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Tendências e inovações: 7 temas que foram destaque no festival SXSW

Evento apresenta visões antagônicas sobre o metaverso e discute o futuro de várias áreas, como saúde, agronegócio, tecnologia e muito mais. Confira! 

TENDÊNCIAS31/03/202211 minutos de leitura

O festival South by Southwest, conhecido como SXSW, aconteceu entre os dias 11 e 20 de março em Austin, no Texas. Com centenas de painéis, palestras e debates, o SXSW é considerado o maior festival de inovação e tecnologia do mundo, servindo de palco para as mais diversas visões de mundo. E em 2022 não foi diferente.

O ponto alto da edição foram as reflexões sobre as tendências para o futuro da internet, desde a febre dos NFTs até pontos de vista opostos sobre o metaverso. Mas não ficou por aí: também teve espaço para inovação em gestão e marketing, sustentabilidade, saúde e muito mais.

Após a edição de 2020 ter sido cancelada e a de 2021 ter sido realizada virtualmente, o SXSW 2022 voltou às salas de conferência, adotando um formato híbrido. A volta do público coincidiu com um festival cheio de ideias e previsões quanto ao impacto da transformação digital e as relações entre pessoas e tecnologias.

Reunimos, então, 7 tendências destacadas no South By Southwest. Confira a seguir!

1. A internet do futuro: Web3 e Metaverso

A palestra da futuróloga Amy Webb já é tradicional no SXSW, onde ela apresenta as previsões elaboradas pelo Future Today Institute, o qual lidera. Na apresentação, Amy discorreu sobre a Web3, que tem como base a descentralização das redes e o foco nas interações entre os próprios usuários.

A expressão mais evidente da Web3 é o Metaverso, um mundo digital de convivência, onde pessoas interagem entre si e com outros objetos por meio de avatares. Segundo Amy, a convivência em espaços virtuais vai fazer com que as pessoas criem versões adaptadas de si mesmas.

Em um cenário otimista, esse contexto vai empoderar os usuários no controle de seus dados pessoais. Mas no pessimista, que ele acredita ser o mais provável, "isso levará à fragmentação e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e quem ela projeta ser em várias plataformas online”, analisa.

Pontos de vista

Não foi só Amy que falou do metaverso: o assunto foi alvo de visões diversas - e até opostas - dos palestrantes. Na visão do professor Scott Galloway, em seu painel de “previsões provocativas”, o metaverso não será uma experiência visual.

Ele acredita que um aparelho auditivo é capaz de criar muito mais engajamento do que o multiverso habitado por avatares, pois o contato pela voz é mais íntimo. Outro ponto é que os fones já são parte do cotidiano das pessoas.

Diante desse prisma, Galloway aposta no fracasso do Oculus, dispositivo criado pela Meta - nova alcunha do Facebook - para a interação no universo virtual. Pesquisas recentes apontam que 40% dos usuários sentem náuseas ao usar o aparelho.

Em defesa do metaverso

Mark Zuckerberg, por outro lado, é o grande responsável por colocar o metaverso em evidência, tendo até mudado o nome do Facebook para Meta. Ele defende que o metaverso será “a próxima evolução da forma que consumimos mídia e momentos on-line".

A Meta tomou a dianteira nas discussões sobre o metaverso, atraindo investimento de diversas outras instituições ao conceito. Zuckerberg justifica a empolgação com o metaverso alegando que ele será o próximo passo das experiências sociais na internet:

“Uma das tendências que tenho visto desde que comecei, em 2004, foi que as pessoas sempre estão basicamente procurando compartilhar suas experiências e vivenciar as experiências de outros da maneira mais rica possível”, afirma.

2. Descentralização da economia digital: NFTs e DAOs

A popularização dos NFTs é outra tendência que esteve presente na fala de Zuckerberg e foi bastante popular no evento. Os tokens não-fungíveis são uma espécie de certificado de bens digitais registrados em blockchain.

O plano de Zuckerberg é levar os NFTs para seu metaverso. A ideia é que as roupas e pertences dos avatares no mundo virtual sejam registrados no formato de NFT. No curto prazo, porém, os planos são mais modestos: integrar os NFTs à outra rede social de seu grupo, o Instagram.

O evento também serviu de palco para a apresentação de aplicações do NFT no mundo das artes. Na SXSW NFT Gallery, por exemplo, 64 artistas exibiram suas obras de arte digitais.

Organizações autônomas

Os debates sobre economia descentralizada também abordaram as DAOs, que são organizações autônomas descentralizadas. Elas são instituições que operam sem intervenção humana, com as tarefas descritas em código de programação.

