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Resíduos eletrônicos: cooperativismo sustentável combate desperdício

Entenda os impactos do lixo eletrônico e conheça a cooperativa paulistana que já atua no setor de logística reversa de eletrônicos

TENDÊNCIAS14/04/20237 minutos de leitura

Em 2022, estima-se que cerca de 2,13 bilhões de computadores, tablets e celulares foram comercializados. Isto é: cada vez mais esses equipamentos são produzidos, comprados e descartados em grandes quantidades, gerando resíduos eletrônicos. O resultado disso é sentido no meio ambiente e na saúde das pessoas. Vamos conhecer mais?

Os resíduos eletrônicos, ou lixo eletrônico, produzem toneladas de materiais tóxicos. O descarte, em grande parte, é feito em ambientes desprovidos de mecanismos de reciclagem e de proteção à saúde dos trabalhadores. Além disso, o descarte sem os devidos cuidados gera danos ao meio ambiente, como a emissão de gases do efeito estufa.

O descarte incorreto também afeta a economia. A Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que, em 2019, somente 3% do lixo eletrônico da América Latina foi descartado corretamente. Assim, o desperdício equivale a US$ 1,7 bilhão por ano de materiais valiosos que poderiam ser recuperados, como ouro e metais.

Por aqui, a pesquisa “The Global E-waste Monitor 2020” mostrou que o Brasil é o quinto maior produtor mundial de lixo eletrônico. Com 2 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos produzidos em 2020, menos de 3% foi reciclado - o equivalente a apenas 60 mil toneladas.

Os efeitos do aumento nos resíduos eletrônicos

A maioria dos resíduos eletrônicos parte dos países desenvolvidos para os países subdesenvolvidos. Nesses destinos, há falta de estrutura para o descarte correto e de proteção ao trabalhador, tornando-os ideais para a proliferação de efeitos negativos ao meio ambiente e para a saúde pessoal.

 Lixo eletrônico: um problema ambiental

O tratamento correto dos resíduos eletrônicos é essencial para o desenvolvimento sustentável do planeta. O descarte adequado pode reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, por exemplo, ao evitar que sejam destinados aos aterros.

Segundo o presidente da Coopermiti, Alex Pereira, os aterros sanitários são “um dos piores destinos para esses equipamentos, uma vez que quando expostos ao sol e à chuva podem liberar substâncias tóxicas e até cancerígenas”.

O Global E-waste Statistics Partnership (GESP) indicou que, em 2019, 17,4% do lixo eletrônico mundial foi devidamente coletado e reciclado, reduzindo as emissões de cerca de 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

A ONU, nas últimas décadas, tem reforçado a importância de iniciativas voltadas para a redução das emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono, principal causador do aquecimento global.

Impactos para a saúde

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12,9 milhões de mulheres estão expostas diariamente ao material tóxico dos resíduos eletrônicos. Elas são trabalhadoras informais dos campos de descarte. Essa situação, portanto, traz risco não só à saúde delas, mas à saúde de seus filhos também.

Para o Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, “o mundo enfrenta o que um recente fórum internacional descreveu como um crescente ‘tsunami de lixo eletrônico’, colocando vidas e a saúde em risco”.

O material tóxico pode afetar, por exemplo, a saúde e o desenvolvimento de um feto, gerando sequelas por toda a vida. Mesmo em crianças um pouco maiores, o lixo eletrônico pode provocar danos respiratórios, ao DNA, à função da tireóide, além de doenças crônicas, como o câncer.

Além disso, o Sistema Nacional de Informações Sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR) alerta que alguns destes resíduos, se manipulados de forma inadequada, podem até causar incêndios, machucando pessoas.

Combatendo o desperdício dos resíduos eletrônicos

O aumento desenfreado dos resíduos eletrônicos ameaça o desenvolvimento sustentável. Ainda de acordo com dados do Global E-waste Statistics Partnership, 82,6% do lixo eletrônico mundial foi despejado ilegalmente, sem qualquer tratamento, em 2019. O combate ao desperdício, por outro lado, pode gerar oportunidades de negócios.

Economia circular e agenda ESG

Para combater o desperdício, é preciso pensar em práticas que visem tornar os produtos mais duráveis e recicláveis. Uma economia que funcione através da reutilização de insumos, por exemplo, possibilita um desenvolvimento econômico e ambientalmente sustentável.

Esse cenário também traz à discussão as mudanças na maneira de consumir. A tendência é que cada vez mais as pessoas levem as questões ambientais em conta na hora de fazer alguma compra, como a preferência por itens produzidos com baixa emissão de carbono.

Nesse sentido, operar através de uma agenda pautada pelo ESG torna-se um caminho imprescindível, portanto. Atualmente, para os negócios, é indispensável considerar a responsabilidade ambiental e social de suas atividades.

