformação de matérias-primas em bens e serviços.
É nesse cenário que a Indústria 5.0 emerge, propondo a humanização dos processos industriais, a fim de combinar aspectos essencialmente humanos à velocidade, produtividade e eficiência alcançadas pela automação trazida pelas máquinas e digitalização.
A fim de explorar a fundo a capacidade humana de análise crítica e especializada na operação de super tecnologias e maquinários avançados, o desenvolvimento da Indústria 5.0 representa tanto uma série de avanços tecnológicos quanto a formação de um processo produtivo mais consciente e sustentável.
Cases de tecnologias mais influentes de 2023 no cooperativismo
As cooperativas não ficam para trás na hora de absorver novas tecnologias e integrá-las aos seus processos, produtos e serviços. Nos cases de Inovação, aqui no InovaCoop, contamos algumas histórias de desenvolvimento tecnológico dentro do cooperativismo. Confira:
- Sicoob Metropolitano: em meio à migração dos cooperados para os canais digitais, a cooperativa de crédito desenvolveu um projeto de criar um canal de atendimento no metaverso, a fim de humanizar a interação online com os associados. Confira aqui o case completo.
- Cooxupé: na agricultura digital, é necessário investir em tecnologias e equipamentos para conhecer em detalhes as características de cada propriedade para que as tomadas de decisão sejam mais assertivas. O projeto “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa” leva tecnologias de custo acessível e adaptadas a solos tropicais para os cooperados da Cooxupé.
- Coocafé: inspirada na Apple, a cooperativa agropecuária desenvolveu o iCoop, uma plataforma digital que conecta tanto cooperados quanto o público externo. Com funcionalidades que vão de informações da propriedade à assinatura de contratos, o aplicativo usa a tecnologia para reforçar o relacionamento com cooperados, colaboradores, parceiros e comunidade.
Conclusão
Os avanços tecnológicos estão acontecendo com uma velocidade cada vez maior. Isso abre um amplo leque de oportunidades para inovar a partir das novas ferramentas disponíveis - e as cooperativas devem ficar de olho nisso.
Este é o primeiro artigo de uma retrospectiva que irá resgatar as grandes tendências e histórias de inovação cooperativista do InovaCoop. Fique de olho para conferir os próximos materiais!
Em meio à interminável enxurrada de conteúdo online, devemos saber o que ignorar para focar no que realmente importa
A internet é um paraíso para quem está atrás de informações. É só atualizar a timeline ou entrar na homepage de um portal de notícias que vai sempre ter coisa nova pra conferir. Nesse cenário, filtrar o que é importante ou não demanda pensamento crítico. Só que a enxurrada de conteúdo é tanta que está na hora de começar a ignorar criticamente.
Tem muito conteúdo útil e de alta qualidade disponível na web. Mas, ao mesmo tempo, as plataformas digitais são um ambiente fértil para a proliferação da desinformação, conteúdo manipulativo e notícias falsas. Ignorar criticamente esse tipo de conteúdo online é necessário.
Ignorar criticamente na economia da atenção
Na economia digital, as plataformas concorrem em busca de uma riqueza escassa: a atenção das pessoas. É disso que o modelo de negócios delas depende. Estão todas tentando ocupar o tempo disponível do usuário. Para isso, elas tentam provocar emoções como curiosidade, raiva e ultraje.
O objetivo, com isso, é manter as pessoas usando as plataformas pelo maior período possível. Assim, elas conseguem coletar dados dos usuários e exibir anúncios mais rentáveis. Acontece que nem sempre o conteúdo que vai engajar é algo que mereça a atenção.
Além disso, a atenção está ficando mais dispersa. Um estudo de 2019 publicado na conceituada revista Nature aponta que os assuntos em alta nas redes sociais ficam populares e depois são deixados de lado cada vez mais rapidamente. Com mais conteúdo brigando pelo nosso tempo, a nossa atenção fica menor.
