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O cenário da inovação no Brasil e no cooperativismo

Posição do país no Índice Global de Inovação mostra que é preciso inovar mais

TENDÊNCIAS26/01/20218 minutos de leitura

Você nunca ouviu falar tanto sobre inovação como nos últimos tempos. Não só no cooperativismo como em todos os setores da economia. É, de fato, um movimento em ascensão no Brasil, mas ainda com um longo caminho pela frente.

Neste blogpost, vamos entender o estado da inovação no Brasil e no cooperativismo: sua importância, estado atual e lacunas a serem preenchidas.

Começaremos por um dos indicadores mais abrangentes sobre o tema, que é o Índice Global de Inovação (IGI), de 2020. Nele, o Brasil é apenas o 62º colocado no ranking que abrange 131 países, o que representa um ganho de quatro posições em relação a 2019. Quando olhamos apenas para os países da América Latina e Caribe, o Brasil aparece somente na 4ª posição entre as 37 nações, ficando atrás de Chile (54º), México (55º) e Costa Rica (56º).

Por isso que, para muitos especialistas, a posição do Brasil no ranking de inovação é incompatível com o fato de o país ser a 9ª maior economia do mundo. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, por exemplo, é um dos que afirmam que o Brasil continua numa posição abaixo de seu potencial.

“Precisamos melhorar o financiamento à inovação, fortalecer parcerias entre governo, setor produtivo e academia, estruturar políticas de longo prazo e priorizar a formação de profissionais qualificados”, disse Andrade ao portal da CNI.

A importância do Índice Global de Inovação (IGI)

O IGI é uma ferramenta imprescindível para comparar o Brasil com os países mais inovadores do mundo. Atualmente, o top 10 do ranking é formado por: Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Singapura, Alemanha e Coreia do Sul.

De forma macro, é importante olhar para o IGI porque ele vem se tornando um instrumento quantitativo essencial para auxiliar em decisões globais, estimular a atividade inovadora e impulsionar o desenvolvimento econômico e humano.

Composto por 80 indicadores de 30 fontes internacionais públicas e privadas, o ranking é divulgado anualmente, desde 2007, pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI ou WIPO, na sigla em inglês), em parceria com a Universidade de Cornell e a Insead. No Brasil, a CNI, por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), é parceira na produção e divulgação do IGI desde 2017.

Em sua última edição, em 2020, o estudo mostrou que Brasil, México e Argentina abrigam empresas globais de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e estão entre as primeiras 10 economias de renda média no critério qualidade da inovação. Destacou também que Chile, Uruguai e Brasil produzem altos níveis de artigos científicos e técnicos, com o Brasil tendo também um alto impacto em matéria de patentes.

O estudo também pontuou que os 100 melhores clusters de Ciência e Tecnologia estão localizados em 26 economias, seis das quais (Brasil, China, Índia, Irã, Turquia e Rússia) são de renda média. O IGI 2020 destacou o cluster de São Paulo entre os 100 melhores do mundo.

Além disso, a pesquisa constatou que a pandemia desencadeou uma paralisação econômica global sem precedentes, atingindo também o panorama de inovação no mundo. Ao comentar o resultado, a CNI afirmou que o papel da inovação se mostra cada vez mais imprescindível diante de um período de incertezas e de retração na economia provocadas pela pandemia.

Por fim, o estudo lembra que a maioria das economias que subiram na classificação do IGI ao longo do tempo se beneficiaram de sua integração em cadeias de valor e redes de inovação. China, Vietnã, Índia e Filipinas são exemplos importantes. Além disso, a atual conjuntura causada pela Covid-19 mostrou que a cooperação, não só nacional mas também internacional, é uma ferramenta poderosa em prol da inovação. E de cooperação o nosso setor entende bem.

A inovação dentro das organizações 

Além de olhar a situação do país de forma geral, é importante analisar a inovação dentro das organizações. Por isso, trouxemos aqui outro estudo relevante: a Pesquisa de Inovação (Pintec) 2017, que o IBGE divulgou em 2020 com dados sobre o esforço de empresas dos setores da indústria, serviços, eletricidade e gás, entre 2015 e 2017, para a inovação de produtos e processos.

No período de 2015 a 2017, das 116.962 empresas brasileiras analisadas pelo estudo, 33,6% delas fizeram algum tipo de inovação em produtos ou processos. A taxa, porém, é inferior aos 36% registrados no triênio anterior, de 2012-2014.