Logística reversa

Ao final de sua vida útil, os produtos eletrônicos se transformam em resíduos que devem ser gerenciados de forma ambientalmente adequada. Assim, a legislação brasileira prevê que o consumidor possa devolver esses itens de forma que eles sejam reciclados ou descartados da forma adequada.

Portanto, o sistema de logística reversa funciona por meio das seguintes etapas, descreve o SINIR:

  1. Descarte pelo consumidor dos produtos eletroeletrônicos, em pontos de recebimento;
  2. Recebimento e armazenamento adequado;
  3. Transporte dos produtos eletroeletrônicos dos pontos de recebimento até pontos de consolidação ou destinação final ambientalmente adequada (reutilização, reciclagem, recuperação ou disposição final ambientalmente adequada);
  4. Tratamento dos resíduos;
  5. Disposição final dos rejeitos em aterros.

Cooperativismo é protagonista no mercado de resíduos eletrônicos

Sendo assim, o cooperativismo é um setor ideal para alinhar essas questões ambientais e sociais com o potencial econômico dos resíduos eletrônicos. Para isso, os pilares do ESG podem guiar as cooperativas nesse sentido. Vamos conhecer alguns exemplos reais?

Coopermiti: uma cooperativa de reciclagem de lixo eletrônico

Voltada para a produção, recuperação, reutilização, reciclagem e comercialização de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), a Coopermiti é uma cooperativa pioneira no Brasil que já opera há 13 anos na cidade de São Paulo.

Com apoio da Prefeitura de São Paulo, a Coopermiti realiza a logística reversa dos equipamentos eletrônicos. Dessa forma, o trabalho da cooperativa volta-se para a coleta e destinação final desse tipo de resíduo.

Todos os procedimentos seguem as normas do setor, com as certificações e autorizações necessárias para operar. São basicamente três etapas:

  • Coleta dos resíduos - as empresas fazem corriqueiramente a substituição de equipamentos eletrônicos. A coleta evita que esse material seja enviado aos aterros sanitários. A entrega é feita diretamente na sede da Coopermiti, através de retiradas agendadas ou em pontos espalhados pela cidade.
  • Manufatura reversa - uma vez coletados, os equipamentos são desmontados para desmembrar as peças. Isso é feito para facilitar a identificação das matérias-primas e componentes, propiciando a destinação adequada.
  • Destinação - os componentes que ainda se apresentam funcionais podem ser utilizados como peças de reposição. Se o destino for a destruição, ocorre a eliminação de dados e a descaracterização completa das partes. Depois, os resíduos são enviados para os processos de reciclagem.

Em 2022, a Coopermiti reciclou 5,5 mil toneladas de lixo eletrônico. Além disso, a cooperativa realiza trabalhos de inclusão social, inclusão digital, capacitação, educação ambiental e de cultura. Ou seja: alinhando os pilares do ESG Ambiental, Social e Governança - na prática.

 Projeto “e-Waste”

Também na capital paulista, a associação de cooperativas Rede Sul e a empresa de logística reversa GM&C lançaram o e-Waste, projeto que se propõe difundir a importância da reciclagem dos resíduos eletrônicos na cidade de São Paulo. A associação é composta por cooperativas como Coopercaps, Coopermiti e Cooperativa de Reciclagem Crescer.

Para o coordenador de relações institucionais da GM&C, Henrique Mendes, “os catadores e cooperados são os atores que, desde sempre, carregaram o setor da reciclagem no Brasil. Eles possuem o conhecimento e a capilaridade necessários para que possamos multiplicar os resultados e avançar daqui em diante”.

Antes restrito à região Sul, o projeto realiza o cadastro de cooperativas de reciclagem no site da Rede Sul. A intenção é "capacitar as cooperativas para que possam atuar de forma estruturada na logística reversa de eletroeletrônicos, encaminhando os eletrônicos para uma destinação final segura, adequada e 100% rastreável”.

Conclusão

Projetos voltados para a coleta, tratamento e reciclagem de resíduos eletrônicos são uma pauta urgente imposta pelos padrões de consumo atuais. As questões ambientais, sociais e econômicas ao redor desse tema os tornam ainda mais imprescindíveis.

Iniciativas como a da Coopermiti e do e-Waste são exemplos de como o cooperativismo é capaz de atuar com eficiência no setor, sobretudo quando pautado pelos pilares do ESG.

Para isso, o guia prático ESG: O que é e como começar explica as vantagens do ESG, apresenta bons exemplos de cooperativas que já executaram práticas sustentáveis, além de mostrar como funciona o Projeto ESGCoop. Acesse!

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