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4 passos para iniciar uma cultura de dados

Em tempos de Big Data, os dados são abundantes. Eles podem ser grandes aliados na hora de tomar decisões - mas, para isso, é importante saber como utilizá-los

TENDÊNCIAS11/07/202210 minutos de leitura

A transformação digital traz consigo o aumento exponencial da geração de dados. As informações são cada vez mais abundantes e complexas. Na economia moderna, dados não faltam. A questão é: como tirar o melhor proveito deles? E a resposta está na construção de uma cultura de dados.

O levantamento Data Never Sleeps, realizado pela Domo, deixa bem evidente o quão massiva é a quantidade de informações geradas ou trocadas. Por exemplo, a cada minuto o Twitter recebe 575 mil novas postagens e mais de 65 mil fotos são postadas no Instagram. Nesse mesmo período, mais de 6 milhões de pessoas compram algo pela internet. Ou seja, toda interação digital cria dados.

Tamanha profusão de informações geradas a todo instante pode ser utilizada para otimizar a tomada de decisão dentro das cooperativas. É desse princípio que consiste a gestão data driven - ou gestão baseada em dados.

Benefícios de uma gestão orientada por dados

Tomar decisões com base na análise de dados é o “novo normal”, descreve a consultoria Deloitte. E os benefícios são vários, por exemplo:

  • Assertividade na tomada de decisões: dados são capazes de estabelecer bases para a melhor tomada de decisões em situações sensíveis. Companhias que fazem escolhas municiadas por informações de qualidade têm uma probabilidade 19 vezes maior de serem lucrativas do que aquelas que são administradas somente por experiência e instinto.
  • Sinergia entre os setores da cooperativa: a utilização de dados tem o potencial de deixar a cooperativa mais integrada, conectando os diferentes setores internos. O compartilhamento de informações entre diversas áreas é benéfico para a organização como um todo.
  • Visão clara de desempenho e resultados: o levantamento de dados refinados e complexos melhora a avaliação de desempenho e a análise dos resultados da cooperativa. Assim, é possível obter diagnósticos precisos dos problemas na operação e, por outro lado, visualizar mais oportunidades de crescimento.
  • Otimização de custos: quando a cooperativa tem um diagnóstico preciso de suas forças e fraquezas, o direcionamento de recursos é mais efetivo. Processos custosos de tentativa e erro perdem espaço.
  • Prevenção de falhas: analisando os dados, a cooperativa consegue enxergar falhas antecipadamente, antes que elas resultem em danos e prejuízos. Dessa forma, as medidas de correção e prevenção são mais rápidas.

De fato, os dados são grandes aliados na hora de fazer escolhas estratégicas na gestão das cooperativas. Para executar uma gestão data driven, contudo, se faz necessário criar uma cultura organizacional que privilegie as decisões subsidiadas por informações de qualidade, e não por mero instinto.

Por isso, listamos 5 etapas importantes para você iniciar uma cultura de dados na sua cooperativa. Boa jornada!

1. Conheça ferramentas

Para conseguir tratar e extrair o melhor proveito desses dados, a solução é desenvolver e aprimorar as técnicas de análise. O International Data Corporation (IDC) revela que os gastos mundiais em soluções de Big Data e Analytics fecharam em 2021 com mais de 215 milhões de dólares.

Isso representa um aumento de 10,1% em relação ao ano anterior - e o crescimento não vai parar. A entidade prevê que, até 2025, o investimento aumentará 12,8% ao ano. A gestão das cooperativas tem muito a ganhar com tantas informações disponíveis.

Mas quais as ferramentas e soluções disponíveis?

Em nosso guia prático sobre como tomar decisões baseadas em dados, explicamos que há um arsenal de recursos tecnológicos usados para transformar os dados brutos em informação relevante. Tais quais:

  • Big Data e Analytics: processamento e análise de grandes volumes de dados para usá-los durante a tomada de decisão em processos estratégicos.
  • Internet of Things: a internet das coisas se refere a uma rede que conecta itens diversos, como carros e eletrodomésticos, por exemplo.
  • Data Mining: a mineração de dados aborda as formas de encontrar padrões a partir de quantidades massivas de informações.
  • Machine Learning: as máquinas conseguem evoluir e aprender sozinhas para oferecer resultados melhores para as instituições.

