De IA ao fim das redes sociais: 7 tendências do SXSW 2024
Tradicional evento de inovação abordou os benefícios e os malefícios das novas tecnologias, sem deixar de lado a interação humana com cada uma delas
Entre 8 e 16 de março, Austin, capital do Texas, sediou mais uma vez o festival South by Southwest, mais conhecido como SXSW 2024. O evento, criado em 1987, reúne inúmeras atrações e palestras relacionadas à tecnologia e seu papel na construção de um futuro inovador.
Nesta edição, assim como nas anteriores, a Inteligência Artificial foi o assunto mais discutido. Suas consequências no mundo e a necessidade de medidas de segurança também foram tópicos abordados durante o festival.
Mas não foi só a IA que se destacou durante o festival. Temas como tokenização, réplicas digitais, procedimentos de saúde avançados e o superciclo tecnológico também foram abordados em detalhes pelos palestrantes.
A seguir, dentre os diversos assuntos discutidos por lá, reunimos seis temas que mais se destacaram no festival. Confira as tendências do SXSW 2024!
1. O que podemos esperar da IA
Depois de muitos anos falando sobre as novas tecnologias e criações, os palestrantes do SXSW 2024 estavam mais focados em apresentar e discutir as consequências diretas e indiretas causadas pela IA. Confira algumas das previsões compartilhadas no festival.
Não é a IA que ficará com o seu trabalho
Muito se fala sobre como as IAs podem substituir os humanos em inúmeros trabalhos, o que deixa boa parte da população preocupada com o futuro do mercado de trabalho. No entanto, Tom Ajello, sócio e diretor global de Experiência, Inovação e Engenharia da Lippincott, argumenta que a realidade não é nada parecida com essa especulação.
Durante seu painel no SXSW 2024, Tom pontuou que a grande razão para a perda de empregos não é a IA, e sim a falta de aprendizado sobre ela. Segundo ele, pessoas que sabem usar ferramentas de inteligência artificial vão sair na frente de quem não busca conhecimento: “Quem aprender a usar inteligência artificial ficará com o seu emprego”.
IAs continuam com tendências enviesadas
Ao observarmos o poder da IA de criar, esquecemos que todas essas ferramentas foram criadas e ensinadas por nós, seres humanos. É por isso que Amy Webb, fundadora e CEO do Future Today Institute, trouxe o assunto à tona durante sua palestra no SXSW 24.
Amy lançou a 17ª edição do Relatório de Tendências Tecnológicas de seu instituto e aproveitou para compartilhar as principais tendências. Uma delas é a piora no enviesamento das inteligências artificiais.
Durante a palestra, a CEO revelou que ao refazer testes para verificar o viés de gênero e raça das ferramentas de IA recebeu um resultado ainda pior. Segundo ela, os resultados obtidos evidenciam preconceito intrínseco na sociedade e a urgência de resolver o problema.
A necessidade de regulamentar e responsabilizar
Diante das evidências de preconceito e dos inúmeros usos indevidos das IAs, Amy Webb fomenta a ideia de regulamentar as ferramentas e responsabilizar quem lida com elas. Amy ainda sugeriu que os profissionais responsáveis pelas inteligências artificiais devem passar por treinamentos éticos, garantindo, portanto, um bom uso das ferramentas.
“Um médico não pode operar sem licença e pode até ir preso se cometer um erro muito grave. A AI não vai para a cadeia se 'alucinar', e quem vai consertar seus erros?”, questionou a futurista.
Já a regulamentação evitaria a replicação de novos modelos maléficos de IA, que podem ser usados para cometer crimes e criar fakes, por exemplo. “O sistema [de inteligência artificial] não foi criado apenas para imaginar homens brancos no poder e, sim, também para pegar nossos dados e opiniões. E se criar um grande evento falso com todos os elementos para que acreditemos se tratar de um fato?”, argumentou.
2. Estamos passando por um superciclo tecnológico
Além de falar sobre a Inteligência Artificial, Amy Webb fez uma grande constatação: estamos vivendo um superciclo tecnológico. Segundo ela, essa nova fase vivida é constituída pelas ferramentas de IA, pela biotecnologia e pelo ecossistema de dispositivos interligados.