Por outro lado, pela primeira vez na série histórica da Pintec, os investimentos em inovação ficaram à frente de aquisição de máquinas e equipamentos: R$ 25,6 bilhões foram para atividades internas de pesquisa e desenvolvimento (P&D); R$ 21,2 bilhões foram aplicados na aquisição de máquinas e equipamentos; e mais R$ 7 bilhões na aquisição externa de P&D.

Embora os dados da Pintec sejam de 2017, eles são muito relevantes porque trazem uma semelhança com o nosso período atual. O gerente responsável pela pesquisa, Flávio Peixoto, lembra que no período entre 2015 e 2017 houve recessão econômica no país, com a redução do apoio do governo à inovação por meio de linhas de financiamento. “O apoio público é muito importante. Quando esse apoio diminui, existe grande tendência de as empresas também diminuírem suas atividades inovativas”, afirma Peixoto.

Prova disso é que, de acordo com o IBGE, os riscos econômicos excessivos ganharam importância para as empresas inovadoras e se configuraram, para 81,8% das organizações consultadas, como o principal obstáculo para inovar.

“A inovação é uma decisão estratégica e de longo prazo da empresa. É um fenômeno que custa a aparecer. Tem maturação longa em vários aspectos. No momento em que a empresa se depara com riscos econômicos, é muito natural que ela retraia os seus investimentos em inovação”, afirma o gerente da pesquisa.

Ao mesmo tempo, a inovação também pode ser a principal solução para superar uma crise como a causada pela Covid-19. De acordo com a Strategy&, consultoria estratégica da PwC, é a inovação que tem ajudado a maioria das empresas brasileiras a superarem a crise. A conclusão faz parte da pesquisa que baseou a elaboração do ranking das 150 empresas mais inovadoras do país, que faz parte do anuário Valor Inovação Brasil 2020.

A pesquisa ouviu 214 organizações, que juntas somam investimento de R$ 65 bilhões por ano em inovação, e mostrou que 96% delas disseram que a inovação está ajudando a companhia a enfrentar a crise da Covid-19.

“A inovação cresceu em relevância para as empresas. Ao todo, 64% das empresas consideram a inovação entre as três prioridades de investimento”, afirmou Gerson Charchat, sócio da Strategy&, em publicação do Valor Econômico.

E como anda a inovação no cooperativismo?

No cooperativismo, é notável que nos últimos anos se intensificou um movimento de transformação digital e promoção da inovação. O Radar da Inovação, por exemplo, tem mapeadas dezenas de iniciativas inovadoras de cooperativas de diversos portes e ramos - e o número cresce semanalmente.

Uma pesquisa realizada em 2020 pela Coonecta - Cooperativismo e Inovação com 92 colaboradores de cooperativas apontou que a pandemia de Covid-19 intensificou a inovação e transformação digital. 88% dos respondentes classificaram a transformação digital como um tema com “alto grau de importância” em suas cooperativas, e 64,6% apontaram que as iniciativas de inovação foram aceleradas por conta da pandemia.

Os dados disponíveis sobre inovação no cooperativismo, no entanto, ainda são pouco abrangentes. Não há um levantamento amplo sobre o tema, o que dificulta o entendimento sobre o estado da inovação atual nas cooperativas e também o planejamento de médio e longo prazo para um cooperativismo mais inovador.

É para mudar este cenário que o Sistema OCB, por meio do InovaCoop, está realizando uma abrangente pesquisa para conhecer o cenário de inovação nas cooperativas, além de identificar desafios e oportunidades para seu desenvolvimento. Os resultados vão balizar os próximos passos do Sistema OCB no incentivo à inovação no cooperativismo.

A Checon, empresa especializada e com experiência no cooperativismo, está conduzindo a pesquisa, que estará aberta até dia 29 de janeiro. O questionário não dura mais que 5 minutos e toda e qualquer cooperativa pode responder, tenha ela iniciativas de inovação estruturadas ou não.

“Nós queremos reforçar a necessidade de participação de todas as coops. Pequenas e grandes; as que inovam ou não; do Norte ao Sul do país. Só com ampla adesão conseguiremos um resultado que represente, de fato, o cooperativismo brasileiro”, argumenta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.

Clique aqui para acessar o questionário e ajudar o cooperativismo na sua mais ampla pesquisa de inovação.

Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Coonecta