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Como funcionam as plataformas de negócios no cooperativismo

Entenda como o meio cooperativista está se apropriando dos aspectos positivos das plataformas digitais para gerar novos negócios

COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA21/09/202110 minutos de leitura

A consultoria McKinsey prevê que as plataformas digitais - que hoje detêm um economy share de 2% da receita global - abocanhem uma fatia equivalente a 30% até o ano de 2025. Levando em consideração apenas exemplos de plataformas nacionais, fica fácil entender de onde vem tanto otimismo com relação à ascensão desse tipo de negócio.

A ABO2O (Associação Brasileira Online to Offline), entidade que representa mais de 120 plataformas de comércio eletrônico em todo o país, afirma que houve um aumento de 32% no número de novos clientes nos primeiros meses do ano de 2020 e que, no mesmo período, as vendas do comércio eletrônico chegaram a um crescimento de mais de 48%.

Crescimento exponencial das plataformas

As plataformas da Americanas, do Submarino e do Shoptime, que pertencem ao mesmo grupo, dobraram seu faturamento entre 2019 e 2020. A Magazine Luiza é outra plataforma que registrou um crescimento assombroso na base de clientes cadastrados entre 2019 e 2020, de 14 milhões de usuários para 29 milhões. Acompanhou esses números o crescimento de 57% nas vendas online no mesmo período.

E não é apenas o segmento de varejo que tem testemunhado crescimentos exponenciais em suas plataformas. O setor logístico é outro que tem visto o faturamento migrar para as plataformas digitais. Um dos exemplos é o da plataforma Fretadão, que vivenciou um crescimento expressivo nos 12 meses entre agosto de 2020 e agosto de 2021. A plataforma é desenvolvida por uma startup de tecnologia e faz a gestão de transporte privado por meio de um aplicativo.

De acordo com dados fornecidos pela empresa, a quantidade de passageiros atendidos no período praticamente dobrou e deu um salto de 5.700 pessoas para 10.200 clientes cadastrados na base. A quantidade de linhas de ônibus que estão cadastradas no Fretadão subiu 41% no período, chegando a 563 linhas.

Da mesma maneira, o consumo por meio de aplicativos de delivery também experimentou uma ascensão que extrapolou a mais otimista das previsões. Muito devido às restrições de circulação impostas pelo isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19, em 2020 os gastos nos aplicativos Rappi, iFood e Uber Eats cresceram 149%. O ticket médio dos pedidos realizados por meio dessas plataformas foi de R$ 50,51 para R$ 103,96 no período de apenas seis meses entre março e setembro de 2020.

Como podemos ver, o crescimento do modelo de negócios baseado em plataformas digitais está em franco crescimento, em um movimento que não deve cessar nos próximos anos, conforme previsões da KPMG. Sendo assim, essa é uma tendência que também pode ser aproveitada pelo cooperativismo, configurando uma oportunidade interessante para as cooperativas se posicionarem na economia digital.

Afinal, trata-se de um modelo que propõe uma ruptura não só nos negócios, mas principalmente na cultura e na sociedade como um todo. As plataformas digitais, ao proporcionar uma série de novas facilidades por meio da tecnologia, ajudam a moldar novos comportamentos nos consumidores. E esta é uma mudança ainda mais significativa e que tem potencial para reconfigurar as relações de consumo existentes na sociedade.

E o cooperativismo nesse contexto?

Muito se engana quem pensa que o cooperativismo está assistindo de braços cruzados a esse movimento de crescimento das plataformas digitais.

Antes mesmo de entrar nos exemplos sobre como a onda vem sendo surfada pelo cooperativismo, é interessante dar uns passos para trás e fazer um paralelo entre a proposta que pautou o surgimento de plataformas, como a Uber, e os princípios do cooperativismo.

O conceito fundamental de plataforma afirma o seguinte:

Uma plataforma é uma empresa que viabiliza interações que criam valor entre produtores e consumidores externos, oferecendo infraestrutura para tais interações e estabelecendo condições de funcionamento para elas. O propósito primordial da plataforma é consumar o contato entre usuários e facilitar a troca de bens, serviços ou moedas sociais, propiciando assim a criação de valor para todos os participantes.

