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Agricultura digital: inovação para os produtores rurais

Conheça o panorama da agricultura digital no Brasil e as inovações das cooperativas agro 

TENDÊNCIAS02/02/202111 minutos de leitura

A tecnologia avança cada vez mais na agricultura do Brasil. Prova disso é que 84% dos agricultores entrevistados numa pesquisa da Embrapa já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. A pesquisa, que contou com 750 participantes, foi realizada em parceria com o Sebrae e o Inpe.

Termos como sensores, drones, big data, gerenciamento de dados e tantos outros são cada vez mais comuns no agro brasileiro. Por isso, não há dúvidas de que a agricultura digital passou a contribuir de forma significativa para o aumento da rentabilidade e produtividade no campo.

Pensando nisso, o objetivo deste post é apresentar o que é a agricultura digital, as aplicações, o panorama do uso das tecnologias no país e alguns exemplos de cooperativas agropecuárias que vêm apostando em tecnologia e inovação.

O que é agricultura digital

Podemos resumir a agricultura digital ou agricultura 4.0 como um conjunto de tecnologias que auxiliam o produtor nas mais diversas atividades rurais. Um exemplo são os softwares e dispositivos que coletam e analisam dados sobre a lavoura para basear decisões estratégicas.

Quando falamos de dados, estamos nos referindo a informações sobre clima, solo, lavoura, equipamentos etc. Com essas e outras informações, os sistemas de gerenciamento de dados conseguem entender todas as variáveis e, assim, propor as melhores soluções, como pulverização, adubação em taxas variáveis, planejamento mais preciso na aplicação de defensivos, entre outras soluções.

Portanto, os serviços ficam muito mais precisos e as decisões passam a ser tomadas com base em dados reais, além de possibilitar que o produtor saiba o exato momento e a quantidade certa de recursos a ser utilizada. Então, quanto mais tecnologia, mais previsibilidade para o produtor, que pode ter mais produtividade sem necessariamente aumentar a área de sua lavoura.

Isso tudo nos remete à chamada agricultura de precisão, termo que surgiu antes da agricultura digital. Na verdade, a agricultura digital é uma derivação ou a evolução do conceito de agricultura de precisão, conforme explica Antônio Luis Santi, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão da UFSM.

“A agricultura de precisão surgiu no final da década de 1990, trazendo uma bagagem de softwares, sensores e de atuadores ao agricultor. Com a evolução da tecnologia, em 2017, por meio da chegada das imagens via satélite, da evolução da internet, nós assistimos a uma nova revolução digital: os algoritmos gerados por plataformas começaram a cruzar as informações geradas no campo pela agricultura de precisão e a integrar os dados e a gerar índices”, explicou o professor ao blog da Climate Fieldview.

Portanto, a agricultura digital veio para melhorar o que a agricultura de precisão já faz, que é entender a variabilidade do solo e, a partir disso, evoluir e compreender o cenário da planta dentro do sistema produtivo. “A agricultura digital é uma quebra de paradigma, pois o olhar agronômico não fica mais generalizado”, completa o professor.

Principais aplicações e tecnologias

Para ser viabilizada, a agricultura digital demanda automatização, tecnologia de ponta e análise de dados. Esse tripé garante, entre outras coisas, a melhora da produtividade agrícola, a eficiência na utilização de insumos, o aumento da segurança dos trabalhadores e a redução de custos e impactos ambientais.

A seguir, listamos algumas aplicações que viabilizam a agricultura digital:

Esses são apenas alguns exemplos de tecnologias já utilizadas no setor atualmente. Se usadas corretamente, elas ajudam as cooperativas a otimizar todo o processo ao longo da cadeia produtiva, reduzindo perdas e aumentando a produtividade. Por exemplo: se houver infestação de pragas na sua plantação, o produtor consegue, por meio de sensores, identificar o local exato que foi infestado. Assim, ele abre a pulverização somente nesses locais específicos, trazendo economia e eficiência.

Por falar em economia, outro exemplo são os sistemas de irrigação inteligente. A água é aplicada ao solo de acordo com a necessidade hídrica da planta. Aplicativos e softwares determinam, sem desperdício, a quantidade de água a ser aplicada por meio de dados coletados por sensores.

