Cooxupé: mapeamento de solo acessível a pequenos cafeicultores

CONTEXTO
Sediada no Sul de Minas, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé) possui mais de 17 mil cooperados, sendo 85% classificados como pequenos cafeicultores e cafeicultores de economia familiar.
Está presente em mais de 300 municípios em Minas Gerais e São Paulo, e conta com 48 unidades de negócios – matriz, núcleos, filiais e unidades avançadas, além de um escritório em Santos. Sua missão é promover o desenvolvimento sustentável do cooperado, incluindo apoio técnico e tecnologia para o manejo de suas terras.
Nesse contexto, um dos grandes desafios atuais do pequeno produtor é o de implementar a chamada agricultura de precisão. Considerada uma das bases da agricultura digital, ela normalmente está associada a grandes investimentos em tecnologia e qualificação de pessoal para realizar o mapeamento e o monitoramento contínuo das informações sobre o solo e a lavoura.
Além disso, o cooperado também se vê diante da necessidade de adotar práticas de preservação e recuperação das condições do solo visando à sustentabilidade das atividades de plantio em suas propriedades. É o que se define, no meio técnico, como agricultura regenerativa.
Essas são as bases do projeto “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa”, realizado pela Cooxupé em parceria com a startup Quanticum e o IFSuldeMinas (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais).
Seu objetivo é mapear a saúde do solo em fazendas cooperadas com tecnologias de baixo custo e oferecer ao pequeno produtor análises mais ricas para a tomada de decisão sobre a lavoura, visando à preservação de suas condições originais.
DESAFIOS
De acordo com Mário Ferraz de Araújo, gerente de desenvolvimento técnico na Cooxupé, os solos tropicais - especialmente nas regiões de café no Sul de Minas - apresentam uma variedade bastante significativa em sua composição físico-química, biológica e mineralógica (tipologia da argila).
“Às vezes, numa pequena gleba, nós temos uma variação de solos muito grande. E isso se reflete na nutrição da planta, no seu potencial produtivo, na qualidade do produto final e no ataque de pragas e doenças”, explica.
O grande desafio era encontrar uma solução que proporcionasse ao pequeno produtor de café tecnologias e acompanhamento técnico economicamente viáveis para mapear e monitorar extensões de terra menores.
“A agricultura de precisão tradicional é excludente, porque depende de equipamentos caros, mais apropriados para grandes áreas. Por demandarem grandes investimentos, tornam-se acessíveis apenas para o grande produtor de soja e de milho”, afirma Araújo.
DESENVOLVIMENTO
O projeto de agricultura regenerativa surgiu a partir de uma iniciativa conjunta da Cooxupé, do Polo de Inovação Embrapii IFSuldeMinas – especializado em cafeicultura – e da startup Quanticum – que oferece serviços de identificação e mapeamento de nanopartículas naturais do solo para áreas agrícolas.
“[No Polo de Inovação] nós identificamos potenciais projetos de inovação que tragam alguma contribuição para o produtor de café e aportamos recursos de ministérios ligados ao Governo Federal para que a inovação se realize com qualidade”, explica Leandro Carlos Paiva, diretor do Polo de Inovação Embrapii Agroindústria do Café na Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais.
“Nós tínhamos o contato da Quanticum, startup nascida na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, que queria empregar sua tecnologia, e estabelecemos o contato com a Cooxupé, que tinha a necessidade de trabalhar com a agricultura regenerativa de precisão”, conclui Paiva.
O método desenvolvido pela startup, já aplicado em outros Estados e cultivos agrícolas do País, identifica as nanopartículas do solo por meio da tecnologia de mapeamento magnético. Quando essas nanopartículas naturais do solo mudam, muda também o potencial natural do solo para produzir alimentos, o equilíbrio dos micro-organismos, as respostas à aplicação de adubos, a resiliência hídrica e o armazenamento de carbono.
"O mesmo mapa dessas nanopartículas pode ser utilizado para diferentes operações no campo de forma prática, simples e com grande escalabilidade", comenta Diego Siqueira, cientista do solo e Diretor Executivo da Quanticum.
Essa tecnologia permite que o produtor faça a dosagem de fertilização e a aplicação de herbicidas segundo a necessidade real de cada área da lavoura. Esse uso mais racional dos insumos tende a reduzir custos e melhorar a lucratividade da plantação.
“A essência dessa tecnologia é identificar as condições de solo inerentes a cada gleba. E ela não depende de equipamentos. Ela depende dos resultados daquela análise de solo na parte química, na física e na parte relacionada à tipologia de argila. Isso democratiza muito o acesso ao pequeno produtor”, explica Araújo, da Cooxupé.
Com o conhecimento acumulado nas pesquisas, o grupo desenvolveu um projeto – intitulado “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa” – com a aplicação prática das técnicas para participar de um programa de inovação promovido por uma fabricante de fertilizantes e defensivos agrícolas.
RESULTADOS
“Com esse mapeamento, nós conseguimos estabelecer as doses desses produtos de acordo com a tipologia de argila de cada área”, explica Araújo. Assim, são as características de cada solo, definidas pela análise magnética, que determinarão se serão utilizados 4, 6 ou 8 litros por hectare de um determinado inseticida/fungicida, por exemplo.
O projeto apresentado pela Cooxupé, pela IFSuldeMinas e pela Quanticum, foi o vencedor na categoria Inovação do Programa Coopera Mais, da Bayer, recebendo um aporte de R$ 1,5 milhão da multinacional, além de consultoria especializada.
O projeto pretende mapear a saúde do solo em 80 fazendas, totalizando 10 mil hectares de lavouras de café. Ao longo do ano de 2022, as organizações envolvidas dedicaram esforços para alinhamentos de natureza jurídico-tributária para dar prosseguimento ao projeto. Em seguida, veio a fase de coleta de amostras para análise e mapeamento.
“Com esses resultados, nossos técnicos poderão fazer uma inferência muito melhor do que a que ele faz hoje”, conclui Araújo.
PRÓXIMAS INICIATIVAS
Segundo Araújo, o projeto está dividido em cinco fases. A primeira, em andamento, envolve as atividades relacionadas ao projeto em desenvolvimento no âmbito do Programa de Inovação da Bayer.
“Neste momento, estamos fazendo alinhamentos das equipes de Tecnologia da informação das partes envolvidas para viabilizar a troca de dados entre as partes envolvidas no projeto”, explica Araújo. “Também estamos em um processo de capacitação dos técnicos para transferência de tecnologia para os cooperados, para que esta etapa seja concluída em 2023”.
Leandro Carlos Paiva, da Embrapii/IFSuldeMinas, explica ainda que, ao longo de 2023, o banco de dados com as análises de solo serão alimentados e devem estar disponíveis para acesso dos técnicos por meio de um app mobile, com geolocalização que permitirá conhecer as características do solo em tempo real. “Mas as possibilidades de exploração da tecnologia são infinitamente maiores, e vamos desenvolvê-la ao longo dos próximos anos”, conclui.
Contato do responsável:
Mário Ferraz de Araújo, Gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé - marioferraz@cooxupe.com.br
Conteúdo elaborado pela equipe do

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