Todo esse campo é chamado data science - ou ciência de dados. É ele que permite, por exemplo, entender tendências de comportamento. Com isso, é possível desenvolver produtos adequados a seu público. Saiba mais sobre data science neste post, aqui no InovaCoop.

2. Construa uma mentalidade de dados

A maior barreira para aplicar os dados na gestão de uma organização não está na tecnologia, mas sim na cultura organizacional. Não basta criar uma boa estrutura informatizada. As ferramentas que apresentamos apenas descobrem padrões e evidenciam informações. No fim, as decisões ainda são tomadas por seres humanos.

Por isso, a cooperativa que quer praticar uma gestão baseada em dados precisa trabalhar seus líderes, cooperados e colaboradores dentro dessa mentalidade. É fundamental que todos entendam a importância dos dados e sejam treinados para interpretá-los e empregá-los com eficácia.

Contudo, é válido salientar: as decisões não podem ser tomadas com base exclusiva nos dados. Por melhor que sejam os algoritmos, nem tudo pode ser parametrizado - emoções, por exemplo.

A transformação cultural

A construção de uma cultura de gestão baseada em dados deve ter o foco no desenvolvimento de uma mentalidade analítica. No Harvard Business Review, o gestor de análise de dados David Waller explicou que a iniciativa deve vir de cima para baixo, começando pelas lideranças da organização. O incentivo é feito por meio do exemplo.

Waller reforça a importância do fator humano para essa tarefa. Ao apontar o papel dos cientistas de dados, ele recomenda que esses profissionais precisam estar integrados a todas as áreas da instituição. Dessa forma, une-se o conhecimento técnico sobre o tratamento de dados e o conhecimento especializado dos gestores dos diferentes setores da cooperativa.

Outro passo desse processo é fornecer treinamento especializado aos colaboradores - mas na hora certa. Especializar os trabalhadores cedo demais pode ser um problema - afinal, o que não é praticado acaba sendo esquecido.

Por fim, o especialista também aconselha a criação do hábito de explicar as escolhas tomadas após a análise de informações. Os dados podem ser interpretados de diferentes maneiras; não vai haver sempre uma “resposta correta” universal. Raciocinar quais são os motivos de uma decisão ajuda a dar consistência a ela.

3. Use dados de forma integrada por toda a cooperativa

A tarefa de analisar, interpretar e utilizar os dados deve fazer parte de todas as áreas da cooperativa, e não somente dos profissionais envolvidos com tecnologia. Gestores e colaboradores de todos os setores tomam decisões melhores quando estão aptos a empregar dados em suas tarefas.

Para que isso seja possível, os dados devem estar disponíveis a todas as áreas da cooperativa. Informações coletadas por um setor podem contribuir para outros setores. Quando não há integração na disponibilização de dados, muitos gestores podem deixar de ter acesso a informações importantes, que ajudariam em suas decisões.

Matemarketing

Um exemplo de área que tem muito a ganhar ao utilizar os dados é o marketing. Informações coletadas por diversas áreas da cooperativa podem municiar as iniciativas desse setor. E há até um campo específico que usa técnicas de análise científica, como a estatística, em prol da atração e conversão de clientes: o matemarketing.

A pandemia tornou essa área ainda mais importante, com as mudanças que o período provocou nos hábitos dos consumidores. Segundo a Mckinsey, de março a agosto de 2020, um em cada cinco clientes trocou de marca e sete em cada dez testou novos canais de compras.

