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Avance Hub: as lições do case de inovação vencedor do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano

Líder do Avance Hub, da Coplacana, explica estratégias para pensar a inovação com foco no cooperado e se relacionar com startups

GESTÃO DA INOVAÇÃO05/01/20219 minutos de leitura

No dia 24 de novembro de 2020, a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) foi contemplada com o primeiro lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano, na categoria Inovação. Foi o reconhecimento de um trabalho que começou em 2017, quando a cooperativa sediada no Vale do Piracicaba (SP) decidiu colocar o projeto do Avance Hub em seu planejamento estratégico.

A demanda surgiu porque a Coplacana era muito assediada por fornecedores ofertando novos produtos e serviços. Ao mesmo tempo, se via no desafio de acompanhar o boom das tecnologias no campo e saber selecionar as que realmente faziam sentido para seu cooperado.

O projeto surgiu para lidar com essas demandas, garantindo uma visão estruturada da inovação e apoiando a cooperativa na seleção de produtos e serviços inovadores, inclusive testando e validando cada uma deles. 

Por isso, o Avance Hub é mais do que um espaço de inovação: é uma unidade de negócio da Coplacana, com missão, visão e valores próprios. O Hub possui uma enxuta equipe própria de duas pessoas, mas conta com o apoio de toda a estrutura da Coplacana.

Quem está à frente do projeto desde sua criação é o superintendente da Coplacana, Klever Coral José. Para ele, o sucesso do Hub se deve à sua estrutura totalmente dedicada à inovação. “Porque aí a gente só pensa nisso e traça metas, planeja e acompanha. E, claro, isso tudo precisa, no final, dar um retorno financeiro para a cooperativa. Tudo no Avance Hub é definido como se fosse uma unidade estratégica dentro da Coplacana”, explica. 

Para se ter ideia, nos últimos dois anos, o faturamento da Coplacana com produtos e serviços de agricultura de precisão, que surgiram dentro do Hub, foi de R$ 4 milhões. 



Escala para startups, tecnologia para cooperados


Um dos pilares de atuação do Avance Hub é o relacionamento com startups. A cooperativa conseguiu estabelecer uma relação ganha-ganha com o ecossistema, na medida em que ajuda as startups a terem acesso a seus mais de 15 mil cooperados. Para isso, elas passam por mentorias e validação dos produtos e serviços pela Coplacana.

A cooperativa pode, inclusive, dar apoio financeiro às startups. Nos últimos dois anos, o Avance já investiu cerca de R$ 1 milhão em venture capital nas startups. Mas segundo Klever, a modalidade mais simples e que tem funcionado muito bem no Hub é o financiamento dos produtos e serviços da startup pela cooperativa. 

“Esse é o modelo mais fácil de ser assertivo. Porque da outra forma, investindo no equity, eu tenho os créditos, mas também os débitos disso”, explica.

Do ponto de vista do cooperado, esse relacionamento também é interessante, visto que dá acesso com segurança às novas tecnologias das startups. Tudo é validado e testado antes de ser oferecido ao cooperado. “Assim, o relacionamento dele fica centralizado na cooperativa e o cooperado não precisa ficar pesquisando empresa a empresa”, explica Klever. 

Para saber mais sobre o Avance Hub, acesse o case no Radar da Inovação e assista ao vídeo-resumo.


A seguir, veja a nossa entrevista completa com o superintendente da Coplacana, Klever Coral José.


Qual o motivo para a criação do Avance Hub?

Klever Coral José: A Coplacana, assim como outras cooperativas de grande porte, é muito assediada no mercado por fornecedores com novos produtos e serviços. Além disso, internamente também existia uma demanda das áreas por determinadas tecnologias. E nesse contexto a gente se questionava se realmente precisava daquilo, se determinado produto ou serviço novo fazia sentido para o meu cooperado. Foi então que nós levamos esse tema para o planejamento estratégico da Coplacana e ele foi aceito. 

Nós criamos o Avance Hub, com uma estrutura apartada, no Agtech Garage (hub de inovação no agronegócio localizado em Piracicaba-SP). A ideia é sair um pouco da rotina da empresa e fazer bastante networking. O Avance tem uma estrutura totalmente focada, com equipe própria pensando unicamente em inovação, com missão, visão e valores próprios - e também as avenidas em que vamos trabalhar. O sucesso que a gente teve é muito por conta da atenção exclusiva à inovação. Porque aí a gente só pensa nisso e traça metas, planeja e acompanha. E, claro, isso tudo precisa, no final, dar um retorno financeiro para a cooperativa. Tudo no Avance Hub é definido como se fosse uma unidade estratégica dentro da Coplacana.

Como foi a organização inicial para definir as prioridades do Avance Hub?

O grande negócio que a gente faz de forma recorrente é entender a demanda do cooperado. Porque não basta só trazer a inovação para dentro da cooperativa. A gente precisa entender a demanda do cooperado, ver se ele tem estrutura, pessoal capacitado etc., para absorver aquilo. Nós identificamos algumas demandas importantes. A primeira é clima. Depois, gestão e capacitação. Então começamos trabalhando com agricultura de precisão, bioinsumos, gestão e treinamento. Estas são as avenidas principais hoje, mas nada impede que trabalhemos com outros temas.

