
Panorama do investimento em pesquisa: Brasil vive cenário de contrastes no apoio à produção científica e acadêmica
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8º Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo reforça apoio do cooperativismo à produção científica
O Brasil vive um cenário de contradições, descreve o panorama dos investimentos em pesquisa, ciência, tecnologia e inovação. Por um lado, há aumentos na atuação das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). Por outro, no entanto, a produção científica está em queda e as universidades estão caindo em rankings internacionais.
Esses contrastes desenham um ambiente complexo para a pesquisa acadêmica e o desenvolvimento científico no país. Entre boas notícias e dados preocupantes, é necessário identificar oportunidades e aprimorar as estruturas que dão sustentação à produção acadêmica que serve como base para a inovação e os avanços tecnológicos.
Neste artigo, vamos compreender mais a fundo qual é o panorama dos investimentos em pesquisa, ciência, tecnologia e inovação no Brasil; compreenderemos o distanciamento que ainda existe entre as universidades e os negócios; e veremos o papel do cooperativismo no apoio à academia. Boa leitura!
Panorama de pesquisa acadêmica e investimento em pesquisa
Em 2023, a produção científica no Brasil caiu 7,2% comparada ao ano anterior. Essa foi a primeira vez que a queda aconteceu por dois anos seguidos. As informações são do relatório da editora científica Elsevier e da Agência Bori. Em 2023, pesquisadores brasileiros publicaram 69.656 artigos científicos.
Essa retração vai na contramão da tendência de crescimento que perdurava desde 1996. Estêvão Gamba, cientista de dados da Agência Bori, atribui a retração à falta de verbas para o financiamento de pesquisas, além da desaceleração de projetos de pesquisa no pós-pandemia.
O relatório aponta que os investimentos públicos federais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil vêm diminuindo desde 2013. A título de comparação, em 2023, a quantidade de dinheiro público destinada para P&D foi 76% do que havia sido aplicado em 2015.
Universidades em retração
O relatório também avaliou o número de artigos nas instituições de ensino e pesquisa que publicaram mais de mil artigos em 2022. Das 31 universidades avaliadas, apenas uma registrou um crescimento marginal de 0,3% na produção científica: a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais.
A falta de investimento em pesquisa também é um fator na queda das universidades brasileiras no ranking internacional de instituições de ensino superior do Centro para Rankings Universitários Mundiais (CWUR). Na edição de 2025 do ranking, 46 das 53 universidades do país listadas no top 2000 tiveram queda.
A entidade que realiza o levantamento argumenta que "o principal fator para o declínio das universidades brasileiras é o desempenho em pesquisa, em meio à intensificada competição global de instituições bem financiadas". A USP, instituição brasileira mais bem colocada (118ª posição), apresentou declínios nos indicadores de qualidade de educação, empregabilidade, qualidade do corpo docente e pesquisa.
"Enquanto vários países estão colocando o desenvolvimento da educação e da ciência no topo de suas agendas, o Brasil está lutando para acompanhar o ritmo. Sem financiamento mais forte e planejamento estratégico, o Brasil corre o risco de ficar ainda mais para trás no cenário acadêmico global em rápida evolução”, argumentou Nadim Mahassen, presidente do CWUR, à Folha de S.Paulo.
As Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) na contramão
Um dos desenvolvimentos mais significativos no panorama do financiamento à CT&I no Brasil é o crescente protagonismo das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) estaduais. Seus orçamentos são, em geral, vinculados a um percentual da receita tributária dos estados, variando de 0,5% a 2%.
Dados recentes indicam que, coletivamente, as FAPs ultrapassaram as agências federais como as maiores investidoras em CT&I no país. Essa mudança aponta para uma reconfiguração estrutural do sistema de fomento com uma abordagem mais descentralizada e um modelo mais federalista.
Esse formato, no entanto, contém o risco de aprofundamento das desigualdades regionais. Estados com economias mais robustas, tendem a se distanciar ainda mais dos estados com menor capacidade de arrecadação, gerando assimetrias.
Inovação e investimento em pesquisa na indústria
O financiamento para inovação na indústria atingiu recorde histórico de R$ 34 bi em 2024. O valor consiste na soma dos recursos aprovados para a inovação industrial por BNDES, FINEP, e Embrapii dentro do programa Nova Indústria Brasil (NIB).
Na Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), as aprovações cresceram 232,8% em relação a 2023. Já na Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), 610 projetos totalizaram R$ 1 bilhão em financiamento para pesquisa e inovação - valor recorde para a instituição, que opera desde 2013.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por sua vez, contava com 11,1 bilhões aprovados para projetos de inovação industrial brasileira até novembro - o mais alto de toda a série histórica.
