Fruto de uma iniciativa de intercooperação, congresso discutiu o agronegócio, a agenda ESG e apresentou casos práticos de sucesso na região
A cidade de Vilhena, em Rondônia, recebeu grandes nomes de dentro e fora do cooperativismo para a primeira edição do CoopMind, um congresso dedicado à inovação e intercooperação na região Norte do Brasil.
O evento, apoiado pelo Sistema OCB/RO, é fruto de uma parceria entre o Sicoob Credisul e a Faculdade Favoo. A Coonecta foi responsável pela produção e curadoria de conteúdo.
A iniciativa surgiu com o objetivo de promover o cooperativismo na região, mostrando, também, o poder transformador da intercooperação e da inovação. O lema da primeira edição do CoopMind, realizado entre os dias 18 e 19 de maio, foi “Conexões que fortalecem o cooperativismo e transformam realidades”.
A programação reuniu palestras de especialistas, casos práticos e painéis de debates sobre diversos desafios enfrentados pelo cooperativismo da região Norte. O CoopMind aconteceu no Auditório principal da Escola e Faculdade Favoo e reuniu mais de 500 participantes, mostrando a força do cooperativismo regional.
Inovação é destaque no CoopMind
O CoopMind trouxe à tona o potencial do cooperativismo como uma alternativa para uma economia mais justa, assim como para os negócios digitais. Durante sua apresentação, Gustavo Mendes, cofundador da Coonecta, ressaltou que “o cooperativismo não é só o presente, mas também o futuro”.
Inovação
A inovação no cooperativismo ocupou um lugar de destaque no palco do CoopMind. Alexandre Carrasco, professor e consultor organizacional da Repensando Negócios, indicou os primeiros passos para inovar nas cooperativas. Carrasco abordou as cooperativas de plataforma e apresentou o modelo cooperativista como resposta aos desafios contemporâneos.
A cultura de startups também foi um tema presente no CoopMind. O gerente de Inovação da Sicoob Credicitrus Tiago Sartori falou sobre como as startups se integram ao ecossistema de inovação das cooperativas. Dagoberto Trento, experiente no coop e sócio na Innoscience Consultoria, discutiu a jornada e a realidade para empreender na nova economia.
Carrasco, Sartori e Trento ainda participaram de uma sessão de perguntas e respostas sobre os processos de inovação das coops.
Intercooperação
A intercooperação foi um dos temas mais relevantes durante o CoopMind - o evento é fruto de uma intercooperação, afinal. Carolina Torres, presidente da Favoo, compartilhou o caso prático de como a instituição é um grande exemplo de intercooperação na área de educação.
O Hospital Cooperar, tocado por intercooperação na área da saúde, foi o tema da apresentação de Vilmar Saúgo, que é diretor-executivo do Sicoob Credisul. Visitas monitoradas ao Hospital Cooperar e à Faculdade Favoo mostraram as iniciativas na prática.
Além disso, Fábio Andreazza, presidente do Conselho de Administração da Copama, palestrou sobre as iniciativas de intercooperação no agronegócio. Por fim, foi realizado um bate-papo sobre os casos práticos apresentados.
Agronegócio
Bastante forte na região, o agronegócio e o cooperativismo agropecuário tiveram um espaço especial na programação do CoopMind. Um dos destaques foi a palestra do professor Marcos Fava Neves, conhecido como Dr. Agro, um dos maiores especialistas sobre o agronegócio mundial.
Fava Neves ressaltou o papel do agronegócio para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Para ele, o campo vai apoiar o país “gerando e distribuindo renda”. Além disso, ele aponta, as exportações do agronegócio geram oportunidades para as pessoas.
O professor, que leciona na USP e na FVG, ainda participou de um painel que debateu desafios, estratégias e oportunidades para impulsionar o crescimento do Ramo Agropecuário. A conversa também contou com Fábio Andreazza, da Copama, além de Ivan Capra, presidente do Conselho de Administração do Sicoob Credisul, e Oberdan Pandolfi, presidente do Sicoob Credip.
Agenda ESG
Em alta, a Agenda ESG também esteve no centro das discussões e apresentações do CoopMind. Rodrigo Casagrande, professor da FGV e autor de livros sobre o tema, falou sobre a relação entre cooperativismo e ESG abordando tópicos como os novos padrões de consumo e agricultura regenerativa.
Já Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais no Sicoob, discursou sobre como o cooperativismo atua para a transformação das comunidades, com foco no Ramo Crédito. Ele argumentou que cooperativas financeiras são vistas como instituições que cuidam da sociedade de forma colaborativa e sustentável.
Ainda na seara do ESG, Adevania Silveira, gerente de Marketing, Comunicação e Relações Institucionais da Sicoob Credisul, apresentou casos práticos sustentáveis da cooperativa.
Atividades culturais
Além das palestras e visitas técnicas, o CoopMind também promoveu apresentações culturais. O espetáculo ficou a cargo do Coral Sicoob Credisul e do Projeto Mamaindê.
Além disso, o evento proporcionou uma feira cooperativista onde várias cooperativas, produtores da região e integrantes de projetos sociais expuseram os seus produtos.
Conclusão: CoopMind mostra a força do cooperativismo do Norte
O CoopMind ajuda a mostrar a força do cooperativismo que desenvolve o Norte do Brasil. Ivan Capra ressaltou que o evento foi uma grande oportunidade para mostrar a força do coop local:
“Nosso evento buscou pensar o cooperativismo e as cooperativas como agente de desenvolvimento. Em Vilhena, temos vários cases de sucesso nascidos a partir de intercooperação, e a ideia é tornar o município referência”.
Já Carolina Torres, presidente da Favoo, disse que o evento foi um sucesso. “Tentamos criar um mindset, essa cultura de inovação é uma novidade para o público mais jovem, principalmente aqueles que não conseguem se deslocar para participar de eventos desse porte”.
Por fim, Gustavo Mendes, da Coonecta, ressaltou que as cooperativas atuantes fazem a diferença para o desenvolvimento regional. “Fiquei encantado de ver como a Sicoob Credisul e a Favoo colocam em prática o sétimo princípio cooperativista com um interesse genuíno pela comunidade”.
Inovar no cooperativismo é diferente: toda sociedade sai ganhando. Para tornar a sua coop mais uma protagonista desse movimento, confira nosso guia prático Inovação com DNA cooperativista e conheça conceitos e etapas iniciais para fazer parte dessa jornada!