E agora vamos relembrar rapidamente os sete princípios do cooperativismo:

Em teoria, uma plataforma digital prega a liberdade para que os motoristas, por exemplo, no caso de um aplicativo, possam aderir ou deixar de fazer parte da plataforma a qualquer momento, o que configura, ainda, autonomia e independência. De forma similar, as plataformas prometem participação econômica e geração de valor para a comunidade.

Ou seja, não podemos dizer que é descabida a comparação entre as propostas de uma plataforma e os princípios que pautaram o surgimento do cooperativismo e que orientam a atuação das cooperativas até hoje.

Entretanto, na prática, não é isso que acontece. Quase que na mesma medida em que trazem um crescimento econômico exponencial e oportunidades de renda para trabalhadores autônomos, as plataformas digitais acabam por criar uma série de distorções nas dinâmicas de mercado. A partir de determinado ponto de domínio de mercado, são as plataformas que passam a regular as condições de trabalho e passam a impor valores aviltantes para a hora de trabalho, com clara deterioração das condições trabalhistas.

Tipos de plataforma

Esse fenômeno adverso decorrente do crescimento das plataformas nos leva ao surgimento de algumas vertentes que pegam emprestados os conceitos do cooperativismo e o modelo de negócio das plataformas.

Dessa forma, podemos concluir que, hoje, existem três modelos bem claros de plataforma:

  1. Plataformas digitais tradicionais, que puxaram esse movimento no mundo todo e seguem crescendo, conforme os números apresentados no começo deste texto. São exemplos deste tipo de plataforma a Amazon, Mercado Livre, Magalu, entre outras.
  2. Cooperativas de plataforma, resultantes do cooperativismo de plataforma - termo cunhado por Trebor Scholz. Elas atuam com base nos princípios do cooperativismo e são negócios digitais tendo plataformas como principal formato de operação. Ou seja, visam aproveitar o potencial de crescimento exponencial desse modelo de negócios sem as características perniciosas que afetam alguns dos mercados explorados por plataformas. Para saber mais sobre cooperativismo de plataforma, baixe o nosso e-book sobre o tema.
  3. Plataformas de negócios dentro do movimento cooperativista. Ou seja, cooperativas tradicionais que estão se apropriando do modelo de negócio de plataforma. Elas contam com a tecnologia das plataformas digitais para fazer a venda, a distribuição de seus produtos ou oferecer um novo serviço para seus cooperados, conforme veremos nos exemplos a seguir.

Plataformas digitais das cooperativas

Algumas cooperativas tradicionais, atentas ao movimento de “plataformização”, já criaram suas próprias plataformas. Para exemplificar, selecionamos 5 cases dentre vários que vêm surgindo nos últimos meses. Confira!

1. Sicredi Conecta

Por meio do programa Inovar Juntos, o Sicredi conseguiu se conectar à Hallo, uma startup que auxiliou a cooperativa na construção e operacionalização de uma plataforma para os cooperados.

A proposta da criação do marketplace era apoiar o desenvolvimento de pequenos empreendedores, promovendo a expansão do cooperativismo por meio da intercooperação. Assim, o marketplace do Sicredi funciona como uma vitrine virtual de produtos e serviços dos seus cooperados.

Como resultados dessa iniciativa baseada em uma plataforma digital, o Sicredi conseguiu com que mais de 20 mil pessoas se cadastrassem e passassem a usar o aplicativo. Com isso, mais de 10 mil anúncios foram publicados e houve um aumento de 48% de novos usuários somente em abril de 2020, resultando em crescimento de mais de 30% nas vendas.

2. Ailos Aproxima

Lançada em abril de 2020, a Ailos Aproxima atua como uma plataforma de anúncios on-line, uma verdadeira vitrine de produtos e serviços que possibilita a realização de conexões entre clientes e empresas.

