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Metaverso: o que é, quais suas aplicações e perspectivas para o futuro da economia digital

Atraindo volumosos investimentos, o metaverso desponta como o futuro das relações no meio digital. Veja como suas possibilidades estão sendo exploradas e o que esperar dele no futuro 

TENDÊNCIAS24/03/202213 minutos de leitura

“Metaverso” é uma palavra nova no vocabulário das pessoas. Dados do Google Trends apontam que, no Brasil, pesquisas sobre o termo só foram ganhar tração a partir de outubro de 2021. Contudo, ele já emerge como uma das principais tendências de tecnologia para o futuro.

O ganho de notoriedade e explosão de procura sobre o conceito aconteceu após o Facebook anunciar que mudaria seu nome para Meta e apostaria na construção de seu próprio metaverso. Desde então, diversas outras companhias passaram a apostar no futuro desta ideia que, por enquanto, ainda está engatinhando.

O potencial, entretanto, pode ser enorme. Relatório da consultoria Gartner prevê que 2 bilhões de pessoas vão estar no metaverso até 2026. Nesse prazo, 25% das pessoas vão ficar ao menos uma hora diária no mundo virtual. Este é o fator que deve colocar o metaverso no radar das cooperativas - afinal, é necessário estar onde as pessoas estão.

Neste texto, vamos entender o que é o metaverso, quais são suas origens, oportunidades e desafios. Também iremos explorar as aplicações do metaverso e indicar como as cooperativas poderão se aproveitar desse conceito. Boa leitura!

Afinal, o que é metaverso?

A definição do conceito de metaverso ainda está em construção, e fontes distintas divergem sobre quais circunstâncias justificam a aplicação do termo. A compreensão mais comum é a de um universo digital onde pessoas, por meio de seus avatares, interagem entre si e com outros objetos.

Segundo a Meta, o metaverso pode ser descrito como “um conjunto de espaços virtuais que é possível criar e explorar junto de outras pessoas que não estão no mesmo espaço físico”.

Scott Galloway, professor da New York University afirmou, em sua participação no SXSW 2022, que “o metaverso é muito mais sobre ouvir e menos sobre ver. Neste sentido, a Apple está muito avançada, com seus devices funcionais de áudio, do que o Meta que vem surfando no conceito”.

A evolução dos ambientes virtuais

O designer de jogos e teórico Raph Koster vai mais a fundo na definição, apontando quais são as diferenças entre mundos on-line, multiversos e metaverso:

  • Mundos on-line: ambientes digitais de socialização focados em um determinado tema. Eles podem ir de fóruns baseados unicamente em texto a ambientes tridimensionais detalhados.
  • Multiverso: interconexão entre diversos mundos on-line, que não precisam necessariamente compartilhar a mesma temática ou aplicar as mesmas regras de convivência, em uma rede.
  • Metaverso: evolução do multiverso, possuindo maior integração com o mundo real. É acessado através de ferramentas de realidade aumentada ou virtual. Nele, se torna possível comprar produtos em lojas virtuais que serão entregues na vida real, por exemplo.
  • Os três conceitos estão conectados, explicada Koster. Cada um representa o amadurecimento do estágio anterior, incrementando funcionalidades e demandando avanços tecnológicos. A partir dessas definições, compreende-se que nem todos os ambientes virtuais de convivência entre pessoas se enquadram como metaverso.

Uma rede interconectada

A lógica de Koster aposta que o metaverso não será uma plataforma única, mas sim uma rede interligada. Embora o serviço Horizon, da Meta, seja a iteração mais proeminente do metaverso no momento, seu amadurecimento passa pela conexão de distintos serviços.

