Relacionamento com startups: 5 exemplos de sucesso no cooperativismo
Numa relação ganha-ganha, cooperativas e startups aprendem e inovam juntas
O relacionamento entre cooperativas e startups não é apenas mais uma tendência, é uma realidade. E os motivos dessa aproximação são inúmeros, porque se cria, de fato, uma relação ganha-ganha. Engana-se quem pensa que uma organização muito bem consolidada não tem o que aprender com startups.
Fazem parte do DNA das startups, por exemplo: criatividade e inovação para propor soluções; ousadia para errar, corrigir rápido e refazer; gestão eficiente do tempo; mais facilidade para lidar com problemas e crises; maior receptividade ao uso de novas tecnologias; capacidade de aprender rápido; time diverso, entre outras características. Tudo isso - e muito mais - pode ser incorporado à estrutura de uma cooperativa.
Mas a startup também tem muito a ganhar nesse relacionamento, como: projeção no mercado, potenciais clientes e parceiros, e aprendizado real das suas soluções aplicadas ao negócio das cooperativas. Ou seja, se a relação realmente for saudável, as duas partes têm muito a ganhar.
O relacionamento com startups é uma forma de colocar a inovação aberta e o corporate venture externo em prática. Por isso, selecionamos cinco exemplos, cada um com as suas particularidades, para mostrar como uma cooperativa pode se relacionar com uma startup. Vamos conhecê-los!
1. Programa de Conexão com Startups: busca por startups validadas
Geralmente, a busca por startups ocorre quando a cooperativa entende que não conseguirá desenvolver determinado projeto sozinha. Ela até pode buscar um fornecedor tradicional no mercado, mas a agilidade e flexibilidade das startups contam bastante na hora da escolha. Foi o caso da Coprel, em 2023.
A cooperativa criou o Programa de Conexão com Startups para firmar relacionamentos e parcerias com startups que possuem soluções inovadoras para os desafios enfrentados. A iniciativa faz parte do Programa de Inovação da Coprel.
E para que os laços entre a cooperativa e as startups fossem criados e fortalecidos, a Coprel criou um processo seletivo criterioso. Na prática, funciona assim:
• Primeiro, são abertas as inscrições para receber soluções inovadoras de startups, para solucionar desafios específicos das cooperativa;
• Depois, o Comitê Organizador faz a triagem das soluções que atendem aos desafios da chamada e os requisitos mínimos;
• A terceira etapa consiste em filtrar as soluções inscritas. São priorizadas startups que tenham mais fit com o desafio;
• Em seguida, acontece o pitch day, no qual as startups finalistas apresentam suas soluções para a banca avaliadora, composta por facilitadores da cooperativa.
Vale destacar que não basta ter uma boa ideia para se candidatar ao programa. A Coprel busca startups em operação e, preferencialmente, em fase de tração em diante.
Os desafios propostos na primeira edição foram:
• Monitoramento das Áreas de Preservação Permanente (APPs) de usinas e áreas reflorestadas pelo Coprel Ecologia (mapeamento via satélite).
• Modernização da interface entre Coprel e clientes.
2. Inovar Juntos: ouvir para evoluir
O Sicredi conta com um programa de inovação chamado Inovar Juntos, criado em 2018. O projeto foca em buscar soluções para desafios vividos pela cooperativa, enquanto agrega valor aos cooperados.
Segundo a gerente de Inovação do Sicredi, Alexandra da Silva Rodrigues, a iniciativa surgiu para reforçar a cultura da inovação e criar um canal de relacionamento com startups. A ideia é selecionar startups com potencial de atender às necessidades do Sicredi.
As startups escolhidas são submetidas a um período de imersão para colocarem o projeto piloto em prática. Os empreendedores que mais se destacam têm a chance de se tornarem parceiros ou fornecedores da cooperativa.
Por ser uma iniciativa consolidada no Sicredi, o Inova Juntos conta com apoio externo. Com a ajuda da 100 Open Startups e da Liga Ventures, a cooperativa recebe suporte durante todo o processo de inovação aberta.
