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Inovação aberta e startups: como ter uma conexão de sucesso

Apesar de exigir mudança de mentalidade por parte da cooperativa, o relacionamento pode ser revolucionário

GESTÃO DA INOVAÇÃO29/07/202210 minutos de leitura

Quando Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley, criou o termo open innovation (inovação aberta, em português), em 2003, ele visava quebrar um paradigma. Ao perceber que o ambiente acadêmico não estava atualizado sobre o mundo dos negócios, ele propôs uma abordagem de inovação melhor distribuída, mais participativa e descentralizada.

A inovação aberta surge para ser um contraponto ao conceito tradicional de inovação fechada, no qual as iniciativas são desenvolvidas internamente, sem apoio externo. O problema da inovação fechada é que, por mais incrível que a cooperativa seja, ela poderá ter dificuldades para inovar sozinha.

Como Henry Chesbrough define, “a inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”. Ou seja, é uma via de mão dupla.

A cooperativa tira proveito do conhecimento externo para realizar as suas inovações, enquanto o mercado ganha o conhecimento agregado, formando um círculo virtuoso. Então, na inovação aberta, a inovação surge a partir da interação não só de funcionários, mas também de clientes, cooperados, fornecedores, startups, universidades e até mesmo de concorrentes.

Apesar das cooperativas firmarem parcerias com diversos tipos de organizações, são as startups que fazem mais sucesso nos programas de inovação aberta. Isso acontece porque elas são construídas com foco na inovação e buscam soluções modernas para resolverem problemas e adversidades.

Ao se conectar a um ecossistema de inovação, as cooperativas têm a chance de acessar conhecimentos e tecnologias que não estão "dentro de casa". Então, entenda mais sobre a relação da inovação aberta com as startups, e alavanque o desenvolvimento da sua cooperativa!

Inovação aberta e startups: relação ganha-ganha

A primeira questão que surge é como adotar a inovação aberta na prática. Atualmente, um dos principais caminhos escolhidos por organizações de diferentes portes e ramos é a conexão com startups por meio de programa próprio ou de parceiros.

Quando a cooperativa se conecta com startups, principal pilar da inovação aberta, ela pode obter vários benefícios. Por exemplo: reduzir o tempo entre o desenvolvimento e a comercialização de um novo produto ou serviço; expandir para novos mercados; diminuir o custo em algumas etapas; e gerar ideias e conhecimentos sem pressionar a equipe interna.

Em síntese, trata-se, de fato, de uma relação ganha-ganha. A cooperativa se beneficia ao trazer para si atributos que estão no DNA das startups, como:

Prova dessa relação de sucesso são os inúmeros exemplos de iniciativas e projetos que apresentam uma conexão entre cooperativas e startups:

Saiba mais sobre este e outros cases de relacionamento com startups no aqui no InovaCoop.

Formas de conectar com startups

Segundo informações de empresas de inovação, como ACE, Innoscience, Silo e StartSe, há pelo menos quatro principais formas de conexão com startups. Elas podem ser classificadas como simples ou complexas, sendo indicadas para necessidades específicas de cada organização.

  1. Startup como fornecedora de solução: após identificar um problema específico, a cooperativa vai ao mercado para contratar a solução de uma startup. Dessa forma, a cooperativa encontra soluções inovadoras para gerar melhorias operacionais de forma imediata, sem, necessariamente, desenvolver uma prova de conceito. Esse modelo pode ser indicado para cooperativas que ainda não têm afinidade com o ecossistema de inovação ou têm urgência para resolver um problema.
  2. Prova de conceito ou projeto-piloto: nesta modalidade, a conexão parte de uma prova de conceito (também chamada pela sigla PoC, do inglês Proof of Concept) com metas específicas atreladas a sucesso no curto prazo. Neste caso, pode envolver uma ou mais startups concorrendo, ou cooperando para gerar o projeto-piloto. Se a meta for cumprida dentro do prazo, a startup pode ser contratada ou o serviço pode ser oferecido aos clientes e/ou cooperados. Ou seja, a parceria só ocorre após o resultado da PoC.
  3. Laboratório para aceleração: esta conexão já demanda mais recursos, pois a organização disponibiliza às startups atributos como capital, espaço físico, networking, ferramentas profissionais, recursos humanos e mentorias. Para a cooperativa que traz a startup para “dentro de casa” é uma forma de adquirir a cultura de inovação e liderar a possível criação de soluções inovadoras que, no futuro, possam ser incorporadas. No entanto, requer mais tempo que as opções anteriores.
  4. Corporate Venture: é a forma mais complexa de conexão com startups. É neste modelo que a organização pode realizar investimentos no empreendedor, adquirindo participação minoritária, controle parcial ou até total. Ao investir ou adquirir uma startup, a organização precisa avaliar o mercado, colocar os riscos na balança e ter uma boa relação com os empreendedores para o negócio poder crescer de maneira saudável.