A proposta é a de servir como uma plataforma de marketplace para os cooperados do sistema, promovendo, assim, a aproximação entre cooperados e clientes como forma de fomentar a atividade econômica de empreendedores locais.

O acesso à plataforma se dá por meio de aplicativo ou website. A divulgação de produtos e serviços é gratuita por parte dos cooperados. Os usuários, cooperados ou não, podem fazer compras ou contratações.

A plataforma da Ailos já apresenta resultados significativos, como o cadastro de mais de 4,5 mil pessoas em um único mês, um volume de interações que extrapola as 1,3 mil mensagens, mais de 2,3 mil produtos e serviços cadastrados e mais de mil vendedores ativos.

3. Sicoob Coopera

O Centro Cooperativo Sicoob (CCS) promoveu a reformulação de seu programa de pontos para incluir novas funcionalidades e, dessa maneira, melhorar a experiência dos seus cooperados. Com isso, além do resgate de pontos, o Sicoob Coopera também passou a disponibilizar aos 5,1 milhões de cooperados um marketplace, com lojas virtuais.

A intenção por trás da reformulação era melhorar a experiência dos usuários no uso de pontos conquistados por meio do programa de fidelidade da cooperativa, o Sicoobcard Prêmios.

Assim, por meio de uma nova plataforma digital a cooperativa foi capaz de oferecer aos seus cooperados, além de um programa de pontos, um marketplace que engloba parceiros que aceitam os pontos acumulados e lojas virtuais para os cooperados que desejam ofertar seus produtos por meio do comércio digital.

4. Supercampo

Com a proposta de ser a maior comunidade do agronegócio no Brasil, a plataforma Supercampo se propõe a ser o elo entre a demanda dos produtores rurais e as ofertas dos principais fornecedores.

Para tanto, o desafio é a construção de uma plataforma tecnológica robusta e capaz de atender às principais demandas das cooperativas e seus cooperados. Ou seja, proporcionar conveniência e facilidade aos cooperados.

Então, além do aspecto tecnológico da plataforma, o Supercampo visa à criação de um verdadeiro ecossistema cooperativista digital, com foco na conexão e integração da cadeia.

5. SmartCoop

Ao longo de dois anos, a Federação Das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande Do Sul (FecoAgro/RS) atuou no desenvolvimento de uma plataforma digital capaz de facilitar a rotina de seus 173 mil produtores associados nas tarefas relacionadas à gestão das propriedades e produção diária.

Por meio da plataforma SmartCoop os associados conseguem acompanhar suas propriedades, negociar e comercializar seus produtos de forma rápida e prática, o que levou a um aumento significativo na competitividade desses negócios.

A expectativa da FecoAgro/RS com a SmartCoop é a de que a plataforma impulsione o salto em eficiência, produtividade e lucratividade no campo, democratizando a tecnologia na agricultura brasileira.

Conclusão

O advento das plataformas digitais promoveu uma verdadeira revolução na maneira como se faz negócio ao redor do mundo. Toda uma sorte de novos serviços foi criada em decorrência das plataformas. E o cooperativismo não ficou de fora disso.

O meio cooperativista foi bastante ágil para detectar pontos prejudiciais do crescimento das plataformas, como os monopólios e a distorção das relações de trabalho. Isso deu origem às plataformas cooperativistas, que colocaram os trabalhadores no centro das relações e decisões acerca da atuação das plataformas.

Além disso, cooperativas tradicionais passaram a se beneficiar das facilidades e novas possibilidades trazidas pela tecnologia e conceito de negócio das plataformas. Com isso, há um enorme potencial de ganho de produtividade e competitividade para cooperativas de diversos ramos de atuação.

Para conhecer outras iniciativas semelhantes às apresentadas neste texto, acesse o Radar da Inovação! E não deixe de conferir a plataforma NegóciosCoop, recém-lançada pelo Sistema OCB que permite a intercooperação, onde as cooperativas podem anunciar seus produtos e serviços, além de também encontrar outras cooperativas que fazem sentido para o seu negócio.

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