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Liderança feminina: mulheres que impulsionam a inovação no cooperativismo

Conheça histórias de mulheres inspiradoras e protagonistas no cooperativismo

GESTÃO DA INOVAÇÃO08/03/202310 minutos de leitura

O cooperativismo é desigual, mas vem apresentando evolução, indicam os dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro, produzido pelo Sistema OCB. Essa desigualdade fica ainda mais evidente quando olhamos a liderança feminina nas cooperativas.

Os números mais recentes, referentes a 2021, mostram que as mulheres representam 40% dos mais de 18 milhões de cooperados brasileiros. No Ramo Saúde a presença delas é de 46%, por exemplo. Em contrapartida, a distribuição de gênero dos dirigentes é bem menos positiva.

Em 2021, apenas 20% dos cargos de liderança nas cooperativas eram ocupados por mulheres. O número indica progresso, já que, no ano anterior, essa taxa era de somente 17%. Mesmo assim, esses dados apontam que, embora a liderança feminina esteja crescendo, o caminho ainda é bastante longo.

As barreiras para o progresso da liderança feminina não existem apenas no cooperativismo. O estudo Women in the Workplace 2022, da consultoria McKinsey indicou que há discrepância na promoção das mulheres para cargos de gerenciamento: a cada 100 homens promovidos, somente 87 mulheres têm a mesma oportunidade.

Por isso, neste artigo iremos discorrer sobre a importância da liderança feminina, entender o papel das mulheres na inovação, apresentar iniciativas do Sistema OCB em prol da inclusão e conhecer mulheres inspiradoras que lideram dentro do cooperativismo brasileiro. Boa leitura!

Diversidade de gênero impulsiona inovação e negócios

A diversidade é um fator primordial para que a inovação seja efetiva. Novas ideias, afinal, surgem por meio de novas perspectivas de mundo. Nesse sentido, a presença feminina em papéis de liderança proporciona um novo olhar para as situações, algo fundamental para encontrar oportunidades inovadoras.

Além disso, a diversidade de gênero impacta positivamente, também, o desempenho dos negócios. A McKinsey encontrou uma correlação entre a diversidade de gênero nas equipes executivas e a performance financeira.

As equipes executivas das instituições com performance superior têm mais mulheres em cargos de liderança do que em outras funções.

O papel da liderança feminina para inovação e tecnologia

A contribuição da liderança feminina na inovação também tem a ver com o papel decisivo que elas desempenham nas comunidades de ciência e tecnologia. Elas estão ganhando cada vez mais espaço na área.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de alunas que concluíram cursos superiores nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática aumentou 96% entre 2010 e 2021.

Isto é: as mulheres estão galgando e conquistando espaços importantes no ambiente de tecnologia e inovação. Esse progresso irá impulsionar o surgimento de ainda mais lideranças femininas no ambiente de inovação.

Com objetivo de chamar a atenção da sociedade e do mercado de trabalho para esta situação, a ONU Mulheres Brasil definiu o tema do Dia Internacional das Mulheres deste ano: “Por um mundo digital inclusivo: inovação e tecnologia para a igualdade de gênero”. 

Liderança feminina: importância e desafios

A desigualdade de gênero nos postos de liderança ainda é sintoma de preconceitos sociais que perduram há muito tempo. No Brasil, embora a evolução seja visível, ainda há muitos passos para superar essa questão.

Contudo, o fomento à liderança feminina engloba uma série de fatores importantes tanto em termos sociais quanto econômicos. Por exemplo, para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho.

Mesmo assim, algumas barreiras ainda impõem dificuldades para o surgimento de lideranças femininas, como:

  • Preconceito: o avanço nessa questão é perceptível, mas o cenário de discriminação de gênero ainda existe, tanto de forma intencional quando de maneira inconsciente. Ainda há uma percepção de que mulheres são mais adequadas para certas funções, e não para liderar.
  • Vida familiar: antiquadamente, o cuidado com crianças, idosos e pessoas doentes acaba recaindo sobre as mulheres. Com isso, elas precisam equilibrar as responsabilidades, o que pode atrasar o progresso na carreira.
  • Autossabotagem: por conta da cobrança desigual, muitas mulheres podem estabelecer metas inalcançáveis e, assim, muitas delas acabam nem assumindo uma posição de liderança por medo de falhar. Para superar a autossabotagem, são necessários esforços para que elas se enxerguem como lideranças de qualidade.

