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Open Finance: como funciona e qual o impacto no cooperativismo de crédito

Fruto da tendência de descentralização nos serviços financeiros, o Open Finance gera oportunidades por meios do compartilhamento de dados.


MÉTODOS E FERRAMENTAS31/01/20238 minutos de leitura

O sistema financeiro foi um dos setores mais afetados pela transformação digital e uso dos dados para aprimoramento da oferta de serviços. Os processos analógicos foram deixados de lado e a coleta de informações dos clientes impulsiona a personalização dos produtos financeiros. Assim, a fim de aumentar a competitividade e empoderar os usuários, surgiu o Open Finance.

O Open Finance é um conceito que se baseia na ideia de um sistema financeiro aberto, compartilhado e digital. Além disso, o Open Finance deve muito ao princípio da portabilidade de dados - isto é, a de que os dados pertencem às pessoas, e não às instituições que os coletaram.

Dessa forma, o Open Finance tem como intuito o compartilhamento dos dados pessoais colhidos por uma determinada instituição financeira com outras concorrentes. Assim, ele permite a troca de informações entre as instituições participantes, criando um ambiente de negócios mais inclusivo, seguro e inovador. Consequentemente, os clientes têm uma oferta maior de produtos personalizados em melhores condições, adequados às suas necessidades específicas.

Neste artigo, vamos conhecer mais sobre Open Banking, entender a sua implementação em curso no Brasil, avaliar seus benefícios e conferir como as cooperativas de crédito se relacionam com esse sistema. Boa leitura!

Open Finance no Brasil

O movimento mundial de Open Finance começou em 2018, nos países da União Europeia. O sucesso da iniciativa inspirou sua reprodução em todos os continentes do mundo, e chegou ao Brasil.

Por aqui, a criação de um sistema financeiro aberto partiu de uma iniciativa do Banco Central, em 2021, por meio de fases com níveis crescentes de complexidade e transformação contínua. O projeto teve início com o nome de Open Banking, mas mudou de alcunha para a atual Open Finance a fim de mostrar a sua maior abrangência.

Isso foi feito porque o projeto inclui não somente informações sobre produtos e serviços financeiros mais tradicionais (como contas e operações de crédito), mas também dados de produtos e serviços de câmbio, credenciamento, investimentos, seguros e previdência.

Como o Open Finance funciona

Como dissemos, o princípio central do Open Finance é a portabilidade de dados. Assim, os usuários estão no controle de suas informações e escolhem como, quando e com quem compartilhar os seus dados através do consentimento à instituição detentora deles. Sem esse consentimento, o compartilhamento não pode acontecer.

O compartilhamento de informações pode ser realizado entre as diversas instituições e cancelado pela pessoa sempre que ela quiser. Com isso, os clientes têm acesso às ofertas de outras instituições financeiras, ampliando o leque de opções em busca das melhores condições para os serviços financeiros.

O Open Finance precisa, ainda, que as instituições financeiras participantes deste ecossistema ofereçam suporte para o funcionamento das APIs (Application Programming Interfaces). APIs são ferramentas incluídas nas plataformas dessas instituições para que elas se comuniquem rapidamente entre si.

Assim, o processo de compartilhamento de dados dentro do Open Finance precisa seguir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e acontece em por meio dos seguintes passos:

  • Consentimento: o cliente ou cooperado informa o desejo de incluir seus dados no sistema, especificando a instituição que fazem parte, quais serão os dados compartilhados e por quanto tempo.
  • Autenticação: o usuário acessa sua conta na outra instituição financeira.
  • Confirmação: em seguida, o usuário precisará confirmar a autorização do compartilhamento de seus dados.
  • Efetivação: a organização receptora das informações confirma o recebimento dos dados compartilhados.

Fases do Open Finance

A implementação do Open Finance é gradual, agregando novos recursos conforme as fases evoluem. Ao todo, há quatro fases previstas, que são as seguintes:

  1. Open Data padronizado das instituições financeiras: as informações sobre canais de atendimento e produtos e serviços devem ser disponibilizadas, incluindo as taxas e tarifas de cada item ofertado.
  2. Compartilhamento de dados do consumidor: os usuários podem compartilhar seus dados (como, por exemplo, cadastros, transações em conta, informações sobre cartões e operações de crédito) com as instituições de sua preferência. Tudo feito por meio de consentimento, que pode ser revogado a qualquer momento.
  3. Serviços à escolha do consumidor: acesso a serviços financeiros, como pagamentos e encaminhamento de propostas de crédito, sem a necessidade de acessar os canais das instituições financeiras com as quais o usuário já tem relacionamento.
  4. Ampliação de dados, produtos e serviços: inclusão de novos dados que poderão ser compartilhados, além de novos produtos e serviços, tais como contratação de operações de câmbio, investimentos, seguros e previdência privada.

Aplicações práticas do Open Finance

A integração de dados proporcionada pelo Open Finance abre um leque de novas possibilidades para os serviços financeiros e, principalmente, para os clientes.