Fique por dentro das características que guiam o futuro da indústria e saiba como ela transforma negócios e pessoas
O futuro do trabalho e da economia nos oferece diferentes perspectivas. Todas elas levam em conta o papel da Indústria, um setor econômico importante e responsável pela transformação de matérias-primas em bens e serviços.
Mesmo pouco antes da primeira Revolução Industrial, as máquinas se tornaram imprescindíveis nos processos de fabricação. Com o avanço tecnológico, os processos foram ficando cada vez mais automatizados e digitalizados, sem a necessidade de ação humana.
Contudo, nos últimos anos, com a chamada Indústria 5.0, o fator humano vem readquirindo protagonismo nos novos processos industriais, geralmente marcados pela digitalização, uso da inteligência virtual e análise de dados, entre outras tecnologias.
Assim, nessa nova indústria, a máquina existe para fornecer apoio e potencializar as competências humanas que mesmo as ferramentas tecnológicas mais avançadas não conseguem substituir. É possível automatizar a criatividade, a capacidade de análise, a resiliência e a cooperação mútua, afinal?
O que é a Indústria 5.0
A Indústria 5.0 é o ponto da mais recente evolução industrial. Ela propõe a humanização dos processos industriais, a fim de combinar aspectos essencialmente humanos à velocidade, produtividade e eficiência alcançadas pela automação trazida pelas máquinas e digitalização.
Uma definição dada pela União Europeia entende que a Indústria 5.0 “fornece uma visão da indústria para além da eficiência e da produtividade como únicos objetivos, e reforça o papel e a contribuição da indústria para a sociedade”. Nesse sentido, a Indústria 5.0 tem três pilares principais:
- Ser centrada no ser humano
- Ser resiliente
- Ser sustentável
Ser centrado no ser humano indica a fuga de um paradigma puramente técnica. O homem deixa de ser visto como meio para ser visto como fim. A organização deixa de existir somente para ser servida, mas também para servir às pessoas e à sociedade.
A resiliência aparece como pilar da Indústria 5.0 ao passo em que a preocupação maior deixa de estar essencialmente sobre os lucros e a eficiência, mas sim em construir organizações capazes de reagir sistematicamente diante de qualquer situação, proporcionando soluções mais estáveis e sustentáveis.
Além disso, a indústria do futuro não poderia estar alheia às questões urgentes de sustentabilidade. Isso requer, por exemplo, a aplicação de estratégias ESG (Environmental, Social and Governance) e o alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Diferenças entre a Indústria 4.0 e a Indústria 5.0
Não há, na verdade, um movimento de passagem entre eras, em que a Indústria 4.0 é, aos poucos, deixada de lado para dar espaço à Indústria 5.0. O que ocorre na verdade, é uma complementação da 4.0 com os aspectos da 5.0. O objetivo, portanto, não é desconsiderar os avanços passados, mas ampliá-los, gerando novas possibilidades.
A Indústria 4.0 intensificou a integração de novas tecnologias, promovendo a automação industrial, gerando impactos positivos de produtividade e eficiência. Porém, ao mesmo tempo, diminuiu o papel humano nos processos. A Indústria 5.0 caminha em direção a reequilibrar essa relação entre máquina e homem.
Nesse sentido, a Indústria 5.0 lança um novo olhar sobre os avanços da Indústria 4.0, por um caminho em direção à humanização e à responsabilidade ambiental.
Propósitos da Indústria 5.0
A Indústria 5.0 pretende explorar a fundo a capacidade humana de análise crítica e especializada na operação de super tecnologias e maquinários avançados. Isso acontece a fim de gerar produtos mais próximos à real necessidade do consumidor, de maneira customizada e personalizada.
Diferente da Indústria 4.0, em que o objetivo era a automação geral, a Indústria 5.0 privilegia a intervenção humana. Com isso, seu propósito é obter aquilo que a máquina não é capaz de oferecer, como a criatividade, a resiliência e o pensamento crítico e cognitivo.
No entanto, o objetivo da Indústria 5.0 não está centrado em resultados puramente financeiros. O objetivo é, também, criar valor atrelado à qualidade da vida humana, considerando a sustentabilidade e responsabilidade social.
Desafios da Indústria 5.0
O desafio da Indústria 5.0, então, é cumprir justamente aquilo que se propõe a fazer: tornar os processos industriais mais humanizados, em um movimento contrário à automação total, sem perder os ganhos de produtividade e eficiência trazidos pela Indústria 4.0.
A aplicação das ideias propostas pela Indústria 5.0 ainda está no início. A implementação completa ainda levará tempo e envolve a adoção de novas tecnologias e a qualificação da força de trabalho, o que exige altos investimentos. Muitos negócios de pequeno e médio porte, por exemplo, ainda buscam implementar a Indústria 4.0 em seus processos.
A evolução até a indústria 5.0
Principais tecnologias utilizadas na Indústria 5.0
A Indústria 5.0 utiliza-se de diversas tecnologias avançadas para potencializar as capacidades humanas. Entre elas, estão o uso de Inteligência Artificial (IA), o Machine Learning e a Robótica.
- Inteligência artificial: com a IA, sistemas computadorizados são capazes de imitar o raciocínio e o comportamento humano na execução de tarefas. É como se o sistema pensasse e atuasse como humanos, possuindo algum nível de racionalidade. Isso é possível a partir do processo de aprendizagem (machine learning), com base em informações que recebem, coletam e analisam.
- Machine learning: a machine learning (aprendizado de máquina) é uma braço importante da IA. A ideia é que os sistemas sejam capazes de aprender os dados, identificar padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana, se aprimorando gradativamente.
- Robótica: o desenvolvimento da robótica e da IA permite criar robôs sofisticados, com autonomia para entenderem o contexto apresentado e tomar decisões independentes, ajudando em operações automatizadas.
Os impactos da Indústria 5.0
Como propõe mudanças nas lógicas industriais, a Indústria 5.0 apresenta uma série de impactos no mercado. Vejamos alguns deles:
(H3) Harmonia do trabalho entre homem e máquina
A fim de potencializar a inteligência e criatividade humana, a Indústria 5.0 leva em conta a integração entre máquinas e pessoas. Nesse sentido, o homem volta a se tornar elemento protagonista no processo de manufatura de produtos, mas agora com o apoio das tecnologias avançadas.
