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Futurismo: antecipando o futuro com as pistas do presente

O desenvolvimento de cenários futuros apoia o planejamento da inovação e contribui para a competitividade dos negócios

MÉTODOS E FERRAMENTAS27/02/202312 minutos de leitura

No InovaCoop, estamos sempre falando sobre a importância de antecipar as tendências para impulsionar a inovação no cooperativismo. Mas, para isso, é necessário imaginar como as coisas serão no futuro, certo? Pois, apesar de parecer um superpoder, prever o futuro nos negócios não tem nada de fantasioso. Trata-se, isso sim, de uma atividade muito valorizada: o futurismo.

O futuro, apesar de ser um conceito um tanto abstrato, não é tão incerto quanto parece. A análise do presente é capaz de nos dar pistas sobre como as coisas serão no futuro. Isso não quer dizer, contudo, que identificar essas pistas e analisar o que elas indicam seja fácil.

É por isso que estudar o futuro requer habilidades, capacidades analíticas e compreensão do presente. Essas perspectivas proporcionam um norte para o avanço das inovações e das estratégias nos negócios. A avaliação das tendências de mercado é um fator que conta muitos pontos de competitividade, afinal.

Neste artigo, iremos entender, então, o que é o futurismo, como essa habilidade é utilizada para impulsionar iniciativas inovadoras, quem são os grandes futuristas da atualidade e quais técnicas eles usam para antecipar o futuro. Aproveite a leitura!

O que é futurismo

Futurismo (ou foresight, como é chamado em inglês) é uma disciplina que analisa situações do presente para antecipar, acelerar e influenciar o futuro. A ideia é formular cenários prováveis para ajudar o planejamento e a tomada de decisões.

O futurismo não é uma ciência exata - e nem poderia ser, não é mesmo? Com isso, essa disciplina busca entender os movimentos e as transformações a fim de proporcionar um vislumbre das possibilidades plurais que o futuro apresenta. Por esse motivo, o futurismo busca identificar tendências e fenômenos, e não dar uma única resposta sobre como o futuro vai ser.

Nessa jornada, o futurismo é um campo de estudo interdisciplinar - isto é, reúne bases de várias outras áreas do conhecimento. O futurismo, portanto, mescla as ciências exatas, ciências sociais, design, filosofia e técnicas de gestão para projetar cenários futuros a partir de sinais do presente.

O termo “futurismo” foi criado na década de 1940 pelo professor alemão Ossip Flechtheim, com o objetivo de introduzir a ciência da probabilidade no desenvolvimento de cenários futuros. A partir de então, o futurismo se desenvolveu como uma nova disciplina acadêmica, ganhando novas ramificações e técnicas. Por isso, é importante reforçar: futurismo não é achismo.

Por que o futurismo é importante

Na prática, toda vez que sua cooperativa fica de olho nas tendências e se prepara diante das perspectivas que essas tendências indicam, ela já está fazendo um exercício de futurismo. Dessa forma, o futurismo é uma ferramenta para otimizar o planejamento dos negócios, encontrar oportunidades, identificar riscos e, consequentemente, atuar estrategicamente dentro desses cenários.

Por esse motivo, desenhar cenários futuros é importante para a estratégia dos negócios de todos os portes e atividades. O futurismo, então, é uma maneira de compreender quais caminhos adotar com base no estudo das tendências, em vez de apostar somente na intuição e na experiência.

Portanto, o futurismo tem o papel de evitar que o planejamento seja elaborado pensando somente no curto prazo.

“O futurismo é, assim, o instrumento que favorece as melhores tomadas de decisão no presente, que possibilitam a melhor criação de futuros para todos e cada um de nós, garantindo a nossa humanidade, diversidade e sustentabilidade”, defende a futurista Martha Gabriel.

Os papéis estratégicos do futurismo

O futurismo cumpre, ainda, uma série de papéis dentro do planejamento estratégico e da gestão da inovação. Essa disciplina possibilita que as cooperativas encontrem novos modelos de negócio que ainda estão começando a se desenvolver, assim como se antecipar às mudanças e incertezas do cenário econômico. As tendências de consumo também estão no escopo do futurismo.

Diante disso, a MJV Innovation destaca as três principais aplicações estratégicas do futurismo nos negócios:

  • Estudo de futuros: trata-se de antecipar transformações e planejar, de antemão, respostas efetivas às mudanças que se desenham no horizonte. Mesclando inteligência de dados e o desenvolvimento de cenários futuros, é possível entender melhor tendências sociais, econômicas e geopolíticas - e preparar os negócios para tais mudanças.
  • Gerenciamento de risco: o futurismo ajuda, ainda, na identificação de situações que podem representar riscos para os negócios. Portanto, os cenários futuros auxiliam a encontrar as ameaças que se aproximam.
  • Inovação antecipatória: pensar nas formas de antecipar a cooperativa perante as mudanças, com foco em tomar as melhores decisões frente aos cenários futuros e às incertezas atuais. Afinal, é preciso agir o quanto antes para que as mudanças sejam efetivas e capazes de gerar vantagem competitiva.

