Metaverso: o que é, quais suas aplicações e perspectivas para o futuro da economia digital
Atraindo volumosos investimentos, o metaverso desponta como o futuro das relações no meio digital. Veja como suas possibilidades estão sendo exploradas e o que esperar dele no futuro
“Metaverso” é uma palavra nova no vocabulário das pessoas. Dados do Google Trends apontam que, no Brasil, pesquisas sobre o termo só foram ganhar tração a partir de outubro de 2021. Contudo, ele já emerge como uma das principais tendências de tecnologia para o futuro.
O ganho de notoriedade e explosão de procura sobre o conceito aconteceu após o Facebook anunciar que mudaria seu nome para Meta e apostaria na construção de seu próprio metaverso. Desde então, diversas outras companhias passaram a apostar no futuro desta ideia que, por enquanto, ainda está engatinhando.
O potencial, entretanto, pode ser enorme. Relatório da consultoria Gartner prevê que 2 bilhões de pessoas vão estar no metaverso até 2026. Nesse prazo, 25% das pessoas vão ficar ao menos uma hora diária no mundo virtual. Este é o fator que deve colocar o metaverso no radar das cooperativas - afinal, é necessário estar onde as pessoas estão.
Neste texto, vamos entender o que é o metaverso, quais são suas origens, oportunidades e desafios. Também iremos explorar as aplicações do metaverso e indicar como as cooperativas poderão se aproveitar desse conceito. Boa leitura!
Afinal, o que é metaverso?
A definição do conceito de metaverso ainda está em construção, e fontes distintas divergem sobre quais circunstâncias justificam a aplicação do termo. A compreensão mais comum é a de um universo digital onde pessoas, por meio de seus avatares, interagem entre si e com outros objetos.
Segundo a Meta, o metaverso pode ser descrito como “um conjunto de espaços virtuais que é possível criar e explorar junto de outras pessoas que não estão no mesmo espaço físico”.
Scott Galloway, professor da New York University afirmou, em sua participação no SXSW 2022, que “o metaverso é muito mais sobre ouvir e menos sobre ver. Neste sentido, a Apple está muito avançada, com seus devices funcionais de áudio, do que o Meta que vem surfando no conceito”.
A evolução dos ambientes virtuais
O designer de jogos e teórico Raph Koster vai mais a fundo na definição, apontando quais são as diferenças entre mundos on-line, multiversos e metaverso:
- Mundos on-line: ambientes digitais de socialização focados em um determinado tema. Eles podem ir de fóruns baseados unicamente em texto a ambientes tridimensionais detalhados.
- Multiverso: interconexão entre diversos mundos on-line, que não precisam necessariamente compartilhar a mesma temática ou aplicar as mesmas regras de convivência, em uma rede.
- Metaverso: evolução do multiverso, possuindo maior integração com o mundo real. É acessado através de ferramentas de realidade aumentada ou virtual. Nele, se torna possível comprar produtos em lojas virtuais que serão entregues na vida real, por exemplo.
- Os três conceitos estão conectados, explicada Koster. Cada um representa o amadurecimento do estágio anterior, incrementando funcionalidades e demandando avanços tecnológicos. A partir dessas definições, compreende-se que nem todos os ambientes virtuais de convivência entre pessoas se enquadram como metaverso.
Uma rede interconectada
A lógica de Koster aposta que o metaverso não será uma plataforma única, mas sim uma rede interligada. Embora o serviço Horizon, da Meta, seja a iteração mais proeminente do metaverso no momento, seu amadurecimento passa pela conexão de distintos serviços.
Mark Zuckerberg, fundador e presidente da Meta, corrobora o ponto de vista. Segundo ele, o metaverso não vai ser construído por “uma única empresa”. Outras companhias estão tomando a dianteira junto com a Meta no desenvolvimento do ecossistema:
- Microsoft: a gigante da tecnologia anunciou a plataforma Mesh, que integra elementos de realidade virtual e aumentada a serviços de comunicação. Sua primeira aplicação se dará pela integração ao Teams, solução da companhia para a realização de reuniões remotas.
