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Psicologia da inovação: o que é e como ela pode ser utilizada pelas cooperativas?

A jornada pela inovação começa na mentalidade

GESTÃO DA INOVAÇÃO18/08/20226 minutos de leitura

Por Fernanda Furia*

A Psicologia da Inovação é a área que investiga o comportamento humano para a inovação. A capacidade para inovar vai muito além da competência para usar ferramentas para inovação e do entendimento das diversas etapas de um processo inovador.

Muito se fala sobre os processos, metodologias, tecnologias e ferramentas de inovação para criar um novo produto, um serviço diferenciado ou um ambiente inovador. Mas você já reparou que raramente são abordados os aspectos psicológicos das pessoas que participam das iniciativas de inovação?

É nesse hiato que reside a importância da psicologia da inovação.

A inovação começa na mente

Uma forma de ilustrar essa relevância é a metáfora do iceberg. O que vemos na ponta dele é o resultado - ou seja, o produto ou o serviço criado através dos processos de inovação dentro das organizações. Mas a base invisível que sustenta este processo é justamente o complexo mecanismo psicológico das pessoas envolvidas neste contexto. Você já se perguntou:

  • Onde nasce a capacidade para inovar?
  • Por que há tanta resistência à transformação?
  • O que está por trás da habilidade psicológica para a inovação?
  • É possível ajudar as pessoas e as organizações a se reinventarem de forma mais humana e emocionalmente saudável? 

Esses questionamentos revelam que a inovação começa na mente do ser humano e que as características psicológicas de um indivíduo podem ser algumas das maiores barreiras para inovar, pois elas afetam diretamente as relações entre as pessoas e os ambientes onde a inovação precisa acontecer.

Cultivando um ambiente inovador

Diante disso, é necessário criar um terreno psicológico fértil que tornará possível a aplicação de todo conhecimento técnico adquirido através de cursos e capacitações. Também é fundamental identificar os mecanismos psicológicos que favorecem e atrapalham a capacidade de inovar nas pessoas.

Isso passa por iluminar os aspectos escondidos que influenciam o comportamento inovador e oferecer ferramentas para auxiliar no autoconhecimento e na aplicação da inovação em diversos contextos.

Dessa forma, os processos de inovação poderão se tornar mais eficazes e alinhados com as necessidades dos novos tempos. Esta nova área de conhecimento é uma poderosa ferramenta para ajudar as organizações a resolver problemas complexos, a transformar a maneira de pensar e a quebrar paradigmas engessados.

Para inovar, é necessário mudar - o que não é tarefa fácil

Inovação exige mudança. Contudo, mudar gera sofrimento e gasto de energia para o ser humano. Existe o luto pela perda do que é conhecido. Há também o medo do desconhecido e do fracasso.

Durante a jornada, enfrenta-se, ainda, as defesas psicológicas que tornam a inovação um paradoxo para o ser humano: queremos mudar e queremos também manter tudo como está. Ao mesmo tempo.

Por isso, para que os processos que guiam a inovação nas organizações possam de fato ser eficazes, é vital explorarmos o universo emocional das pessoas. Ou seja, é preciso entender:

  • As raízes do comportamento inovador;
  • Os padrões familiares e as características mentais que influenciam as habilidades para inovação;
  • Os processos emocionais que inibem a atitude inovadora;
  • Os aspectos psicológicos que afetam a capacidade de aceitar e de implementar novas ideias.

Portanto, entender os mecanismos psicológicos das pessoas é um dos caminhos para cuidar de quem inova. Assim, pode-se desatar os nós que atravancam as mudanças e tornar as pessoas mais seguras na desafiadora jornada a caminho da transformação.

Como as cooperativas podem aproveitar a psicologia da inovação

É possível afirmar que a psicologia da inovação está muito alinhada com os valores do cooperativismo, uma vez que ela reforça a necessidade de olharmos a inovação com foco nas pessoas e não somente nas tecnologias e ferramentas que facilitam os processos inovadores.

Assim como no cooperativismo, a abordagem da psicologia da inovação valoriza a colaboração, a formação das pessoas e a transformação dos indivíduos e das organizações. Isso ajuda na compreensão do que está por trás da capacidade psicológica de inovar.

Dessa forma, a psicologia da inovação é um diferencial para auxiliar as cooperativas a inovar porque favorece:

  • A compreensão ampla e aprofundada sobre os aspectos psicológicos envolvidos na prática da inovação.
  • O entendimento dos mecanismos de resistência à inovação.
  • A identificação de diferentes tipos de personalidade inovadora.
  • A criação de ambientes colaborativos de inovação.
  • A construção de uma mentalidade para inovação que permeia todas as camadas da organização

Inovação para sobrevivência

Outro ponto importante é que o desenvolvimento da capacidade psicológica para inovar é à prova de mudanças. Isso significa que adquirir habilidades emocionais para inovação nos dá uma estrutura estável para lidar com as constantes mudanças tecnológicas.

Afinal, as habilidades emocionais para inovação independem das ferramentas e tecnologias. Elas têm a ver com atitude, visão de mundo e comportamentos. Inovar é um dos caminhos mais potentes para sobreviver ao avanço tecnológico e às transformações econômicas, políticas e sociais que nos assolam na era digital.

Tudo isso é reflexo das barreiras emocionais e das influências familiares que afetam a capacidade de inovar. Assim, precisamos capacitar pessoas para ir além do uso de ferramentas, tecnologias, metodologias e processos.

A psicologia da inovação serve, portanto, como amparo para nos lançarmos na jornada inovadora de forma menos ingênua e mais consciente. A avalanche tecnológica que nos assola, unida à rapidez com a qual tudo muda e ao tsunami de novas possibilidades que despontam no horizonte, acionam todos os sinais de alerta em nosso sistema de sobrevivência psicológica.

Muitas ferramentas digitais nos afastam de nós mesmos, da dor dos outros, da autorreflexão, do contato humano, do toque afetivo e da comunicação emocional. Ou seja, de elementos e relações que trazem tanto aconchego e tranquilidade. É essa interação humana que nos dá esperança e força para enfrentarmos os percalços da inovação e os crescentes desafios da vida.

*Sobre a autora


Fernanda Furia é sócia-fundadora da consultoria Playground da Inovação e professora da Psicologia da Inovação na FIAP e foi uma das palestrantes da Semana de Competitividade, promovida pelo Sistema OCB entre os dias 22 e 26 de agosto de 2022.

Na Trilha de Inovação, Fernanda apresentou a palestra: “Psicologia da inovação: o que está por trás da capacidade de inovar”. Ela explicou os mecanismos psicológicos que fortalecem e atrapalham a capacidade de inovar.

A programação, que contou com atividades presenciais e online, discutiu também temas fundamentais para os negócios das cooperativas, no intuito de torná-las cada vez mais competitivas.

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