Já com o auxílio do hub de inovação AgTech Garage, o Sicredi aumenta o contato com startups, instituições de ensino, e até produtores rurais. Dessa forma, a cooperativa amplia seu ecossistema e desenvolve soluções inovadoras para o agronegócio sustentável. Prova do sucesso da parceria é a criação do projeto Caderno de Campo Digital.
Em 2024, o Inova Juntos acumula mais de 65 desafios abertos e conta com 1.065 startups inscritas, 55 projetos piloto e 22 soluções implementadas. O Sicredi também está focado em aumentar seus contatos e impactar ainda mais a sociedade brasileira com iniciativas inovadoras e tecnológicas.
“Em 2023, o programa alcançou resultados significativos, impulsionando a inovação internamente e oferecendo reconhecimento de mercado. Abrimos 18 desafios, avaliamos um total de 339 inscrições de startups, realizamos 14 experimentos e oito soluções foram contratadas. Destacamos a parceria com a startup ESGreen que oferece uma solução para mitigação ou redução de riscos ESG relacionados aos fornecedores do Sicredi”, conta Alexandra.
3. Vibee: aceleração de startups em estágio inicial
O relacionamento com startups não é exclusividade do ramo Crédito. Por isso, vale destacar aqui o exemplo da cooperativa de saúde Unimed VTRP, que atua em uma área de 59 municípios dos Vales do Taquari, Rio Pardo e da região do Jacuí, no Rio Grande do Sul.
O primeiro contato da Unimed VTRP com startups foi em 2019, com a criação do InnovatiON, um programa de conexões com startups maduras para resolver desafios pré-determinados de negócio. Em duas edições, cerca de 350 projetos de startups foram analisados e 5 foram contratadas como fornecedoras de produtos ou serviços da Unimed VTRP.
“O InnovatiON foi um sucesso, tanto é que colocamos a plataforma de telemedicina em funcionamento dois dias após a liberação porque já estávamos tratando desse assunto com uma startup selecionada”, conta Rafael Zanatta, líder do Hub de Inovação da cooperativa.
Por conta do sucesso do InnovatiON, a Unimed VTRP decidiu dar um passo além em sua jornada de inovação e se conectar também com startups em fase inicial de desenvolvimento.
“Das discussões do InnovatiON veio o questionamento: o que poderíamos fazer para estar em contato com as startups que estão na fase pré-InnovatiON?”, lembra Zanatta. A solução veio em julho de 2020 com a criação do Vibee, um Hub de Inovação para identificar novas oportunidades na área da saúde com foco no relacionamento com startups em fase inicial.
Na prática, trata-se de um ambiente que conecta fundadores de startups com profissionais e empresas da saúde, universidades da região, mentores e potenciais investidores do mercado. O espaço físico fica localizado na sobreloja da sede da Unimed VTRP, em Lajeado (RS).
Portanto, não se busca apenas uma relação comercial com as startups, mas também apoiar o desenvolvimento de ideias em estágio inicial. Para isso, foram criados programas de aceleração estruturados em três pilares: inspiração, capacitação e networking. As startups selecionadas passam por um intenso processo de mentoria.
Os programas estão divididos em duas categorias, de acordo com o grau de maturidade da startup: Vibee Start (voltado para startups que estão construindo o MVP) e o Vibee Go (destinado à aceleração daquelas que já possuem um MVP validado).
Em 2024, 12 startups estão em processo de aceleração com o Vibee, sendo seis delas no Vibee Start e seis no Vibee Go. Desde sua criação, o programa já desenvolveu 20 startups na categoria Vibee Start e 28 na Vibee Go.
4. Aceleração e Cooperação: inovação sem espaço próprio
Não é sempre que a cooperativa desenvolve um hub de inovação próprio. Mesmo assim, é possível inovar e se inserir em ecossistemas de inovação e de startups. Prova disso é a iniciativa da Unicred.
A cooperativa de crédito criou, em 2022, o programa Aceleração e Cooperação visando buscar startups que possam resolver problemas pontuais. Sem um espaço próprio, a Unicred contou com a Innoscience, consultoria especializada em inovação corporativa, e com a AEVO Connect, um espaço virtual repleto de desafios de inovação aberta.
No início, a cooperativa focava em usar a ajuda externa para desafios específicos. Com o sucesso da iniciativa, o programa passou a abranger o ecossistema nacional da Unicred, com foco em resolver problemas e formar laços com outras startups.