Dentro desse contexto, um artigo do Fórum Econômico Mundial argumenta que as pessoas precisam retomar a própria autonomia. Para isso, é necessário se defender dos excessos informativos. É essa a importância de ignorar criticamente (ou critical ignoring, no termo original em inglês).
Por só pensamento crítico não basta
O pensamento crítico é uma habilidade extremamente valiosa. Tanto é que, segundo o relatório The Future of Jobs 2023, do próprio Fórum Econômico Mundial, o pensamento crítico é considerado a soft skill que mais vai ganhar importância no mercado de trabalho. Ademais, essa é uma habilidade útil para todos os momentos da vida numa sociedade digital.
A ideia é a de que, por meio do pensamento crítico, as pessoas sejam capazes de compreender e avaliar o quanto determinada informação é relevante e honesta. Mas, em meio ao tsunami de desinformação que toma conta dos ambientes online, isso é suficiente? Para o Fórum Econômico Mundial, as resposta é um categórico “não”. Isso se dá por dois motivos:
- Primeiramente, o mundo digital contém mais informações do que todas as bibliotecas do mundo combinadas. E grande parte dessa informação é proveniente de fontes não confiáveis. Na prática, isso quer dizer que ler tudo isso com pensamento crítico significa que vai faltar tempo para conferir o que de fato importa.
- Além disso, investir a capacidade de pensamento crítico em informações que deveríamos ter ignorado significa que esses responsáveis pela desinformação conseguiram o que queriam: a nossa atenção.
Ignorar criticamente é gerenciar informação
Os estudiosos do Fórum Econômico Mundial explicam que ignorar criticamente consiste na habilidade de escolher o que ignorar, a fim de investir a atenção e o tempo em coisas que importam de verdade.
Dessa forma, ignorar criticamente não significa simplesmente deixar de prestar atenção, mas sim praticar hábitos saudáveis para viver em meio à abundância informacional. De outra forma, as pessoas vão acabar vivendo em um mar de conteúdo que distrai ou, pior ainda, é danoso.
Ferramentas para ignorar criticamente
Os estudiosos sugerem três ferramentas para colocar o critical ignoring em prática; são elas, portanto:
- Auto-orientação: as pessoas devem arquitetar suas vidas digitais para restringir o fluxo de informações. Remover determinadas notificações do celular é um exemplo. Ou então definir horários específicos para entrar nas redes sociais. Tudo tem a ver com a criação de hábitos online mais saudáveis.
- Leitura lateral: é o uso de técnicas para conferir a credibilidade de uma informação online - pesquisar sobre o histórico do portal ou das pessoas por trás de uma determinada notícia que te chamou a atenção, por exemplo. Caso o conteúdo seja “aprovado” nesse processo, ele merece ser lido. A web é uma ótima ferramenta para isso.
- Não alimentar os trolls: os trolls são usuários que só querem causar discórdia na internet. Suas técnicas são muito efetivas em gerar engajamento. Mas eles tornam o ambiente digital muito menos proveitoso para quem busca conteúdo de qualidade. Não dê atenção a esse tipo de conteúdo, mesmo que pareça irresistível.
Conclusão: usando o poder da web para ignorar melhor
A facilidade de publicar conteúdo na internet possibilita que muita gente possa produzir e compartilhar conhecimento relevante. No entanto, essa dinâmica também abriu espaço para a desinformação. No dia a dia, pode ser muito difícil distinguir uma coisa da outra, sobretudo em temas mais especializados.
Em artigo publicado no Nieman Lab, um laboratório de estudos sobre a mídia ligado à Universidade de Harvard, o professor Sam Wineburg, que leciona na Universidade de Stanford, reforçou a importância de ignorar criticamente para lidar com “toda a porcaria que tem na internet”.
O problema é que, segundo uma pesquisa conduzida por ele, nem mesmo estudantes de universidade renomadas têm essa capacidade. E, com isso, são vítimas fáceis da desinformação. Nesse contexto, saber o que ignorar é uma habilidade de extrema importância para a vida digital.