Mark Zuckerberg, fundador e presidente da Meta, corrobora o ponto de vista. Segundo ele, o metaverso não vai ser construído por “uma única empresa”. Outras companhias estão tomando a dianteira junto com a Meta no desenvolvimento do ecossistema:

  • Microsoft: a gigante da tecnologia anunciou a plataforma Mesh, que integra elementos de realidade virtual e aumentada a serviços de comunicação. Sua primeira aplicação se dará pela integração ao Teams, solução da companhia para a realização de reuniões remotas.
  • Roblox: jogo on-line para computadores muito popular entre as crianças, o Roblox funciona como uma plataforma em que seus usuários podem criar e disponibilizar seus próprios games. Aproveitando-se da interatividade dos jogadores, o Roblox anunciou sua entrada na disputa pelo metaverso. A Nike já aderiu ao serviço e lançou seu território, o Nikeland.
  • NVIDIA: a empresa de desenvolvimento tecnológico criou a ferramenta Omniverse, que promete a criação de um mundo virtual povoado por lojas, casas, fábricas e museus, por exemplo. O objetivo do Omniverse é a interligação de diversos mundos em um só lugar.

A segunda vida

O jogo Second Life, de grande sucesso na primeira década deste século, despontou como a primeira grande experiência de um metaverso. Nele, pessoas representadas por avatares interagiam entre si e com os ambientes de seu mundo virtual.

Marcas importantes, como o Itaú, ingressaram no jogo. Eventualmente, a popularidade do Second Life foi minada por barreiras tecnológicas e queda de interesse do público. A trajetória do jogo pode apresentar alguns dos desafios para a implementação do metaverso.

Um conceito originado na ficção

O termo metaverso resulta da conjunção entre o prefixo grego “meta”, que significa “além” com o substantivo “universo”. A palavra foi inaugurada pelo escritor de ficção científica Neal Stephenson em seu livro Snow Crash, publicado em 1992.

Na obra, que se passa em um cenário futurista e distópico, o protagonista é um motorista e entregador de pizza no mundo físico que se torna poderoso dentro do universo virtual. No livro, o metaverso é uma espécie de evolução da internet, em que as pessoas interagem como se estivessem em um ambiente real.

Enquanto ainda dá seus primeiros passos na prática, o metaverso já foi representado por outras obras de ficção, como:

  • Matrix: o clássico filme de 1999 encena um mundo dominado por máquinas que mantêm os humanos presos a um universo digital utópico enquanto o mundo real definha. No decorrer da película, um programador descobre a situação e se rebela. Matrix antecipa a discussão ética entre viver uma realidade imperfeita ou em um mundo ideal simulado.
  • Jogador N° 1: representação mais contemporânea e especulativa do metaverso, o livro de 2011 que virou filme representa o metaverso como uma forma de escapismo de uma realidade difícil. Lá, o metaverso é acessado por óculos de realidade virtual.
  • Black Mirror: o episódio “San Junipero” da terceira temporada da série da Netflix conta uma história que se passa em uma cidade de realidade virtual. O lugar é habitado por idosos que estão em seus últimos dias e que podem escolher se ficam por lá após a morte.
  • Além do metaverso, a ficção é uma ferramenta poderosa para antecipar tendências sociais e tecnológicas. Para entender como essa face da ficção pode ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços, veja aqui o post que fizemos sobre o assunto.

Marcas apostam no metaverso

Mesmo que o metaverso ainda esteja dando seus passos iniciais, gigantes de diversos setores já estão investindo alto para se antecipar ao metaverso. O Facebook se jogou de cabeça e muita gente foi atrás. A Bloomberg Intelligence Unit estima que o metaverso deve movimentar 88 milhões de dólares até 2024.

A guinada da empresa se dá em um contexto em que seu carro chefe, o Facebook, apresentou a primeira redução no número de usuários ativos desde 2004. Assim, o metaverso surge como uma forma de pavimentar novos caminhos e tomar a dianteira de uma nova tendência social.

A Meta, inclusive, é protagonista no mercado de desenvolvimento de óculos de realidade virtual, tecnologia fundamental para o ingresso no metaverso. O dispositivo, chamado de Oculus, passará por uma reforma de marca e passará a ser denominado Meta Quest.

Marketplace 4.0

Em seu estágio incipiente, o uso mais dominante do metaverso por parte das companhias se dá na área de marketing e vendas. A rede de fast food McDonald’s, por exemplo, pediu o registro de patente descrevendo um mecanismo de venda virtual de alimentos e bebidas para entrega a domicílio.

No ramo da moda, provadores de realidade aumentada foram testados pela Gucci. A ideia é que usuários possam experimentar peças de roupa e acessórios digitalmente, conferindo o resultado para decidir fazer a compra online. A Dolce & Gabbana foi além e promoveu um desfile de moda imersivo na plataforma Decentraland.

