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Agritechs promovem a revolução no campo em parceria com o cooperativismo

Cooperativas se aliam a startups voltadas ao agronegócio para inovar e modernizar a produção 

TENDÊNCIAS10/05/20239 minutos de leitura

O agronegócio brasileiro está entre os maiores do mundo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 2002 e 2022, o PIB agrícola do Brasil passou de US$ 122 bilhões para US$ 500 bilhões. Isso coloca o Brasil atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Nesse contexto, as agritechs atuam como motor da inovação e produtividade.

Em 2022, cerca de um quarto do PIB nacional teve origem no agronegócio, conforme indica estudo do Cepea Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso faz do setor, mais uma vez, um dos principais motores da economia nacional.

Esse cenário mostra como o agronegócio brasileiro é gigante e extremamente relevante. Com uma rede ampla e complexa de atores. Diante do crescimento expressivo na demanda mundial por alimentos, o setor se viu na necessidade de inovar ao adotar soluções tecnológicas para obter eficiência produtiva e manter a competitividade.

A nova agricultura

Assim, nos últimos anos, a transformação digital chegou ao agronegócio. Esse movimento ficou conhecido como Agricultura 4.0, potencializando a capacidade produtiva do setor através de tecnologias que modernizam o campo e otimizam a produção e a gestão agrícola. Isso, então, ajuda o produtor a se manter competitivo no mercado.

Mas não só isso. A transformação digital no campo surge também a partir das demandas sociais e ambientais, tornando imprescindível a adoção de tecnologias inovadores a fim de ser ambientalmente sustentável. Além disso, o setor está intrinsecamente ligado à questão da segurança alimentar e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Em meio à onda de transformação digital no campo e às demandas sociais ambientais, surgiram novas startups agros chamadas de agritechs. Vamos, a seguir, apresentar o que são essas empresas e qual é sua importância para a inovação no campo. Boa leitura!

Agritechs e inovação

Em resumo, agritechs são startups voltadas para o agronegócio. O termo é um acrônimo de “tecnologia agrícola” em inglês. Através da aplicação de novas tecnologias em diferentes etapas da produção agrícola, essas empresas atuam em diversas soluções inovadoras para o campo, buscando a produtividade e sustentabilidade.

Da necessidade de conquistar crédito, à criação de ferramentas de gestão, combate às pragas, de monitoramento ambiental, entre outras, as agritechs buscam responder aos desafios econômicos, sociais e ambientais.

Por isso, as agritechs são tão importantes para a inovação no agronegócio. Diante das novas exigências do mercado, o agronegócio não pode ignorar as questões ambientais e sociais. Tem-se, portanto, nas agritechs, a principal fonte de transformação digital que considera práticas alinhadas à agenda ESG (Environmental, Social and Governance), por exemplo.

Panorama e crescimento das agritechs

As agritechs não param de crescer no Brasil. No Brasil, de 2017 a 2021, foram investidos cerca de 264 milhões de dólares em agritechs, conforme aponta estudo do Distrito, um dos maiores hubs de inovação do país. Em 2021, foram 126 milhões de dólares, o dobro do valor aportado em 2020.

Em 2022, 43% das agritechs alcançaram um faturamento superior a R$ 1 milhão, sendo que 11% desse total faturaram mais que R$ 5 milhões. Além disso, uma em cada três agritechs já exportam seus produtos. Os dados são do Radar Agtech Brasil 2022, um levantamento feito pela Embrapa, o HomoLudens, a SP Ventures e o Sebrae.

O Radar identificou 1.703 agritechs, concentradas, na maior parte (87%), nas regiões Sudeste (61,4%) e Sul (25,6%) do País. O estado de São Paulo abarca o maior número de agritechs, com 47,0% do total nacional. Veja a tabela a seguir:

Essa distribuição geográfica aponta para um fortalecimento do ecossistema das agritechs brasileiras. Na comparação com anos anteriores, 2022 mostrou uma leve tendência de desconcentração do Sudeste e um avanço na região Nordeste. Ainda segundo o levantamento, 14,2% das agritechs atuam antes da fazenda, 41,4% dentro da fazenda e 44,4% depois da fazenda. Entenda:

  • Antes da fazenda: envolve ações necessárias antes de começar a produção, como adquirir crédito, insumos ou equipamentos.
  • Dentro da fazenda: trata-se de atividades de produção agropecuária em si, como a gestão da propriedade rural, água, insumos e planejamento.
  • Depois da fazenda: inclui as atividades de distribuição, logística, processamento, embalagem, venda no atacado e no varejo e consumo.

Outro dado a ser considerado envolve a busca por profissionais especializados em tecnologias digitais voltadas ao agronegócio. Segundo a Agência Alemã de Cooperação Internacional, as agritechs pretendem gerar aproximadamente 178 mil vagas para esses profissionais. No entanto, o mercado possui atualmente apenas 32,5 mil pessoas qualificadas para ocupar essas vagas. Isso dá cerca de cinco vagas para apenas um candidato.

Futuro das agritechs

As agritechs são o futuro do agro. Assim, é preciso estar atento ao que esse futuro aponta, se preparando para acolher novas ideias e estar disposto para enfrentar os desafios impostos. Para isso, é importante que o campo não seja intransigente, a fim de estar alinhado ao que o ambiente político, econômico e social pede.

Segundo o Radar Agtech Brasil 2022, um dos pontos que merecem atenção no futuro das agritechs é a tendência de intensificação no uso de tecnologias sustentáveis. As agritechs acreditam que o uso de bioinsumos, da economia circular e outras práticas de sustentabilidade serão fortalecidas em um futuro próximo, sobretudo as alinhadas ao ESG.

