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Como funciona um programa de inovação

Entenda como eles são estruturados e veja exemplos de iniciativas no cooperativismo

GESTÃO DA INOVAÇÃO19/02/20249 minutos de leitura

Um programa de inovação permite criar uma cultura de inovação dentro da cooperativa, possibilitando que a organização desenvolva e estruture novos processos de trabalho. Em geral, um programa de inovação cria um ambiente separado da operação para evitar que as iniciativas sofram ou exerçam interferências no negócio.

Como um guarda-chuva, o programa de inovação organiza as várias iniciativas com foco em inovar. Quando separadas e sem um elemento norteador, essas iniciativas podem perder força ou até mesmo deixar de contribuir com a estratégia de inovação da cooperativa. Isso dificulta a visualização de resultados, a mensuração dos impactos e, ainda, o planejamento.

Trata-se, portanto, de uma maneira para começar a criar a cultura de inovação, que valoriza o potencial das novas ideias. Por isso, a criação de um programa de inovação costuma ser uma estratégia adotada por cooperativas para criar coisas novas e diferentes.

Os motivos para a criação do programa de inovação, contudo, podem ser bastante variados, como a busca por melhoria de processos internos, adesão a novas tecnologias, inovação nos processos de marketing e aprimoramento na jornada de vendas, dentre outros.

Assim sendo, há diversas maneiras de criar e implementar programas de inovação. Neste artigo, vamos entender quais os pilares fundamentais para o sucesso de um programa de inovação e conhecer casos inspiradores dentro do cooperativismo. Aproveite a leitura!

Fundamentos de um programa de inovação

O sucesso de um programa de inovação está relacionado à maneira como ele passa a fazer parte da cultura organizacional, incorporando-se às rotinas e somando às competências. Confira, então, dicas para incrementar esses programas:

O papel dos líderes

A inovação depende do apoio da liderança, pois os líderes têm o papel de unir o time em torno de metas. Diante disso, integrar a inovação no planejamento da cooperativa faz toda diferença. Muitas vezes, a inovação envolve projetos com certa complexidade, participação de várias áreas, prazos longos, orçamentos e especificidades técnicas.

Assim sendo, o apoio da liderança fornece um estímulo para execução dos projetos, superação de obstáculos, promoção de novas conexões e fortalecimento da cultura de inovação por toda a cooperativa.

Gestão da inovação

Conforme a cultura de inovação se dissemina, é interessante contar com ferramentas para gerir as ideias criadas. É importante entender, por exemplo, que cada iniciativa se encontra em um estágio de maturidade. Além disso, o sucesso está relacionado ao controle e à interação entre pessoas e diferentes áreas dentro da cooperativa.

Inovação, afinal, depende de trabalho colaborativo e da identificação sistemática de possibilidades e oportunidades. A gestão de inovação estabelece meios e métodos para gerar valor, concretizando ideias. Dentro de suas características, os sistemas de gestão da inovação:

• São abertos e acessíveis;

• Unificam ideias;

• Aceitam contribuições;

• Desmistificam o conceito de propriedade da ideia.

Novas ideias

Um dos pontos mais importantes é desmistificar a noção de propriedade da ideia, pois não importa tanto quem teve o primeiro insight. Afinal, nem sempre a pessoa que fez a sugestão inicial também vai participar do desenvolvimento estruturado da ideia, elaborando ações para a implantação, caracterizando a oportunidade, levantando recursos, antecipando riscos, mensurando benefícios e formando a equipe.

Isto é: nem sempre a pessoa que teve a ideia vai executá-la e fazê-la acontecer. Isso ocorre porque um programa de inovação bem acertado entende que as pessoas, em geral, não têm todas as competências para estruturar e implantar uma ideia do início ao fim.

Já que o foco é o resultado obtido a partir da inovação, fica mais fácil entender a importância de abrir mão da 'propriedade' de uma ideia e, em vez disso, apostar no desenvolvimento cooperativo da inovação.

Fluxo da inovação

O programa de inovação precisa ser absorvido pelos processos correntes da cooperativa. Por isso, é importante que a instituição veja o processo de inovação como um fluxo que inicia com a ideia, segue com os outros passos do processo até a implantação do projeto, finalizando com a avaliação de seus resultados.

Também é importante falar que, após a implantação, os resultados são medidos e o projeto pode ser revisado, recebendo ajustes e melhorias. Então, o ideal é que o programa de inovação funcione da seguinte maneira:

Sistematização da inovação

O tema é cada vez mais corriqueiro nas cooperativas, mas ainda há casos em que a percepção de que inovação é fruto de iniciativas isoladas e disruptivas. Na prática, a inovação é silenciosa e voltada às melhorias incrementais que otimizam processos e trazem resultados individualmente discretos, mas que significam muito no conjunto.

Em um artigo para a Época Negócios, o professor Juan Pablo D. Boeira, que é especialista em design estratégico e Inovação, listou quais são os sistemas mais difundidos para construção de programas de inovação.

Inovação singular

Esse tipo de programa de inovação é, muitas vezes, pouco eficiente, pois é capitaneado por indivíduos ou grupos de colaboradores sem apoio estruturado por parte da liderança. Programas que priorizam a inovação singular são pouco planejados ou programados.

Este tipo de programa de inovação se baseia no status quo vigente e, portanto, avança lentamente. São esforços quase heróicos, pois cooperativas voltadas a processos já estabelecidos tendem a enxergar a inovação não planejada ou não programada como uma distração.