Com tantas inovações acontecendo ao mesmo tempo, Webb afirma que esse superciclo tecnológico pode remodelar o modo como vivemos. Parece assustador, mas essa não é a primeira vez que a humanidade se depara com inúmeras mudanças. “O último superciclo de tecnologia que aconteceu foi a revolução industrial”, refletiu a futurista.
Computadores no rosto
Amy não deixou de comentar sobre os computadores faciais, como o Apple Vision Pro e o Meta Quest 3, e como eles podem prever as intenções de quem os usa. As câmeras e sensores presentes nessas tecnologias captam dados do comportamento humano através das pupilas.
Com esses dados, Amy Webb acredita que grandes corporações vão conseguir prever nossos sentimentos: “computadores faciais estão sendo projetados para supostamente ajudar o homem a interagir com o mundo de maneira diferente, mas, no meu ponto de vista, eles também estão sendo projetados para prever suas intenções".
A futurista ainda pontuou que essa tecnologia pode ser o início de “uma nova fase de conexão entre o corpo, mente e tecnologia”. “Faremos coisas com nossos corpos que esses equipamentos identificarão muito antes de executarmos”, explicou.
Ela também comentou sobre a possibilidade das corporações usarem os computadores faciais para provocarem os consumidores por meio de gatilhos mentais. Supermercados podem oferecer cupons de desconto e seguradoras podem mostrar o cálculo de probabilidade de morte de maneira dinâmica e personalizada.
Perenidade das tendências
Outro assunto abordado foi a visão de que a nossa tecnologia está na pior fase. Parece uma constatação estranha, visto que vivemos um período de inovação constante e desenfreada.
No entanto, Amy Webb explica que, cada vez mais, as tendências chegam e somem com muita rapidez. Dessa maneira, sempre olhamos para o futuro com a esperança de algo melhor, mais atualizado e, consequentemente, a realidade em que vivemos parece cringe e desatualizada.
3. Tecnologia & saúde
A saúde também está passando por mudanças causadas pelo avanço da tecnologia e, por conta disso, o assunto foi pauta no SXSW 2024.
Durante o painel “IA, Saúde e o Estranho Futuro da Medicina”, Mark Sendak, pesquisador no Duke Institute for Healt Innovation, refletiu sobre o impacto da inovação. Segundo ele, “as novas tecnologias não foram criadas especificamente para a saúde, mas ajudam a tornar tudo mais rápido”.
Medicina personalizada: IA e sensores
Uma das grandes vantagens de implementar a Inteligência Artificial em qualquer tipo de trabalho é a agilidade que ela oferece. Ao invés dos trabalhadores começarem projetos do zero, eles podem contar com as ferramentas inteligentes que aceleram o processo.
“Quando você trabalha em certos casos agora, você não precisa começar do zero fazendo uma curadoria de conjunto de dados. Há uma enorme quantidade de tarefas que você começa a enfrentar mais rapidamente”, explicou Sendak.
As tecnologias wearables (vestíveis, em tradução livre) também contribuem para a personalização do atendimento, diagnóstico e tratamento dos pacientes. Isso porque os dispositivos possuem inúmeros sensores que captam informações de saúde.
Portanto, com a rapidez e a habilidade oferecidas pelas IA, e com sensores precisos, a medicina tem o potencial de se tornar cada vez mais personalizada.
Detectar e evitar doenças
Outro tópico discutido foi a capacidade da tecnologia de detectar e evitar doenças. Atualmente, com apenas um exame de retina, é possível identificar a predisposição para diabete, aneurisma e pressão alta. Estudos também apontam que o mal de Alzheimer, a doença Parkinson e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) também podem ser detectados.
Já quando falamos em curar problemas de saúde genéticos, o CRISPR é protagonista. Vista como uma das maiores descobertas da biologia, a tecnologia pode cortar uma parte do DNA, fazendo com que as células se reprogramem.
Saúde mental
As inovações no ramo da medicina não foram as únicas a ganharem um espaço nos palcos do SXSW 24. Além de ser abordada por diversos palestrantes, a saúde mental, antes vista como tabu, foi tema principal do festival.