Sistema OCB em prol da liderança feminina

O Sistema OCB está alinhado às demandas da sociedade e adorou a igualdade de gênero como uma pauta estratégica e prioritária. O Comitê Nacional de Mulheres do Cooperativismo, também conhecido como Elas Pelo Coop, foi efetivado em 2021, englobando o Sistema OCB Nacional e as organizações estaduais.

O Comitê propõe soluções para que a inclusão aconteça na prática e lançou um Manual de Implementação, apontando caminhos para que as cooperativas sejam protagonistas no fomento à liderança feminina.

Além disso, o projeto Semeando Futuros, desenvolvido pelo Sistema OCB em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), atua para formar e capacitar lideranças femininas para o Agro. “As mulheres investem em seu próprio empoderamento quando dedicam tempo para estudar e para investir em sua qualificação”, ressalta Divani Matos, coordenadora do projeto.

As OCBs estaduais também apoiam a jornada em prol da liderança feminina. O Sistema OCB/ES, por exemplo, registrou que a cada dez diretores ou gerentes de cooperativas capixabas, três são mulheres. A presença de mulheres nesses cargos aumentou 5,2 pontos percentuais em 2021, se comparado a 2020.

Lideranças femininas inspiradoras no cooperativismo

Mesmo em meio às diversas dificuldades que se apresentam, diversas mulheres se estabeleceram como lideranças importantes no cooperativismo. Conheça, portanto, lideranças femininas inspiradoras no cooperativismo!

Tânia Zanella: pioneira no Sistema OCB

A catarinense Tânia Zanella ingressou no Sistema OCB em 2008, como assessora, e está construindo uma história de empoderamento e transformação no cooperativismo brasileiro. Pioneira, Tânia foi a primeira em muitas coisas:

  • Primeira mulher a assumir a Gerência de Relações Institucionais da OCB.
  • Primeira pessoa a assumir a Gerência-Geral da OCB
  • Primeira mulher a assumir a superintendência da Unidade Nacional do Sistema OCB, posição que ocupa desde 2021

Formada em Direito, Tânia cresceu dentro do Sistema OCB graças à sua capacidade de realizar. Em entrevista para a revista Saber Cooperar, Márcio Lopes Freitas, presidente do Sistema OCB Nacional, exaltou os méritos da líder:

“Tânia é uma profissional respeitada na Casa, benquista nos estados e muito dedicada ao cooperativismo. Era muito lógico, para mim, que ela assumisse essa posição. Não a escolhemos como superintendente para cumprir algum tipo de cota na instituição. Ela vinha de uma carreira muito bem-sucedida: foi gerente; depois, gerente-geral, e agora é superintendente.”

Em 2021, Tânia Zanella foi incluída entre as 100 Mulheres Poderosas do Agro, em lista produzida pela revista Forbes.

Célia Regina Hoffman e a liderança no Ramo Agropecuário

A cooperativa agropecuária paranaense Copacol recebeu o Prêmio Quem é Quem: Maiores e Melhores Cooperativas Brasileiras de Aves e Suínos, na categoria Liderança Feminina. O reconhecimento se deve à gerente de Controladoria e Finanças da Copacol, Célia Regina Hoffman.

Célia Regina Hoffman, gerente de Controladoria e Finanças, ingressou na Copacol como estagiária no Curso de Tecnólogo em Cooperativismo e Administração Rural. A partir de então, construiu uma história de quatro décadas na cooperativa.

Ela assumiu toda a gerência financeira da Cooperativa em 2016 e no ano seguinte chegou à Controladoria e Finanças. “Sou movida a desafios. Não sou de recuar. Quem está chegando, meu conselho é ter perseverança, foco, determinação e seriedade”, declarou na cerimônia de premiação.

Solange Pinzon de Carvalho: uma cooperativa de mulheres líderes

As mulheres também fazem diferença no cooperativismo financeiro. Solange Pinzon de Carvalho, presidente do Sicoob Meridional desde 2015 e sua liderança representa uma cooperativa de grande protagonismo feminino.

Antes de chegar ao cargo mais alto dentro do Sicoob Meridional, Solange trilhou um caminho profissional que passou por bancos e pelo empreendedorismo, antes de chegar ao cooperativismo. Em 2006, ela assumiu a diretoria administrativo-financeira da cooperativa, depois se tornou vice-presidente e, por fim, assumiu a presidência.

“Nós, mulheres, somos competentes, agregamos valor às equipes das quais fazemos parte e temos de dar as mãos umas às outras para crescer cada vez mais”, declarou a executiva.