No Brasil, a operadora de telefonia TIM inaugurou sua loja no metaverso. O empreendimento toma como base uma das lojas reais da TIM e visa reforçar sua estratégia de omnicanalidade, integrando real e virtual na estratégia de vendas.

Nos céus digitais

A Boeing, histórica fabricante de aviões, anunciou que pretende construir seu próximo modelo utilizando o metaverso. A finalidade é implementar projetos de engenharia tridimensionais que serão trabalhados remotamente por engenheiros através de óculos de realidade virtual.

A medida faz parte de uma estratégia de unificar operações em um único ecossistema, integrando design, produção e serviços aéreos. A fabricante vive uma crise de desconfiança após erros de projeto que culminaram na queda de dois aviões 737 MAX.

O metaverso surge como alicerce para que a companhia possa desenvolver réplicas virtuais de seus aviões em 3D - chamados de gêmeos digitais. No mundo virtual, o funcionamento dos aviões será analisado virtualmente, antecipando problemas reais.

Arquibancadas poligonais

Eventos também podem se beneficiar do metaverso. A japonesa Sony e o clube de futebol inglês Manchester City firmaram uma parceria para levar o estádio da equipe ao universo digital. Assim, torcedores do mundo todo podem vivenciar a experiência de ver uma partida in loco.

A desenvolvedora de jogos Epic Games está explorando as possibilidades do metaverso no mundo da música por meio de seu produto mais famoso, o jogo on-line Fortnite. O game já foi palco para shows de artistas populares entre os jovens, seu público-alvo. A apresentação do rapper Travis Scott amealhou 12 milhões de jogadores.

Como cooperativas podem aproveitar o futuro do metaverso

Inovações, como o metaverso, trazem consigo um leque de oportunidades e outro de desafios. Mesmo ainda incipiente, antecipar as suas possibilidades permite um melhor planejamento para a presença na plataforma quando ela estiver amadurecendo. Essas são algumas das atividades que podem ser executadas dentro do metaverso:

Marketing e vendas

Até aqui, como já explicamos, as áreas de marketing e vendas são as que mais se beneficiaram das atuais tecnologias que prometem universos virtuais. Dentre as maneiras em que elas podem ser praticadas pelas cooperativas, estão:

  • Showroom: criar um espaço de exibição virtual de seus produtos reduz custos com a estrutura física de uma instalação demonstrativa e aumenta o número de potenciais visitantes. Sem fatores impeditivos à visita de um estande, como distância, trânsito, tempo de deslocamento e capacidade de lotação, os showrooms ficam mais eficientes e atrativos. A Roca Brasil, que atua no ramo de cerâmica, já adotou o metaverso para apresentar seus lançamentos.
  • Marketing de experiência: imagine poder fazer um test drive sem sair de casa, em um carro virtual idêntico ao real. Para quem vende, isso significa menos custos com a depreciação dos veículos e possíveis acidentes, além de aumentar o universo de consumidores potenciais que podem ter a experiência. Essa lógica pode ser aplicada para diversos produtos.

Trabalho e reuniões

A instauração de ambientes virtuais também cria uma gama de possibilidades sobre a execução dos trabalhos pelos colaboradores. Cooperativas, com sua natureza participativa dos associados, podem se beneficiar dessa faceta do metaverso.

  • Reuniões: a integração que a Microsoft está fazendo entre o Mesh e o Teams, como vimos acima, representa um novo grau de interatividade nas reuniões remotas. Bill Gates, fundador da companhia, diz que até 2024 todas as reuniões serão no metaverso.
  • Assembleias: mais especificamente em relação às cooperativas, o metaverso surge como uma sede para os encontros de cooperados que definem os rumos da instituição. A participação remota pode culminar em assembleias mais acessíveis e menos custosas, sem prejuízos para a possibilidade de participação dos cooperados.
  • Desenvolvimento de projetos: como vimos no caso da Boeing, alguns projetos demandam a atuação de diversas áreas e equipes de uma companhia, e não é diferente nas cooperativas. Com os gêmeos digitais, times com expertise distintas e alocados em locais esparsos podem atuar de forma sincronizada.
  • Recrutamento: a Companhia de Estágios já investiu R$ 500 mil reais na primeira fase de seu projeto para realizar entrevistas de emprego no Horizon, plataforma da Meta. Processos de seleção já estão sendo feitos no metaverso.
  • Enquanto a previsão de Bill Gates não se realiza, veja como realizar reuniões mais ágeis e práticas nesse material que desenvolvemos como foco em cooperativismo.