Nutrindo relações

Segundo a Innoscience, empresa de consultoria de inovação corporativa, independentemente do formato de conexão escolhido, o relacionamento ocorre em três modelos: batch, contínuo ou on demand.

  •     Modelo de batch: as inscrições ficam abertas por um período determinado de tempo, as startups são avaliadas pela corporação de forma conjunta e os projetos, concomitantemente testados.
  •     Modelo contínuo: as inscrições ficam abertas de forma contínua e as startups são avaliadas separadamente ou a conexão ocorre sem inscrições, nem coordenação geral, fazendo cada área à sua maneira.
  •     Modelo on demand: há uma busca ativa por startups para solucionar um determinado desafio, sem necessidade de chamada pública. Ideal para lidar com problemas pontuais.

É possível começar da maneira mais simples, batch, e depois, após um determinado período, avançar com mais segurança para o modelo contínuo. Além disso, o nível dos desafios a serem solucionados pode evoluir com o tempo.

Boas práticas na inovação aberta

Agora que você já sabe como se conectar com startups, vamos conhecer algumas boas práticas essenciais para a experiência ser bem-sucedida. Isso porque, se não houver preparação, em especial do ponto de vista cultural, este tipo de iniciativa pode enfrentar alguns problemas.

Em seu livro “A Estratégia da Inovação Radical”, Pedro Waengertner afirma que o estabelecimento de um bom design organizacional é prioridade para ter sucesso na conexão com startups. Além disso, é importante saber que trabalhar com essas organizações precisa ser uma consequência da estratégia da cooperativa e um objetivo claro do plano de inovação.

Por isso, antes de iniciar ou participar de qualquer programa de relacionamento com startups, é fundamental saber o que se espera da conexão e estar atento a uma série de aspectos.

Agilidade

Imagine que, para ser contratada, uma startup precise passar por diferentes departamentos da cooperativa e enfrentar idas e vindas com contratos, reuniões e burocracias. Isso pode atrasar e até fazer com que o timing da inovação seja perdido.

Portanto, organizações muito burocratizadas precisam, antes de tudo, trabalhar com agilidade e rapidez nos processos internos.

Mesmo que não seja possível mudar toda a cultura da cooperativa, é recomendável que a equipe ou pessoa à frente do projeto de inovação aberta esteja em contato com a startup e com a liderança, e seja ágil nas decisões. Reuniões curtas e frequentes são essenciais para o projeto fluir bem.

Customização e soluções

A cooperativa precisa entender que, normalmente, a startup soluciona uma única coisa muito bem, com grande foco no problema que se dispôs a enfrentar. Portanto, não adianta firmar uma parceria com a startup e esperar que ela resolva todos os problemas de sua organização.

Essa premissa também serve para cooperativas que buscam o que há de mais moderno em tecnologia nas startups. Ao fazer isso, a organização deixa de focar na solução do seu problema e a conexão com a startup pode perder o sentido. Portanto, lembre-se de focar na solução, e não na tecnologia.

Autonomia

A essa altura você já deve ter reparado que pode acontecer um choque de cultura entre as organizações. A cooperativa que decide apostar na inovação aberta e trabalhar com startups precisa ter em mente que não será possível controlar todo o processo, pois a organização precisa de autonomia.

