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Desafios e oportunidades do cooperativismo de plataforma, segundo Trebor Scholz

Autor do livro que deu início ao movimento acredita que o Brasil tem um terreno fértil para cooperativas de plataforma

COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA20/07/20215 minutos de leitura

Até o ano de 2014, o cooperativismo de plataforma se resumia a algumas iniciativas esparsas pelo mundo. Foi a partir daquele ano que as coisas começaram a mudar. O marco foi o livro “Cooperativismo de Plataforma - Contestando a economia do compartilhamento corporativa”, lançado pelo professor da universidade The New School, de Nova York, Trebor Scholz.

O livro foi uma consequência natural dos debates realizados pela The New School sobre trabalho digital. A obra organizou conceitos, definiu princípios e foi um agregador fundamental para o movimento e modelo de negócio crescer de forma ordenada.

Hoje, as iniciativas do professor Trebor Scholz nessa área são desenvolvidas por meio do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma. O Consórcio, que tem Scholz como diretor, é a principal entidade de apoio a essas cooperativas pelo mundo.

Em 2019, Trebor Scholz veio ao Brasil palestrar no 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), organizado pelo Sistema OCB, e pôde conhecer de perto o cooperativismo brasileiro. “O Brasil é um dos países mais propícios para as cooperativas de plataforma. O Consórcio para o Cooperativismo de Plataforma adoraria apoiar o desenvolvimento das cooperativas brasileiras ajudando a coordenar seu crescimento por meio da cooperação internacional”, diz Scholz.

O InovaCoop conversou com o professor Trebor Scholz para entender as perspectivas do movimento mundialmente e sua visão para o cooperativismo de plataforma no Brasil. Confira a seguir os principais pontos dessa conversa.



Você acompanha o desenvolvimento das cooperativas de plataforma no Brasil?

Sim, acompanho o desenvolvimento das iniciativas brasileiras. Inclusive, o Consórcio trabalha com várias cooperativas de plataforma e pesquisadores brasileiros. A segunda edição do nosso curso Platform Cooperatives Now teve cerca de 20 estudantes brasileiros. E, sem dúvidas, as cooperativas brasileiras estão entre as mais promissoras para cooperativas de plataforma.

Em quais setores ou tipos de negócios você acredita que estão as maiores oportunidades para as cooperativas de plataforma?

Eu destaco os seguintes setores:

  • Agricultura
  • Transporte
  • Homecare
  • Todos os tipos de serviços domésticos
  • Marketplaces para artesãos
  • Serviços financeiros
  • Serviços financeiros baseados em blockchain
  • Sistemas de tokenização
  • Criptomoedas
  • Suporte para freelancers
  • Plano de saúde, garantias de pagamento, transformando freelancers em funcionários.
  • Data trusts (validação de dados)
  • Data trusts cooperativos para municípios

Quais os principais obstáculos enfrentados pelas cooperativas de plataforma no seu desenvolvimento?

Na minha visão são os seguintes:

  • Falta de coordenação internacional, por isso este é um dos focos do Consórcio para Cooperativismo de Plataforma. O papel do Consórcio é crucial para coordenar internacionalmente o movimento e o desenvolvimento de softwares e pesquisas. Isso é relevante especialmente para países em desenvolvimento.
  • Educação sobre o cooperativismo de plataforma. É preciso educar os membros e criar uma incubadora de cooperativas de plataforma.
  • Resistência por parte dos cooperativistas mais tradicionais para entender a tecnologia.
  • Falta de cooperativas tradicionais que entendam a importância do cooperativismo de plataforma.
  • Falta de consciência mais ampla de lideranças cooperativistas, legisladores, especialistas em tecnologia e do público em geral.

A falta de investimento (funding) é um dos grandes obstáculos do cooperativismo de plataforma. Como solucionar esta questão?

  • Com o Fundo de Investimento para Cooperativas de Plataforma, que está para ser lançado.
  • Por meio de “crowd equity” (financiamento coletivo de investimento).
  • Membros da família, amigos e comunidade em geral.
  • Suporte municipal ou federal (existem diversos exemplos).
  • Envolvimento da comunidade de investimento ético (só nos EUA há US$ 1,3 bilhão de verba anual).
  • Envolvimento seletivo de venture capital (capital de risco). Inclusive, já existem exemplos de cooperativas de plataforma que aceitaram capital de risco sem perda de controle da cooperativa. Este são casos raros, no entanto. 
  • Compartilhamento de recursos internacionalmente (sexto princípio cooperativista, da intercooperação):
  • Uso conjunto de softwares de código aberto.
  • Compartilhamento de dados.

Quais outras ações o Consórcio está planejando para o desenvolvimento das cooperativas de plataforma?

  • Análise política global (estamos preparando um “white paper” a ser lançado em breve), com sugestões práticas para legisladores sobre como apoiar as cooperativas de plataforma mundialmente.
  • Pesquisadores globais do nosso instituto publicam constantemente relatórios, incluindo sobre as cooperativas de plataforma brasileiras.
  • Temos um programa de bolsas de pesquisa sobre o tema.
  • Publicamos boletins informativos do Consórcio para atualizar sobre o desenvolvimento das cooperativas de plataforma globalmente.
  • Lançamos uma Biblioteca de Recursos para Cooperativas de Plataforma. Adicionamos 1.670 recursos para que todos possam aprender mais sobre cooperativas, cooperativas de plataforma e economia digital. Recursos em português também serão adicionados logo que possível. (Inclusive já traduzimos o site para o português e em breve estará no ar).
  • Lançamos uma seção com depoimentos da comunidade em nosso site, com vídeos de membros de cooperativas, líderes e pessoas associadas ao cooperativismo de plataforma.
  • Lançaremos em breve um Índice da Economia Digital Cooperativa e estamos próximo de lançar uma Biblioteca de Ferramentas que permitirá aos grupos encontrar indicações de tecnologias que desejam para seus projetos.

Na sua opinião, o que as cooperativas de plataforma podem ensinar às cooperativas tradicionais?

A maioria das áreas da vida e do trabalho estão agora se movendo para o digital e isso inevitavelmente afeta as cooperativas. Além disso, vulnerabilidades futuras precisam ser consideradas: outro vírus, mudanças climáticas, as Big Techs tomando conta de muitas áreas de produção etc. Muitas áreas das cooperativas vão precisar migrar para o digital – e as cooperativas de plataforma são parte desse processo.

Links e materiais de apoio:

·      Conheça a Up&Go, uma das que cooperativas de plataforma que recebe suporte municipal para sua operação.

·      Conheça a Savvy, uma cooperativa de plataforma que recebeu aporte de um fundo de venture capital.

·      Acesse relatórios e outros estudos do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma

·      Assine o boletim informativo do Consórcio de Cooperativismo de Plataforma

·      Conheça a biblioteca de recursos para cooperativas de plataforma


Se quiser saber mais, acesse nosso e-book sobre cooperativismo de plataforma.

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