Com isso, essas são algumas soluções que poderão ser desenvolvidas a partir do Open Finance:

  • Comparadores de serviços e tarifas
  • Aplicativos de aconselhamento financeiro
  • Iniciação de pagamentos em mídias sociais
  • Marketplace de crédito

Percepções na implementação do Open Finance

Um estudo realizado pela FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) em parceria com a consultoria Deloitte aponta que alguns temas têm demandado maior atenção das instituições financeiras no processo de implementação do Open Finance.

Segundo o levantamento, esses são os principais temas selecionados pelos bancos com a implementação do Open Finance no Brasil:

  • Padronização da informação (61%)
  • Definição das novas estratégias de negócio (57%)
  • Utilização dos dados agregados estrategicamente (52%)
  • Segurança do compartilhamento/envio de dados (52%)
  • Obtenção de consentimento dos clientes para o compartilhamento de dados (39%)
  • Gestão de dados compartilhados (30%)
  • Agregação de dados dos clientes (22%)
  • Educação financeira dos clientes (13%)

Os executivos consultados pela pesquisa refletiram sobre os gargalos para o avanço e a adoção do Open Finance por parte dos clientes. A expectativa do setor é a de que os usuários irão compartilhar seus dados mais frequentemente à medida que o ecossistema consiga entregar uma experiência estável e integrada.

A percepção de valor irá surgir por meio da conveniência, simplicidade e usabilidade do sistema. Com isso, o volume de dados compartilhados cresce e amplia as possibilidades de soluções diferenciadas com base nas percepções geradas por meio do agrupamento dessas informações.

Benefícios do Open Finance para clientes e instituições

O levantamento da FEBRABAN com a Deloitte também apurou as expectativas que as instituições financeiras depositam no Open Finance tanto em relação aos benefícios para as próprias organizações quanto para os clientes.

Os principais ganhos para as instituições financeiras são:

  • Autonomia e transparência;
  • Redução de tempo e de complexidade de acesso a serviços bancários;
  • Recebimento de ofertas de produtos, serviços e soluções customizadas, para várias esferas da vida e não apenas a financeira;
  • Atendimento personalizado, como definição de preferências de voz masculina/feminina e de interface do aplicativo;
  • Simplificação e integração da jornada online e offline.
  • Já para os usuários, as vantagens são:
  • Aumento da escala da operação bancária;
  • Maior conhecimento sobre a vida financeira do cliente;
  • Aumento da possibilidade de novos negócios com produtos e serviços financeiros e não financeiros;
  • Aumento da inovação e competitividade;
  • Maior possibilidade de conexão com o cliente e de desenvolvimento de parcerias.

Cooperativismo de crédito no Open Finance

Os impactos do Open Finance perpassam por todo o sistema financeiro brasileiro - sendo assim, não é diferente com as cooperativas de crédito. O processo de digitalização do sistema financeiro constrói um ecossistema dinâmico, acirrando a competição, mas também disponibilizando recursos para melhorar a prestação de serviços.

Esse cenário apresenta oportunidades para o desenvolvimento de elementos que representam diferencial competitivo: novos associados, produtos, fortalecimento da saúde financeira, parceiros estratégicos, estratégia corporativa e evolução da cultura organizacional.

Dessa forma, a adesão das cooperativas de crédito apresenta aspectos favoráveis para a adesão ao Open Finance. Tanto que grande parte dos principais representantes do Ramo já aderiu ao sistema - para conferir, é só acessar esta lista com as instituições financeiras que já estão integradas ao Open Finance.

Impacto social das cooperativas no Open Finance

Com base no princípio de interesse pela comunidade, as cooperativas de crédito convertem seus resultados em benefícios para seus cooperados e para a região em que atuam. Uma vez que não vislumbram lucro, as coops promovem a concorrência com taxas mais baixas, o que resulta em melhores condições até mesmo para clientes de outras organizações.

Dentro dessa lógica, a tendência é que, com o compartilhamento de dados por meio do Open Finance, os impactos das cooperativas nas taxas serão mais abrangentes. Consequentemente, as demais instituições financeiras terão de adequar suas taxas e margens para competir com o cooperativismo de crédito.

Com isso, o impacto social do cooperativismo de crédito, que beneficia mesmo quem não é cooperado, será ainda mais amplo devido aos mecanismos do Open Finance.

Conclusão

No artigo que fizemos sobre as tendências para acompanhar em 2023, citamos o amadurecimento do sistema financeiro descentralizado e digital. O Open Finance é um dos atores que representam o avanço dessa fase de transformação digital dos serviços bancários e financeiros.

Esse movimento se acelera no Brasil e envolve, por exemplo, o PIX e os planos para a criação do que o Banco Central descreve como uma moeda virtual, o real digital. O cooperativismo de crédito, com a sua força e capilaridade, encontra no Open Finance oportunidades e perspectivas para o futuro de seus negócios.

Para saber mais sobre a participação do cooperativismo no sistema financeiro aberto, digital e compartilhado que evolui a cada dia, confira a edição 76 da Análise Econômica do Sistema OCB.

Além disso, o Open Finance é resultado direto da transformação digital aliada à inovação. Por isso, confira os materiais do InovaCoop, como o curso online de Transformação Digital, produzido em parceria com a Descola, ou e-book especial que discorre sobre as principais tendências tecnológicas que prometem afetar os negócios.

Conteúdo elaborado pela equipe do

Sistema OCB