Durante a conversa “Mindfulness acima da perfeição: caindo na real sobre a saúde mental”, a cantora Selena Gomez e o jogador de futebol americano Solomon Thomas enfatizaram a necessidade de se abrirem para o público.
“Minha mãe me incentivou a dividir meus sentimentos e logo muitas pessoas me agradeceram, dizendo que lutavam com pensamentos parecidos e que minha história os tinha dado força. Se você é humano, você é vulnerável”, contou o atleta.
A urgência de desconstruir os preconceitos a partir do compartilhamento de histórias e sentimentos foi seguida pela necessidade de políticas públicas e ações focadas na saúde mental da população. Mas não é só a relação entre as pessoas que precisa de atenção.
O bem-estar e saúde mental também afetam o ambiente de trabalho. A palestra “Bad Workplace Culture is Giving Burnout” (A Má Cultura de Trabalho está causando Burnout, em tradução livre) explicitou como algumas culturas organizacionais podem causar o esgotamento dos trabalhadores.
4. Dê adeus às redes sociais como conhecemos
Amy Webb não mentiu quando disse que as tendências e tecnologias estão cada vez mais perenes. E durante um dos painéis, John Dempsey, diretor geral da Bodegam, estúdio criativo da Wieden+Kennedy, e Krystle Walter, head de parcerias criativas com agências do TikTok, compartilharam desta opinião.
Dempsey e Walter pontuaram que, no início, as redes sociais tinham o propósito de serem plataformas que conectam pessoas. No entanto, agora o foco está cada vez mais voltado para o que cada internauta gosta de ver e acompanhar.
Os algoritmos também foram essenciais para que o propósito das plataformas mudasse e ainda detêm um papel importante nas redes. Responsáveis por analisar as preferências dos usuários, os algoritmos oferecem uma experiência personalizada para cada internauta. Além disso, eles também bonificam, através da promoção, conteúdos que possuem uma taxa alta de interação.
Manter-se relevante nas redes sociais, portanto, está cada vez mais difícil. Pensando nisso, Dempsey e Walter compartilharam seis dicas para as marcas se manterem em alta em meio a abundância de conteúdos.
- Aprofunde-se na inteligência cultural;
- Relaxe as diretrizes da marca;
- Abra espaço para a cocriação;
- Crie conteúdos provocadores;
- Conquiste partidários, não fãs;
- Entretenha os seguidores.
A união faz a força: collabs entre marcas
Outra maneira de atrair mais internautas e ganhar seguidores é a colaboração entre marcas. As organizações podem aproveitar o espaço virtual e suas inúmeras ferramentas para criarem posts colaborativos.
Ao compartilharem suas visões, valores e objetivos, as marcas podem firmar uma parceria. Dessa maneira, ambas as organizações podem prosperar e buscar novos consumidores. Para inovar na comunicação colaborativa, no entanto, é importante que as marcas envolvidas compartilhem valores, objetivos e se complementem.
5. O futuro é humano
Mesmo com milhares de inovações baseadas na inteligência artificial e no uso de máquinas, o SXSW 2024 não deixou de abordar tópicos sobre o comportamento humano e seu papel em um mundo repleto de mudanças e novidades. A palestra de abertura já começou mostrando o quão importante é a presença humana.
Em “Explore o espaço e a poesia com a Nasa”, Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da Nasa, e Ada Limón, poeta, revelaram que a artista escreveu um poema que será enviado em uma missão para Júpiter. O objetivo é usar a obra como forma de contato, caso encontrem vida no planeta.
Já em outros momentos, os palestrantes aproveitaram para compartilhar dicas e técnicas que podem ser aderidas no ambiente de trabalho, e fazer reflexões importantes. A proposta dessas conversas é mostrar que a evolução humana ainda é muito importante para as sociedades.
- Felicidade é a razão do bem-estar, produtividade e lucro;
- Resolver conflitos é imprescindível para criar ambientes de trabalho saudáveis;
- Como é possível resolver conflitos com coragem, curiosidade e conexão.