- Roblox: jogo on-line para computadores muito popular entre as crianças, o Roblox funciona como uma plataforma em que seus usuários podem criar e disponibilizar seus próprios games. Aproveitando-se da interatividade dos jogadores, o Roblox anunciou sua entrada na disputa pelo metaverso. A Nike já aderiu ao serviço e lançou seu território, o Nikeland.
- NVIDIA: a empresa de desenvolvimento tecnológico criou a ferramenta Omniverse, que promete a criação de um mundo virtual povoado por lojas, casas, fábricas e museus, por exemplo. O objetivo do Omniverse é a interligação de diversos mundos em um só lugar.
A segunda vida
O jogo Second Life, de grande sucesso na primeira década deste século, despontou como a primeira grande experiência de um metaverso. Nele, pessoas representadas por avatares interagiam entre si e com os ambientes de seu mundo virtual.
Marcas importantes, como o Itaú, ingressaram no jogo. Eventualmente, a popularidade do Second Life foi minada por barreiras tecnológicas e queda de interesse do público. A trajetória do jogo pode apresentar alguns dos desafios para a implementação do metaverso.
Um conceito originado na ficção
O termo metaverso resulta da conjunção entre o prefixo grego “meta”, que significa “além” com o substantivo “universo”. A palavra foi inaugurada pelo escritor de ficção científica Neal Stephenson em seu livro Snow Crash, publicado em 1992.
Na obra, que se passa em um cenário futurista e distópico, o protagonista é um motorista e entregador de pizza no mundo físico que se torna poderoso dentro do universo virtual. No livro, o metaverso é uma espécie de evolução da internet, em que as pessoas interagem como se estivessem em um ambiente real.
Enquanto ainda dá seus primeiros passos na prática, o metaverso já foi representado por outras obras de ficção, como:
- Matrix: o clássico filme de 1999 encena um mundo dominado por máquinas que mantêm os humanos presos a um universo digital utópico enquanto o mundo real definha. No decorrer da película, um programador descobre a situação e se rebela. Matrix antecipa a discussão ética entre viver uma realidade imperfeita ou em um mundo ideal simulado.
- Jogador N° 1: representação mais contemporânea e especulativa do metaverso, o livro de 2011 que virou filme representa o metaverso como uma forma de escapismo de uma realidade difícil. Lá, o metaverso é acessado por óculos de realidade virtual.
- Black Mirror: o episódio “San Junipero” da terceira temporada da série da Netflix conta uma história que se passa em uma cidade de realidade virtual. O lugar é habitado por idosos que estão em seus últimos dias e que podem escolher se ficam por lá após a morte.
- Além do metaverso, a ficção é uma ferramenta poderosa para antecipar tendências sociais e tecnológicas. Para entender como essa face da ficção pode ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços, veja aqui o post que fizemos sobre o assunto.
Marcas apostam no metaverso
Mesmo que o metaverso ainda esteja dando seus passos iniciais, gigantes de diversos setores já estão investindo alto para se antecipar ao metaverso. O Facebook se jogou de cabeça e muita gente foi atrás. A Bloomberg Intelligence Unit estima que o metaverso deve movimentar 88 milhões de dólares até 2024.
A guinada da empresa se dá em um contexto em que seu carro chefe, o Facebook, apresentou a primeira redução no número de usuários ativos desde 2004. Assim, o metaverso surge como uma forma de pavimentar novos caminhos e tomar a dianteira de uma nova tendência social.
A Meta, inclusive, é protagonista no mercado de desenvolvimento de óculos de realidade virtual, tecnologia fundamental para o ingresso no metaverso. O dispositivo, chamado de Oculus, passará por uma reforma de marca e passará a ser denominado Meta Quest.
Marketplace 4.0
Em seu estágio incipiente, o uso mais dominante do metaverso por parte das companhias se dá na área de marketing e vendas. A rede de fast food McDonald’s, por exemplo, pediu o registro de patente descrevendo um mecanismo de venda virtual de alimentos e bebidas para entrega a domicílio.
No ramo da moda, provadores de realidade aumentada foram testados pela Gucci. A ideia é que usuários possam experimentar peças de roupa e acessórios digitalmente, conferindo o resultado para decidir fazer a compra online. A Dolce & Gabbana foi além e promoveu um desfile de moda imersivo na plataforma Decentraland.