Capacidades humanas são essenciais para o desenvolvimento dos negócios, como o pensamento crítico, o senso inventivo e colaborativo. Assim, a harmonização dessas capacidades às tecnologias precisas e inteligentes é o que a Indústria 5.0 pretende: gerar uma simbiose homem-máquina.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é um ponto fundamental para a Indústria 5.0. Portanto, diante das atuais preocupações climáticas, a responsabilidade ambiental passou a ser uma questão estratégica para os negócios. Na indústria não é diferente. É preciso adotar práticas sustentáveis de fabricação, aproveitando a inteligência tecnológica.
Na Indústria 5.0, além de ser centrado no ser humano, o ambiente de fabricação precisa ser sustentável. Por isso, é importante desenvolver soluções que reduzam o impacto ambiental da produção, como a aplicação de tecnologias verdes, a redução do desperdício de recursos naturais e o reaproveitamento de materiais.
Personalização produtiva
As indústrias têm, cada vez mais, o desafio de produzir produtos personalizados em alta escala, atendendo às necessidades específicas de cada cliente. A indústria 5.0 abre caminho para esse processo de personalização ao integrar o fator criativo humano à potência tecnológica das máquinas.
Se na Indústria 4.0 a produção em série dificulta a identificação do consumidor com o produto, na Indústria 5.0 a personalização busca resolver esse problema. É o que ocorre na Tesla, montadora de carros elétricos, por exemplo. Caso um consumidor necessite de algo diferente, a companhia se propõe a atender a necessidade e incluir em seus produtos.
Equipes multifuncionais
Para a Indústria 5.0, uma estratégia centrada no ser humano é capaz de promover talentos, diversidade e empoderamento. Isso favorece a formação de equipes diversificadas, com diferentes perfis de profissionais envolvidos. Essas equipes multifuncionais é que potencializam a capacidade de geração de diferentes soluções criativas e inovadoras, afinal.
Nesse contexto, profissionais que possuem os mais variados conhecimentos são extremamente valorizados. São mentes criativas, capazes de analisar as diversas faces de um problema e propor soluções eficientes, de maneira harmônica. Uma equipe de profissionais multifacetados pode alcançar resultados surpreendentes.
Protagonismo no de dados
Uma indústria mais inteligente, capaz de gerar decisões ao mesmo tempo humanas, sustentáveis e resilientes, depende de uma ampla base de dados. Com a Internet das Coisas (IoT), essa gama enorme de dados fica disponpivel, oriunda de diversos dispositivos conectados. Entretanto, o potencial máximo dessa infinidade de informações ainda precisa ser explorado.
No processo de personalização produtiva, em que a manufatura será escalável e customizada, a Indústria 5.0 precisa trabalhar com análise de grandes volumes de dados e ferramentas que possibilitam compartilhamento de dados em tempo real com sistemas inteligentes.
Como adaptar sua cooperativa para essa realidade
A adaptação de uma cooperativa à indústria 5.0 requer adesão a novas tecnologias e práticas em todos os processos do negócio cooperativista, como a Inteligência Artificial, Análise de Dados e Cibersegurança, além de considerar os impactos sociais e ambientais.
Além disso, a cooperativa deve qualificar os colaboradores para lidar com as novidades tecnológicas, buscando sempre a integração entre homem e máquina, através da alfabetização digital. Nesse sentido, é preciso assumir novos valores na cultura corporativa, enxergando a formação e o treinamento como um investimento e não um custo.
Inovar constantemente também é requisito para uma cooperativa que pretende estar imersa na Indústria 5.0. Para isso, é preciso:
- Adotar processos de seleção mais inclusivos e voltados para o diferencial humano;
- Trabalhar a liderança como ferramenta de desenvolvimento;
- Desenvolver a comunicação assertiva e a resiliência da equipe.
Conclusão
A Indústria 5.0 ainda não está em pleno funcionamento, mas já é uma realidade. Mesmo que muitos negócios ainda buscam se adaptar integralmente à indústria 4.0, nada impede que as ideias propostas pela Indústria 5.0 sejam aplicadas simultaneamente às da era anterior.
Para além da questão tecnológica e financeira, esse período de transição entre Indústrias 4.0 e 5.0 representa um momento de reequilíbrio na integração de pessoas e máquinas em processos de produção, a fim de potencializar o melhor das capacidades humanas.
Embora os benefícios da automação total sejam enormes, a essencialidade humana ainda não foi suprida pelas máquinas. Sozinha, a tecnologia não é suficiente.
Como vimos, os dados cumprem um papel fundamental no surgimento da Indústria 5.0. Confira, então, nosso guia prático Como tomar decisões baseadas em dados! Nele, você vai aprender a importância da coleta e análise de dados para melhorar as estratégias e tomadas de decisões!
Você já deve ter ouvido falar em economia circular. Mas e o design circular? Você sabe o que é?
O lixo é um erro de design. Essa é a premissa básica por trás do design circular, uma ideia que pretende enfrentar a grande taxa de desperdício e produção de lixo.
O design circular faz parte de um movimento de mudança de rumos, em busca de uma economia mais sustentável e responsável. Você já ouviu falar dela: é a agenda ESG, que está dando protagonismo à sustentabilidade na nova economia.
Com a ascensão da preocupação com os impactos ambientais e sociais da produção industrial, a busca por métodos que levam em conta o que fazer com os resíduos ganhou importância - inclusive para os consumidores. O que fazer com um celular que quebrou, com as roupas que não servem mais ou com a enormidade de plásticos que descartamos todos os dias?
Essas são preocupações que deram origem à economia circular e, consequentemente, ao design circular. Neste artigo, iremos conhecer o design circular, aprender seus benefícios, conhecer exemplos e entender qual é a sua ligação com o cooperativismo. Aproveite a leitura!
O que é design circular
Em uma era em que o consumo cresce e a inovação tecnológica faz com que as trocas e descartes sejam frequentes, a economia circular busca reduzir os impactos. Quantas vezes você trocou de celular nos últimos dez anos? Quantos deles ainda funcionavam perfeitamente, mas tinham ficado para trás em recursos tecnológicos?
Em meio a um modelo tradicional de produção que gera muitos detritos, a economia circular repensa a indústria produtiva, o uso e a manufatura em relação ao desperdício de insumos naturais e descarte de produtos deteriorados ou obsoletos. Então a reciclagem e o reaproveitamento de materiais usados são exemplos da economia circular? Sim, são!
