Contexto
Em 2019, a paranaense Integrada Cooperativa Agroindustrial, que conta com mais de 12 mil cooperados, elaborou um estudo que analisou imagens de satélite de antes e depois da safra de verão. O objetivo era identificar solo não cultivado que aparecesse no mesmo local nos dois momentos, a fim de melhorar o aproveitamento dos terrenos.
A análise, feita com apoio da ferramenta ArcGIS, um software que permite uma avaliação geográfica completa das localidades, tinha o objetivo de identificar as áreas de plantio dos cooperados. No entanto, essa análise era muito demorada, pois demandava muitas intervenções manuais.
“Esse trabalho levava 30 dias para ficar pronto e, quando começamos a apresentá-lo nas nossas unidades regionais para os coordenadores técnicos e agrônomos, o número de solicitação de estudos começaram a aumentar”, revela Rafaela Tamanini Corrêa Assuiti, analista de geoprocessamento sênior da Integrada.
Diante disso, a cooperativa acionou suas equipes de projetos e TI em busca de soluções para agilizar esse processo. “Foi assim que iniciamos uma parceria com o Hub de Inovação do Senai que estava desenvolvendo um grupo de estudo com Inteligência Artificial e poderiam nos auxiliar na elaboração de um ferramenta que se tornasse mais rápida e melhorasse nossa acurácia nas informações”, diz Rafaela.
A partir disso, nasceu o projeto Áreas Agricultáveis, que possibilita a identificação, através de imagens de satélite e com o auxílio da Inteligência Artificial, de áreas com potencial produtivo em toda região de atuação da Integrada. A cooperativa atua nos mercados de soja, milho, trigo, café e laranja, dentre outras culturas.
Desafios
O desenvolvimento do projeto Áreas Agricultáveis passou tanto por desafios técnicos quanto por desafios relacionados à cultura da cooperativa. “Foi necessário aproximar os dois mundos - o agro e o digital - para o projeto começar a se materializar”, conta Rafaela.
Assim sendo, o projeto precisou passar por diversas avaliações em busca de realinhar seus processos e objetivos, a fim de encontrar os melhores caminhos. Além disso, a cooperativa teve que realizar inúmeros testes para verificar se os dados coletados correspondiam corretamente com a realidade das lavouras.
“A nossa maior preocupação era a acurácia das informações, pois estamos tratando de um assunto estratégico e o tempo que a ferramenta iria executar as informações, precisávamos diminuir um processo de 30 dias para poucos minutos”, explica a analista.
Desenvolvimento
Para desenvolver uma solução dentro desse cenário, a Integrada se aliou ao Hub de Inovação do Senai para criar o novo sistema, com base nas informações já em posse da cooperativa e a expertise do grupo de trabalho. Ademais, outras bases de dados foram agregadas para melhorar ainda mais as informações.
O projeto Áreas Agricultáveis deu origem, então, à ferramenta CIA Field, capaz de analisar imagens de satélites automaticamente, mês após mês, e cruzar essas informações com o banco de dados da cooperativa. Isso só foi possível graças à adoção de inovações e ao emprego de recursos tecnológicos.
A iniciativa emprega o NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada), que é um índice usado para medir a saúde e a densidade da vegetação através de imagens de satélite. Ele auxilia no monitoramento das lavouras, com a função de medir a reflectância das folhas. Esse parâmetro informa nutrição, déficits hídricos e a saúde das plantas, dentre outras informações relevantes.
O sistema utiliza as assinaturas espectrais para identificar quais são as culturas registradas nas imagens, além de cruzar as informações com outros bancos de dados para visualizar além das áreas dos cooperados.
Para esse projeto, a Integrada utiliza uma constelação de satélites europeus com imagens atualizadas a cada cinco dias. Já a inteligência artificial contribui para aprimorar e acelerar as análises das imagens. O que levava 30 dias, passou a ser feito em 20 minutos.
“Inovação é um dos valores da Cooperativa Integrada, estamos sempre trabalhando para ser protagonistas na busca por soluções, buscar agilidade nas atividades, transformar nossas ideias em soluções e promover mudanças e transformações, e isso tudo representa a ferramenta CIA Field. Ela carrega todos os valores da cooperativa”, argumenta Rafaela.
Resultados
O projeto Áreas Agricultáveis ajuda os agrônomos da cooperativa no dia a dia, tanto no estabelecimento da rotina de processos quanto na manutenção da saúde das lavouras. Agora, os profissionais conseguem avaliar se houve aumento ou diminuição no plantio sem a necessidade de visitação.
“Houve um aumento significativo nas áreas mapeadas pela Cooperativa Integrada. Isso deixa nossas tomadas de decisões, quer seja no âmbito comercial ou estratégico, muito mais assertivas”, relata Rafaela.
De acordo com a equipe que executa o projeto, a Integrada teve uma ampliação significativa de áreas agricultáveis em todas as regionais entre as safras 2019/20 e 2023/24. Na cidade de Astorga/PR, por exemplo, o aumento do território foi de 140% no decorrer desse período.
Em 2023, o projeto Áreas Agricultáveis foi reconhecido na 3ª edição do Oscar da Inovação da UPL. A iniciativa da Integrada ficou com a segunda colocação da premiação, que reconheceu as ideias inovadoras de 10 cooperativas. Rafaela Assuiti comentou sobre a conquista:
“É o reconhecimento ao trabalho que a cooperativa vem desenvolvendo na área da inovação. A Integrada já vem buscando por inovação há alguns anos. Esse prêmio mostra que estamos no caminho certo”.
Próximas iniciativas
A cooperativa está trabalhando continuamente para aprimorar o CIA Field. O próximo passo é integrar as informações obtidas pela ferramenta a um outro aplicativo, o Geofields, que organiza todas as informações das carteiras dos agrônomos, como a situação da lavoura e o faturamento.
“Estamos trabalhando também no monitoramento de geada e na identificação de culturas, para saber o quanto cada cultura representa dentro de uma safra”, encerra Rafaela.