No painel que tratou do assunto, a estrutura hierárquica das DAOs foi destacada. Cooper Turley, estrategista especializado em projetos descentralizados, descreveu-as como “uma grande sala de chat com uma conta bancária conjunta”.

As DAOs emergem como uma nova forma de financiar projetos e comunidades - e, inclusive, possuem uma relação direta com o cooperativismo.

3. Negócios com foco em pessoas

Em sua palestra, o consultor de tendências Rohit Bhargava expôs uma série de lições não-óbvias envolvendo gestão e disrupção. A linha mestra das ideias de Bhargava é que o foco da inovação deve estar nas pessoas, e não na tecnologia.

Algumas das 10 lições de Bhargava são:

  • Modo humano: as pessoas querem vivenciar experiências humanas e empáticas através do contato pessoal. Na jornada de consumo, esse processo passa pela percepção que as pessoas têm das marcas. Elas precisam ser mais inclusivas com seus produtos e serviços.
  • Desgenerização: a tendência é remover classificações desnecessárias de gênero em produtos, como roupas ou brinquedos infantis. "Cada vez mais licenças e passaportes estão permitindo um X no campo de identificação de gênero", Bhargava exemplifica.
  • Riqueza de atenção: a atenção das pessoas é um recurso escasso, precioso e acirradamente disputado pelas marcas, que devem oferecer experiências que valham a atenção do público.
  • Lucro com propósito: marcas devem encampar causas, se posicionando conforme seus valores e sua cultura.  

4. Marcas descentralizadas

O conceito de headless brands - marcas sem cabeça - se coloca como contraponto às técnicas tradicionais de branding, em que a identidade das marcas é construída de forma planejada. Derivadas das dinâmicas das redes sociais, as marcas sem cabeça são desenvolvidas a partir de uma comunidade a seu redor.

No painel em que o tema foi discutido, Francesco D’Orazio, CEO da Pulsar, afirmou que “ao contrário da audiência, numa comunidade há interação entre as pessoas. Também há paixão”.

Para Nathali Brähler, chefe de marketing da Cartesi, essa é uma realidade inescapável do marketing digital. “Muitos executivos de marketing não se sentem confortáveis com esse controle compartilhado, é compreensível. Mas, gostem ou não, isso já está acontecendo, todos os dias”, argumentou.

O Bitcoin é considerado a primeira marca sem cabeça. Principal criptomoeda do mercado, o Bitcoin não teve sua identidade intencionalmente construída por uma equipe de marketing. Fora o nome e logotipo, toda a identidade do Bitcoin foi construída por sua comunidade de entusiastas, representando ideias e valores coletivos e descentralizados. 

5. O futuro da comida

O agronegócio também é uma força poderosa para empurrar o avanço da tecnologia. Jahmy Hindman, diretor de tecnologia na John Deere, apontou a importância da inovação para aumentar a produtividade no campo, a fim de alimentar as 9,7 bilhões de pessoas estimadas no mundo em 2050.

Segundo ele, ferramentas como inteligência artificial e robótica podem gerar ganhos de eficiência para os produtores rurais. A tendência é que as fazendas tenham uma operação cada vez mais autônoma.

Substitutivos

As dificuldades econômicas impostas pela pandemia também trouxeram uma nova ótica para tendências que já existiam, como substitutos alimentares. É o que acredita Robert Nathan Allen, diretor-executivo da Little Herds, organização que promove os benefícios, tanto nutricionais quanto ambientais, do consumo de insetos.

“A pandemia mudou o foco de ‘alimentar pessoas com insetos’ para ‘alimentar pessoas e ponto final’”, declarou Allen. O grande desafio para os próximos anos se apresenta na inclusão de novas fontes de proteína na dieta das pessoas, além de carne e leite.

6. Sustentabilidade ainda mais em foco

O escritor de ficção científica Neal Stephenson é o responsável pela criação do termo “metaverso”. Com um foco tão grande do SXSW sobre o assunto, esperava-se que ele abordasse o tema. Contudo, subvertendo as expectativas, Stephenson dedicou sua apresentação ao futuro da sustentabilidade.

Stephenson faz reflexões sobre o futuro através de seus livros. A ficção pode ser uma ferramenta poderosa para antecipar tendências. Seu mais novo romance, Termination Shock, aborda o impacto das mudanças climáticas. “O livro fala sobre fazer algo em um curto prazo, como colocar um band aid como forma de solução temporária, que é a engenharia geosolar”, revela.

