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Como o ecossistema de inovação pode impulsionar as cooperativas

A inovação não é produto de um único departamento. Existe um entorno que precisa ser engajado para que ela aconteça nas cooperativas.

MÉTODOS E FERRAMENTAS03/11/20237 minutos de leitura

Você já parou para pensar como a inovação acontece? A competência de uma equipe e a cultura inovadora de uma organização não bastam para explicá-la. Entender a inovação em sua totalidade exige uma análise sistêmica. É preciso tirar o zoom: olhar para o ecossistema em que a organização está inserida e entender o papel de cada um de seus atores.

A jornada típica de uma startup é um bom exemplo da importância do ecossistema para a inovação acontecer. Para crescer, ela precisa de acesso a capital de risco, apoio de grandes corporações, acesso a profissionais qualificados e a tecnologias inovadoras. Ou seja, são todos recursos geralmente externos à startup, que dependem dos atores daquele ecossistema.

É por esse motivo que regiões como o Vale do Silício, nos Estados Unidos, e polos de inovação em Israel e Estônia têm se destacado em gerar inovações em escala industrial e atraírem startups do mundo todo. Nessas regiões, o ecossistema contribui para a inovação acontecer.

O que é ecossistema de inovação

O professor da Universidade de Edimburgo, Martin Fransman, autor do livro Innovation Ecosystems: Increasing Competitiveness (Ecossistemas de inovação: aumentando a competitividade, em tradução livre), define ecossistema de inovação como "o conjunto de atores e processos que, por meio de suas interações cooperativas e competitivas, fazem a inovação acontecer e co-evoluir".

Na prática, relacionar-se com um ecossistema de inovação possibilita a troca de experiências, acesso a novos conhecimentos e competências, criação de redes de indicação e o reconhecimento da comunidade inovadora daquele ecossistema. Tudo isso facilita processos inovadores.

Portanto, a inovação não é produto apenas de um departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e muito menos de um único líder disruptivo. Existe um entorno que precisa ser engajado para que ela aconteça. E uma das formas de analisar as condições deste entorno é entender o papel de seus principais atores.

Nesse sentido, a diretora adjunta de inovação da MIT Sloan School of Management, Fiona Murray, explica em um webinar da organização que os cinco atores mais comuns de um ecossistema de inovação são:

Fonte: Phil Budden e Fiona Murray

Ciclos de inovação: a depuração pelos ecossistemas

Um dos fenômenos mais importantes dos ecossistemas de inovação que permitem a inovação em alta velocidade e escala são os innovation loops (ciclos de inovação). Tais ciclos funcionam da seguinte forma:

Murray explica que grandes organizações, por sua lógica avessa a falhas e estrutura “pesada”, têm dificuldades em realizar este ciclo de tentativa e erro internamente. Mas este ciclo de tentativa e erro ganha força quando é realizado no âmbito de um ecossistema de inovação - e não internamente, por apenas uma organização.

É aí que entra o papel desempenhado pelas startups participantes do ecossistema de inovação. Elas, cada qual a sua maneira, fazem essa depuração das hipóteses de inovação. Com estruturas mais ágeis e riscos controlados, também geram o volume necessário de experimentações para uma depuração da inovação.

O papel da inovação aberta

As grandes organizações, por sua vez, tentam se aproximar deste ambiente inovador e de experimentações rápidas por meio de programas de inovação aberta e participação em hubs de inovação, por exemplo. É uma forma de atrair startups e firmar parcerias com negócios promissores ainda em estágios iniciais.

No livro Organizações Exponenciais, os autores destacam a importância dessa tentativa e erro das startups. Para eles, a constante experimentação e a iteração de processos são as únicas maneiras de reduzir o risco.

Um grande número de ideias bottom-up (de baixo para cima) filtradas sempre supera o pensamento top-down (de cima para baixo), independentemente do setor ou organização. É o que os autores chamam de “aprendizagem escalável”.

Em nossos cases de inovação, já contamos histórias de cooperativas que protagonizam a inovação aberta. A Coplacana, por exemplo, conta com o Avance Hub, que aproxima seus cooperados às novas tecnologias do campo por meio do contato com o ecossistema de inovação. A Credicitrus é outra grande cooperativa a também desenvolver seu hub.