E sabe onde tem conteúdo que você pode confiar? Aqui, no InovaCoop! Nosso portal é cheio de artigos, cases, e-books, guias práticos e cursos sobre inovação com uma abordagem voltada 100% ao cooperativismo. Confira!
Conheça o movimento que propõe plataformas com propriedade e governança compartilhadas, em formato de cooperativas
Para entender o cooperativismo de plataforma, precisamos voltar a 2010, quando surgiu o conceito de Economia de Compartilhamento. Tal movimento era uma resposta à crise financeira americana de 2008 e estava ligado à capacidade da tecnologia em transformar as relações de trocas de valor e gerar uma economia mais acessível e dinâmica. Logo surgiram plataformas como Uber, Lyft e AirBNB, dentre várias outras.
O Cooperativismo de Plataforma, por sua vez, surge anos depois, em 2014, como resposta ao forte crescimento e efeitos dessas plataformas tradicionais. O termo foi cunhado pelo professor Trebor Scholz, no livro “Cooperativismo de Plataforma - Contestando a economia do compartilhamento corporativa”. A edição brasileira foi traduzida para o português pelo advogado Rafael Zanatta com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo.
Scholz, que lidera um consórcio sobre o tema, propõe um modelo no qual há uma mudança estrutural e significativa do conceito de propriedade na economia de compartilhamento, colocando a força de trabalho como proprietária das plataformas. Em outras palavras, é como se o Uber fosse dos motoristas.
Travis Higgins, consultor de projetos e embaixador da Coonecta nos EUA, resume o cooperativismo de plataforma como “não apenas um movimento, mas também um modelo de negócio”. Prova disso é que já existem mais de 450 cooperativas de plataforma no mundo, de formatos e setores diversos, segundo o diretório do site The Internet of Ownership.
Antes de avançarmos no conceito de cooperativismo de plataforma, vamos, antes, entender o que é uma plataforma e por que seus efeitos deram origem às cooperativas de plataforma.
O que é uma plataforma
Embora pareça simples, o conceito de plataforma está modificando radicalmente os negócios, a economia e a sociedade. Geoffrey Parker, Sangeet Choudary e Marshall Van Alstyne, autores do livro “Plataforma - A revolução da estratégia”, definem plataforma como:
“Uma empresa que viabiliza interações que criam valor entre produtores e consumidores externos. A plataforma oferece uma infraestrutura para tais interações e estabelece condições de funcionamento para elas. O propósito primordial da plataforma é consumar o contato entre usuários e facilitar a troca de bens, serviços ou moedas sociais, propiciando assim a criação de valor para todos os participantes.”
Na prática significa que a estratégia mudou: evoluiu do controle de recursos internos exclusivos, para a orquestração de recursos externos. (Pense no modelo do AirBNB, por exemplo, cujos quartos ofertados são de terceiros). Ou seja, atividades que tradicionalmente eram internas, se tornam externas, pois boa parte da riqueza dessas plataformas é produzida pela própria comunidade.
Uma nova lógica de mercado
Isso leva a uma descoberta de capacidades ociosas. Desta forma, a comunidade que antes costumava apenas demandar, passa a contribuir diretamente como fornecedora. O AirBNB, por exemplo, orquestrou recursos para que uma capacidade antes ociosa, os quartos vagos, se tornassem produtivos.
Em resumo, a economia compartilhada reside na ideia de que muitos itens - como automóveis, casas, barcos e até cortadores de grama - ficam ociosos durante a maior parte do tempo. E as plataformas geram valor para a ociosidade de pessoas e bens. Segundo os autores, o que faz as plataformas terem sucesso são os seus efeitos de rede:
“O valor do Uber cresce para cada um de seus participantes quando mais pessoas o utilizam - o que atrai ainda mais usuários e, consequentemente, amplia novamente o valor do serviço. Os efeitos de rede se referem ao impacto exercido pela comunidade de usuários de uma plataforma sobre o valor criado para cada um deles individualmente”.