Dados de 2020 apontam que, dos 260 colaboradores da cooperativa, 64% são mulheres. Além disso, vários cargos de gestão são ocupados por lideranças femininas. A coop possui, também, agências 100% formadas por mulheres. “Queremos ver esse número crescer cada vez mais”, destaca Solange.

Radar da Inovação: iniciativas inovadoras lideradas por elas

No Radar da Inovação, onde compilamos iniciativas inovadoras realizadas por cooperativas, contamos diversas histórias de inovação lideradas por mulheres. Veja alguns desses exemplos inspiradores e clique nos links para ler essas jornadas na íntegra!

Liciane Giacomin Rovani: Colégio CEM desenvolve plataforma digital MinicidadeON 

Mantido pela Cooperativa de Trabalho Magna, o Colégio CEM realiza, desde 2007, a “Minicidade Cooperativista”, com um projeto pedagógico inovador onde é proporcionado às crianças experiências reais de cidadania e vida comunitária.

Em 2018, a cooperativa plataforma MinicidadeON, levando essa jornada para o mundo digital, sob a coordenação pedagógica de Liciani Giacomin Rovani. Com a inovação, a cooperativa conseguiu resolver problemas antigos e aumentou a participação dos alunos.

Lívia Duarte: Coopresa supera dificuldades ao inovar seu modelo de negócios na manutenção de aviões 

Idealizada por militares, a Coopresa, uma cooperativa de trabalho de mecânicos de avião, passava por dificuldades quando Lívia Duarte assumiu a presidência com o desafio de renovar seu modelo de negócios. Antes focada quase exclusivamente na aviação militar, Lívia liderou uma mudança estratégica na coop: atuar na aviação civil.

Enxergando uma grande oportunidade de mercado, a Coopresa se especializou em manutenção de baixa complexidade e conseguiu contratos com grandes companhias aéreas. Hoje, a cooperativa reúne mais de 300 cooperados e cumpre um papel importante no treinamento de mecânicos recém-formados.

Jociane Coutinho: Plataforma da Unifop viabiliza atendimento de saúde na cooperativa 

A pandemia de Covid-19 inviabilizou, repentinamente, o atendimento presencial por parte dos profissionais de saúde cooperados à Unifop. Para contornar a situação, garantindo a segurança das pessoas e o faturamento da cooperativa, foram feitos investimentos em tecnologia para criar o canal de telessaúde.

Sob a liderança feminina da presidente Jociane Coutinho, a cooperativa alcançou resultados com a retomada dos atendimentos e o ganho de possibilidade de expansão geográfica da base de clientes.

Sylvia Urquieta: Cooprodados une especialistas em proteção de dados

A Cooprodados é uma cooperativa que reúne profissionais autônomos multidisciplinares especializados em privacidade e proteção de dados. A ideia de fundar a cooperativa partiu da advogada Sylvia Urquieta, que se especializou na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

A cooperativa reúne profissionais autônomos que encontravam para oferecer, individualmente, seus serviços ao mercado. Isso porque os problemas ligados à governança de dados demandam a atuação integrada de especialistas de diversas áreas. Reunindo suas habilidades, a cooperativa oferece preços acessíveis que também remuneram bem os cooperados.

Solange Barbosa: Coogavepe cria sistema para aumentar a transparência da comercialização do ouro

Para controlar melhor a procedência e a comercialização do ouro, a Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe) criou um sistema para deixar o processo mais transparente, sob a liderança de Solange Barbosa, presidente da cooperativa.

Para isso, a cooperativa criou um sistema para controle e rastreabilidade do minério de ouro comercializado pelos garimpeiros junto aos postos de compras de ouro das Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs). Essa transparência, conta Solange Barbosa, trouxe mais segurança jurídica, fiscal e tributária.

Conclusão

Um estudo da consultoria Accenture notou que as organizações que têm uma mentalidade inovadora são as que promovem uma cultura mais igualitária e focada na diversidade. Isso acontece porque, quando o ambiente é mais diverso, as pessoas têm menos medo de errar.

Ou seja: quanto mais presente a liderança feminina for nas cooperativas, mais o cooperativismo vai ser inovador. Proporcionar o crescimento das mulheres nos cargos de gestão não é só o cumprimento do papel social, mas sim dar oportunidades para mulheres talentosas, com capacidade de liderar a inovação e fazer bons negócios.

Quer se aprofundar no tema e aprender o que é inteligência de gênero, por exemplo? Confira então o curso Liderança Feminina, da Capacitacoop.

“Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos conquistar” - Michelle Obama, advogada e ex-primeira dama do EUA.

Um feliz dia da mulher a todas as mulheres do Coop!

Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Coonecta