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O que são as Cooptechs, cooperativas que protagonizam a economia digital

Termo está relacionado ao movimento de startups e ao surgimento de cooperativas digitais

COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA11/01/20248 minutos de leitura

Nos últimos anos, as grandes organizações, incluindo as grandes cooperativas, buscaram formas de reinventar sua cultura para se tornarem mais inovadoras. Isso acontece pois, segundo a Endeavor, a inovação é um grande diferencial num mercado com cada vez mais competitividade e necessidade de novos produtos e serviços.

Junto a essas mudanças e com uma inspiração nas startups, organizações cooperativas focadas na inovação e no digital foram criadas e intituladas cooptechs. Mas, antes de tudo, qual é a definição para determinar o que é uma startup?

A StartSe, plataforma de conhecimento focada em negócios, afirma que muitas companhias tradicionais optam por contratar startups para incorporar elementos da cultura ágil. Essa mudança faz com que as organizações enfrentem menos empecilhos burocráticos, coloquem usuários e clientes em primeiro lugar e promovam sistemas mais colaborativos.

Cooptechs: cooperativas na era digital

Mas, as novidades também se estendem às startups. Além de contratá-las, muitas empresas ajudam a criar e a acelerar milhares de organizações jovens.

Segundo o relatório “Inovação em Movimento: um mapa sobre as startups no Brasil em 2023”, da Cortex, há, atualmente, 12.040 startups ativas no Brasil. Esse número representa mais de 50% das organizações na América Latina, de acordo com o “Panorama Tech na América Latina 2023” da Distrito.

Está fazendo mais sentido? Então continue a leitura para entender mais sobre o universo da inovação e das cooptechs!

O que é uma startup?

Para responder a essa pergunta, podemos usar a definição da própria StartSe: uma startup é uma empresa jovem e com um modelo de negócio repetível e escalável. Além disso, em geral, startups têm seu negócio baseado em tecnologia e, por isso, é comum ganharem o sufixo “tech”.

O resultado é a junção do segmento no qual a startup atua com o termo “tech”. Daí surgiram movimentos diversos, como: fintechs (setor financeiro), construtechs (construção civil), insurtechs (seguros), edtechs (educação), HRtechs (recursos humanos), martechs (marketing), lawtechs (jurídico), entre outros.

Modelo de negócios

Independentemente de qual seja o segmento de atuação da startup, o modelo de negócio de organizações desse tipo é parecido. Isso porque elas são baseadas em experimentação e atacam dores específicas.

Então, é comum ver fintechs que se dedicam, por exemplo, a fazer apenas emissão de boletos. Assim, essas empresas conseguem alcançar a excelência nesse tipo de operação, reduzindo custos e otimizando a experiência do cliente.

Pensando nisso, uma parceria entre as startups e as cooperativas parece uma boa ideia, não é? Isso porque, as organizações podem contar com a ajuda de negócios que têm focos específicos para otimizar seus trabalhos. Além disso, ambos vão alavancar os processos de inovação e tecnologia.

Em alguns casos, as startups tem como proposta a atuação como plataforma. Dessa maneira, promovem a integração de uma determinada cadeia por meio da tecnologia. É o que faz, por exemplo, o AirBNB.

De forma bastante simplificada, esta organização oferece o arcabouço tecnológico para que proprietários de imóveis e locatários em potencial se conectem. Em troca, ela fica com uma porcentagem da transação realizada entre as partes.

Você pode estar se perguntando como todas essas inovações se conectam com as cooptechs. Mas, não se preocupe, vamos explicar tudo!

O que é uma cooptech?

Não há uma definição oficial ou consagrada sobre o que são as cooptechs. O termo é relativamente recente e ainda não há um consenso sobre ele. De qualquer maneira, podemos aplicar a mesma lógica de nomenclatura descrita acima.

Ao expandir essa definição para o segmento de cooperativas, temos o surgimento das cooptechs: cooperativas com modelos de negócio inovadores e digitais. "O termo surgiu da necessidade de termos uma definição mais ampla para as cooperativas jovens com negócios preponderantemente digitais", explica Gustavo Mendes, cofundador da Coonecta.

Em resumo, o termo, ainda pouco utilizado no Brasil, é mais abrangente e vai além das cooperativas de plataforma. E, antes de entendermos essa relação, é importante conhecer as diferenças entre uma startup tradicional e uma cooptech.

Tech convencional x Cooptech

Uma startup convencional é criada por uma ou mais pessoas - os chamados founders - que detém 100% da iniciativa. Mas, isso tende a mudar com o tempo, pois startups são criadas para atrair investidores interessados em adquirir participação nos negócios mediante expectativa de crescimento futuro.