Impactos da economia de plataforma
Em geral, os efeitos de rede são positivos e negativos. Os positivos se referem à capacidade de uma plataforma grande e bem gerenciada de produzir valor significativo para cada um de seus usuários, oferecendo independência e flexibilidade.
Negócios como Uber, Dropbox, Airbnb e Instagram, por exemplo, não têm seu valor atribuído pela estrutura de custos. Todas são valiosas por conta das comunidades que participam de suas plataformas e dos recursos, antes ociosos, movimentados por elas. O Instagram, por exemplo, não foi vendido por U$ 1 bi por conta de seus 13 funcionários.
Já os efeitos negativos estão ligados à possibilidade do crescimento quantitativo da comunidade de uma plataforma mal gerenciada resultar em redução do valor ofertado para cada usuário. Por isso, protestos contra as plataformas são cada vez mais comuns.
As paralisações realizadas pelos entregadores têm como principal objetivo a busca por melhores condições de trabalho. Segundo matéria da BBC Brasil, parte deles está buscando um caminho alternativo para melhorar de vida com a criação de cooperativa, para terem seu próprio aplicativo de entrega.
Os conceitos do cooperativismo de plataforma
Apesar do impacto positivo na redução de custos e eficiência no aproveitamento de capacidades ociosas, a economia do compartilhamento tem seus efeitos colaterais, especialmente na precarização da mão de obra, a chamada uberização do trabalho.
E é justamente para corrigir essas distorções que surge o cooperativismo de plataforma, que propõe plataformas com propriedade e governança compartilhadas, em formato de cooperativas. O professor Trebor Scholz explica o conceito em três partes:
1. Primeiro, baseia-se na clonagem do coração tecnológico de algumas plataformas como Uber, TaskRabbit, Airbnb ou UpWork. Ele recepciona a tecnologia, mas quer colocar o trabalho em um modelo proprietário distinto, aderindo a valores democráticos, para desestabilizar o sistema quebrado da economia do compartilhamento, que beneficia somente poucos. É nesse sentido que o cooperativismo de plataforma envolve mudança estrutural, ou seja, uma mudança de propriedade.
2. O cooperativismo de plataforma trata de solidariedade, que faz muita falta nessa economia baseada em força de trabalho distribuída e muitas vezes anônima. Plataformas podem ser possuídas e operadas por sindicatos inovadores, cidades e várias outras formas de cooperativas, tudo desde cooperativas multissetoriais (multi-stakeholder co-op), cooperativas de propriedade dos trabalhadores (worker-owned co-op) ou plataformas cooperativas de propriedade dos “produsuários” (producer-owned platform cooperatives).
3. Por fim, o cooperativismo de plataforma é construído na ressignificação de conceitos como inovação e eficiência tendo em vista o benefício de todos, e não a obtenção de lucros para poucos.
Princípios do cooperativismo de plataforma
Além de definir o conceito, Scholz lista 10 princípios para o cooperativismo de plataforma que são sensíveis aos problemas críticos que a economia digital enfrenta hoje. “O capitalismo de plataforma é incrivelmente não efetivo em cuidar das pessoas”, afirma Scholz.
Segundo um estudo da Co-operatives UK, as cooperativas de plataforma combinam os princípios do cooperativismo com as oportunidades de tecnologias de plataforma, conectando indivíduos diretamente com pouca necessidade de intermediários.
Benefícios do cooperativismo de plataforma
O ponto central do cooperativismo é a crença em uma forma de negócio mais justa, em que todos os interessados possam trabalhar juntos para o bem comum. Entre as vantagens econômicas e sociais que podem ser identificadas nas cooperativas estão:
• Maior produtividade devido ao maior envolvimento dos trabalhadores com sua organização, com níveis mais fortes de confiança e compartilhamento de conhecimento mais eficaz.
• Os números mostram que as cooperativas têm quase duas vezes mais chances de sobreviver nos primeiros cinco anos quando comparadas às empresas tradicionais.