O gargalo: da universidade para os negócios
O Brasil conta com um arcabouço legal moderno para estimular a colaboração entre universidades e negócios, como a Lei de Inovação de 2004 e o Marco Legal de CT&I de 2016. Apesar disso, os dados apontam que a integração entre academia e mercado ainda representa um gargalo para a inovação.
Um levantamento feito pelo Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) em 2023 revelou que apenas 23,8% dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) de instituições de pesquisa conseguiram firmar novos contratos de licenciamento de tecnologia.
O dado implica em uma baixa taxa de sucesso na construção de elos entre a academia e o mercado. Houve, ainda, o registro de uma queda significativa nas receitas geradas por licenciamentos ativos - de R$ 48 milhões em 2021 para R$ 32 milhões em 2023.
Agronegócio: sucesso na integração para investimentos em pesquisa
Apesar desse cenário, há setores que conseguem realizar com sucesso a integração entre academia e mercado. O ramo agropecuário é o grande exemplo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra como a pesquisa pública pode transformar um setor inteiro da economia e posicionar o país como líder global.
A ciência gerada pela Embrapa foi um pilar fundamental para a revolução da agricultura tropical brasileira, permitindo o desenvolvimento de variedades adaptadas, técnicas de manejo de solo e sistemas de produção que viabilizaram a pujança do agronegócio nacional.
Dados do Balanço Social da Embrapa indicam que em 2024 a instituição teve um lucro social (o impacto positivo da entidade para a sociedade e o meio ambiente, além dos resultados financeiros) de R$ 107,24 bilhões. Ao todo, R$ 102,09 bilhões desse valor são atribuídos diretamente aos benefícios econômicos das tecnologias inovadoras.
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Em nossos cases de inovação, por exemplo, contamos como a Vinícola Aurora reduziu a aplicação de defensivos agrícolas em sua produção. O Sistema CROPS, que monitora os riscos de infecção por míldio nas videiras, foi desenvolvido com apoio da Embrapa.
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Outro caso é o apoio da Embrapa no desenvolvimento da produção cafeeira em Rondônia. Com investimento do Sicoob Credip, a Embrapa teve papel fundamental para dar origem aos cafés especiais Robustas Amazônicos por meio de pesquisas científicas e avanços tecnológicos.
O elo do cooperativismo com a academia
A produção acadêmica é uma das principais fontes de inovação na sociedade, nos negócios e, como não poderia deixar de ser, também no cooperativismo. Ao integrar a produção acadêmica ao seu ecossistema de inovação, o setor cooperativista ganha competitividade, tecnologia e eficiência.
Nesse contexto, o Sistema OCB apoia e incentiva a integração entre academia e cooperativismo, seja como uma relação direta entre universidades e cooperativas em busca de novas soluções; seja pelo desenvolvimento do cooperativismo enquanto ecossistema.
O EBPC (Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo), organizado pelo Sistema OCB, chega à sua oitava edição neste ano com o tema “Ano Internacional das Cooperativas: Integração, Impacto e Perspectivas para o Cooperativismo Brasileiro”.
“A pesquisa tem papel estratégico no desenvolvimento do cooperativismo. Por meio da ciência, conseguimos avançar na gestão, na inovação, na inclusão e na sustentabilidade das cooperativas. É por isso que o EBPC é uma das nossas iniciativas mais importantes: ele conecta saberes, inspira lideranças e projeta o futuro que queremos construir juntos”, afirma o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Os eixos temáticos do 8° EBPC
A proposta do EBPC é estimular pesquisas aplicadas ao setor, ampliando a troca de conhecimentos entre a academia, os sistemas cooperativos e os formuladores de políticas públicas. Neste ano, 32 instituições de ensino superior estão representadas por 53 artigos científicos e 19 trabalhos de iniciação científica ou conclusão de curso.
Os 50 melhores trabalhos receberão apoio do Sistema OCB com passagens aéreas nacionais e hospedagem para um dos autores apresentadores. Além da programação de apresentações, o encontro contará com mesas de debate e painéis temáticos. Os eixos temáticos são:
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Contabilidade, finanças e desempenho
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Educação, inovação e diversidade
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Governança e gestão
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Identidade cooperativa e direito cooperativo
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Impactos e contribuições econômicas, sociais e ambientais
Conclusão
O 8° EBPC acontecerá entre os dias 6 e 8 de outubro em Brasília. As inscrições seguirão abertas até o dia 3 de outubro por meio do formulário disponível no site do evento. Confira também a programação prevista para cada dia de encontro.
O Sistema OCB é apoiador da relação entre cooperativismo e academia em prol da produção de conhecimento científico. A fim de estimular as contribuições acadêmicas sobre o coop, a plataforma CapacitaCoop lançou a trilha de aprendizagem Programa Pesquisa Científica do Cooperativismo - clique e participe!
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