Não se pode esperar que as startups se adequem a processos rígidos de controle, pois, no final das contas, isso poderá ser prejudicial à natureza inovadora. O ideal, portanto, é que a cooperativa tente se adequar à forma de trabalho das startups, que normalmente utilizam metodologias ágeis de gestão.

Aprendizado

É inegável que, com o passar do tempo, o relacionamento vai gerando aprendizados e conhecimentos diversos. Por isso, é importante aproveitar esse relacionamento para estimular ainda mais a cultura de inovação na organização e implementar novas ferramentas e métodos ágeis.

Afinal, numa conexão com startup, não se trata apenas de contratar uma solução, mas de aprender e inovar.

Visão a longo prazo

Aqui no InovaCoop, sempre ressaltamos que inovação é um processo, com começo, meio e fim, e também um ato contínuo que precisa ser executado com uma visão a longo prazo. Dessa forma, não podemos esperar resultados do dia para a noite.

Assim como todo processo de inovação, um programa de conexão através da inovação aberta também demanda tempo, estudo e tentativas para encontrar o melhor modelo de relacionamento com startups.

Além disso, é essencial realizar uma avaliação ao final da experiência para mostrar os resultados para as lideranças e manter a inovação em ciclos contínuos.

Comece pequeno

Caso a sua cooperativa esteja em dúvida sobre qual modelo de conexão deve aderir, saiba que cada um tem suas vantagens e desvantagens. Por isso, a decisão precisa sempre considerar o estágio de maturidade da cooperativa em relação à inovação e o quão preparada a organização está para receber as startups.

A dica, portanto, é começar pequeno e entender que o erro, caso aconteça, faz parte do processo. O importante é errar rápido para ajustar a rota e aprender com isso.

Inovar é plural

Uma forma de reduzir riscos em relacionamentos com startups na iniciativa de inovação aberta é começar, o quanto antes, a envolver toda a estrutura no projeto, começando pela liderança. Quando esse envolvimento ocorre, a chance de sucesso e o potencial da parceria são enormes.

Por isso, pensando em ajudar as cooperativas com esse desafio, o Sistema OCB realiza o programa Conexão com Startups! A primeira edição teve como tema a intercooperação e se encerrou no começo de 2022. Já a segunda edição, com foco no agro, se encerrou no segundo semestre do mesmo ano.

Resultados da 2ª edição

O programa já conseguiu concretizar parcerias entre cooperativas e startups. Os projetos-pilotos que resultaram da iniciativa foram os seguintes:

  •     CEMIL: em parceria com a UpTech, a cooperativa desenvolveu um sistema integrado que contém métodos de Inteligência Artificial para precificação.
  •     Coplana: recebeu ajuda da Daedalus, que criou um aplicativo capaz de calcular a estimativa por meio do processamento de imagens registrado pelos agrônomos diretamente na plataforma.
  •     Santa Clara: com o auxílio da Eixo Consultoria, a cooperativa desenvolveu uma máquina cortadora de queijo com lâmina ultrassônica e inteligência artificial para fracionar os produtos.

Conclusão: inovação aberta com startups é o caminho para o sucesso

O ecossistema brasileiro de inovação aberta está ficando cada vez mais forte. Dados da 100 Open Startups indicam que a prática cresceu quase 20 vezes nos últimos cinco anos. Ou seja, os polos de inovação estão se difundindo e ganhando escala - e o cooperativismo não pode ficar de fora desse movimento cheio de oportunidades.

A conexão com startups representa um caminho para integrar ao cooperativismo uma lógica diferente de inovação: mais ousada, ágil e, consequentemente, arriscada. Apesar do risco, as cooperativas têm muito a ganhar com atributos que estão no DNA dessas organizações.

Se você não quer perder tempo e deseja inovar o mais breve possível, podemos te ajudar. Com o e-book Inovação no Cooperativismo do InovaCoop, você adentra no mundo da inovação cooperativa e pode colocar a inovação aberta em prática!

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