Ou seja: não basta só pensar na forma mais eficiente de produzir. É necessário, também, levar em conta o que acontece depois de um produto deixar de ser utilizado por qualquer que seja o motivo. A partir dessa busca, surgiu o conceito de design circular, uma resposta em prol de um planejamento sustentável desde a concepção dos produtos.
Design é projeto
Talvez a origem estrangeira faça com que a palavra ‘design’ não seja compreendida corretamente. Para a designer e pesquisadora Mônica Moura, “Design significa ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”. Mais sucintamente, nas palavras do pioneiro Alexandre Wollner: “design é projeto”.
O design circular, portanto, é uma forma de projetar e desenvolver produtos pensando, no decorrer de todo o processo, nos impactos ambientais causados pelos materiais utilizados durante a fabricação. Isso passa pela escolha dos insumos, os métodos de produção e o reuso ou a reciclagem do material que será descartado após o uso do produto.
Dessa forma, podemos entender que o design circular trabalha em cadeia, tendo como princípio o uso de produtos levando em conta tanto o uso de matéria-prima reciclada quanto o destino dos objetos quando ele não puder mais ser mais usado. A meta, com isso, é não só reduzir a quantidade de lixo, mas também diminuir os impactos no meio ambiente por meio da inovação de design.
Os princípios do design circular
O livro Cradle to Cradle – Criar e Reciclar Ilimitadamente (em inglês Cradle to Cradle – remaking the way we make things), de William McDonough e Michael Braungart propõe três princípios que funcionam como base do design circular. Conheça-os abaixo:
- Resíduos são nutrientes: na hora de desenhar um produto, os designers devem verificar as propriedades de cada material com os fornecedores. Aqueles que causam impactos negativos devem ser substituídos gradativamente. Além disso, é importante buscar materiais com um ciclo biológico seguro e que sejam nutritivos quando retornam para a natureza.
- Usar a fonte solar ilimitada: a energia solar é constante e renovável. Por isso, seu potencial deve ser aproveitado ao máximo. Para o design de produtos industriais, então, os fabricantes devem ir além da eficiência energética e buscar, também, energias renováveis. O ideal é que a indústria se torne auto-suficiente em energias renováveis.
- Celebrar a diversidade: a diversidade fortalece sistemas biológicos e industriais, valorizando materiais, processos e soluções. Com isso, os ambientes de produção e distribuição podem acolher e estimular a biodiversidade, proporcionando áreas verdes e espaço para a natureza.
Características do design circular
A partir disso, o design circular carrega algumas características importantes para que possa cumprir o seu objetivo:
- Produtos verdes: os produtos devem ser ambientalmente corretos no decorrer de todo o ciclo de produção e uso.
- Uso de insumos reciclados: sempre que possível, o design circular deve priorizar a utilização de materiais reciclados durante o desenvolvimento dos produtos.
- Reciclagem ou reuso após descarte: é muito importante que o produto possa ser reciclado ou reutilizado depois de ser usado, de forma a reduzir o descarte de materiais.
- Aumento da vida útil: muito se fala de obsolescência programada, que é quando um produto é fabricado com uma vida útil encurtada de propósito. O design circular, por outro lado, visa o oposto - isto é, que os produtos durem o máximo possível.
Benefícios do design circular
O design circular não é somente uma proposta idealista. Ele apresenta, sim, vantagens tanto para a sociedade como para os negócios - e sua cooperativa pode aproveitar alguns desses benefícios:
- Custos reduzidos: o uso de insumos reciclados ou o reaproveitamento de materiais que seriam descartados ajuda a diminuir os custos de aquisição da matéria-prima.
- Aderente às tendências de consumo: os compradores estão preocupados com a procedência dos produtos que consomem e aceitam até pagar mais caro quando a produção é sustentável.
- Minimiza impactos ambientais: com menos descarte de material e produção de lixo, o design circular reduz os danos ao meio ambiente e torna o negócio mais sustentável e aderente à pauta ESG.
- Fomenta a inovação: uma vez que subverte muitas lógicas da produção tradicional, o design circular está sempre em busca de novas ideias e, com isso, se alia à mentalidade inovadora.
Design thinking circular
O design thinking é uma abordagem que tem o objetivo de resolver problemas complexos com o foco nas pessoas, buscando entender a fundo as necessidades e demandas dos clientes. Com isso, o design thinking é construído a partir de três pilares:
- Empatia
- Colaboração
- Experimentação
Unindo essa maneira de pensar o desenvolvimento de produtos com a economia circular, surge o design thinking circular, viabilizando a redução de impactos ambientais e econômicos com uma perspectiva que mantém as pessoas no centro.
O ciclo do design thinking circular
- Análise de cenário: projeção da cadeia de valor no momento, apontando riscos e oportunidades.
- Ideação: elaboração de ideias perante as oportunidades encontradas.
- Adequação da ideia: contextualizar a ajustar as ideias ao contexto da cooperativa.
- Reorganização da cadeia de valor: a busca por soluções dentro do design circular.
- Plano de ação: implementação prática da solução a partir dos princípios do design circular.
Exemplos de design circular
O design circular já está ganhando espaço no mercado e diversas soluções. Assim, desde grandes companhias multinacionais até negócios locais apresentam produtos que fortalecem a economia circular por meio da inovação. Conheça algumas dessas iniciativas inspiradoras!
Cooperárvore: resíduos da indústria automotiva viram artigos de exportação
Fundada em 2006 na cidade de Betim, em Minas Gerais, a Cooperárvore é a cooperativa social do programa Árvore da Vida, uma iniciativa social que virou referência na economia circular. O objetivo da cooperativa é gerar renda a partir de produtos criados com resíduos provenientes da indústria automotiva.
Com isso, o design circular está no coração da Cooperárvore, que reaproveita o material que seria descartado para confeccionar bolsas, mochilas, necessaires, artigos de casa e brindes personalizados. Dessa forma, a cooperativa impede que esses insumos se tornem lixo e os transforma em produtos que já até foram exportados.
Quando completou 15 anos, em 2021, a Cooperárvore anunciou que já havia reaproveitado mais de 39 toneladas de materiais que seriam descartados. Dessa forma, até então, a cooperativa tinha vendido mais de 250 mil produtos, mostrando que o cooperativismo ocupa um papel de protagonismo no design circular.
A produção circular na coop Dedo de Gente
A Dedo de Gente é mais uma cooperativa mineira que mostra o papel do cooperativismo no design circular. Criada em 1996, a coop produz e vende produtos de artesanato que carregam consigo a riqueza do sertão de Minas Gerais, além de realizar oficinas e exposições.