Inovação aberta e a interação com o ecossistema

Ao entender o ecossistema em que estão inseridas e o potencial de seus atores, as organizações, incluindo as cooperativas, podem acessar conhecimentos e tecnologias que não necessariamente estão "dentro de casa".

Murray explica que este acesso é fundamental para se alcançar inovações disruptivas. É por este motivo, portanto, que muitas organizações realizam programas de inovação aberta ou alocam parte de sua equipe em espaços de coworking e inovação. Trata-se, afinal, de uma forma de acessar a inteligência do ecossistema. E já existem cooperativas atentas a isso.

Cocamar: inovação aberta no campo

A Cocamar, uma das maiores cooperativas agroindustriais do Brasil, com sede em Maringá (PR), conta atualmente com sete startups prestando serviços a ela. Entre elas: NeoField (sonda de monitoramento da propriedade rural), Agrian (agricultura digital a partir de imagens de satélite) e Flugo (gestão de filas na Transcocamar).

A Cocamar também é mantenedora de dois ambientes de inovação: um em Maringá, com a aceleradora Evoa; e o Hub.IA, com o Senai, em Londrina. Dois projetos-piloto da Cocamar, o CRM para cooperados e o e-commerce (Shopping Cocamar) surgiram a partir da imersão nestes ambientes.

Frísia: feira digital liga coop ao ecossistema de inovação

A Frísia é outra cooperativa que está promovendo ações de aproximação do ecossistema de inovação. Além da organização da Digital Agro Feira, a cooperativa tem um programa de seleção de startups e uma frente de inovação aberta para receber ideias de colaboradores, cooperados, fornecedores e da comunidade em geral.

No caso específico das cooperativas, vale a atenção não só às startups, mas também ao sistema cooperativo em que elas estão inseridas. Essa prática da intercooperação com cooperativas do mesmo sistema também é uma forma de se relacionar com o ecossistema para gerar aprendizado em inovação.

Sicoob Unicob: criando um ecossistema no sistema

É este o caso do Sicoob Unicoob, que criou um programa de inovação envolvendo as 18 cooperativas do sistema. Foram definidas equipes próprias em cada cooperativa, de modo a possibilitar o desenvolvimento de uma cultural local de inovação.

O programa, batizado de Missão 21, gerou três ideias de inovação selecionadas por um comitê externo, a serem aceleradas em etapa posterior, e permitiu a disseminação da cultura de inovação entre as cooperativas participantes.

Cases de inovação estimulam interação com ecossistema

Para estimular essa interação das cooperativas com os diferentes atores do ecossistema de inovação, o InovaCoop, portal de inovação no cooperativismo do Sistema OCB, produz um repositório de cases de cooperativas brasileiras e internacionais, dos mais diferentes ramos e portes.

Todos os casos práticos apresentam o contato de um responsável da organização. As cooperativas poderão fazer contato direto com este responsável para tirar dúvidas, entender outros detalhes do caso prático e colocar em prática a intercooperação.

O InovaCoop apresenta, ainda, cursos on-line, e-books e outras ferramentas para ajudar no desenvolvimento da cultura de inovação nas cooperativas. Com isso, o Sistema OCB quer fomentar a inovação e fortalecer o ecossistema de inovação cooperativista, por meio de disseminação de conhecimento, trocas e encontros.

Conclusão: construindo o ecossistema de inovação cooperativista

A inovação não é um fenômeno isolado, que acontece apenas internamente. Especialmente as inovações disruptivas precisam acessar recursos, conhecimentos e pessoas externas às organizações.

Para fazer isso, é preciso primeiro entender os atores dos ecossistemas de inovação em que a organização está inserida e interagir com eles. Um dos atores-chave deste ecossistema são as startups. Com suas estruturas ágeis e riscos calculados, elas conseguem realizar experimentações rápidas para validar premissas de negócios.

Nessa seara, o RadarCoop, uma iniciativa conjunta da Coonecta e do Complexo.lab, o hub de inovação da Sicredi Pioneira, surgiu com o objetivo de mapear e adensar o ecossistema de inovação cooperativista.

A interlocução entre os diversos atores de um ecossistema de inovação é capaz de tornar o cooperativismo brasileiro mais inovador e dinâmico.

Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Coonecta