Mas lembre-se: nem sempre é necessário adquirir equipamentos com tecnologia de ponta para adotar a agricultura digital. Celulares, tablets e computadores com acesso à internet já possibilitam o uso da agricultura digital por meio de aplicativos e softwares. Além disso, o produtor deve saber qual problema tem de resolver. Só assim poderá saber qual tecnologia deve aplicar.

Panorama da agricultura digital no Brasil

Agora que você já sabe o que é agricultura digital, chegou a hora de conhecer melhor esse mercado no Brasil. Para isso, vamos apresentar alguns dados da pesquisa realizada pela Embrapa em parceria com o Sebrae e o Inpe, que contou com mais de 750 participantes entre produtores rurais, empresas e prestadores de serviço - destes últimos, mais da metade atua de alguma forma associada a cooperativas ou outras entidades ligadas ao produtor.

O estudo mostrou que boa parte dos produtores rurais que participaram da pesquisa já utiliza aplicações a partir de sensores remotos e de campo, eletrônica, aplicativos ou plataformas digitais para fins específicos em uma cultura ou sistema de produção.

Veja alguns números de destaque da pesquisa:

  • 84% dos produtores rurais utilizam pelo menos uma tecnologia digital no processo produtivo;
  • 68% adquiriram e fazem uso de tecnologia digital por conta própria;
  • 31% tiveram acesso aos serviços por meio de terceiros, como cooperativas e associações.

Sobre as tecnologias digitais mais utilizadas, a pesquisa revelou que:

  • 70,4% usam a internet para atividades gerais da propriedade;
  • 57,5% usam aplicativos como WhatsApp e Facebook para comercialização;
  • 22,2% usam aplicativos ou programas de gestão da propriedade;
  • 20,4% usam GPS;
  • 17,5% usam imagens de satélite, avião ou drone;
  • 16,3% possuem sensores instalados no campo.

O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP) e coordenador do estudo, Édson Bolfe, destaca um número que mostra a tendência de alta da agricultura digital: 95% dos produtores desejam mais informações sobre o assunto. Além disso, ele vê como áreas com tendência de crescimento aquelas voltadas para o bem-estar animal, citada por 21,2% dos respondentes; e para certificação e rastreabilidade dos alimentos, mencionada por 13,7% deles.

Para a pesquisadora do Inpe, Ieda Sanches, o levantamento evidencia também um interesse bastante relevante em várias soluções para a agricultura que podem ser viabilizadas com a ajuda do sensoriamento remoto, tanto aéreo quanto orbital. São aplicações para detecção e controle de plantas daninhas, pragas e doenças, falhas de plantio e para estimativa de produção e produtividade.

De fato, a pesquisa demonstra uma mudança no setor e uma tendência de transformações ainda maiores. “É a nova agricultura. Existe uma projeção para 2030 indicando que haverá uma intensa revolução no campo e ela já começou”, comenta Francisco Severino, gerente técnico corporativo da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana). A cooperativa firmou parceria com a Embrapa no fim de 2019 para inovar no modelo de trabalho, melhorando a produtividade e, consequentemente, a renda dos produtores, com o uso de tecnologia blockchain e soluções em sensoriamento remoto.

Além de apoiar a produção, as soluções digitais também apoiam a área comercial: 40,5% dos agricultores já utilizam tecnologias digitais para atividades de compra e venda, como é o da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc). Por meio da parceria com startups de Salvador e São Paulo, eles estão conseguindo chegar a novos mercados e reverter uma queda de mais de 70% nas vendas, causada pela pandemia em 2020.

Obstáculos a serem superados

Por outro lado, algumas barreiras ainda desestimulam a agricultura digital. Os resultados indicam que, para 67,1%, o valor do investimento para a aquisição de equipamentos e aplicativos assusta o agricultor. A questão aparece à frente de problemas estruturais (mencionados por 61,4% dos profissionais), como a qualidade de conexão na área rural. No entanto, já existem soluções acessíveis no mercado, que podem ajudar o produtor no início da jornada de agricultura digital.

Segundo a Embrapa, pequenos e médios produtores ainda dependem muito de políticas públicas que favoreçam a inserção de tecnologias como essa. Uma alternativa apontada é a adoção da tecnologia via cooperativas e prestadores de serviço, que poderão atender vários grupos de uma região.