Crescimento das startups

Os investimentos são captados em rodadas, conhecidas de acordo com a ordem em que acontecem. A primeira rodada de investimento é chamada de seed, que tem como propósito a iniciativa de arrecadar o capital semente. Sua função é fazer com que a ideia da startup decole.

Conforme a organização vai validando sua hipótese de negócio, outras rodadas acontecem. As captações de investimentos subsequentes são conhecidas por: Series A, Series B, Series C, e assim por diante. A cada uma dessas rodadas os fundadores vão cedendo participação na startup em troca de recursos para fazê-la crescer.

O resultado é que, ao término das rodadas, as plataformas passam a pertencer a conglomerados, empresas, e até mesmo fundos de investimento; mas não a seus usuários e/ou colaboradores. Essa prática acaba criando uma distorção muito grande na distribuição da riqueza e na tomada de decisão.

Já nas cooptechs

As cooptechs têm propriedade compartilhada e não visam ao chamado exit - saída, em inglês. Isto é, quando o fundador cede completamente sua participação em troca de volumosas somas de dinheiro.

Entretanto, é importante lembrar que no modelo cooperativista somam-se cada vez mais cooperados. A ideia é que os fundadores originais e os trabalhadores compartilhem a propriedade da iniciativa.

Cooptech x Cooperativa de Plataforma

Para entender a fundo o que são as cooptechs, é importante conhecer sua relação e saber diferenciá-las das cooperativas da plataforma.

"O cooperativismo de plataforma é um movimento progressista que visa corrigir distorções das grandes plataformas, pois estas têm gerado forte precarização do trabalho. Ele estimula o surgimento de plataformas no modelo cooperativista e já tem mais de 450 iniciativas mapeadas", explica Gustavo Mendes.

O cooperativismo de plataforma, como se vê, tem características bem específicas: um posicionamento político (progressista) e um modelo de negócio (o de plataforma). Mas nem toda startup cooperativa tem essas características. Foi dessa necessidade, de um termo mais amplo, que surgiu a definição de cooptech.

Prova dessa urgência é a Fairbnb, uma cooperativa de plataforma que tem como objetivo incentivar o desenvolvimento de comunidades que recebem turistas, sem encarecer o preço das acomodações. Com ajuda da tecnologia e da inovação, e o desejo de manter os anfitriões no controle, essa cooptech surgiu e segue prosperando.

"O termo ‘cooptech’ é mais abrangente e neutro, que não se refere especificamente a um movimento ou ideologia. Ou seja: toda cooperativa de plataforma é também uma cooptech, mas nem toda cooptech é uma cooperativa de plataforma", diferencia Mendes.

Cooptechs na prática

Um exemplo brasileiro de cooptech é a Ciclos, uma cooperativa de consumo criada em 2018 para atuar nas áreas de energia compartilhada, telefonia e saúde. A Ciclos surgiu dentro do Sicoob Central Espírito Santo para atender à demanda de seus associados na intermediação de serviços não financeiros.

Entretanto, ela não surgiu dentro de um contexto de um movimento progressista, como o de cooperativismo de plataforma, e sim no contexto de uma grande cooperativa. Isso aconteceu após a organização enxergar a necessidade de continuar atendendo e prestando serviços a seus cooperados.

Com abrangência nacional e livre associação, a cooperativa atua 100% digital e conta com a parceria do Sicoob-ES. A Ciclos é uma jovem cooperativa, com modelo de negócio inovador e preponderantemente digital. Portanto, é uma cooptech.

Conclusão

Apesar de ter muitas semelhanças com o movimento “tech” das startups de propriedade de investidores, as cooptechs têm também muitas diferenças e desafios pela frente. O fato de terem governança e propriedade compartilhadas muda completamente a lógica do jogo, já que apresentam uma visão coletiva e mais sustentabilidade para o modelo de negócio.

No entanto, não existe uma jornada típica para criação ou aceleração de cooptechs, como existe com as startups convencionais. O desafio que fica é justamente a criação desta jornada, para termos mais startups cooperativas causando impactos positivos na Nova Economia Digital.

E é claro que o cooperativismo tem muito a contribuir com isso, como lembrou Ariel Guarco, presidente da Aliança Cooperativa Internacional, na abertura do 14º CBC em 2019:

“As primeiras cooperativas foram uma resposta à Revolução Industrial. Hoje, vivemos uma encruzilhada similar: a transformação digital está mudando nossas vidas, nosso futuro. As cooperativas precisam mostrar que há uma nova forma de construir essa economia digital com raízes a serviço das pessoas.”

Se interessou em saber mais sobre as cooptechs? Então, confira o e-book Como a tecnologia está redefinindo a sociedade e transformando os negócios cooperativos, para ficar por dentro das inovações no mundo das cooperativas digitais!

Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Coonecta