Solidão e tecnologia
Parece estranho relacionar o sentimento de solidão à tecnologia, no entanto, esta relação é real e também foi discutida durante o SXSW 2024. Com a pandemia de Covid-19 e o avanço das tecnologias, houve um distanciamento social.
Mas, para o alívio de todos, os palestrantes mostraram que há uma luz no fim do túnel. Enquanto Jay Shetty, CPO do aplicativo de meditação Calm, e Charles Duhigg, autor, apresentam a solução para o distanciamento social, o CEO da Daybreaker, Radha Agrawal aponta os culpados: a competitividade, a economia e a tecnologia.
6. Tecnologia & causas ambientais
Antes mesmo da IAs ganharem notoriedade no mundo, a sociedade já se preocupava com causas ambientais. Então, por que não juntar a preocupação com as tecnologias disponíveis?
Menos emissão de carbono
Segundo o levantamento do MIT Technology Review “10 Tecnologias Inovadoras de 2024”, o uso de células solares supereficientes vai aumentar. A ideia é prover alternativas sustentáveis para gerar energia e reduzir as emissões de carbono.
Atualmente, parte da luz captada pelos painéis solares não é convertida em energia. Diante desse problema, tecnologias capazes de tornar as células solares ainda mais eficientes estão sendo desenvolvidas.
Outro recurso tecnológico desenvolvido e utilizado para a redução da emissão de carbono é a bomba de calor. Os aparelhos elétricos são utilizados para aquecer edifícios de forma mais sustentável e, no futuro, podem descarbonizar setores industriais.
Energia geotérmica
E quando o assunto é o clima, a aposta está na energia geotérmica, já que, além de ser considerada mais limpa que outras, é virtualmente ilimitada.
No entanto, a tecnologia está passando por alguns desafios, causados pela falta de técnicas de perfuração. Para liberar o calor da Terra de forma correta e segura, essas técnicas aprimoradas precisam ser desenvolvidas.
Amazônia em foco
A Amazônia também ganhou um espaço no SXSW 2024. Durante o painel “Bioeconomia: Prosperando na Amazônia”, o desenvolvimento socioeconômico da região e a conservação da floresta foram discutidos.
Txai Suruí, ativista indígena brasileira, Colette Pichon Battle, advogada e ativista climática, e Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade de Natura, chamaram a atenção para a necessidade de mobilizar ações que mitiguem a exploração e o uso de recursos naturais. O objetivo é incentivar práticas regenerativas e projetos sustentáveis.
7. Impacto das tendências
Com nove dias de evento e uma infinidade de palestras, chegamos a uma conclusão, junto à Amy Webb: as IAs, sejam elas generativas, ou não, já dominaram 20 segmentos. Na mais nova edição do Relatório de Tendências Tecnológicas, a futurista classificou o impacto de tendências tecnológicas, variando de curto prazo a longo prazo.
Material adaptado de um trabalho original da Inventta.
Seguindo o caminho das IAs, as tendências Robôs e Drones, Clima e Tecnologia Verde, e AR/VR/VX seguem causando impactos a curto prazo em metade dos segmentos analisados. Já as tendências de Bio Engenharia, Bio Generativa, Arquitetura da Computação, Metaverso, Infraestrutura Web3 e Mobilidade apresentam impactos a médio e longo prazo.
A tendência que caminha devagar e não pretende impactar os setores tão cedo é a Tecnologia Quântica. Apenas nos setores de Telecomunicações, Política e Governo, e Serviços Financeiros conseguiremos enxergar mudanças a curto prazo.
Conclusão: o SXSW 2024 nos preparou para o futuro
Mesmo com a perenidade das tendências e tecnologias, e dos riscos inerentes às Inteligências Artificiais, ainda temos um longo caminho repleto de inovações que podem mudar positivamente o mundo. É por isso que é essencial abraçar as novidades tecnológicas, tentar entendê-las e implementá-las nas cooperativas.
E se você ficou interessado em implementar ferramentas de inteligência artificial no dia a dia de sua cooperativa, confira o guia prático Chat GPT: Como Usar a Inteligência Artificial na Prática do InovaCoop!
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