Novas profissões no metaverso

Um estudo da empresa de tecnologia Lenovo aponta que 44% dos funcionários adotariam o metaverso caso enxerguem que ele possa oferecer benefícios e produtividade ao ambiente profissional.

Concomitante a isso, o metaverso também aponta para novas tendências para o mercado de trabalho. O portal da revista Época Negócios enumerou uma lista de nove profissões que serão incentivadas pelo metaverso que as cooperativas já podem ficar de olho:

  1. Cientista de pesquisa do metaverso
  2. Estrategista de metaverso
  3. Desenvolvedor de ecossistemas
  4. Gerente de segurança do metaverso
  5. Construtor de hardware do metaverso
  6. Storyteller do metaverso
  7. Construtor de mundos
  8. Especialista em bloqueio de anúncios
  9. Especialista em segurança cibernética do metaverso

Os gargalos do metaverso

Nem tudo é bom presságio para o avanço do metaverso. Sua massificação ainda está contida em uma série de amarras, que freiam sua praticabilidade em grande escala.

Fabricante de chips e semicondutores, a Intel alerta que a visão de metaverso propagada pela Meta depende de um poder de processamento e armazenamento ainda inexistente. Um metaverso acessível em tempo real para bilhões de humanos demandaria um aumento de mil vezes a eficiência computacional atual.

A velocidade da conexão à internet é outra barreira para a construção do metaverso. Um mundo digital complexo requer uma latência quase instantânea de forma coordenada entre os usuários, sob o risco de desconexões e instabilidades. A popularização da internet de quinta geração, o 5G promete revigorar este ponto, mas ainda é uma incógnita se ela será suficiente.

Unindo tecnologia a fatores sociais, há ainda escassez e alto custo dos materiais necessários para a integração ao metaverso, como óculos de realidade virtual e computadores de alto poder de processamento. Sem barateamento dos aparelhos, o metaverso pode se tornar um espaço de exclusão social.

Ceticismo

Ainda que muitas instituições tenham mostrado empolgação e acenado com grandes investimentos, nem todo mundo compartilha da mesma fé sobre o futuro do metaverso.

Apesar de a indústria de videogames se projetar como a protagonista neste estágio inicial de adoção do metaverso, seu sucesso não é unanimidade. A gigante japonesa Nintendo, conhecida por ser tradicionalista e conservadora nos negócios, não demonstrou muito interesse em adotar a tendência, ao menos por enquanto.

Ainda no ramo dos jogos, a Take Two, dona de diversas franquias populares como GTA e NBA 2K, também expressa ceticismo. O CEO da companhia, Strauss Zelnick, acredita que a visão da Meta não corresponde aos desejos dos consumidores.

ConclusãoDe fato, em seu atual estado, o metaverso levanta mais questões do que apresenta soluções. Enquanto a transformação digital se apresenta como inevitável, o metaverso ainda precisa convencer que é capaz de atingir o potencial enxergado por muita gente.

O estudo Into the Metaverse, elaborado pela Wunderman Thompson, já indica que, para 76% das pessoas, as tarefas diárias dependem da tecnologia. O metaverso germina desse contexto conectado que coloca a tecnologia no centro de nossas vidas. Contudo, ele tem limites tecnológicos e sociais. E nem toda tendência vem pra ficar.

Sendo apoiado por gigantes de diversos segmentos importantes da economia, o metaverso sinaliza como uma fatia importante para guiar os próximos anos do desenvolvimento tecnológico.

De qualquer forma, inovar e agregar novas tecnologias é vital. Pensando nisso, o InovaCoop elaborou um curso on-line gratuito para que as cooperativas entendam como enxergar a hora de mudar e implementar novas soluções tecnológicas.

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