Visando ampliar a disseminação da agricultura digital no país, foi criada, em 2019, a Câmara do Agro 4.0, resultado de uma parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) faz parte do Conselho Superior da iniciativa ao lado de representantes do Mapa, do MCTIC e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Veja aqui mais informações sobre a Câmara do Agro 4.0.

Outra novidade recente, no sentido de levar mais conectividade ao campo, são as duas leis publicadas pelo governo federal após mobilização da OCB e de outras entidades do agro e do setor telecom. São elas:

  • Lei nº 14.109/2020, que trata da utilização de recursos do Fust para conectividade rural;
  • Lei nº 14.108/2020, sobre desoneração da internet das coisas.

Para o Sistema OCB, as novas legislações garantem um ambiente favorável para o avanço da conectividade rural, considerando que um dos grandes empecilhos para a implantação de infraestrutura de internet no campo era justamente o fomento a projetos com essa finalidade, por meio de financiamentos com custo acessível.

Com o incentivo a diferentes arranjos produtivos para essa atividade, as novas legislações vão estimular consequentemente o fortalecimento das cooperativas de telecom, além, é claro, de promover a agricultura digital nas cooperativas agro.

Inovação nas cooperativas agro

Para completar o panorama da agricultura digital, destacamos algumas iniciativas dentre as várias existentes no cooperativismo atualmente. A Coopercitrus, por exemplo, agregou novas soluções em seu portfólio de serviços de agricultura de precisão, levando seus cooperados para o que ela já chama de “Agricultura 5.0”.

Entre os serviços disponíveis estão:

  • Mapeamento de áreas por satélite;
  • Análise de solo georreferenciada;
  • Aplicação de insumos agrícolas a taxas variáveis;
  • Pulverização localizada com drones;
  • Tecnologias para plantio, irrigação e pulverizações com alta precisão.

Com um departamento exclusivo para a área de Tecnologia Agrícola, a Coopercitrus mantém um time de profissionais dedicados a viabilizar as inovações para os produtores, elaborando projetos, fazendo a prestação dos serviços e análise de informações. Essa política contribui para que os cooperados, principalmente pequenos e médios, tenham acesso às principais inovações do mercado em suas propriedades.

E para facilitar ainda mais o acesso a esses recursos, a cooperativa disponibiliza o aplicativo Coopercitrus Campo Digital para que os cooperados possam conhecer as soluções disponíveis e solicitar a aplicação em sua propriedade, direto pelo celular ou pelo computador.

Da região Sul, podemos destacar o exemplo da Fundação ABC, instituto de pesquisa agropecuária privado mantido pela intercooperação de Frísia, Castrolanda e Capal. Ela implantou um campo experimental de agricultura inteligente para orientar seus mais de 5 mil associados de cooperativas parceiras na escolha e utilização de novas tecnologias.

Numa área batizada de “ABC Smart Farming”, a Fundação ABC decidiu aplicar as soluções em campo para a próxima safra verão em uma área de 29,15 hectares, no município de Ponta Grossa (PR). Os pesquisadores mediram a condutividade elétrica do solo, o que permitiu entender os tipos de solo presentes na área, bem como definir os pontos de coleta para análise.

Com resultados apurados através de algoritmos, foi possível entender a variedade de textura da área, de umidade e também os teores de fertilidade do solo. A Fundação também fez a captação de imagens espectrais do solo, para verificar a quantidade de matéria orgânica através de um aparelho e algoritmo desenvolvido pela própria instituição.

Por fim, vale lembrar que o case vencedor do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2020 na categoria Inovação é do cooperativismo agro: Avance Hub, da Coplacana. O hub de inovação surgiu porque a Coplacana era muito assediada por fornecedores ofertando novos produtos e serviços. Ao mesmo tempo, se via no desafio de acompanhar o boom das tecnologias no campo e saber selecionar as que realmente faziam sentido para seu cooperado.

Dessa forma, o projeto surgiu para lidar com essas demandas, garantindo uma visão estruturada da inovação e apoiando a cooperativa na seleção de produtos e serviços inovadores, inclusive testando e validando cada uma deles.

Afinal, como alertamos ao longo do texto, há várias tecnologias e inovações disponíveis, mas o primeiro passo da cooperativa é entender a sua real necessidade no campo. Só assim poderá escolher a melhor solução e fazer os investimentos necessários, de forma consciente.

Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Coonecta