Em suas criações, a Dedo de Gente reaproveita materiais que seriam descartados para a produção de produtos artesanais e peças de arte. É o caso, por exemplo, dessa fruteira criada a partir de um disco de arado.
Adidas lança tênis com plástico retirado do oceano
A marca alemã de moda esportiva se uniu a uma campanha ambiental e produziu um modelo de tênis de corrida que usa plástico tirado do oceano e reciclado em sua composição. O produto foi lançado junto com uma campanha de conscientização contra objetos de plástico de uso único, que têm grande contribuição para a poluição do meio ambiente.
Nesse produto, o design circular usou o plástico reciclado no lugar de fibras sintéticas. O designer Alexander Taylor, que assina o modelo, argumenta que “os designers podem ser agentes da mudança” na busca por métodos alternativos e sustentáveis.
Celular modular da FairPhone evita lixo eletrônico
Como discutimos acima, a troca de celulares é uma das grandes causas do acúmulo de lixo eletrônico. Muitas vezes, os aparelhos ainda funcionam bem, mas são trocados porque já estão defasados tecnologicamente. E se fosse possível, então, ir melhorando o dispositivo aos poucos, sem precisar jogar tudo fora?
Essa é a proposta do FairPhone, um smartphone modular desenvolvido por uma companhia holandesa. Os aparelhos são projetados para durar muito tempo, porém com um diferencial: eles não ficam obsoletos.
Para isso, os celulares da FairPhone são desmonta´veis, repara´veis e atualiza´veis, a fim de acompanhar os avanços tecnolo´gicos e desejos do usuário. Assim, se você quer uma câmera melhor, não precisa comprar um novo aparelho, basta trocar o componente da câmera.
Coleção reciclável de roupas da C&A conquista certificados
Em 2018, a varejista de moda C&A lançou a coleção Ciclos, composta por peças de vestuário jeans fabricadas de materiais seguros e totalmente recicla´veis. A matéria-prima é certificada e a fabricação usa produtos químicos seguros e livres de metais pesados ou outras substâncias tóxicas.
Além disso, a fabricação é 100% neutra em relação às emissões de carbono e utiliza 50% de energia renovável no decorrer do processo de confecção das peças. O design circular das roupas, que não levam materiais sintéticos ou químicos to´xicos, permite que, após o uso, elas possam ser recicladas. Mesmo quando descartadas, as peças da linha não causam danos no ambiente.
Com essa iniciativa, a C&A se tornou a primeira marca varejista de moda a conquistar a certificação Cradle to Cradle nível Gold, que reconhece produtos relevantes para o avanço da economia circular, para peças produzidas no Brasil.
Remaster: sistema de piso elevado com apoio cooperativo
A construtech paulista Remaster Tecnologia desenvolveu um sistema integrado de piso elevado que abriga componentes da rede elétrica feito com placas de pla´stico reciclado. Além disso, todo o material pode ser reutilizado em próximos ciclos. Dessa maneira, a Remaster recolhe toneladas de plástico das ruas e ajuda a reduzir a demanda da matéria-prima virgem. A construtech conta, ainda, com apoio de cooperativas que trituram e colorem o plástico, dando origem a pellets (pequenas bolinhas de resina) de polipropileno que são reutilizados na produção dos pisos.
Cooperativas de reciclagem e a logística reversa
O cooperativismo é um grande aliado da economia e do design circular. Além dos exemplos que vimos acima de coops que estão ativamente propondo novas ideias e produtos conectados à economia circular, as cooperativas de catadores cumprem um papel central na logística reversa.
Um estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), aponta que os catadores são responsáveis por quase metade da coleta seletiva no Brasil. Em São Paulo, 100% do material reciclável coletado são manejados por catadores - mesmo os que são coletados por empresas concessionárias acabam nas mãos de cooperativas de reciclagem que cuidam da triagem, armazenamento e venda do material.
A intercooperação também tem espaço nessa jornada. O ConexãoCoop contou a história da Centcoop, uma cooperativa de segundo grau que reúne diversas instituições no Distrito Federal, atuando na comercialização conjunta dos materiais recuperados e coletados, via coleta seletiva, por cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
Com isso, as cooperativas de reciclagem são essenciais para o avanço do design circular, uma vez que faz a coleta e o tratamento dos materiais que são reutilizados e voltam à economia, reduzindo o desperdício de recursos naturais e a produção de lixo.
Cooperativismo no mercado de resíduos eletrônicos
O lixo eletrônico é uma das piores consequências do rápido avanço tecnológico que vivenciamos. Segundo a pesquisa “The Global E-waste Monitor 2020”, o Brasil é o quinto maior produtor de lixo eletrônico no mundo. Se por um lado o desperdício é grande, por outro lidar com o descarte ainda é um grande problema.
Com diversos impactos ao meio ambiente e à saúde, o descarte irregular de resíduos eletrônicos é muito danoso para a sociedade. Um dos grandes desafios do design circular é que seus princípios sejam adotados com mais força no universo do desenvolvimento tecnológico.
Neste artigo, o InovaCoop mostrou como o cooperativismo é protagonista dessa batalha. A Coopermiti, que se dedica à produção, recuperação, reutilização, reciclagem e comercialização de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos já opera há 13 anos em São Paulo. Só em 2022, a Coopermiti reciclou 5,5 mil toneladas de lixo eletrônico.
Um dos serviços da Coopermiti é a recuperação, reutilização e reciclagem dos resíduos eletrônicos, devolvendo esses materiais ao ciclo produtivo. Além disso, a cooperativa abriga um museu com acervo de materiais eletrônicos antigos e uma oficina de arte de obras construídas com resíduos eletrônicos.
Conclusão: design circular para um futuro sustentável
O design circular é uma inovação indispensável para a criação de um futuro sustentável, com menos lixo e sem desperdício de recursos naturais. A transição rumo a uma economia circular impõe desafios complexos, mas a inovação e o cooperativismo são aliados nessa jornada.
Para alcançar melhores resultados, as iniciativas de combate ao desperdício precisam reorientar a lógica da produção industrial. A adesão ao design circular é parte fundamental dessa tarefa. Afinal, esse processo é mais eficaz quando a reciclagem e reutilização dos materiais são priorizados desde os primeiros passos no desenvolvimento de um projeto.