Para o ficcionista, o problema do aquecimento global só poderá ser resolvido por meio da extração de grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera. O enfrentamento contra as mudanças no clima é extremamente complexo e pode representar o maior desafio de engenharia na história da humanidade, argumenta.

Incentivos econômicos

Atitudes em prol de um mundo mais sustentável devem ser impulsionadas por razões econômicas.

“Há muitos bilionários dos quais nunca ouvimos falar e muitos deles estão em partes do mundo que sofrerão os efeitos das mudanças climáticas muito mais severamente do que os Estados Unidos, em lugares onde o aumento do nível do mar vai ser devastador”, justifica.

A consequência será a destinação de grandes talentos humanos para a tarefa. Stephenson enxerga um movimento incipiente de investidores de tecnologia apoiando iniciativas para a neutralização de carbono.

7. Inovações na saúde

O mercado de serviços de saúde passa por um processo de inovação acelerado pela pandemia. A telemedicina, com atendimentos feitos de forma remota, ganhou força com as políticas de isolamento. Essa dinâmica incentivou a idealização de novas formas de atendimento, diagnóstico e tratamentos.

O SXSW foi palco para o debate sobre algumas delas:

  • Medicina holográfica: a startup Proto apresentou uma plataforma de interação remota entre paciente e médico chamada Epic, através da criação de um holograma. No momento, a tecnologia só está sendo usada para fins educacionais. No entanto, escolas médicas enxergam potencial na tecnologia para o diagnóstico do Mal de Parkinson.
  • Cura pelo som: pesquisadores estão explorando o uso de espaços de imersão auditiva para aliviar o cansaço e o estresse de trabalhadores da saúde. As evidências apontam que o som é uma ferramenta eficaz, embora ainda muito pouco utilizada no campo da medicina terapêutica, com potencial para crescer nos próximos anos.
  • Diagnóstico com dados comportamentais: especialistas prevêem que, no futuro, aparelhos como celulares e carros serão capazes de notar sintomas iniciais de doenças a partir de mudanças sutis no comportamento. Já existem ferramentas em desenvolvimento que denunciam sinais de Alzheimer através da fala.
  • Tratamentos psicodélicos: embora ainda enfrentem resistência, substâncias psicodélicas se mostram úteis em tratamentos psiquiátricos. Promissor, o mercado dessas substâncias para fins medicinais começou a atrair investimentos pesados.

Saúde em casa

A população idosa está crescendo e, cada vez mais, as pessoas preferem passar a velhice em casa. Isso abre uma oportunidade para que a tecnologia cumpra o papel de monitorar indicadores de saúde. “A tecnologia está migrando para a saúde, e a saúde está indo para as casas”, refletiu Débora Di Sanzio, presidente do braço de saúde da rede varejista Best Buy.

A Samsung é mais uma gigante que vê potencial nesse mercado, através de seus produtos vestíveis, como relógios inteligentes. “Com eles, podemos coletar dados sobre composição corporal, detectar arritmias cardíacas e problemas no sono”, declarou Hon Park, executivo da empresa coreana.

Na mesma seara, Scott Galloway prevê que, no futuro, a Amazon será o grande nome dos cuidados com a saúde, graças à integração de suas tecnologias inteligentes. Ele crê que a Amazon vai se tornar a maior companhia de healthcare do mundo. 

Conclusão

Em meio a um leque tão amplo de ideias, áreas e tecnologias exploradas no South by Southwest, algumas tendências e conceitos se mostram poderosas e dominantes. Se o destaque da edição de 2022 foram as diferentes visões de metaverso, assuntos como a importância dos dados e da inteligência artificial seguem vitais.

Rodrigo Carvalho, diretor da agência de inteligência em dados iD\TBWA, avalia que o SXSW 2022 “trouxe à mesa reflexões propositivas sobre o papel da inovação na luta pelos direitos básicos e justiça social, ao mesmo tempo em que projetou os avanços tecnológicos que farão a diferença no desenvolvimento sustentável”.

A transformação digital afeta a integração com pessoas e tecnologias, fazendo com que a inovação constante seja mais importante do que nunca. E o evento trouxe reflexões importantes para as cooperativas, desde ideias mais generalistas de tecnologia e gestão, quanto tendências setoriais para coops agro ou de saúde ficarem de olho.

A pluralidade de ideias presentes no SXSW deixa em evidência que tem muita gente pensando sobre os desafios do futuro e os rumos da tecnologia. A inovação passa pela construção coletiva de ideias, e o SXSW segue sendo um importante palco para que essas ideias sejam expostas e discutidas.

Nesse sentido, aprenda agora a mapear tendências para planejar o futuro da sua cooperativa!

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