• As cooperativas demonstraram ter níveis mais baixos de rotatividade, menor desigualdade salarial e menores taxas de absenteísmo em comparação com empresas tradicionais.
A pesquisa do Reino Unido levanta a discussão que há toda uma série de debates e proposições relacionadas que buscam abordar os impactos adversos do capitalismo de plataforma.
Como tal, o modelo cooperativo de plataforma deve ser reconhecido no contexto de iniciativas como 'tecnologia para o bem' e 'tecnologia responsável', que geralmente procuram conscientizar os negócios de tecnologia do impacto social de seus empreendimentos. Resta aos envolvidos construírem juntos essa narrativa.
Desafios para o futuro do cooperativismo de plataforma
É possível afirmar que o cooperativismo de plataforma - como movimento e modelo de negócio - tem ainda grandes desafios pela frente e avança pouco a pouco. Mas é inegável a necessidade de questionarmos o atual modelo das plataformas digitais e propor o cooperativismo de plataforma como solução. Afinal, por que não vemos o surgimento de “startups cooperativas”?
Um dos desafios, por exemplo, é a questão do financiamento à criação de plataformas cooperativas. Conforme explica o advogado e diretor-geral da Escoop, Mário de Conto, as cooperativas de plataformas ainda precisam achar uma forma de conseguir financiamento, já que a legislação brasileira não permite sócios-investidores.
“Não são permitidos sócio-investidores que só participam do negócio como investidores, buscando um retorno financeiro. A legislação não permite ter um sócio meramente investidor, mas permite, por exemplo, a criação de uma empresa subsidiária, da qual a cooperativa pode ser sócia”, explica.
Mário De Conto é um dos pesquisadores do tema no Brasil e, como parte de sua pesquisa, também estuda os modelos internacionais, o que o levou a apontar outro desafio: a governança. “Muitas das cooperativas de plataforma internacionais que nós pesquisamos são cooperativas multi-stakeholders, ou seja, que permitem diversos grupos e associados. É uma situação um pouco rara no Brasil, que gera o desafio de pensar numa cooperativa com essa configuração”, avalia.
Avanços e fortalecimento do ecossistema
Por outro lado, houve avanço significativo com a liberação, de forma permanente, da realização das assembleias digitais. A aprovação no Senado Federal ocorreu no início de julho de 2020. “A transformação digital já é uma realidade no cooperativismo e os associados já tinham esse desejo de participar e votar à distância, de forma virtual. Agora já existe uma legislação nesse sentido, o que é mais um passo importante”, finaliza o diretor da Escoop.
No documento Propostas para um Brasil mais cooperativo 2023-2026, a OCB defende que o futuro do setor passa pelo apoio e estímulo ao cooperativismo de plataforma. Para a entidade, o modelo se mostra uma opção sustentável para as novas tendências de se trabalhar em rede, conectando pessoas e as colocando no centro dos negócios.
O Sistema OCB apoiou a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma de 2022, que aconteceu no Rio de Janeiro. O cooperativismo de plataforma está mostrando sinais de amadurecimento no Brasil, tornando o trabalho e economia de plataforma mais justos.
Além disso, o Sistema OCB também marcou presença na edição de 2023 do evento, sediado na Índia, com o tema “Raízes da resiliência: construindo coops de plataforma para economias locais sustentáveis e feministas”. Guilherme Costa, gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, discutiu a justiça econômica e as políticas públicas perante o prisma do cooperativismo de plataforma.
O Sistema OCB esteve presente na 10ª Conferência do Consórcio do Cooperativismo de Plataforma, realizada em Trivandrum, na Índia, entre os dias 30 de novembro e 2 de dezembro. O evento reuniu empreendedores de 15 países, representantes de cooperativas, de organizações não governamentais e de universidades. O tema central da convenção foi Raízes da resiliência: construindo coops de plataforma para economias locais sustentáveis e feministas.