Quanto aos desafios, o Radar aponta para a lenta instalação da rede 5G no Brasil, a dificuldade de acesso a financiamento público ou privado e a necessidade de cooperação entre os diversos atores de forma mais frequente e efetiva. Além disso, como apontado, há alta demanda por profissionais especializados a ser atendida.

As novas tecnologias no campo

A aplicação de tecnologias no campo abrange um cenário amplo. De acordo com uma pesquisa conjunta da Embrapa, Sebrae e INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 84% dos agricultores brasileiros já usam ao menos uma solução digital para apoiar a produção agrícola.

Entre as soluções tecnológicas utilizadas pelas agritechs, estão o uso dos avanços na robótica, na conexão 4G/5G, e o uso da Inteligência Artificial e de drones.

  • Inteligência Artificial: a IA é importante para a realização de mapeamentos e análises precisas, gerando previsibilidade e, consequentemente, a redução de custos. Além disso, junto com o desenvolvimento da robótica, permite criar maquinários autônomos.
  • Robótica: o desenvolvimento da robótica e da IA permite criar robôs sofisticados, com autonomia para entenderem o contexto apresentado e tomar decisões independentes, ajudando em operações automatizadas, como colheita, poda, capina, separação e processamento de produtos agrícolas primários.
  • 4G/5G: em um cenário de IoT - Internet das Coisas, a integração de tecnologias e dados em tempo real torna-se imprescindível. A conexão 4G e, mais especificamente, a 5G permitem que essa troca de informações seja mais efetiva, facilitando a operação com equipamento como drones, por exemplo.
  • Drones: através do uso de sensores e softwares de processamento de imagens, a utilização de drones em áreas agrícolas traz vantagens em todas as etapas da produção. É possível realizar demarcações de áreas e detectar falhas no plantio, monitorar o desenvolvimento da lavoura, identificar pragas e dessa forma reduzir custos de pulverização com o aumento na eficiência das aplicações, e até mesmo utilizar da ferramenta como um pulverizador, alcançando áreas de difícil acesso e garantindo que não haverá perdas por pisoteio de maquinário.  

O cooperativismo e seu papel na implementação e difusão de inovações tecnológicas para o setor agropecuário

O cooperativismo é um dos grandes responsáveis pela inovação no setor agropecuário brasileiro. Vejamos, então, exemplos de cooperativas que se conectaram com agritechs em busca de usar a tecnologia para impulsionar a produtividade e a qualidade.

Aurora: com agritech, coop reduz aplicação de defensivos

Na região Sul do Brasil, a Cooperativa Vinícola Aurora criou um sistema de sensores que monitoram a propensão de surgimento de doenças em suas videiras, permitindo, assim, a otimização do uso de fungicidas.

Em conjunto com a Embrapa e a startup Jahde Tecnologia, a cooperativa desenvolveu o CROPS, sistema que avalia o risco de míldio nas videiras. Esse é um dos principais vilões fúngicos das lavouras, trazendo prejuízo tanto para a produção quanto para as finanças.

O sistema coleta dados climáticos e ambientais e os envia para um processador de dados da Embrapa, que os interpreta e faz as mensurações sobre a predisposição de desenvolvimento do fungo na lavoura. Assim, os produtores são avisados pelo celular, através do aplicativo do CROPS, e podem agir preventivamente para proteger a produção.

O sistema permite, dessa maneira, reduzir o uso de defensivos na lavoura, aplicando-os somente em casos indispensáveis. Dessa forma, os produtores conseguem videiras mais produtivas e saudáveis e reduzem os custos com as aplicações de defensivos.

Cooxupé: mapeamento de solo para agricultores

Para implementar a chamada agricultura de precisão é preciso realizar o mapeamento e monitoramento contínuo sobre o solo. Nesse objetivo, o desafio do produtor, muitas vezes, é a necessidade de grandes investimentos em tecnologia e qualificação de mão de obra.

Nesse contexto, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), em parceria com a agritech Quanticum e o IFSuldeMinas (Instituto Federal do Sul de Minas Gerais), criou o projeto “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa”.

O objetivo do projeto é, através de tecnologias de baixo custo, mapear a saúde do solo em fazendas dos cooperados Isso permite que o pequeno produtor consiga fazer análises mais ricas para a tomada de decisão, visando à preservação do solo.

Ao todo, o projeto pretende mapear a saúde do solo em 80 fazendas, totalizando 10 mil hectares de lavouras de café. Em 2022, o “Sustenta Mais: Agricultura Regenerativa” venceu a categoria Inovação do Programa Coopera Mais, da Bayer, recebendo um aporte de R$ 1,5 milhão da multinacional, além de consultoria especializada.

Conclusão: o agro é tech - ou melhor, agritech

A adoção dos avanços tecnológicos no agronegócio para potencializar a inovação no campo é um caminho sem volta. As agritechs representam o maior exemplo desse movimento indispensável frente não somente às necessidade do produtor, mas também às demandas sociais e ambientais.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050, o planeta terá 9,6 bilhões de pessoas consumindo aproximadamente 30 bilhões de refeições diárias. Isso significa que a produção mundial de alimentos terá que crescer aproximadamente 70% para atender toda a essa demanda.

As agritechs possuem um papel primordial diante desse cenário: encontrar soluções inovadoras para um futuro desafiador. Exemplos de que é possível não faltam.

As startups podem ser aliadas poderosas para a inovação no cooperativismo. Confira, então, o guia prático Inovação Aberta: Como se relacionar com startups. Veja quais são as relações, os benefícios e as técnicas para inovar junto com startups e fomentar o cooperativismo!

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