Futurismo e inovação

O futurismo não é apenas prever o que vai acontecer no futuro, mas também envolve influenciar e conduzir as mudanças. O desenvolvimento de cenários futuros é, assim, uma forma de guiar as inovações por meio da disrupção.

A ideia é construir e inovar dentro dos cenários de futuro identificados, usando essas percepções para a realização de iniciativas inovadoras com capacidade de influenciar esses contextos.

Em um mercado dinâmico e competitivo, há cada vez menos tempo hábil para desenvolver novas soluções, produtos e serviços. Os cronogramas apertados exigem que as novas ideias mirem no futuro, e não no agora. Por esse motivo, o futurismo se tornou uma ferramenta valiosíssima para os negócios que buscam a inovação constante.

No mercado atual, a capacidade de antecipar tendências e necessidades dos consumidores é imprescindível. A inovação, então, surge para suprir essas novas demandas identificadas pelo futurismo.

Futurismo e ambidestria organizacional

Em nosso artigo sobre as principais tendências que se tornaram realidade em 2022, falamos sobre a ambidestria organizacional. Trata-se de um conceito que descreve a importância de equilibrar as inovações que dão sustentação aos negócios no presente ao mesmo tempo em que a cooperativa fica de olho nas possibilidades de inovação que se apresentam para o futuro, explorando tendências e oportunidades.

Dessa forma, o futurismo é um elemento importante para a efetividade da ambidestria organizacional. Uma vez que um dos pilares dessa ideia é a inovação a longo prazo, o desenvolvimento de cenários futuros é imprescindível para a ambidestria organizacional.

A inovação a longo prazo, afinal, precisa já está sendo feita no agora. Não dá para esperar o futuro chegar sem estar preparado para as mudanças. Com isso, o futurismo é uma ferramenta para identificar os caminhos que irão direcionar a inovação no longo prazo e apontar as direções em meio à transformação digital.

Quem prevê o futuro: o que é um futurista?

“O futurista é alguém que estuda resultados futuros usando sinais do presente”. Essa é a definição de Amy Webb, uma das maiores futuristas da atualidade, sobre a sua função.

Essa ideia do que é um futurista leva em conta a origem do futurismo: a ficção. O escritor H.G. Wells, autor de obras como A Máquina do Tempo, foi o grande precursor do futurismo moderno ao desenvolver uma técnica que ele chamou de “escrita preditiva”. À frente iremos falar mais sobre a ficção especulativa no futurismo.

Com o passar do tempo, os futuristas foram desenvolvendo novas técnicas, absorvendo as novas tecnologias e fazendo uso dos dados para antecipar os cenários futuros. Há futuristas, como Amy Webb, que estudam mudanças tecnológicas e sociais mais amplas e gerais, enquanto outros grupos se especializam em determinados temas ou indústrias.

Os grandes futuristas da atualidade

O futurismo se tornou uma prática importante para o planejamento estratégico de muitos negócios. Com isso, uma série de profissionais ganhou destaque nesse meio e têm suas análises respeitadas e levadas em consideração. Separamos, então, alguns dos principais futuristas da atualidade para acompanhar:

  • Amy Webb: fundadora e CEO do Future Today Institute, que produz relatórios anuais sobre tendências tecnológicas e realiza consultorias sobre mapeamento de cenários e construção de futuros. Além disso, Amy Webb protagoniza apresentações disputadas, nas quais discorre sobre suas predições - como no caso do festival South By Southewst (SXSW).
  • Scott Galloway: outro a marcar presença no SXSW, Galloway é professor na New York University e conhecido por suas previsões certeiras. Seu foco está, majoritariamente, no mercado de tecnologia.
  • Genevieve Bell: antropóloga cultural e futurista mais conhecida por seu trabalho na interseção de práticas culturais e desenvolvimento de tecnologia. Ela é diretora do Instituto de Inovação de Autonomia, Agência e Garantia (3Ai), que alia a análise de dados e a Inteligência Artificial ao futurismo.
  • Jaqueline Weigel: referência do Brasil no tema, faz parte da equipe estratégica da W Futurismo, uma consultoria que se dedica a explorar sinais de mudança para construir visões de futuro e, assim, apoiar o planejamento estratégico das organizações. 

Ficção especulativa: prevendo o futuro com a arte

Como vimos, um dos grandes precursores do futurismo foi um escritor de ficção. Neste artigo, aqui no InovaCoop, também explicamos que a ficção é um meio de construir narrativas e cenários de futuro para antecipar tendências. A escritora Margaret Atwood entende que a ficção especulativa existe como um reflexo do mundo real.

A autora explica que a ficção especulativa é a construção ficcional de um futuro palpável de acordo com as tendências tecnológicas, culturais e sociais correntes. Isto é: tem muito a ver com o futurismo em sua jornada de interpretar o futuro a partir de pistas do presente.