Se o lixo é um erro de design, o design circular é um elemento crucial para criarmos um mundo sem resíduo. Além do benefício óbvio de contribuir com a sustentabilidade e a causa ambiental, o design circular pode ser um grande diferencial da sua coop.
O cooperativismo está atento e segue sendo um aliado importante para a construção de um mundo melhor e um futuro promissor. As boas práticas ESG fazem parte dos princípios e valores do cooperativismo. Para potencializar esse dom do cooperativismo, o Sistema OCB está desenvolvendo o ESGCoop. Saiba mais sobre essa tendência neste guia prático!
A produção de conhecimento científico impulsiona o cooperativismo brasileiro - e você pode fazer parte desse movimento
A produção acadêmica é uma das principais fontes de inovação na sociedade, nos negócios e, como não poderia deixar de ser, também no cooperativismo. A geração de conhecimento científico ajuda a tornar o coop mais conectado, inovador e competitivo. Com isso, a relação entre cooperativismo e academia é positiva para todos.
Essa relação entre cooperativismo e academia pode acontecer tanto diretamente entre universidades e cooperativas em busca de uma relação de desenvolvimento mútuo focada nos produtos quanto pelo desenvolvimento do cooperativismo enquanto ecossistema.
O primeiro caso acontece, por exemplo, na Certel, como contamos no Radar da Inovação. A maior cooperativa de eletrificação do país mantém uma parceria com a Universidade do Vale do Taquari (Univates) e seus alunos do curso de Engenharia Elétrica.
Já o segundo tipo traz estudos que proporcionam uma compreensão mais profunda do cooperativismo como modelo de negócios, agente do desenvolvimento regional e força motriz da agenda ESG.
O 7° Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC) é um dos grandes momentos dessa relação entre cooperativismo e academia - e você pode participar desse movimento.
Academia é parte do ecossistema de inovação cooperativista
O cooperativismo conta com o seu próprio ecossistema de inovação que engloba a produção científica e acadêmica. O RadarCoop, uma iniciativa que mapeia o ecossistema de inovação e empreendedorismo cooperativista, mostra que essa relação é salutar na construção de um cooperativismo inovador e moderno.
O mapeamento classifica os atores do ecossistema de inovação do cooperativismo em sete tipos. Um desses tipos é referente aos “geradores de conhecimento”, que são instituições que promovem pesquisas e, com isso, produzem conhecimento acadêmico e descobertas científicas que impulsionam a inovação.
A Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (ESCOOP), por exemplo, surgiu com o objetivo de atender às demandas de qualificação das cooperativas gaúchas. Sua missão é promover o desenvolvimento sustentável das cooperativas por meio de soluções inovadoras e de excelência na aprendizagem e pesquisa. Cooperativismo e academia aliados desde a base.
O Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul (Isae) é outra instituição de ensino que contribui para a conexão entre cooperativismo e academia. Em parceria com o Sistema Ocepar, o Isae publicou um livro sobre gestão da inovação em cooperativas.
Cooperativismo e academia: conferências promovem pesquisa sobre o coop no Brasil e no mundo
Conferências de pesquisadores focadas em trabalhos acadêmicos sobre o cooperativismo também são fatores importantes para fomentar a inovação e o desenvolvimento do coop. Elas são oportunidade para que estudiosos de diversas instituições e áreas correlacionadas ao cooperativismo possam realizar e promover seus estudos.
Além disso, esses eventos promovem a troca de experiências e fomentam o networking entre a academia e as cooperativas, aliando teoria e prática. Ademais, eles ajudam a estabelecer o cooperativismo como um objeto de estudo relevante. O Sistema OCB apoia esse movimento e te convida para participar!
7° EBPC (Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo)
O EBPC (Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo), organizado pelo Sistema OCB, chega à sétima edição, que conta com coordenação científica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O evento proporciona uma oportunidade para pesquisadores apresentarem seus trabalhos sobre o coop durante um encontro presencial.
Com isso, a ideia do EBPC é estimular a realização de estudos que buscam maior eficácia e eficiência nos processos das cooperativas. Assim, o EBPC propõe um ambiente favorável à criatividade, experimentação e implementação de novas ideias capazes de unir competitividade e desenvolvimento sustentável dentro do cooperativismo brasileiro.
Na sétima edição, o tema do encontro é “Sustentabilidade no cooperativismo: competitividade, inovação e diversidade”. Além disso, os eixos temáticos são:
- Identidades Cooperativas e Direito Cooperativo: busca investigar o que torna as cooperativas diferentes das demais organizações. Para isso, leva em conta seus aspectos teóricos, identitário, legal e societário, bem como os variados fatores que influenciam na identidade cooperativa no ambiente de negócios.
- Educação, Inovação e Diversidade: acolhe trabalhos relacionados aos processos de educação, empreendedorismo e inclusão que atuam sobre o desenvolvimento e a promoção da equidade nas cooperativas. Com isso, a ideia é dar visibilidade a uma agenda de inovação e promoção do conhecimento cooperativista.
- Governança e Gestão: investiga modelos de governança e gestão nas cooperativas, como fidelização de cooperados, desenvolvimento de lideranças, transparência, intercooperação e agenda ESG.
- Contabilidade, Finanças e Desempenho: compreende estudos que analisam a gestão do capital das cooperativas. Com isso, são trabalhos que tratam de avaliação de projetos, investimentos, eficiência e demais tópicos relacionados ao desempenho econômico e social das coops.
- Impactos e Contribuições Econômicas, Sociais e Ambientais: a proposta é debater se e como o cooperativismo gera impactos econômicos, sociais e ambientais. O foco é investigar a mensuração e a efetividade, dos efeitos, contribuições e impactos das cooperativas nas comunidades em que elas estão inseridas.
As submissões de trabalhos para o EBPC se encerram no dia 15 de maio, então ainda dá tempo de participar. Para saber mais sobre o 7° EBPC, confira este artigo em que explicamos como ele funciona e de que forma você pode inscrever o seu trabalho!
Conferência Europeia de Pesquisa da ACI
O InovaCoop também destacou a Conferência Europeia de Pesquisa ICA CCR, realizada pela Aliança Cooperativa Internacional, que terá a inovação como um de seus pilares. O evento, que vai acontecer na cidade de Leuven, na Bélgica, entre os dias 10 e 13 de julho, já encerrou as inscrições.