Produzimos, aqui no InovaCoop um conteúdo focado nas técnicas de matemarketing. Nele, explicamos, por exemplo, quais são os cinco passos para começar a aplicar a técnica na sua cooperativa. Veja:

  1. Conhecer o arsenal da análise de dados
  2. Investigar padrões de comportamento nos dados
  3. Definir um projeto a longo prazo
  4. Começar pequeno
  5. Designar uma equipe para implementar o projeto

O matemarketing pode ser muito valioso para atrair novos clientes, entender melhor o seu público alvo, acompanhar o desempenho das estratégias de comunicação e aumentar o engajamento de cooperados e colaboradores.

Para entender a fundo como colocar o matemarketing em prática, leia o post clicando aqui!

4. Conheça a LGPD e respeite a privacidade

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor em setembro de 2020, buscando dar mais segurança no uso de informações pessoais por parte das empresas. Na era digital, os dados são fundamentais para a geração de valor, mas o público passou a demandar que eles fossem colhidos e utilizados com transparência e ética.

Com o advento da LGPD, o consentimento do cidadão é a base para que dados pessoais possam ser tratados. A legislação empodera os usuários em relação a suas informações. É possível solicitar que dados sejam deletados, revogar um consentimento e transferir dados para outro fornecedor de serviços.

Neste texto, nos aprofundamos na discussão sobre a LGPD e trouxemos alguns impactos que a regulamentação pode ter nas cooperativas.

Adaptando a cooperativa à LGPD

As mudanças impostas pela LGPD requerem que uma série de práticas sejam readequadas em conformidade com as obrigações previstas na legislação. Para facilitar esse processo, produzimos o e-book LGPD no cooperativismo: como se adaptar.

Para atualizar o tratamento de dados em conformidade à LGPD, a cooperativa deve analisar seus processos operacionais, organizacionais e contratuais sob a ótica jurídica. Assim, poderá identificar pontos no processo que não seguem as demandas da legislação e ajustá-los.

Deve-se também inserir uma rotina de treinamentos para conscientização da equipe quanto à importância da adoção das boas práticas recomendadas e das medidas delineadas no programa de governança.

Uma nova função

Outra consequência da LGPD foi a criação de uma nova função: o Data Protection Officer (DPO), encarregado pela proteção de dados pessoais dentro da instituição.

Sua missão é garantir a segurança das informações tanto de clientes e cooperados quanto da própria cooperativa, conforme as determinações da legislação. Veja nosso texto explicando os atributos, atribuições e funções do DPO.

Midata: cooperativa gerencia dados de saúde

Poucos tipos de dados são tão sensíveis quanto dados médicos. Ainda assim, plataformas e tecnologias dedicadas à medicina em geral se apropriam dos dados inseridos e gerados pelos usuários, com pouca transparência sobre qual será o uso dessas informações. O resultado é a exploração comercial desses dados sem conhecimento dos usuários.

Desse contexto, surgiu a Midata Cooperative, na Suíça, em 2015. O objetivo da coop é atuar como uma fiduciária para a coleta de dados e garantir a soberania dos cidadãos sobre como suas informações pessoais são usadas.

Saiba mais sobre a história e a operação da Midata no Radar da Inovação!

Conclusão

Os dados são aliados poderosos para a gestão da inovação. A partir deles, sua cooperativa poderá antecipar tendências, identificar oportunidades de negócios e aprimorar os produtos e serviços.

A cultura de dados impulsiona, normatiza e difunde o uso de informações concretas e assertivas durante todos os processos de operação da cooperativa. Com isso, ela terá maior capacidade de se tornar protagonista no ecossistema de inovação.

Durante a Semana da Competitividade, organizada pelo Sistema OCB, a palestrante Mary Balestra, diretora global de negócios do Grupo Stefanini, explicou que os dados são essenciais para a proposição de práticas inovadoras.

Tais informações, contudo, precisam ser coletadas e analisadas de forma cuidadosa e qualificada. A legislação e o público estão exigindo que os dados sejam obtidos e utilizados de forma ética e transparente. “A inovação não é poder. O poder é o compartilhamento responsável”, argumentou Balestra.