Guilherme Costa, gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, participou de dois painéis durante a conferência. O primeiro, Justiça econômica possibilitada pela tecnologia, aconteceu na sexta-feira (1º). Nele, o gerente abordou o papel transformador da tecnologia na aplicação dos princípios cooperativistas em novos negócios inovadores. Já o segundo, realizado no sábado (2), tratou sobre A condução das políticas públicas para uma equidade digital. Guilherme falou sobre a participação política e a construção colaborativa de políticas públicas que podem ampliar o acesso à tecnologia para as cooperativas.
Ele ressaltou a importância do evento como um espaço significativo para o intercâmbio de ideias entre representantes de cooperativas de plataforma, pesquisadores e diversos atores envolvidos. "As discussões realizadas certamente contribuem para que o Sistema OCB aborde os desafios no cenário nacional de forma mais abrangente. Nossa presença reforçou o compromisso com iniciativas globais que impulsionam o cooperativismo como um modelo econômico mais resiliente e inclusivo”, afirmou.
Trebor Scholz, pesquisador, professor e fundador do Consórcio, afirmou que a conferência teve o intuito de proporcionar uma reflexão e novas perspectivas para um futuro mais digital, inclusivo e sustentável. "O evento explorou novas abordagens para trabalhar de maneira cooperativa, aprender e desaprender, promovendo uma mudança institucional profunda".
Ao término do encontro, foi divulgada a Declaração de Trivandrum para um novo ecossistema de inovação e dos nossos futuros digitais coletivos, que lista temas prioritários a serem abordados pelos diversos atores para criar um ambiente de empreendedorismo coletivo digital mais justo e inclusivo.
Juntas, cooperativas e startups transformam o ecossistema de inovação em um campo ágil, justo e comunitário!
Não tem como negar que as startups são grandes protagonistas da economia digital, tornando o ambiente de negócios mais inovador e dinâmico. Mas elas não têm a resposta para tudo. Um ecossistema de inovação é feito de atores que se fortalecem juntos. É por isso que a colaboração entre cooperativas e startups é uma simbiose em prol da inovação e cooperação.
Os modelos de negócios são diferentes, mas isso não quer dizer que não possam ser complementares. Unidas, cooperativas e startups podem dar vida a novas ideias e melhorar processos. Embora sejam muito diferentes, essa parceria não tem nenhuma contradição.
Neste artigo, portanto, iremos entender como tanto cooperativas quanto startups se beneficiam dessa relação, ver exemplos de sucesso e conhecer os resultados do programa InovaCoop Conexão com Startups. Aproveite a leitura!
Inovação aberta: simbiose para startups e cooperativas
Cooperativas e startups podem se complementar, em uma espécie de relação ganha-ganha, em que cada uma complementa as características da outra. Por isso, a ligação entre elas resulta em resultados positivos e iniciativas inovadoras.
Para as startups, as cooperativas surgem como parceiras importantes, sobretudo em um período de escassez de capital de risco. Na América Latina, o mercado de venture capital sentiu uma redução de 50% nos investimentos em startups em setembro de 2023, revelam os dados apurados pela Sling Hub.
Além disso, no Brasil, de dez startups, seis delas não captam uma segunda rodada de investimentos. Elas precisam, então, explorar o mercado em busca de novas aliadas para desenvolver suas soluções e colocá-las no mercado. Diante disso, as cooperativas surgem como potenciais parceiras.
E o que as cooperativas ganham?
Já para as cooperativas, essa conexão com startups contribui para torná-las mais dinâmicas, ágeis e modernas. Mantê-las por perto também contribui para a construção de um ecossistema de inovação e empreendedorismo cooperativista.
Com isso, as cooperativas podem agregar agilidade e dinamismo à estratégia de inovação e desenvolvimento de soluções - características muito presentes no ambiente de startups. Dessa forma, também conseguem integrar a tecnologia em prol do impacto social e econômico nas comunidades.