Depois que identificamos as demandas do cooperado, começamos a fazer as parcerias que ofereciam o que eles precisavam. E muitas vezes quando vamos buscar uma tecnologia que ainda não está pronta no mercado e aí precisamos fazer a inovação cruzada, colocando mais de um fornecedor pra conversar. 

Nesse processo a gente também se utiliza do nosso corpo técnico. São mais de 100 técnicos agrônomos na Coplacana. Então temos a capacidade de trazer informações que as startups muitas vezes não têm.

Como é a interação do Avance Hub com as startups?

Nós trabalhamos com inovação aberta e ajuda bastante que a maioria das startups do agro tem alguma atuação aqui no Vale do Piracicaba, onde ficamos. Quando identificamos uma startup com uma tecnologia que atenda ao nosso cooperado e se trata de algo muito novo, geralmente precisamos fazer uma mentoria com a startup. Fazemos isso via Sebrae ou diretamente. Essas startups fazem contato com diversos departamentos da Coplacana, como jurídico, financeiro, comercial etc., porque muitas vezes elas precisam dessa visão do mercado. E elas costumam sair dessas mentorias com uma visão totalmente diferente: mudam produto, serviço e às vezes até o nome da empresa. 

Nós temos um lema aqui no Avance que é o seguinte: somos um hub de inovação que coloca as startups no mercado comercial. É isso que buscamos fazer. E quando a startup está pronta, eu consigo dar escala no negócio dela, porque ela vai acessar 15 mil cooperados da Coplacana. 

Eu tenho a demanda, o público, e uma tecnologia da startup que já passou por todas as etapas de validação e homologação nossa. É uma jornada bem assertiva. E como nos relacionamos com startups aqui do Vale do Piracicaba, atendemos um pilar social também, que é investir na comunidade, gerando empregos e crescimento onde estamos.

O fato de ser cooperativa facilitou ou dificultou algo nesse relacionamento com as startups?

Acho que a dificuldade para a startup é menor do que no caso de uma empresa convencional, uma grande empresa. Porque numa grande empresa a startup vai ter contato mais com o corpo técnico e pouco com os decisores. E aí quando aquela solução sobe para quem decide, ela pode ser alterada, cancelada ou ter um encaminhamento diferente daquilo definido anteriormente. Em uma cooperativa, o acesso aos diretores e o trabalho com eles é muito mais fácil e acessível.

Vocês investem em startups?

Sim, investimos no equity da empresa ou financiando o produto ou serviço da startup. O objetivo é que ela ofereça um bom produto para o nosso cooperado. Mas muitas vezes eu não preciso ter participação na empresa. O que tem acontecido muito é a Coplacana financiar a produção da startup. Porque muitas vezes a startup vai no banco pedir financiamento e não consegue por questões burocráticas. E a cooperativa tem dinheiro mais barato que o banco para emprestar. Esse é o modelo mais fácil de ser assertivo. Porque da outra forma, investindo no equity, eu tenho os créditos, mas também os débitos disso.

Outro ponto importante do relacionamento com as startups é a questão da sucessão. Será que os jovens vão querer trabalhar no modelo de sempre? Quando vamos trabalhar a inovação na Coplacana, também buscamos identificar os diferentes públicos - o jovem, as mulheres, o tradicional - e contemplá-los.

No âmbito do Avance Hub vocês promovem algum tipo de intercooperação?

Sim, já trabalhamos com a CCAB (Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil) ofertando alguns produtos dela. E o que acontece também é muito networking com outras cooperativas. Antes da pandemia recebemos muitas visitas presenciais e agora fazemos virtualmente. Essa parte da intercooperação é muito importante.

Quais você considera as principais realizações do Avance Hub desde sua criação?

Levar a tecnologia para junto dos nossos cooperados na área de agricultura de precisão. Porque muitas vezes quando identificamos uma nova tecnologia, ela tem um custo alto. O que fizemos foi facilitar o acesso. Por exemplo, criamos um modelo de locação dos equipamentos que facilitou o acesso. 

O cooperado, ao contratar uma nova tecnologia, pode fazer isso por meio de combos, escolhendo apenas o que ele precisa. E tudo isso já validado e homologado pela Coplacana. Tudo isso facilita o acesso.

Que orientações você daria para quem está começando agora um programa de inovação?

O primeiro passo é colocar a inovação no planejamento estratégico. A partir do momento em que isso é colocado, todo mundo vai saber que está sendo criada uma área de inovação, desde a diretoria aos técnicos da cooperativa. Depois: criar um departamento ou unidade estratégica de negócios que tenha um budget, pessoas alocadas, valores e missão. É importante ter pessoas exclusivas para pensar em inovação. E saber que em algum momento você vai errar, precisar pivotar, voltar e fazer de novo. Além disso, é importante participar de eventos e premiações, para ter ideia em que nível você está, se comparar e entender os ajustes necessários. E reconhecimento é bom porque retroalimenta, dá visibilidade. Essa jornada toda foi muito assertiva na Coplacana, por isso o sucesso.

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