Além de buscar startups que se encaixam nos desafios propostos, a cooperativa também dá a oportunidade de sugerir mudanças e estimular a transformação dentro da Unicred. Com a consultoria, a cooperativa lançou os seguintes desafios:
• Gestão operacional e financeira para clínicas e consultórios, para gerar maior valor para os cooperados;
• Cadastro único centralizado, integrando e padronizando dados com qualidade;
• Análise comportamental do usuário no processo de gestão de limites de crédito e transações;
• Gestão financeira e tributária de profissionais da saúde para mitigação de riscos do cooperado;
A Unicred também buscou ajuda para criar uma plataforma de inteligência geográfica e uma solução inovadora para a classificação socioambiental e análise de dados.
5. Cocamar Labs: participação ativa em ecossistemas de inovação
A Cocamar, uma das gigantes do agronegócio brasileiro, sempre apostou em programas de qualidade e melhoria contínua como um dos pilares de sustentação de seu crescimento. Mas, diante do avanço da inovação disruptiva e da transformação digital, percebeu que precisaria fazer algo para se manter atualizada e oferecer serviços e produtos de qualidade.
Por isso, em 2018, iniciou a estruturação do programa de inovação Cocamar Labs, com objetivo de interagir melhor com os ecossistemas de inovação e, principalmente, promover o relacionamento com startups.
Então, o Labs ganhou uma frente chamada de Projeto Inovação (PI), responsável por buscar soluções existentes no mercado, observar tendências e se relacionar com o ecossistema de inovação. A ideia é inserir as inovações na cooperativa para aumentar a rentabilidade dos cooperados, e resultado é um relacionamento cada vez mais próximo com o ecossistema de inovação.
A cooperativa também é mantenedora de dois ambientes de inovação no Paraná: um em Maringá, com a aceleradora Evoa; e o Hub IA, com o Senai, em Londrina. O projeto-piloto do CRM para cooperados e o e-commerce (Shopping Cocamar) surgiram a partir da imersão nestes ambientes de inovação.
A Cocamar ainda inaugurou um espaço próprio de inovação, o Espaço Cocamar Labs, dentro de sua administração central, em Maringá. É uma área destinada à troca de experiências, aprimoramento de ideias e aprofundamento na inovação.
Conclusão: ecossistemas de inovação são essenciais no relacionamento com startups
Ao longo do texto vimos cooperativas que possuem seu próprio espaço de inovação e outras que não. Nos dois casos, porém, a inovação e o relacionamento com as startups saem do papel, pois ter um espaço de inovação não é preponderante neste caso.
Aproveitando o exemplo da Cocamar, é importante destacar a necessidade das cooperativas se relacionarem com os ecossistemas de inovação de forma geral. Isso porque são eles que contribuem, por exemplo, para o desenvolvimento das próprias startups, além de serem uma excelente solução para as cooperativas que não possuem um hub próprio de inovação.
Na prática, relacionar-se com um ecossistema de inovação possibilita a troca de experiências, acesso a novos conhecimentos e competências, criação de redes de indicação e o reconhecimento da comunidade inovadora daquele ecossistema. Tudo isso facilita processos inovadores e até a contratação de startups.
Quando uma cooperativa busca relacionamento com startups, ela está buscando, na verdade, um conhecimento que talvez não exista “dentro de casa”. Ao buscar um ecossistema, a cooperativa vai muito além, tendo a oportunidade de se relacionar e acessar a inteligência de vários atores.
E a oferta de ecossistemas vem se consolidando cada vez mais, a exemplo de Cubo, InovAtiva, AgTech Garage, Unimed Lab, Avance Hub, InovaCoop Goiás e tantos outros. Cabe à cooperativa analisar suas prioridades e estudar a região onde ela está inserida para encontrar o ecossistema que melhor lhe atende. Naturalmente, surgirão os relacionamentos e as startups mais aderentes às necessidades da cooperativa.
E para que você e sua cooperativa fiquem preparados para se relacionarem com ecossistemas de inovação e startups, o InovaCoop preparou o guia prático Inovação Aberta: Como se relacionar com startups.
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