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As oportunidades das mudanças climáticas: o caminho para cooperativas sustentáveis

As oportunidades das mudanças climáticas: o caminho para cooperativas sustentáveis

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Com inovação, cooperativismo lidera ações para enfrentar os impactos ambientais, econômicos e sociais das mudanças climáticas

As mudanças climáticas são uma realidade que se impõe e afeta a todos, incluindo as cooperativas. Governos se reúnem frequentemente em eventos como a COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) para discutir medidas contra o aquecimento global, porém o mercado também precisa fazer sua parte.

Algumas iniciativas sustentáveis lideradas por cooperativas já são conhecidas. Projetos de transição energética para fontes renováveis e menos poluentes, utilização de recursos naturais de forma inteligente, reciclagem… Ideias fundamentais e que toda organização deve se planejar para colocar em prática.

Entretanto, diante dos impactos das mudanças climáticas, é possível - e necessário - fazer mais. Segundo relatório do Banco Mundial, o Brasil passará por rápidas mudanças nas condições climáticas. Até o final deste século, a temperatura média do país deve aumentar 1,7°C, o que intensifica eventos climáticos severos e prejudica setores importantes da economia local, como o agronegócio, além de aumentar desigualdades sociais.

Nesse cenário, algumas cooperativas monitoram o desafiador contexto climático e o transformam em terreno fértil para oportunidades. Confira ideias e inovações que podem te inspirar e ajudar no combate ao aquecimento global!

Adesão de cooperados a práticas sustentáveis

Cooperativas devem, por princípio, se preocupar com a comunidade e o meio ambiente. A organização pode se posicionar como sustentável e disseminar missão e valores verdes, mas isso de nada adianta se não for executado na prática.

Os processos só se converterão em resultados se aqueles que fazem o cooperativismo, os associados, estiverem engajados e bem informados sobre a causa das mudanças climáticas.

Agrária aposta na gestão rural sustentável

Pensando nisso, a Cooperativa Agrária Agroindustrial instaurou o Programa Agrária de Gestão Rural (PAGR). O projeto visa elevar o nível das propriedades rurais e da cadeia produtiva como um todo, prestando assistência técnica em prol da implementação de metodologias e boas práticas agrícolas.

A Agrária unificou um projeto próprio de certificação com a SAI Plataform, uma iniciativa de apoio à agricultura sustentável, em 2017. O programa está em constante evolução. De início, envolvia áreas como proteção ambiental, saúde e segurança. Com as melhorias, passou a prestar assistência técnica aos cooperados, colaborando para o objetivo de alcançar produtividade de forma amigável ao planeta.

As propriedades rurais são classificadas em cinco níveis diferentes, à cada qual o grau de exigência aumenta. No nível mais básico, o foco é padronizar processos, instaurar coleta seletiva e um plano de crescimento. Já o último nível, mais complexo, considera critérios como manejo e conservação do solo, avaliação de biodiversidade e proteção de nascentes de rios.

O Programa causou impacto efetivo na Agrária. Após sua implementação, cerca de 84% da área total da cooperativa é considerada sustentável. Seus resultados trouxeram reconhecimento e certificações à cooperativa, como a RTRS (para gerar e comercializar créditos de soja) e a Pró Terra (referência em sustentabilidade ambiental e responsabilidade social).

Adaptações às mudanças climáticas

Uma das consequências do aquecimento global é o aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos. Os ciclos naturais também são alterados, com modificações nas durações de estações do ano e nas precipitações.

Diante de um contexto climático instável, contar com tecnologias meteorológicas assertivas torna-se uma vantagem competitiva, em especial no ramo agropecuário, que sofre fortemente com as mudanças climáticas.

Cocamar se alia à meteorologia

Esse foi o caminho que a paranaense Cocamar tomou, portanto. A cooperativa identificou a necessidade de fornecer ferramentas para seus associados tomarem decisões melhores. Como o mercado apresenta soluções consideradas ineficientes, a alternativa foi inovar, em parceria com prefeituras da região noroeste do Paraná e organizações privadas.

Desse modo, a Cocamar desenvolve uma rede que já conta com 55 estações meteorológicas. Essas estações coletam dados do solo, temperatura, umidade, vento e precipitação, e enviam-nos à parceira Meteoblue, que realiza o processamento de informações com ajuda de uma inteligência artificial.

A rede ainda é pequena, com distâncias de 30 a 50 km entre estações, dificultando previsões mais amplas e atualizações em tempo real. Entretanto, a tecnologia obtém resultados expressivos, com assertividade de 90% em previsão de chuvas. Isso mostra como o investimento para expandir a rede – a meta da Cocamar é chegar a 250 estações – pode beneficiar o produtor rural e a população brasileira como um todo.

Tecnologias meteorológicas são úteis à agropecuária em qualquer contexto, mas têm ainda mais valor  neste momento de crise climática. Os eventos extremos e a mudança no período de estações pode causar prejuízos, e a melhor maneira de atenuá-los é com informação e preparo.

Investimentos verdes

O progresso de iniciativas em prol do meio ambiente exige recursos. O acesso ao capital é essencial para projetos que gerarão receita no futuro, mas demandam investimento para serem executados.

O cooperativismo de crédito pode ser protagonista na fomentação da economia sustentável ao liderar e habilitar iniciativas e programas por meio do financiamento de diversos projetos capazes de enfrentar as mudanças climáticas!