A possibilidade de buscar soluções externas nas startups é muito positiva para as cooperativas. Nem sempre a melhor alternativa para a inovação será desenvolver uma nova ideia internamente. Isso acontece porque contratar uma startup apresenta uma série de benefícios ao processo, tais quais:
Entretanto, isso não quer dizer que essa relação não tenha seus pontos de atenção. Para que a colaboração entre cooperativas e startups dê certo, é importante que haja uma compreensão mútua sobre a cultura corporativa uma da outra, e isso pode levar tempo e gerar conflitos. A falta de exclusividade na prestação de serviços também é capaz de gerar atritos na relação.
Os tipos de inovação aberta com startups
Há quatro modalidades de colaboração entre cooperativas e startups para realizar a inovação aberta. Cada situação exige uma solução distinta e tem um tipo de conexão mais adequada. Elas são:
O que as cooperativas podem aprender com a cultura de startups
As cooperativas podem aproveitar essa colaboração para absorver certos aspectos da cultura de startups. O NegóciosCoop apontou 6 lições - saiba mais sobre elas no artigo completo:
- Aproxime as lideranças e os times
- O erro faz parte da evolução
- Proporcione um ambiente criativo e aberto a novas ideias
- Tomar riscos calculados é necessário
- Aprendizado contínuo é o caminho para o futuro
- Valorize os talentos internos da cooperativa
Colaboração entre cooperativas e startups no InovaCoop
Os cases de inovação, aqui do InovaCoop, ilustram como a colaboração entre startups e cooperativas pode fomentar iniciativas inovadoras. Veja esses exemplos inspiradores e clique nos links para ler os estudos de caso completos:
- Plataforma.Space: o programa é executado pelo Sicoob Empresas RJ a fim de aproximar a cooperativa às startups inovadoras. A iniciativa começou com um espaço de coworking compartilhado por startups e cooperados e evoluiu para uma plataforma de apoio a startups selecionadas periodicamente, dentre as quais ao menos foram contratadas pela coop.
- InPulse Ailos: como parte de seu foco em inovação permanente, a Central Ailos criou um programa aberto de inovação a fim de aproximar suas cooperativas singulares ao ecossistema de startups. Dessa forma, o InPulse Ailos gerou pelo menos 3 conexões efetivas entre as coops e as startups.
- Frísia Digital Agro: a partir de 2019, o evento digital da cooperativa agropecuária Frísia começou a realizar ações para aproximar a coop de startups em busca de soluções para seus desafios.
- Inovar Juntos: criado em 2018, o programa é realizado com o objetivo de conectar o Sicredi com startups e resolver dores das cooperativas do sistema. A iniciativa já resultou, por exemplo, na criação de um marketplace e no desenvolvimento de uma plataforma de gestão de despesas em viagens.
Programa InovaCoop Conexão com Startups
Além de incentivar a colaboração entre cooperativas e startups, o InovaCoop também realizou um programa totalmente voltado a conectá-las! É o InovaCoop Conexão com Startups, que teve duas edições.
A primeira edição do Programa Conexão com Startups do InovaCoop selecionou desafios de seis cooperativas para propor soluções inovadoras e capazes de serem replicadas no futuro. Além do próprio Sistema OCB, as demandas envolveram os ramos transporte, crédito, infraestrutura e saúde e somente um dos projetos não foi adiante.
Já a segunda edição do programa foi dedicada integralmente ao cooperativismo agropecuário e contou com a participação de três cooperativas que apresentaram os seus desafios para as startups.
A metodologia do programa foi compartilhada com as unidades estaduais do Sistema OCB, a fim de incentivar a difusão do modelo no âmbito regional. Portanto, caso tenha interesse no programa, confira os planos da sua unidade estadual!
Conclusão
A colaboração entre cooperativas e startups pode ser muito enriquecedora e produtiva para ambas as partes. Essa simbiose da inovação proporciona uma gama de oportunidades para aprimorar os processos, produtos e serviços.
Se interessou? Então confira o nosso guia prático Inovação Aberta: Como se Relacionar com Startups, onde você vai entender mais sobre a execução dos projetos de colaboração com startups!