A Conferência Europeia de Pesquisa tem o objetivo de promover conhecimento, proficiência e legitimidade sobre o empreendedorismo dentro do cooperativismo. Como contamos neste artigo, o Sistema OCB e pesquisadores brasileiros marcaram presença na edição de 2022 do evento.
As analistas técnicas Ana Tereza Libânio, Feulga Reis e Kátia Buzar foram as representantes brasileiras do evento, que ocorreu em Atenas, capital da Grécia, entre os dias 15 e 17 de julho. O grupo apresentou artigos produzidos em inglês dentro da temática “Repensando as cooperativas: do local ao global e do passado ao futuro”.
Representantes do Sescoop/RS e do Fundo Garantidor de Crédito Cooperativo (FGCoop) também ajudaram a levar o cooperativismo brasileiro aos palcos globais. A conferência, dessa forma, torna o cooperativismo global mais unido, como em uma intercooperação global por meio do compartilhamento de conhecimento acadêmico e científico no qual o cooperativismo brasileiro é protagonista na inovação.
Conclusão: Sistema OCB estimula conexão entre cooperativismo e academia
Cooperativismo e academia fazem uma dupla poderosa para impulsionar a inovação cooperativista. A produção de conhecimento científico, afinal, ajuda na compreensão dos cenários, desafios e oportunidades que englobam todo o ambiente de negócios e ecossistema de inovação do coop.
O Sistema OCB é entusiasta da relação entre cooperativismo e academia na construção de conhecimento científico. Tanto que, a fim de estimular as contribuições acadêmicas sobre o coop, a plataforma CapacitaCoop lançou a trilha de aprendizagem Programa Pesquisa Científica do Cooperativismo.
O 7° EBPC é uma grande oportunidade para que os pesquisadores possam dar visibilidade aos seus trabalhos e se conectar com outros estudiosos sobre o tema, assim como com as cooperativas. Com isso, o cooperativismo se torna ainda mais inovador.
Cooperativas se aliam a startups voltadas ao agronegócio para inovar e modernizar a produção
O agronegócio brasileiro está entre os maiores do mundo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 2002 e 2022, o PIB agrícola do Brasil passou de US$ 122 bilhões para US$ 500 bilhões. Isso coloca o Brasil atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Nesse contexto, as agritechs atuam como motor da inovação e produtividade.
Em 2022, cerca de um quarto do PIB nacional teve origem no agronegócio, conforme indica estudo do Cepea Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso faz do setor, mais uma vez, um dos principais motores da economia nacional.
Esse cenário mostra como o agronegócio brasileiro é gigante e extremamente relevante. Com uma rede ampla e complexa de atores. Diante do crescimento expressivo na demanda mundial por alimentos, o setor se viu na necessidade de inovar ao adotar soluções tecnológicas para obter eficiência produtiva e manter a competitividade.
A nova agricultura
Assim, nos últimos anos, a transformação digital chegou ao agronegócio. Esse movimento ficou conhecido como Agricultura 4.0, potencializando a capacidade produtiva do setor através de tecnologias que modernizam o campo e otimizam a produção e a gestão agrícola. Isso, então, ajuda o produtor a se manter competitivo no mercado.
Mas não só isso. A transformação digital no campo surge também a partir das demandas sociais e ambientais, tornando imprescindível a adoção de tecnologias inovadores a fim de ser ambientalmente sustentável. Além disso, o setor está intrinsecamente ligado à questão da segurança alimentar e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Em meio à onda de transformação digital no campo e às demandas sociais ambientais, surgiram novas startups agros chamadas de agritechs. Vamos, a seguir, apresentar o que são essas empresas e qual é sua importância para a inovação no campo. Boa leitura!
Agritechs e inovação
Em resumo, agritechs são startups voltadas para o agronegócio. O termo é um acrônimo de “tecnologia agrícola” em inglês. Através da aplicação de novas tecnologias em diferentes etapas da produção agrícola, essas empresas atuam em diversas soluções inovadoras para o campo, buscando a produtividade e sustentabilidade.
Da necessidade de conquistar crédito, à criação de ferramentas de gestão, combate às pragas, de monitoramento ambiental, entre outras, as agritechs buscam responder aos desafios econômicos, sociais e ambientais.
Por isso, as agritechs são tão importantes para a inovação no agronegócio. Diante das novas exigências do mercado, o agronegócio não pode ignorar as questões ambientais e sociais. Tem-se, portanto, nas agritechs, a principal fonte de transformação digital que considera práticas alinhadas à agenda ESG (Environmental, Social and Governance), por exemplo.
Panorama e crescimento das agritechs
As agritechs não param de crescer no Brasil. No Brasil, de 2017 a 2021, foram investidos cerca de 264 milhões de dólares em agritechs, conforme aponta estudo do Distrito, um dos maiores hubs de inovação do país. Em 2021, foram 126 milhões de dólares, o dobro do valor aportado em 2020.
Em 2022, 43% das agritechs alcançaram um faturamento superior a R$ 1 milhão, sendo que 11% desse total faturaram mais que R$ 5 milhões. Além disso, uma em cada três agritechs já exportam seus produtos. Os dados são do Radar Agtech Brasil 2022, um levantamento feito pela Embrapa, o HomoLudens, a SP Ventures e o Sebrae.
O Radar identificou 1.703 agritechs, concentradas, na maior parte (87%), nas regiões Sudeste (61,4%) e Sul (25,6%) do País. O estado de São Paulo abarca o maior número de agritechs, com 47,0% do total nacional. Veja a tabela a seguir:
Essa distribuição geográfica aponta para um fortalecimento do ecossistema das agritechs brasileiras. Na comparação com anos anteriores, 2022 mostrou uma leve tendência de desconcentração do Sudeste e um avanço na região Nordeste. Ainda segundo o levantamento, 14,2% das agritechs atuam antes da fazenda, 41,4% dentro da fazenda e 44,4% depois da fazenda. Entenda:
- Antes da fazenda: envolve ações necessárias antes de começar a produção, como adquirir crédito, insumos ou equipamentos.
- Dentro da fazenda: trata-se de atividades de produção agropecuária em si, como a gestão da propriedade rural, água, insumos e planejamento.
- Depois da fazenda: inclui as atividades de distribuição, logística, processamento, embalagem, venda no atacado e no varejo e consumo.
