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Fairbnb: uma coop de plataforma que sonha alto e realiza muito

Leia a entrevista do gerente de Produto da Fairbnb, o brasileiro João Carlos Silva e conheça um pouco da história dessa cooperativa italiana.

COOPERATIVISMO DE PLATAFORMA08/06/20214 minutos de leitura

Desde o que o coronavírus começou a passear pelo mundo, tivemos que nos recolher. Muitas viagens e eventos, como passeios e festas foram cancelados por conta das orientações sanitárias de distanciamento social. E não resta dúvida: entre os setores mais prejudicados com isso, está o de turismo.

E as cooperativas que lidam diretamente com esse segmento econômico fazem parte do grupo que sofreu e ainda sofre com a redução no número de viagens. Entretanto, elas perceberam que, para sobreviver, a única saída seria a reinvenção, ou seja, encontrar formas inovadoras de continuar com as portas abertas.

Foi o que fez a italiana Fairbnb, cooperativa de plataforma fundada em 2016 com a meta de ser o Airbnb no modelo cooperativista. E, mesmo com a proposta de garantir tanto condições mais acessíveis aos viajantes como melhor remuneração aos proprietários, também teve de se repensar para driblar as dificuldades da maior crise sanitária da história humana.

Aqui no Brasil, a gente conversou com o gerente de Produto da Fairbnb, o brasileiro João Carlos Silva. Ele contou um pouco de como foi esse processo. Confira!

 

Como você conheceu a cooperativa?

Eu conheci a Fairbnb através do LinkedIn e me aprofundei um pouco sobre a cooperativa que já foi destaque na grande mídia (The Guardian, The New York Times e Financial Times), como um modelo de negócios diferente, baseado no cooperativismo.

Qual o propósito da Fairbnb?

Uma das principais dores que a cooperativa busca sanar diz respeito aos efeitos negativos causados pelo turismo de massa como, por exemplo, a gentrificação* e o fato de que, muitas vezes, a riqueza gerada pelo turismo não fica na região.

Por isso, uma das nossas iniciativas é de que 50% do valor da comissão sejam doados a um projeto socioambiental da cidade que recebe o viajante. Então, no momento da reserva, o turista tem a opção de escolher um projeto para o qual gostaria de fazer a doação. Essa é uma das principais âncoras da nossa plataforma.

Além dessa questão dos 50% do valor da comissão que ficam, necessariamente, no local, existem outras iniciativas da cooperativa que garantam que o turismo seja feito de forma sustentável. Além dos atores principais, como cooperados e colaboradores, também temos os hosts (anfitriões), os guests (viajantes) e os embaixadores nas cidades em que estamos e, claro, os projetos socioambientais.

Os embaixadores são responsáveis por garantir que os hosts que se inscrevem na plataforma estejam regulares com as prefeituras (ou municipalidades, como chamamos fora do país) e que a presença da Fairbnb também esteja de acordo com as necessidades e leis que aquela cidade propõe.

Como a pandemia impactou a operação da cooperativa?

Com a pandemia a gente teve alguns impactos, assim como os outros setores. As pessoas não estavam mais viajando e os hosts também estavam bem preocupados em receber os hóspedes na casa deles, mas durante o processo, o nosso principal foco foi olhar para as necessidades desses atores. Nós fizemos várias entrevistas para entender qual eram as expectativas, analisamos os movimentos do mercado... e fomos nos adaptando. Isso foi muito importante para que a gente conseguisse se manter relevante, ganhando mais força e mais espaço no coração e na mente das pessoas. Vale dizer que, atualmente, temos 18 cooperados pela Europa e alguns colaboradores que não são membros da cooperativa.

Já que a Fairbnb trabalha com turismo, qual a relevância da sustentabilidade para a coop?

Eu acredito que, para este momento de pandemia, negócios sustentáveis como este são cada vez mais importantes. E essa questão da sustentabilidade é muita complexa, pois passa por diversos setores, como os departamentos internos e as ações externas, por exemplo, por isso, acredito que é essencial inserir essa pauta – a sustentabilidade – nos negócios, sobretudo nesse momento de pandemia, que tem nos ensinado que o mundo precisa se sustentar. Então, se continuarmos caminhando como estávamos, ou seja, sem esse olhar, não vai dar muito certo. Hoje em dia, vale a muito a pena buscar metodologias que nos ajudem a compreender as dores dos nossos clientes e parceiros, aplicando a sustentabilidade em todas as fases do nosso negócio.

Quer conhecer um pouco mais sobre a FairBnb? Veja o case aqui no Radar da Inovação.

*Gentrificação é um processo de transformação urbana que expulsa moradores de bairros periféricos e transforma essas regiões em áreas nobres. A especulação imobiliária, aumento do turismo e obras governamentais são responsáveis pelo fenômeno.