No Brasil, a operadora de telefonia TIM inaugurou sua loja no metaverso. O empreendimento toma como base uma das lojas reais da TIM e visa reforçar sua estratégia de omnicanalidade, integrando real e virtual na estratégia de vendas.
Nos céus digitais
A Boeing, histórica fabricante de aviões, anunciou que pretende construir seu próximo modelo utilizando o metaverso. A finalidade é implementar projetos de engenharia tridimensionais que serão trabalhados remotamente por engenheiros através de óculos de realidade virtual.
A medida faz parte de uma estratégia de unificar operações em um único ecossistema, integrando design, produção e serviços aéreos. A fabricante vive uma crise de desconfiança após erros de projeto que culminaram na queda de dois aviões 737 MAX.
O metaverso surge como alicerce para que a companhia possa desenvolver réplicas virtuais de seus aviões em 3D - chamados de gêmeos digitais. No mundo virtual, o funcionamento dos aviões será analisado virtualmente, antecipando problemas reais.
Arquibancadas poligonais
Eventos também podem se beneficiar do metaverso. A japonesa Sony e o clube de futebol inglês Manchester City firmaram uma parceria para levar o estádio da equipe ao universo digital. Assim, torcedores do mundo todo podem vivenciar a experiência de ver uma partida in loco.
A desenvolvedora de jogos Epic Games está explorando as possibilidades do metaverso no mundo da música por meio de seu produto mais famoso, o jogo on-line Fortnite. O game já foi palco para shows de artistas populares entre os jovens, seu público-alvo. A apresentação do rapper Travis Scott amealhou 12 milhões de jogadores.
Como cooperativas podem aproveitar o futuro do metaverso
Inovações, como o metaverso, trazem consigo um leque de oportunidades e outro de desafios. Mesmo ainda incipiente, antecipar as suas possibilidades permite um melhor planejamento para a presença na plataforma quando ela estiver amadurecendo. Essas são algumas das atividades que podem ser executadas dentro do metaverso:
Marketing e vendas
Até aqui, como já explicamos, as áreas de marketing e vendas são as que mais se beneficiaram das atuais tecnologias que prometem universos virtuais. Dentre as maneiras em que elas podem ser praticadas pelas cooperativas, estão:
- Showroom: criar um espaço de exibição virtual de seus produtos reduz custos com a estrutura física de uma instalação demonstrativa e aumenta o número de potenciais visitantes. Sem fatores impeditivos à visita de um estande, como distância, trânsito, tempo de deslocamento e capacidade de lotação, os showrooms ficam mais eficientes e atrativos. A Roca Brasil, que atua no ramo de cerâmica, já adotou o metaverso para apresentar seus lançamentos.
- Marketing de experiência: imagine poder fazer um test drive sem sair de casa, em um carro virtual idêntico ao real. Para quem vende, isso significa menos custos com a depreciação dos veículos e possíveis acidentes, além de aumentar o universo de consumidores potenciais que podem ter a experiência. Essa lógica pode ser aplicada para diversos produtos.
Trabalho e reuniões
A instauração de ambientes virtuais também cria uma gama de possibilidades sobre a execução dos trabalhos pelos colaboradores. Cooperativas, com sua natureza participativa dos associados, podem se beneficiar dessa faceta do metaverso.
- Reuniões: a integração que a Microsoft está fazendo entre o Mesh e o Teams, como vimos acima, representa um novo grau de interatividade nas reuniões remotas. Bill Gates, fundador da companhia, diz que até 2024 todas as reuniões serão no metaverso.
- Assembleias: mais especificamente em relação às cooperativas, o metaverso surge como uma sede para os encontros de cooperados que definem os rumos da instituição. A participação remota pode culminar em assembleias mais acessíveis e menos custosas, sem prejuízos para a possibilidade de participação dos cooperados.
- Desenvolvimento de projetos: como vimos no caso da Boeing, alguns projetos demandam a atuação de diversas áreas e equipes de uma companhia, e não é diferente nas cooperativas. Com os gêmeos digitais, times com expertise distintas e alocados em locais esparsos podem atuar de forma sincronizada.