Outro dado a ser considerado envolve a busca por profissionais especializados em tecnologias digitais voltadas ao agronegócio. Segundo a Agência Alemã de Cooperação Internacional, as agritechs pretendem gerar aproximadamente 178 mil vagas para esses profissionais. No entanto, o mercado possui atualmente apenas 32,5 mil pessoas qualificadas para ocupar essas vagas. Isso dá cerca de cinco vagas para apenas um candidato.
Futuro das agritechs
As agritechs são o futuro do agro. Assim, é preciso estar atento ao que esse futuro aponta, se preparando para acolher novas ideias e estar disposto para enfrentar os desafios impostos. Para isso, é importante que o campo não seja intransigente, a fim de estar alinhado ao que o ambiente político, econômico e social pede.
Segundo o Radar Agtech Brasil 2022, um dos pontos que merecem atenção no futuro das agritechs é a tendência de intensificação no uso de tecnologias sustentáveis. As agritechs acreditam que o uso de bioinsumos, da economia circular e outras práticas de sustentabilidade serão fortalecidas em um futuro próximo, sobretudo as alinhadas ao ESG.
Quanto aos desafios, o Radar aponta para a lenta instalação da rede 5G no Brasil, a dificuldade de acesso a financiamento público ou privado e a necessidade de cooperação entre os diversos atores de forma mais frequente e efetiva. Além disso, como apontado, há alta demanda por profissionais especializados a ser atendida.
As novas tecnologias no campo
A aplicação de tecnologias no campo abrange um cenário amplo. De acordo com uma pesquisa conjunta da Embrapa, Sebrae e INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 84% dos agricultores brasileiros já usam ao menos uma solução digital para apoiar a produção agrícola.
Entre as soluções tecnológicas utilizadas pelas agritechs, estão o uso dos avanços na robótica, na conexão 4G/5G, e o uso da Inteligência Artificial e de drones.
- Inteligência Artificial: a IA é importante para a realização de mapeamentos e análises precisas, gerando previsibilidade e, consequentemente, a redução de custos. Além disso, junto com o desenvolvimento da robótica, permite criar maquinários autônomos.
- Robótica: o desenvolvimento da robótica e da IA permite criar robôs sofisticados, com autonomia para entenderem o contexto apresentado e tomar decisões independentes, ajudando em operações automatizadas, como colheita, poda, capina, separação e processamento de produtos agrícolas primários.
- 4G/5G: em um cenário de IoT - Internet das Coisas, a integração de tecnologias e dados em tempo real torna-se imprescindível. A conexão 4G e, mais especificamente, a 5G permitem que essa troca de informações seja mais efetiva, facilitando a operação com equipamento como drones, por exemplo.
- Drones: através do uso de sensores e softwares de processamento de imagens, a utilização de drones em áreas agrícolas traz vantagens em todas as etapas da produção. É possível realizar demarcações de áreas e detectar falhas no plantio, monitorar o desenvolvimento da lavoura, identificar pragas e dessa forma reduzir custos de pulverização com o aumento na eficiência das aplicações, e até mesmo utilizar da ferramenta como um pulverizador, alcançando áreas de difícil acesso e garantindo que não haverá perdas por pisoteio de maquinário.
O cooperativismo e seu papel na implementação e difusão de inovações tecnológicas para o setor agropecuário
O cooperativismo é um dos grandes responsáveis pela inovação no setor agropecuário brasileiro. Vejamos, então, exemplos de cooperativas que se conectaram com agritechs em busca de usar a tecnologia para impulsionar a produtividade e a qualidade.
Aurora: com agritech, coop reduz aplicação de defensivos
Na região Sul do Brasil, a Cooperativa Vinícola Aurora criou um sistema de sensores que monitoram a propensão de surgimento de doenças em suas videiras, permitindo, assim, a otimização do uso de fungicidas.
Em conjunto com a Embrapa e a startup Jahde Tecnologia, a cooperativa desenvolveu o CROPS, sistema que avalia o risco de míldio nas videiras. Esse é um dos principais vilões fúngicos das lavouras, trazendo prejuízo tanto para a produção quanto para as finanças.
O sistema coleta dados climáticos e ambientais e os envia para um processador de dados da Embrapa, que os interpreta e faz as mensurações sobre a predisposição de desenvolvimento do fungo na lavoura. Assim, os produtores são avisados pelo celular, através do aplicativo do CROPS, e podem agir preventivamente para proteger a produção.
O sistema permite, dessa maneira, reduzir o uso de defensivos na lavoura, aplicando-os somente em casos indispensáveis. Dessa forma, os produtores conseguem videiras mais produtivas e saudáveis e reduzem os custos com as aplicações de defensivos.
Cooxupé: mapeamento de solo para agricultores
Para implementar a chamada agricultura de precisão é preciso realizar o mapeamento e monitoramento contínuo sobre o solo. Nesse objetivo, o desafio do produtor, muitas vezes, é a necessidade de grandes investimentos em tecnologia e qualificação de mão de obra.
Nesse contexto, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), em parceria com a agritech Quanticum e o IFSuldeMinas (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais), criou o projeto “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa”.
O objetivo do projeto é, através de tecnologias de baixo custo, mapear a saúde do solo em fazendas dos cooperados Isso permite que o pequeno produtor consiga fazer análises mais ricas para a tomada de decisão, visando à preservação do solo.
Ao todo, o projeto pretende mapear a saúde do solo em 80 fazendas, totalizando 10 mil hectares de lavouras de café. Em 2022, o “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa” venceu a categoria Inovação do Programa Coopera Mais, da Bayer, recebendo um aporte de R$ 1,5 milhão da multinacional, além de consultoria especializada.
Conclusão: o agro é tech - ou melhor, agritech
A adoção dos avanços tecnológicos no agronegócio para potencializar a inovação no campo é um caminho sem volta. As agritechs representam o maior exemplo desse movimento indispensável frente não somente às necessidade do produtor, mas também às demandas sociais e ambientais.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050, o planeta terá 9,6 bilhões de pessoas consumindo aproximadamente 30 bilhões de refeições diárias. Isso significa que a produção mundial de alimentos terá que crescer aproximadamente 70% para atender toda a essa demanda.
As agritechs possuem um papel primordial diante desse cenário: encontrar soluções inovadoras para um futuro desafiador. Exemplos de que é possível não faltam.
As startups podem ser aliadas poderosas para a inovação no cooperativismo. Confira, então, o guia prático Inovação Aberta: Como se relacionar com startups. Veja quais são as relações, os benefícios e as técnicas para inovar junto com startups e fomentar o cooperativismo!