Além disso, os negócios também podem tirar lições da ficção especulativa para antecipar tendências do ambiente de negócios. Há, inclusive, consultorias especializadas atuando nesse setor que atendem grandes nomes da economia global. É o caso, por exemplo, da Experimental.Design.

Contratada pela montadora Ford, a Experimental.Design elaborou um protótipo para a cidade do futuro, na qual os espaços são mais ocupados por pessoas, em detrimento dos carros. Ou seja: um cenário que representa um desafio para uma das líderes da indústria automotiva. Agora, então, a montadora pode se antecipar e inovar perante essas circunstâncias.

Técnicas de futurismo

Diante de tamanha importância de desenvolver cenários futuros a fim de potencializar o planejamento estratégico, o passo seguinte é: como identificar tendências e criar cenários futuros?

Bom, não existe uma única metodologia para isso, até mesmo por causa do caráter multidisciplinar do futurismo. Contudo, alguns fatores são imprescindíveis para fazer uma análise de predição. Assim, a Bits Academy desenvolveu uma metodologia que reúne as técnicas mais importantes para a análise de cenários futuros chamada Future Canvas.

A metodologia proposta se baseia em cinco pilares, que são:

1. Analisar os sinais fracos

Os sinais fracos são as pequenas mudanças que, muitas vezes, não são percebidas. De início, essas mudanças podem até parecer pouco relevantes mas, no longo prazo, são capazes de gerar grandes mudanças. Identificar os sinais fracos com antecedência permite a análise de futuros derivados dessas mudanças.

Para isso, uma sugestão é escanear o ambiente de negócios buscando identificar os sinais fracos, assim como as soluções para tirar proveito do que eles indicam. Isso pode ser feito por meio de pesquisas de mercado, conversas com clientes, gestores e outros públicos de interesse.

2. Verificar as consequências dos sinais fracos

Depois de identificar os sinais fracos, é hora de entender quais são as suas consequências. Para isso, faça uma reunião para que a equipe possa apresentar ideias e conjecturas sobre os impactos das mudanças. Esses impactos vão gerar outras consequências, como se fosse uma cascata, que também devem ser consideradas.

3. Analisar o contexto em que as pequenas mudanças estão ocorrendo

O contexto das mudanças deve ser avaliado levando em consideração uma série de fatores:

  • Social: estilos de vida, demografia, valores, comportamento;
  • Tecnológico: inovação, transporte, comunicação, energia;
  • Econômico: taxa de juros, comércio, economia, inflação, subsídios, emprego;
  • Ambiental: poluição, comida, fatores climáticos;
  • Política: estabilidade, sindicatos, políticas fiscais, grupos de pressão.

Todas essas áreas são afetadas pelas mudanças. Neste passo, a ideia é obter uma visão ampla sobre o cenário futuro.

4. Entender quais são as tendências

Tendências são padrões que têm um grande potencial de impacto. A Bits Academy as divide em 4 grupos:

  • Megatendências: movimentos que levam décadas até que estejam consolidados, mas são certezas. Geralmente, têm a ver com forças macroeconômicas.
  • Macrotendências: ocorrem em um contexto amplo, globalizado, e duram entre 5 e 10 anos.
  • Microtendências: têm menor duração do que as macrotendências e ocorrem a todo momento de maneira mais localizadas. São, também, rapidamente substituídas.
  • Modas: ganham popularidade rapidamente, mas somem na mesma velocidade. Bastante presentes nas mídias digitais.

5. Desenhar os cenários futuros

Neste ponto, há uma gama de possibilidades de cenários futuros que devem ser levados em conta:

  • Absurdos: cenários que no momento parecem impossíveis e, provavelmente, nunca vão ocorrer.
  • Possíveis: cenários que podem ocorrer, com base em algum conhecimento futuro que ainda não possuímos, mas que poderíamos ter algum dia.
  • Plausíveis: são os cenários que poderiam acontecer com base no conhecimento atual e compreensão de como o mundo funciona hoje.
  • Projetados: cenários que mantêm a atual conjuntura. Ou seja, a projeção do futuro se nada mais mudar.
  • Prováveis: aqueles cenários que, provavelmente, acontecerão, de forma que é possível prevê-los com base em tendências atuais.
  • Desejáveis: os únicos cenários em que o juízo de valor é aplicado. A ideia é imaginá-los para identificar o futuro desejado a partir de nossos próprios valores.

Conclusão

O processo de inovação passa pela antecipação das tendências e dos cenários de futuro. Dessa forma, as iniciativas inovadoras podem se integrar mais eficazmente no planejamento estratégico e na gestão da inovação.

Por esse motivo, é importante estar sempre de olhos abertos para os sinais de mudanças e as perspectivas para o futuro. As técnicas de futurismo ajudam a antecipar as tendências e estar sempre um passo à frente.

O InovaCoop tem um curso online de pesquisador de tendências voltado ao cooperativismo. Desenvolvido em parceria com a Descola, o curso ensina a olhar para cenários e contextos de uma forma estratégica, para te ajudar a mapear tendências a partir de mudanças sociais, de produtos ou de comportamentos.

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