Crédito em prol do clima

Nesse cenário, o Sicredi desenvolveu uma metodologia própria de apoio a iniciativas sustentáveis. O plano é composto por três etapas. A primeira consiste em fornecer condições benéficas para investimentos em melhorias visando safras sustentáveis. A segunda inclui fiscalização, dados de IA e geoespaciais para assegurar que os projetos cumprem as prerrogativas sustentáveis. A terceira etapa é o mapeamento, com intuito de verificar se as propriedades contam com reservas legais excedentes ou áreas de preservação degradadas.

Tecnologias são essenciais em todas as etapas desse plano, e o Sicredi faz investimentos direcionados a essa área. A infraestrutura facilita o trabalho da equipe multidisciplinar ligada ao projeto, composta por geógrafos, engenheiros agrônomos, cientistas da computação, entre outros.

A agricultura familiar é uma atividade econômica que recebe atenção especial do Sicredi. A cooperativa enxerga-a como uma forma de geração de renda, desenvolvimento social e segurança alimentar.

Somente no primeiro mês da safra 2024/25, o Sicredi disponibilizou mais de R$ 1 bilhão à agricultura familiar por meio do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), com produtos que permitem custear o plantio e a manutenção de lavouras , assim como o investimentos em máquinas, implementos, benfeitorias rurais e infraestrutura para energia solar. Além disso, o Sicredi atua com outros produtos de incentivo à economia verde, com programas voltados à diminuição de emissão dos gases do efeito estufa e à transição energética.

Captação de recursos com práticas sustentáveis

Sabemos que é necessário investimento para elaborar iniciativas de impacto ambiental, o que pode travar a execução de ideias verdes. Mas e se a lógica for invertida e a sustentabilidade funcionar como uma forma de atrair recursos? Foi assim que a Cooperativa de São Gabriel do Oeste (Cooasgo) tornou-se pioneira.

Cooasgo: energia contra mudanças climáticas

A preocupação ambiental da cooperativa vem de longa data. Em 2005, a associação identificou que os dejetos de sua produção geravam risco de contaminação ambiental, especialmente do Aquífero Guarani. Tendo isso em vista, firmou parceria com a AgCert e implantou um projeto-piloto de biodigestores de dejetos suínos. O biogás gerado nesse processo químico é utilizado para gerar energia elétrica limpa e sustentável, além de fertilizantes.

O investimento inicial que fomentou esse projeto foi feito por duas empresas que se beneficiaram com os créditos de carbono gerados pela redução da emissão de GEE pela cooperativa. A parceria foi inovadora no cooperativismo, colocando a Cooasgo em posição de pioneirismo no mercado.

Quase duas décadas após o início do projeto, seus impactos ambientais são significativos. A iniciativa de biodigestão gerou 27,8 milhões de quilowatts de energia limpa e sustentável utilizada pelos cooperados. A associação também captou cerca de R$ 3,5 milhões com créditos de carbono, comprovando o plano verde como viável e próspero no aspecto financeiro.

Diferentemente do cenário quase inexplorado em 2005, hoje o mercado de carbono é mais consolidado, embora ainda com muita margem de crescimento. De acordo com a ICC Brasil, representação nacional da International Chamber of Commerce, estima-se que o setor pode gerar receitas de até US$ 100 bilhões até 2030.

Intercooperação por um objetivo maior

Aspecto singular do meio cooperativista, a intercooperação também pode ser um caminho diante do desafiador cenário de crise climática. Para lidar com os efeitos do aquecimento global e combatê-los de forma ativa, cooperativas colombianas se uniram e deram exemplo para todo o mundo.

Sem qualquer imposição governamental, as cooperativas da Colômbia firmaram em 2008 o “Pacto Verde”, comprometendo-se a adotar ações pela preservação ambiental. Foi a partir daí que surgiu, no ano seguinte, o Projeto Cooperación Verde, uma plataforma conjunta com o objetivo de reduzir emissões de carbono.

Pacto com impacto

Além do impacto ecológico, o projeto tem como meta promover desenvolvimento econômico em regiões afetadas por conflitos armados na Colômbia, que sofrem com diversos problemas infraestruturais. Dessa forma, as cooperativas adquiriram propriedades nesses locais e geraram empregos à comunidade.

O que eles faziam? Executar o plantio e o processamento de árvores, promovendo reflorestamento. Cerca de 100 mil postos de trabalho estão ligados, direta ou indiretamente, ao Cooperación Verde.

O projeto apresentou resultados positivos e obteve crescimento de maneira orgânica, fundamental para as cooperativas investirem ainda mais. Novas frentes foram desenvolvidas, como produção de alimentos, de energia elétrica limpa e de madeira legal e certificada.

O impacto ambiental do Cooperación Verde é significativo. Desde seu início em 2009, o projeto foi responsável pelo plantio de 2 milhões de árvores e promoveu a recuperação de 1.800 hectares de vegetação nativa.

O resultado disso foi a captura de 280 mil toneladas de gás carbônico da atmosfera, convertidos em US$ 2,4 milhões através de vendas de créditos de carbono. Além desses números, a iniciativa também estimulou o desenvolvimento econômico de regiões que sofriam para se estabelecer.

Conclusão: cooperativas contra mudanças climáticas

A crise climática representa, provavelmente, o grande desafio do nosso tempo. Ações concretas contra o aquecimento global são necessárias em todos os campos da sociedade. Esse contexto impõe desafios severos, mas os casos mostrados neste texto mostram que é possível transformar a adversidade em um cenário de inovações e iniciativas sustentáveis.

Para entender melhor o papel das cooperativas em meio às mudanças climáticas e o que elas podem fazer pelo planeta, leia este artigo do Cooperação Ambiental!  


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