Nesses programas, a inovação, quando ocorre, é fruto de ações isoladas. Esse tipo de iniciativa carece de parâmetros para identificar evolução e aprendizados. O risco é uma demonstração mais chamativa captar a atenção sem necessariamente ser a melhor proposta.

Instrumentos, ferramentas e atividades de inovação

Ao estruturar um programa de inovação com base em frameworks já estabelecidos, as cooperativas otimizam a captura e o desenvolvimento de ideias surgidas entre colaboradores mais propensos à inovação.

Isso porque inovadores individuais passam a contar com um ambiente mais propício ao desenvolvimento de protótipos e à realização de testes. Muitas vezes, cooperativas com programas de inovação baseados em instrumentos e ferramentas criam postos avançados de inovação.

É o caso, por exemplo, de organizações que abrem escritórios no Vale do Silício, em Israel, na Coreia do Sul ou em locais com ecossistemas pujantes de inovação.

Inovação em equipe

É a inovação baseada em processos que, em vez de ensinar ferramentas e métodos aos colaboradores com interesse em inovação, reconhece a necessidade de estabelecer processos capazes de transmitir os elementos de um modelo de negócio.

Em seguida, esse modelo de programa de inovação atua com a disseminação de processos formais de inovação. A finalidade é coletar evidências para testar a viabilidade das ideias propostas.

Em comparação com atividades isoladas, esse tipo de programa de inovação foca no que é necessário para direcionar a transformação de uma ideia em um produto ou serviço. Para isso, utiliza o método científico de teste e experimentação de hipóteses, com ênfase em ciclos rápidos de aprendizado.

Neste tipo de programa, as equipes entram em contato com um grande número de stakeholders para criar MVPs (produtos mínimos viáveis) capazes de maximizar o aprendizado e a descoberta. Consequentemente, o programa ganha uma compreensão mais profunda sobre os obstáculos e recursos necessários para o desenvolvimento do novo produto ou serviço.

Inovação operacional

Este tipo de programa de inovação demanda a incorporação da inovação à cultura corporativa. Ou seja, a cooperativa já passou pela fase de ver iniciativas isoladas de inovação, já adotou ferramentas e atividades como componentes essenciais, mas que, por si só, são insuficientes para manter a inovação sistemática e capaz de fornecer resultados importantes.

O próximo passo se dá quando equipes e lideranças conseguem pensar o processo de inovação de ponta a ponta. Dessa forma, elas são capazes de visualizar todo o fluxo de como e onde a ideia é gerada, assim como o seu percurso até a implantação.

Exemplos de programas de inovação em cooperativas

Vamos agora conhecer dois programas de inovação já criados dentro do cooperativismo brasileiro.

Silo de ideias da Cooperativa Integrada

Com a finalidade de promover a inovação a partir de ideias com potencial para trazer melhoria contínua a processos, além de retorno financeiro, a Integrada Cooperativa Agroindustrial mantém o programa de inovação Silo de Ideias.

A intenção da cooperativa de Londrina, no Paraná, é promover o engajamento de todos os colaboradores no processo de mudança, tornando a inovação parte da cultura da cooperativa.

O programa de inovação Silo de Ideias se organiza em torno de seis fases desde o surgimento da ideia até o acompanhamento dos indicadores da inovação em si. Essa jornada começa com a inscrição da ideia, que é avaliada, aprovada, implementada e acompanhada, a fim de mensurar os resultados e identificar melhorias.

Fábrica de Inovação da Unimed Cascavel

A também paranaense Unimed Cascavel conta com o seu programa batizado como Fábrica de Inovação, com objetivo de incentivar a participação ativa dos colaboradores e cooperados na jornada de inovação. A ideia da Fábrica de Inovação surgiu em 2017 e, após estudos, foi lançada em 2022.

A Fábrica de Inovação, portanto, permite a participação tanto de colaboradores quanto de cooperados. Cada público possui um canal exclusivo para enviar suas ideias. As diferenças entre as modalidades estão relacionadas aos tipos de envio e às recompensas oferecidas.

Depois de apresentadas, as ideias passam por uma avaliação do Comitê de Inovação da Unimed Cascavel. O grupo leva em consideração critérios como a contribuição para os objetivos estratégicos da cooperativa, impacto social e ambiental, redução de custos, aumento de receita, geração de valor e viabilidade financeira. Ao todo, são nove critérios.

Depois de uma ideia ser aprovada, a equipe de inovação da cooperativa agenda reuniões com os envolvidos para a execução do plano de ação. O progresso das ações é monitorado por meio de relatórios de pendências, e o suporte necessário é fornecido para a implementação das ideias na prática. Diversas ideias nascidas no programa de inovação da Unimed Cascavel já ganharam vida.

• Além desses dois exemplos, contamos, em nosso cases de inovação, diversas outras histórias de programas de inovação, como: Unimed BH, Unimed Maringá, Sicoob Unicoob, Cocamar, Sistema Ailos, Nater Coop, Sicoob, Sicredi, Coplacana, Lar e Sistema OCB/GO.

Conclusão

Há diversas possibilidades para o desenvolvimento de programas de inovação em cooperativas. Para todas elas, é fundamental ter claro qual é o objetivo a ser alcançado e qual o papel de cada um em seu funcionamento, especialmente da liderança.

Além disso, é importante olhar com atenção para os processos que irão determinar o desenvolvimento das inovações a partir das ideias surgidas. Caso o programa torne o andamento das propostas muito burocrático, há o risco de aumentar ainda mais a resistência da cooperativa quanto à inovação, gerando efeito contrário à criação de cultura de inovação.

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