- Recrutamento: a Companhia de Estágios já investiu R$ 500 mil reais na primeira fase de seu projeto para realizar entrevistas de emprego no Horizon, plataforma da Meta. Processos de seleção já estão sendo feitos no metaverso.
- Enquanto a previsão de Bill Gates não se realiza, veja como realizar reuniões mais ágeis e práticas nesse material que desenvolvemos como foco em cooperativismo.
Novas profissões no metaverso
Um estudo da empresa de tecnologia Lenovo aponta que 44% dos funcionários adotariam o metaverso caso enxerguem que ele possa oferecer benefícios e produtividade ao ambiente profissional.
Concomitante a isso, o metaverso também aponta para novas tendências para o mercado de trabalho. O portal da revista Época Negócios enumerou uma lista de nove profissões que serão incentivadas pelo metaverso que as cooperativas já podem ficar de olho:
- Cientista de pesquisa do metaverso
- Estrategista de metaverso
- Desenvolvedor de ecossistemas
- Gerente de segurança do metaverso
- Construtor de hardware do metaverso
- Storyteller do metaverso
- Construtor de mundos
- Especialista em bloqueio de anúncios
- Especialista em segurança cibernética do metaverso
Os gargalos do metaverso
Nem tudo é bom presságio para o avanço do metaverso. Sua massificação ainda está contida em uma série de amarras, que freiam sua praticabilidade em grande escala.
Fabricante de chips e semicondutores, a Intel alerta que a visão de metaverso propagada pela Meta depende de um poder de processamento e armazenamento ainda inexistente. Um metaverso acessível em tempo real para bilhões de humanos demandaria um aumento de mil vezes a eficiência computacional atual.
A velocidade da conexão à internet é outra barreira para a construção do metaverso. Um mundo digital complexo requer uma latência quase instantânea de forma coordenada entre os usuários, sob o risco de desconexões e instabilidades. A popularização da internet de quinta geração, o 5G promete revigorar este ponto, mas ainda é uma incógnita se ela será suficiente.
Unindo tecnologia a fatores sociais, há ainda escassez e alto custo dos materiais necessários para a integração ao metaverso, como óculos de realidade virtual e computadores de alto poder de processamento. Sem barateamento dos aparelhos, o metaverso pode se tornar um espaço de exclusão social.
Ceticismo
Ainda que muitas instituições tenham mostrado empolgação e acenado com grandes investimentos, nem todo mundo compartilha da mesma fé sobre o futuro do metaverso.
Apesar de a indústria de videogames se projetar como a protagonista neste estágio inicial de adoção do metaverso, seu sucesso não é unanimidade. A gigante japonesa Nintendo, conhecida por ser tradicionalista e conservadora nos negócios, não demonstrou muito interesse em adotar a tendência, ao menos por enquanto.
Ainda no ramo dos jogos, a Take Two, dona de diversas franquias populares como GTA e NBA 2K, também expressa ceticismo. O CEO da companhia, Strauss Zelnick, acredita que a visão da Meta não corresponde aos desejos dos consumidores.
ConclusãoDe fato, em seu atual estado, o metaverso levanta mais questões do que apresenta soluções. Enquanto a transformação digital se apresenta como inevitável, o metaverso ainda precisa convencer que é capaz de atingir o potencial enxergado por muita gente.
O estudo Into the Metaverse, elaborado pela Wunderman Thompson, já indica que, para 76% das pessoas, as tarefas diárias dependem da tecnologia. O metaverso germina desse contexto conectado que coloca a tecnologia no centro de nossas vidas. Contudo, ele tem limites tecnológicos e sociais. E nem toda tendência vem pra ficar.
Sendo apoiado por gigantes de diversos segmentos importantes da economia, o metaverso sinaliza como uma fatia importante para guiar os próximos anos do desenvolvimento tecnológico.
De qualquer forma, inovar e agregar novas tecnologias é vital. Pensando nisso, o InovaCoop elaborou um curso on-line gratuito para que as cooperativas entendam como enxergar a hora de mudar e implementar novas soluções tecnológicas.
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